Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
[email protected]

O papel dos Bancos de Fomento, por André Motta Araújo

Considerar que o BNDES deve ser extinto, como pensam alguns malucos neoliberais que hoje comandam a economia brasileira, é uma traição ao Brasil.

O papel dos Bancos de Fomento

por André Motta Araújo

A partir da criação do Banco Mundial, fundado como Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento, em 1946, cujo primeiro presidente foi Eugene Meyer, dono do jornal The Washington Post, deu ensejo a criação de bancos de fomento pelo mundo, considerando no grupo os bancos de fomento à exportação.

Os EUA criaram o EXIMBANK, a Europa muito depois o Banco Europeu de Desenvolvimento, criados também bancos similares na Ásia e África, a Corporacion Andina de Fomento, hoje muito ativa, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, por inspiração de Juscelino Kubitschek, no grupo dos bancos de fomento à exportação, os EXIMBANKS do Japão e Coreia do Sul, o grande banco alemão de exportação, KfG, a COFACE e o Banque Française pour le Commerce Exterieur da França, o Export Credit Guarantee Department do Reino Unido, o Export Credit Department do Canada, também tem bancos de fomento os países nórdicos. A China tem 12 bancos de fomento para tudo, os BRICS criaram o New Development Bank com sede em Shangai.

Os bancos de fomento são BRAÇOS GEOPOLÍTICOS dos seus governos e fazem operações de caráter político, muitas operações têm problemas.

O Brasil foi grande tomador desses bancos quando construiu suas usinas hidroelétricas, a Ponte Rio Niterói (financiamento do Reino Unido), a Ferrovia do Aço e, em várias épocas entre 1950 e 1990, ATRASOU e entrou em moratória.

Países não podem falir e as moratórias são resolvidas em NEGOCIAÇÕES. Os países credores reúnem seus bancos de fomento em um comitê informal conhecido como “CLUBE DE PARIS”, que funciona no Quai d´Orsay, o Ministério de Relações Exteriores da França, e lá se renegocia. O Brasil lá esteve em mais de cinco situações de moratória, chegou a atrasar operações por três anos.

As operações de bancos de fomento estatais têm um duplo caráter, comercial e geopolítico. Créditos são abertos para conquistar influência em outros países, o Pentágono tem um grande banco para financiar exportações de material bélico, o DEFENSE SECURITY COOPERATION AGENCY, que opera como braço auxiliar da política externa dos EUA, é um braço estratégico do sistema geopolítico de Washington.

Um dos maiores créditos da história do EXIMBANK americano foi o financiamento da ICOMI, a companhia de exploração do manganês do Amapá, do empresário Augusto Azevedo Antunes. Manganês era minério estratégico e os EUA precisavam desesperadamente desse material para sua indústria bélica, a mina do Amapá foi explorada e se esgotou. A operação do Eximbank foi essencialmente estratégica, de interesse do governo dos EUA.

O BNDES

O BNDES foi criado por inspiração americana, da Missão Abbink, a Comissão Mista Brasileiro Americana de Desenvolvimento (Pano Salte). Os americanos propuseram a criação de um banco de fomento com os recursos do Fundo do Trigo, conta em cruzeiros depositada no Banco do Brasil e pertencente ao Governo dos EUA por conta de exportações de seu estoque de trigo. A estruturação do então BNDE ficou a cargo do Embaixador Roberto Campos, depois seu presidente. Campos era um liberal em economia, mas sempre considerou crucial a existência de um banco de fomento para o Brasil.

O BNDES foi o financiador fundamental do grande parque hidroelétrico brasileiro, dos metrôs nas capitais do Brasil e de grande número de obras públicas fundamentais. Mais ainda, o BNDES foi ESSENCIAL no desenvolvimento da EMBRAER, porque financia suas exportações de aeronaves.

Considerar que o BNDES deve ser extinto, como pensam alguns malucos neoliberais que hoje comandam a economia brasileira, é uma traição ao Brasil.

Talvez seu fanatismo parta da ideia que o grande inventor dos bancos de fomento foi Lord Keynes, pai do Banco Mundial. Keynes é o demônio para os neoliberais fanáticos que amam a concentração de capital, a guerra aos pobres e a ideia de que o mercado resolve tudo.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A idéia de que o “mercado resolve tudo” é uma mentira descarada! Só que os donos do capital difundem essa mentira como ideologia. Uma “ideologia” que é espalhada por jornais e todos os meios de comunicação, além de ser espalhada também nos cursos de economia. Uma lavagem cerebral. Por este meio, se cria a narrativa que permite roubar um país inteiro: os ingênuos acreditam, e são raros os que percebem que tudo se trata apenas de roubalheira.
    A narrativa que se conta para permitir o desmonte dos bancos públicos é de que é necessário fazer a “despedalagem”…..
    O governo solicitou da Caixa econômica federal , R$ 42 bi, para repasse ao tesouro…
    Gostaria de saber quanto foi “solicitado” ao BNDES (muito maior que a Caixa).
    Esse dinheiro que poderia servir para o fomento da indústria, construção, etc. enfim para promover o progresso do país, para gerar emprego e renda, vai ser usado para reforçar o caixa do governo.
    Com o caixa reforçado é possível suportar o pagamento de juros por mais tempo. Só que todos sabemos que está dívida crescerá até o nível do “impagável”. Este é o projeto: a escravidão pela dívida. Para este projeto não há narrativa, só omissão pelos meios de comunicação e pelos donos do dinheiro.
    O Brazil ainda será uma imensa fazenda de cana, soja e gado. Industrializada. Pouca mão de obra.
    Plantaction, nesse país-continente.
    E, ao lado, o povo miserável passando fome e sem direito a terra.
    Tudo legal, muito legal!
    Tão legal quanto a lava jato o é.
    O desmonte ocorre e a justiça e as forças armadas consentem.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador