Urariano Mota
Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".
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O desconhecimento da ditadura é relativo?, por Urariano Mota

O desconhecimento da ditadura é relativo?, por Urariano Mota

Segundo notícia na imprensa, a opinião de alguns jovens é que a ditadura no Brasil foi coisa boa. Uma estudante de 18 anos teria declarado: “As pessoas dizem que era um tempo bom, que você podia ficar na frente de casa sem ser assaltado. As escolas eram tranquilas, hoje aluno bate em professor, as pessoas te roubam na sua casa….”.  

Chega a ser inacreditável o nível de ingenuidade e desinformação em uma fala dessas. Daí que esta semana, em conversa com uma jovem eu lhe disse que me espantava o quanto a ditadura era desconhecida pelos estudantes brasileiros. Isso para mim é tão evidente, que mal ouvi a sua resposta:

– Esse desconhecimento é relativo.

– Pois é – continuei –,  isso é falta de ação dos mestres e educadores em sala de aula. O conhecimento não é incentivado em grandes reportagens da televisão ou do rádio. Então  a ignorância…

– Não é ignorância. Isso é relativo!

– Hem? Relativo?! O que é relativo? Você quer dizer que os jovens desconhecem a ditadura 7 em cada 10 estudantes. É isso?

– Não, eles conhecem. Eu estou dizendo que tenho amigos e amigas que conhecem a ditadura, mas à maneira deles.

– Como assim? Eles conhecem a ditadura à maneira de Bolsonaro?

– Sim, também.

– Então desconhecem tudo. Não sabem de nada.  

– Para o senhor. Para eles, não.

– Ah, é? Então existe uma maneira de conhecer a ditadura, que é a dos crimes contra a pessoa humana, e outra, que é a boa, legal e massa?

– Tudo é relativo.

– Sério? De onde você tira que tudo é relativo?

– É científico, sabia não?

Esse é um diálogo em que a pessoa tem que manter a indignação sob o gelo da pedagogia mais serena. Então continuo:

– Quer dizer que os assassinatos, torturas, destruição de mulheres grávidas.

Presos desarmados mortos.

Censura à música, ao cinema, ao teatro

Tudo isso é só uma versão relativa da realidade? Eu lhe pergunto: tem outra versão? Eu gostaria muito de saber.

– O senhor está muito sectário. Eu não disse que concordo com a visão deles. Eu digo que eles têm um conhecimento da ditadura, que é deles. Tudo é relativo.

– Não é. Olhe, nem na Teoria da Relatividade tudo é relativo. A velocidade da luz é absoluta para Einstein.

Silêncio. Eu poderia dizer que do ponto de vista humano, infinitamente mais complexo que a mais nova descoberta de qualquer ciência natural, tudo não é relativo. Mas por mais indignação, que tive e contive, continuei: 

– Há uma verdade objetiva, entende? Não é a minha verdade somente, não é a verdade deles, eleitores de fascistas, somente. Esse candidato, quando pesquisadores procuravam os restos de guerrilheiros mortos no Araguaia, chegou a falar: “quem gosta de osso é cachorro”. Isso não é relativo. É um dado da história, real, tanto da fala escarrada, que repete a ditadura, quanto  a de jovens que morreram por um sonho mais alto. Entende?

Então eu lembrei uma anedota, que vinha a quebrar o clima daquele diálogo tenso, ao mesmo tempo que o ilustrava:

– Contam que no império romano, lá no coliseu, houve uma vez um cristão, um guerreiro sem igual, que estava resistindo às feras. Para a diversão do público, isso não podia continuar. Então enterraram o bravíssimo homem até o pescoço, deixando só a  cabeça dele de fora. E soltaram o leão. Aí, quando o animal passou perto da cabeça do homem, ele deu uma dentada que arrancou os testículos do leão. A fera ficou urrando, uuuuu, rôoooo. Aí o público se levantou indignado: “Jogue limpo, seu safado! Jogue limpo, criminoso!”. . . Percebe? Este é o relativo: para o público do coliseu, o jogo limpo era arrancar a cabeça do cristão. Mas para o enterrado, o justo era arrancar o saco da fera. Esse é o relativo.

A jovem sorriu e bem entendeu o relativismo. Ganhamos nosso dia.

