Mais uma derrota em gestação?, por Emerson Sousa

Por desmantelarem aquelas que são as principais estratégias eleitorais da Esquerda brasileira - a coligação eleitoral e o voto em legenda – ambas possuem forte influência sobre o futuro político desse agrupamento.

Mais uma derrota em gestação?

por Emerson Sousa

Nos últimos anos, foram promovidas duas mudanças significativas no processo eleitoral brasileiro: o fim das coligações em nível proporcional (vereadores e deputados) e a exigência mínima de votação individual de 10% do Quociente Eleitoral.

Por desmantelarem aquelas que são as principais estratégias eleitorais da Esquerda brasileira – a coligação eleitoral e o voto em legenda – ambas possuem forte influência sobre o futuro político desse agrupamento.

Tais mudanças vão trazer sérias consequências aos chamados partidos progressistas, dado a sua histórica dificuldade em construir chapas proporcionais eleitoralmente competitivas. Afinal, em 2016, dos mais de 445,6 mil postulantes às vagas de vereador no Brasil, apenas 20,5% estavam filiados a partidos como PCB, PCdoB, PCO, PDT, PPL, PSB, PSOL, PSTU, PT e REDE.

Em adição a isso, tradicionalmente, a aposta dessas agremiações tem sido em “campeões de voto” ou “favoritos” inscritos em chapas multipartidárias, com vistas ao aumento das chances de vitória. Na última eleição, dos 12.358 registros de chapas envolvendo algum desses partidos, apenas 1.487 não eram coligações.

E os resultados mostram que essas chapas “puro-sangue”, não são muito eficientes para o referido campo. Somente 451 resultaram na aquisição de alguma vaga de vereador. Enquanto isso, 6.088 das 10.872 coligações celebradas por esses partidos resultaram em ocupações nos parlamentos municipais

Considerando que as coligações agora estão proibidas, o plausível é que haja uma redução no total de eleitos. Isso significa que esse bloco, que conquistou apenas 19,9% das cadeiras então em jogo, pode levar para casa uma fatia ainda menor do bolo este ano.

No entanto, há uma saída possível: a distribuição das sobras de vagas ou cálculo/verificação das médias. Mesmo que o partido não atinja o Quociente Eleitoral, ele ainda pode receber algumas das cadeiras não preenchidas pelo critério do Quociente Partidário.

Só que isso joga o futuro desses partidos nas mãos dos desempenhos dos demais. Se as “sobras” desses últimos forem maiores do que aquelas vistas no campo progressista, dê adeus às vagas nos parlamentos municipais.

Isso porque os partidos de Esquerda são mal votados em relação às demais organizações partidárias. Em 2016, o bloco progressista, com seus dez membros, abocanhou 21,3 milhões de votos nominais país a fora, já os outros 27 que entraram na disputa ficaram com 78,3 milhões.

Em média, então, um partido progressista recebeu pouco mais de 2 milhões de votos, ao passo em que os demais agrupamentos partidários o fizeram em quase 3 milhões de votos. E, com o perdão do péssimo jogo de palavras, essa diferença pode fazer toda a diferença.

Vereadores são a base da estrutura política do país. A partir deles se elegem prefeitos e deputados federais e são nessas duas figuras que estão dois dos principais dínamos da República.

Por sinal, a Esquerda precisa superar essa visão dogmática sobre parlamentos e atuação parlamentar. Eles podem ser vetores de desenvolvimento social, sim. A Constituição de 1988 é a prova viva disso.

Assim, a fim de se evitar uma derrota maior do que foi aquela vista no último pleito municipal, que poderia ter fortes efeitos sobre as eleições de 2022, inclusive sobre a sua própria realização, os candidatos e até mesmo os eleitores e simpatizantes do bloco progressista vão ter que levar mais a sério a eleição deste ano.

Logo, a Esquerda tem que ir até o eleitorado conquistar votos!

Emerson Sousa – Economista, Mestre em Economia e Doutor em Administração.

Redação

3 Comentários

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  1. Os partidos de esquerda tratam com desdém o Parlamento. Dão o máximo valor ao Executivo e parecem não perceber que o Legislativo é também um Poder. Além de fazer as Leis, pode cassar um Presidente.
    Se os partidos de centro-esquerda fossem pragmáticos, fundariam uma Federação Partidária em que cada segmento poderia sempre votar livremente, sem o chamado “fechamento de questão”. Mas preferem manter sua identidade ideológica. Há razões justificadas para tal, mas não vale reclamar…

  2. Defendo a alteração da votação proporcional, onde acabamos elegendo gente em quem não votamos e muitas vezes nem concordamos, mas que entram por causa da coligação. A proporção de cadeiras seria definida pela quantidade de votos do candidato majoritário DO PARTIDO no 1o turno, e o preenchimento das vagas pela ordem de votos recebidos pelos candidatos da legenda.

    Isso acabaria com os “puxadores de votos” como Tiririca ao mesmo tempo forçaria candidatos melhores para a eleição majoritária.

    Também defendo 3 candidatos irem ao 2o turno, e não apenas 2.

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