O caixa 2 e as “verdades alternativas” do PSDB, por Jeferson Miola

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Jeferson Miola

O PSDB iniciou um movimento sincronizado para legalizar o caixa 2. A estratégia começou com o comunicado oficial de 3/3/2017, escrito e publicado por FHC para defender Aécio Neves da acusação de ter pedido – e recebido – R$ 9 milhões em caixa 2 da Odebrecht na eleição de 2014.

Desdizendo aquilo que dizia no passado, que “caixa 2 é um crime grave”, agora FHC passou a dizer que caixa 2 é apenas um “erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido”.

Para FHC, as denúncias de pagamento de propinas ao Aécio não passam de “verdades alternativas” usadas para a “desmoralização de pessoas” – sabe-se lá o que esta falácia significa.

Aécio Neves, encorajado pelo oráculo senil da Avenida Paulista, esbravejou: “abriremos espaço para um salvador da pátria? Não, é preciso salvar a política!” [sic]. Atrevido, desafiou o bom senso: “Um cara que ganhou dinheiro na Petrobras não pode ser considerado a mesma coisa que aquele que ganhou cem pratas para se eleger” – ora, as cifras conhecidas de cada uma das delações abafadas sobre Aécio ultrapassam as dezenas de milhões; ou seja, milhares de vezes mais as “cem pratas” ainda assim aceitas, porque um “pequenino crimezinho”.
Gilmar Mendes, o curimbaba do PSDB no STF e no TSE, em seguida seguiu o rastro do presidente de honra do seu PSDB para também socorrer Aécio.

Gilmar, que se pavoneia aos holofotes da mídia para acusar o PT do “crime hediondo de caixa 2”, agora entende que “o caixa 2 tem de ser desmistificado” [sic]. É compreensível: afinal, finalmente saíram algumas das denúncias que comprometem Aécio e toda a cleptocracia que tomou de assalto o Palácio do Planalto com o golpe de Estado.

Gilmar é radical, e quer mais. Além de “desmistificar o caixa 2”, ele quer modificar a lei eleitoral para permitir o retorno das doações privadas, feitas por empresas [o poder econômico] a campanhas, candidatos e partidos políticos – que é justamente o fator cancerígeno do sistema político brasileiro.

Isso será um passo gigantesco para a institucionalização da corrupção e para a captura definitiva do sistema político, do Estado de Direito e da democracia, pelo poder econômico.

O caixa 2 não é apenas um “erro que precisa ser reconhecido” ou algo a “ser desmistificado”, mas é o acobertamento, no mínimo, de crimes de sonegação fiscal e tributária, de corrupção e de lavagem de dinheiro das empresas capitalistas contra a economia popular.

Quando aceita pelos partidos políticos, o caixa 2 pode ser um disfarce para camuflar o crime do poder econômico sobre a consciência popular, que atinge o coração da democracia.

O financiamento público dos partidos, que no orçamento de 2017 corresponde a cerca de R$ 900 milhões no fundo partidário, é suficiente para o financiamento equilibrado das eleições de dois em dois anos que acontecem no país.

Os partidos não são sucursais de empresas. Para sustentarem seu funcionamento ordinário, devem instituir mecanismos próprios de financiamento junto aos seus filiados e simpatizantes, e não viverem da “ajuda” de empresas, das pessoas ricas ou do Estado.

No regime de exceção vivido no Brasil, as “verdades alternativas” de FHC e Gilmar Mendes têm chances consideráveis de converterem em “nova jurisprudência”.

É preciso, com urgência, pôr fim ao golpe e ao regime de exceção, sob pena do Brasil ter seu futuro comprometido pelos próximos 80 anos, que é a dimensão do abismo do retrocesso que a oligarquia golpista impôs ao país.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. Certa vez, um

    Certa vez, um involuntariamente célebre governador romano na Judéia fez uma pertinente indagação, que, até hoje, permanece sem resposta.

    Pois bem, sai a túnica de Pilatos, entra a toga do Gilmar, e que ninguém espere que ele venha ao proscêncio perguntar: “Que é a verdade alternativa?”

    FHC já esclareceu essa dúvida para ele.

    Agora é so colocar em prática.

  2. Sai de cena a “pós verdade” e

    Sai de cena a “pós verdade” e entra a “verdade alternativa”. Atualizem-se pessoal.

    Gostaria que o Michel Foucault ainda estivesse vivo. Faria um intrigante ensaio sobre esse termo criado pelo intelectual FHC. E o acrescentaria numa nova edição de seu livro sobre semiologia, o famoso “A palavra e as coisas” 

  3. Simplesmente Aécio !

    De onde terá vindo esse homem de tantos poderes e tantos amigos! Protegido por Gregos e Troianos em todos os sentidos !

    Faz o que lhe der na telha e os brutamontes sempre a seu lado, onde quer que vá.

    Como conseguiu ser o “meu garoto” de toda a mídia e de todas as instituições que poderiam de alguma forma incriminá-lo, ou ao menos, diminuir sua influência que era somente em MG e agora tomou conta de todo o país.

    Alguém saberia me dar uma pista ? Anastazia, PGR, Carmém Lúcia são tb mineiros, mas isto não é motivo suficiente (ou não deveria ser) para  protegê-lo tanto. E o Gilmar ? não é de Goiás ? o FHC é cariocapaulista tb.

    Não tem “olhos de Esmeralda” e gordinho p/ sua estatura.

    Enfim, esta é a maior dúvida que tenho no momento e que me tira o sono.

    Ajudem-me , por favor !

     

  4. Aecim

    Tutelado pelo avô e pela direita mineira, Aecim foi durante muito tempo o “delfim” tucano. O jovencito preparado para ser Rei.

    ACM, da Bahia, pensava isso para Luís Eduardo Magalhães, o seu filho, que faleceu no meio das suas aspirações, aspirações estas muito similares às do Aecim.

    Ocorre que o menino não deu certo e perdeu até em Minas Gerais. Em 2014 pirou de vez, chutando o balde. Obviamente já não é mais o candidato oficial tucano nem dos EUA, e cabe agora apenas conter as suas aspirações e tutelar a sua particular carreira, evitando que com isso contamine o ninho tucano,

    Enquanto isso, sai do banco de reservas, tira o moletão e trota esquentando na beira do campo o João Dória, pronto para ser escalado.

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