Depois da nossa conversa, vim meditando que na cadeia do “tudo é relativo” a ignorância de muitos vai até o relativismo, que segue até a negação do holocausto. Para os nazistas, é claro, jamais houve algo semelhante. Os cadáveres empilhados como papel seco, as câmaras de gás e fornos crematórios de pessoas são mentira.

Einstein, fora dos números, certa vez escreveu: “Se alguém aprova como meta, por exemplo, a eliminação da espécie humana da face da Terra, não se pode refutar esse ponto de vista em bases racionais”. Mas ainda assim tentamos, como se pudesse haver uma racionalidade fora do real e da justiça. Notem: como poderiam ficar os assassinatos de prisioneiros desarmados, com os miolos pregados nas paredes da prisão, no tempo da ditadura? Seria tudo feito por exceção de alguns desalmados, sem regra de comando, nos “porões”? Ou seriam, como os fãs da ditadura falam, crimes contra a pessoa humana jamais cometidos pelos carrascos brasileiros? Esses corpos massacrados são mentira das famílias dos mortos, falam. Assim como é mentira que houvesse cartazes nas ruas com fotos e nomes de patriotas, corajosos combatentes, sob o título de “Terroristas procurados”.

Isso é relativo. Mas bem poderíamos dizer: “Isso e relativo à ditadura”. 

Para quem já foi professor de jovens, e de muitos deles de área de risco, porque todo jovem sempre está em área de risco, material ou de angústia; para quem teve filhos na idade dos 20, que acompanhou os conflitos a ponto de explosão de filhos de amigos que não adotaram a tática da conformação… Se me entendem, com tal experiência, quando sei de jovens do povo que votam em fascistas, quando me falam que estudantes de escolas públicas supõem conhecer a ditadura, mas uma ditadura sem a longa noite de infâmia, quando sei de jovens assim, é como uma traição dentro das nossas paredes, dentro do coração, porque eles se desnorteiam contra a liberdade, um bem muito precioso, tão ou mais importante que a vida. O dado objetivo, exterior, do cumprimento de dever eleitoral, cheio de pesquisas e números não nos atinge. Mas o desconhecimento histórico do que vivemos em pessoas que mais acreditamos, sim, isso fere. É lamentável, é profundamente lamentável a existência de um pobre de direita. Mas existir um jovem pobre, um jovem de futuro, com a crença de que foi boa a ditadura é trágico.

Na próxima semana, retorno.

*Vermelho http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=9231&id_coluna=93

Urariano Mota

Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".

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  1. Na ditadura militar, havia

    Na ditadura militar, havia segurança pública?

     

    “Com uma taxa de homicídio intencional de 28,9 pessoas a cada 100 mil habitantes, o Brasil hoje aparece ranqueado como um dos quinze países mais violentos do mundo. A impressão de que havia mais segurança pública durante a ditadura é outra meia-verdade: se, em geral, os números costumavam ser menores do que hoje, não é verdade que o período militar tenha sido particularmente seguro na história brasileira. Pelo contrário: a criminalidade só subiu durante a ditadura, iniciando a tendência que continua até hoje. 

    A facilidade para obter armas de fogo, somado à introdução do tráfico e da guerra às drogas no Brasil, fez o índice de homicídios crescer rapidamente nas principais cidades do país – e o endurecimento do regime não surtiu qualquer efeito em termos de reduzir a violência. Pelo contrário: o incremento do aparato para combater a criminalidade urbana foi uma resposta ao aumento do crime, com o surgimento dos “esquadrões da morte” na tentativa de responder aos pedidos da população por mais segurança, criando uma cultura de violência que permanece até hoje. 

    Um caso sintomático é o de São Paulo, maior cidade do Brasil. Segundo levantamento feito pelo jornal O Estado de São Paulo em 2012, até o início da década de 1960 o índice de homicídios na cidade raramente superava 5 a cada 100 mil habitantes. Em 1985, ao final da ditadura, esses números haviam subido para 36,9. O índice seguiria subindo até o final dos anos 90, antes de entrar em declínio – hoje, a taxa de homicídios em São Paulo é de 7,4 a cada 100 mil paulistanos.

    Por outro lado, a impunidade já era uma constante em casos envolvendo suspeitos poderosos. O caso de Ana Lídia Braga, que abre esse texto, não foi o único do tipo a vir à tona e ser posteriormente silenciado durante a ditadura. No Espírito Santo, também em 1973, o estupro e morte da menina Araceli Crespo, de oito anos, levantou suspeitas contra membros de famílias influentes do estado – entre os nomes citados no caso apareciam Paulo Constanteen Helal e Dante Michelini, de clãs ligados ao regime – e acabou não sendo levado adiante, além de sofrer censura na imprensa. Como no caso de Ana Lídia, ninguém foi punido. 

    “A miséria social, que é a principal razão da violência urbana, ela se aprofunda em decorrência das políticas econômicas ao longo do tempo. A década de 80, toda uma década perdida da economia, é uma das grandes causas da violência social que começa na ditadura e segue crescendo depois de 1985. A pessoa nunca ter tido uma experiência individual de violência nessa época não é um bom indício de ter sido um tempo mais seguro ou não: um bom convite é ler as páginas policiais dos jornais dessa época, para lembrar que a violência já existia e era grande”, aponta o historiador Diorge Konrad, professor da Universidade Federal de Santa Maria.”

    Com uma taxa de homicídio intencional de 28,9 pessoas a cada 100 mil habitantes, o Brasil hoje aparece ranqueado como um dos quinze países mais violentos do mundo. A impressão de que havia mais segurança pública durante a ditadura é outra meia-verdade: se, em geral, os números costumavam ser menores do que hoje, não é verdade que o período militar tenha sido particularmente seguro na história brasileira. Pelo contrário: a criminalidade só subiu durante a ditadura, iniciando a tendência que continua até hoje. 

    A facilidade para obter armas de fogo, somado à introdução do tráfico e da guerra às drogas no Brasil, fez o índice de homicídios crescer rapidamente nas principais cidades do país – e o endurecimento do regime não surtiu qualquer efeito em termos de reduzir a violência. Pelo contrário: o incremento do aparato para combater a criminalidade urbana foi uma resposta ao aumento do crime, com o surgimento dos “esquadrões da morte” na tentativa de responder aos pedidos da população por mais segurança, criando uma cultura de violência que permanece até hoje. 

    Um caso sintomático é o de São Paulo, maior cidade do Brasil. Segundo levantamento feito pelo jornal O Estado de São Paulo em 2012, até o início da década de 1960 o índice de homicídios na cidade raramente superava 5 a cada 100 mil habitantes. Em 1985, ao final da ditadura, esses números haviam subido para 36,9. O índice seguiria subindo até o final dos anos 90, antes de entrar em declínio – hoje, a taxa de homicídios em São Paulo é de 7,4 a cada 100 mil paulistanos.

    Por outro lado, a impunidade já era uma constante em casos envolvendo suspeitos poderosos. O caso de Ana Lídia Braga, que abre esse texto, não foi o único do tipo a vir à tona e ser posteriormente silenciado durante a ditadura. No Espírito Santo, também em 1973, o estupro e morte da menina Araceli Crespo, de oito anos, levantou suspeitas contra membros de famílias influentes do estado – entre os nomes citados no caso apareciam Paulo Constanteen Helal e Dante Michelini, de clãs ligados ao regime – e acabou não sendo levado adiante, além de sofrer censura na imprensa. Como no caso de Ana Lídia, ninguém foi punido. 

    “A miséria social, que é a principal razão da violência urbana, ela se aprofunda em decorrência das políticas econômicas ao longo do tempo. A década de 80, toda uma década perdida da economia, é uma das grandes causas da violência social que começa na ditadura e segue crescendo depois de 1985. A pessoa nunca ter tido uma experiência individual de violência nessa época não é um bom indício de ter sido um tempo mais seguro ou não: um bom convite é ler as páginas policiais dos jornais dessa época, para lembrar que a violência já existia e era grande”, aponta o historiador Diorge Konrad, professor da Universidade Federal de Santa Maria.

    https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/5-coisas-que-a-ditadura-militar-gostaria-que-voce-esquecesse-5awepn1sdius9ws0m7na1zlnb

  2. Na Ditadura Militar, havia menos corrupção?

    “Durante a década de 50, o Brasil passou a se acostumar com notícias que hoje continuam comuns: os mais variados tipos de denúncias contra empreiteiras, por propinas, desvios e superfaturamentos. Esses casos desapareceram do noticiário entre 1964 e 1985, voltando com força total após a redemocratização. Na percepção pública, parece evidente: o regime militar foi um período em que se pôs ordem na casa e os diferentes tipos de corrupção deixaram de aparecer. Na prática, porém, o que aconteceu foi simplesmente o silenciamento das denúncias. 

    Um dos maiores exemplos é o fracasso do Comitê Geral de Investigações (CGI), que se dedicava tanto à subversão quanto às denúncias de corrupção, e foi marcado pelo favorecimento a políticos amigos do regime, com o arquivamento massivo de processos que sequer eram analisados. Enquanto processos contra os então governadores da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, e do Maranhão, José Sarney, foram arquivados sem passar por investigação, o ex-governador gaúcho e opositor da ditadura Leonel Brizola foi alvo de uma detida análise do CGI: Brizola, que estava exilado, teve seu sigilo bancário quebrado e suas declarações de bens reviradas desde o final da década de 50. Os investigadores, porém, não encontraram irregularidades. 

    O caso das empreiteiras é ainda mais flagrante. “As empreiteiras, donos de construtoras e vários outros empresários estiveram envolvidos no golpe em 64. Não foi simplesmente uma tomada de poder pelos militares: foi uma ampla articulação de vários segmentos sociais”, diz Pedro Campos, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro Estranhas catedrais: as empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar. “Eles não estavam lá só para derrubar João Goulart. Eles estavam formulando propostas com vistas a atender o interesse desses empresários. O escancaramento da ditadura vai facilitar o acesso desses empresários ao poder e criar um cenário muito mais propício para suas atividades e para que atingissem altas margens de lucros”. 

    Empreiteiras como a Odebrecht e a Camargo Corrêa cresceram no período ditatorial. Com frequência, valiam-se de artimanhas em conluio com representantes do regime para vencer as licitações: no caso do metrô de São Paulo, por exemplo, a Camargo Corrêa levou a concorrência após indicar um valor inicial muito inferior ao custo final da obra, por ignorar deliberadamente aspectos técnicos sem os quais as escavações não poderiam continuar – numerosos aditivos garantiram o sucesso da empreitada e os lucros da companhia. 

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    Projetos faraônicos que sugaram recursos públicos sem entregar o prometido, como a Transamazônica, também povoaram o período. Nos dias da repressão, a fiscalização do poder por parte da sociedade civil era inviabilizada com a imprensa cerceada. Com a imprensa sob censura e jornalistas sendo perseguidos, as denúncias não apareciam e tudo ocorria com uma aparência de normalidade e idoneidade.”

     

    https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/5-coisas-que-a-ditadura-militar-gostaria-que-voce-esquecesse-5awepn1sdius9ws0m7na1zlnb

     

  3. Quem tem saudades da ditadura tem saudades do Milagre Econômico?

    “Durante a década de 1970, o Brasil viveu o chamado “milagre econômico”, com seu PIB crescendo anualmente em níveis que hoje são normalmente associados à China. Em 1973, no melhor ano, a produção subiu quase 14%. Foi a época de crescimento mais acelerado que o país já vivenciou, mas se tratava de um crescimento insustentável: o “milagre” dos anos 70 seria seguido pela “década perdida” dos anos 80, em grande parte devido aos erros estratégicos do próprio governo militar. 

    Após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) aumentar rapidamente o valor do barril em outubro de 1973, a crise que se seguiu colocou o regime em uma situação difícil.

    Para manter o “milagre” andando, o novo presidente, Ernesto Geisel, decidiu gastar o que não tinha: a ideia era manter o crescimento acelerado com investimentos públicos, no que então foi conhecido como 2º Plano Nacional de Desenvolvimento, que incluiu iniciativas como a usina de Itaipu e o Programa Grande Carajás de exploração mineral.

    No curto prazo, funcionou. No longo, foi um desastre: entre 1974 e 1979, a dívida externa do Brasil saltou de 27,8 bilhões para 61,8 bilhões, em valores atualizados, segundo dados do Banco Mundial. O preço do barril do petróleo continuou a subir e, conforme a crise se alastrava pela América Latina, o investimento estrangeiro desapareceu – a fonte secou para os programas megalomaníacos da ditadura e, a partir de 1980, o PIB passou a oscilar entre a queda e a estagnação. Mais do que isso: em tempos em que prevalecia o discurso de que era primeiro deixar o bolo crescer para depois reparti-lo, grande parte da população jamais recebeu sua fatia: no fim da década de 80, quase metade da população seguia recebendo menos que dois salários mínimos. 

    A crise econômica ajudou a aumentar a pressão popular pelo fim da ditadura, que entregou o governo em 1985 com uma inflação de 239% ao ano (eram 92% quando Jango havia sido derrubado em 1964). O caos econômico deixado de herança pelo regime militar levaria mais uma década até ser debelado pelos governos civis, com os brasileiros convivendo com a hiperinflação até a adoção do Plano Real, em 1994.”

    https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/5-coisas-que-a-ditadura-militar-gostaria-que-voce-esquecesse-5awepn1sdius9ws0m7na1zlnb

     

  4.  
    O balanço econômico e

     

    O balanço econômico e político do período militar

     

    Foi um equívoco o editorial da “Folha” sobre o regime militar. Nele, deplora-se a violência, mas considera-se a modernização tecnocrática proporcionada pelo regime.

    Diz que em vinte anos a economia cresceu 3,5 vezes. Isso equivale a 4,89% ao ano. Ora, nos dezesseis anos anteriores – de 1947 a 1964 – a economia cresceu a 6,7% ao ano, mais do que nos 20 anos seguintes.

    Era um ciclo ligado à urbanização disponibilizando mão de obra e às políticas de substituição de importações, que se mantiveram durante o período democrático e na ditadura.

    Em período democrático, o país conseguiu criar grandes estatais, como a Cemig, a Petrobras, a Eletrobrás -, assim como no regime ditatorial criaram a Telebras e outras.

     

    ***

    Vencido o impasse político do momento, nada do que foi construído no período militar não poderia tê-lo sido em regime democrático. Pelo contrário, em um sistema democrático provavelmente a grita da oposição não teria permitido exageros, como a Transamazônica, a Ferrovia do Aço; a Siderbras.

    ***

    A democracia imperfeita, de fato, valia-se do uso do Banco do Brasil para cooptar bancadas políticas. Mas a ditadura imperfeita distribuiu benesses a torto e a direito, sem nenhum critério.

    No período Delfim Netto, enormes extensões de terra na Amazônia foram entregues a grandes empresas, multinacionais e nacionais, sem nenhum compromisso com a colonização; escândalos financeiros de monta, como no Independência Decred ou nas “polonetas”.

    No período supostamente rigoroso de Ernesto Geisel, a criação pelo Ministro Mário Henrique Simonsen de sistemas de apoio a bancos quebrados permitiram enriquecer os controladores em detrimentos dos depositantes. Sem contar os superinvestimentos induzidos pelos Planos Nacionais de Desenvolvimento.

    ***

    Não significa que o regime militar era intrinsicamente corrupto, como não significa que o modelo democrático é intrinsicamente viciado.

    O grande problema da ditadura foi o enorme desequilíbrio no atendimento das demandas sociais e o enorme atraso provocado na organização da sociedade.

    ***

    Nos anos 60 emergiu uma nova geração, que pela primeira vez acordava para os aspectos mais anacrônicos do país, um meio rural onde sequer se pagavam salários, uma pobreza ampla a irrestrita que sequer era atendida. Descobria-se o interior, o nordeste, as favelas, os planos de desenvolvimento econômico (em JK) ou social (em Jango).

    Havia demagogia, é claro, as lideranças que tentavam se aproveitar desse idealismo, os populistas de ocasião, os pelegos, os radicais. Mas o amadurecimento era questão de tempo, dependia apenas do aprendizado democrático.

    ***

    A ditadura ceifou não apenas uma, mas as gerações seguintes, milhares de jovens que poderiam ter se especializado em questões sociais, que poderiam ter desenvolvido soluções para a miséria, somando-se à modernização que ocorreu no mercado de capitais, nas contas públicas, na Receita. Foi a falta de voz que permitiu a concentração desmedida de renda, a deterioração dos serviços públicos ante a urbanização que se acelerava, a sobrevida dos coronéis regionais, a demora em constituir um mercado interno robusto.

    1. Boa lembrança
       

      Fôssemos um pouquinho só mais politizados e …

      e nada, seríamos uma Argentina, em vez de argentinha, mas ainda quintal, as nádegas da américa do norte.

      O capital não perdoa quem o redistribui aos pobres.

      Sem pobres, como acumula-lo?

  5. isso é pós-modernismo puro
    A picarategem vence todos os dias quando alguém lê um pós-moderno qualquer – seja Lacan, Kristeva, Irigaray, Latour, Baudrillard, Deleuze e Guattari, Virilio et caterva. Isso afrouxa os parafusos para abrir espaço para leituras irreais. A moça aprendeu que tudo seria relativo como se fosse ciência. Deve viver numa Terra plana. Para entender sugiro ler as Imposturas Intelectuais de Alan D. Sokal e Jean Bricmont. Ter a mente aberta a fake news acontece com o pessoal de esquerda também. Eu vi um texto atribuído a Patrícia Galvão, a Pagu, que morreu em 1962, sobre 1968 na França. Ela não estava lá, mas um rapaz me disse que isso não importa, porque seria o que ela teria dito se tivesse estado entre os estudantes de Paris.  Estamos todos loucos.

    1. O pós-modernismo é o que mais

      O pós-modernismo é o que mais se aproximou daquilo que Orwell chamava em seu famoso romance “1984” de duplipensar.

      É assustador pensar que estamos sobrevivendo com essa mentalidade bizarra e sem nexo a tantas décadas. E claro, temos que agradecer o capitalismo… Sem o pós-modernismo ele já teria sofrido um colapso catastrófico nos anos 90.

  6. Prezado Urariano,
    A frase é
    Prezado Urariano,

    A frase é do meu primo: há grandes investidores que que investem pesadamente na nossa ignorância e eles obtêm grande retorno!

    Abraços,
    LM

  7. não só os jovens…

    foram nossas autoridades que herdaram, e agora transmitem, as três piores violências da ditadura militar:

    servilismo à política/economia externa, crueldade e a idiotia dos jovens em relação a fatos históricos

  8. FEZES QUE MERECEM A MESMA LATRINA

    Einstein aprovou a fabricação da Bomba Atômica e o uso dela durante a guerra. Quando os Soviéticos construiram a deles. Tornou-se pacifista. A Ditadura Militar nos livrou de Serra, Covas, Arraes,Teotonio, Dirceu, Genoino, Dilma,…. Nos livrou de Constituição Cidadã e este Estado Farsante Democrático que todos estes canalhas instituiram. Fora livrar o país, de centenas de terroristas. Esta conversa de ditadura, a cada dia interessa mais e mais a fanáticos, fundamentalistas e iludidos que creram nestes  párias e farsa em que propunham.Como disse Goerender, a Luta Armada só serviu para atrasar a Democracia em 20 anos. Vai falar que Goerender era direita?  Quando a Ditadura Militar que estas figuras empurraram o país para dentro, ao invés de aceitar a luta pelo voto facultativo e o resultado das urnas (coisa que o ‘stabilishment’ soviético não aceitava. Nem Cuba ensinava a seus propagandistas) foi o Fundo da Latrina. Vencido este períod tão mediocre e ignorante, o que esperar? Uma República Democratica Liberal Soberana de Voto Livre e Facultativo. O que veio foi este Estado farsante e corrupto de figuras que a Ditadura expulsou do país. Este Brasil / 2018. Uma Nação levada a piso inferior que o fundo da latrina? Era isto Redemocracia prometida em Aeroportos da Anistia de 1979? A Ditadura Militar foi um LIXO. Uma Vergonha, um atraso, uma mediocridade nacional. As figuras que vieram depois dela, muitos expulosos por esta ditadura, não foram diferentes. Quem pagou por tanta mediocridade e fezes politicas foi o Povo Brasileiro. Perseguidos e Perseguidores realmente se mereciam:LIXO.    

  9. Educação
     

    A gente pode criar as gerações seguintes pelo medo ou pelo ódio.

    Se pelo medo, é contar-lhes incessantemente o quão danoso poderia ser opor-se contra essa ou aquela política, seguir esse ou aquele caminho.

    Se pelo ódio, teremos gerações ímpias, preconceituosas e vingativas,  unidas por esse  ódio.

    Só que criança não teme o fogo enquanto não se queima.

    Transmitindo ou não as vicissitudes sofridas para as próximas gerações, essas querem viver as próprias vidas, experimentando o que é proibido ou criando as suas próprias crises. Faz parte.

    Por mais que não queiramos que os nossos sucessores ou descendentes sofram, não podemos viver por eles.

    É claro que não podemos perder de vista a perversidade dos governantes que deliberadamente mantém na ignorância as próximas gerações a cada golpe de estado que aplicam, cuidando prioritariamente de interferir no ensino público.

    Mas, pelo próprio espírito da juventude o jovem prefere as suas próprias verdades.

     

      

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