O terror das panelas vazias, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Bolsonaro está tentando usar a pandemia para fortalecer sua imagem de líder forte. Mas o que ele conseguirá fazer é pintar um alvo nas costas.

Foto El País

O terror das panelas vazias, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Em 07 de agosto de 2015 publiquei aqui mesmo no GGN minhas impressões sobre o panelaço contra Dilma Rousseff que não ocorreu no condomínio em que eu moro. Muita coisa mudou desde então.

A demoníaca aliança entre banqueiros, juízes, parlamentares e imprensa conseguiu derrubar um governo brasileiro legitimamente eleito. Após a soberania popular ter sido removida da arena política, o sistema constitucional de 1988 começou a ser desmantelado por Michel Temer. Programas sociais foram interrompidos, direitos trabalhistas e previdenciários foram revogados, despesas públicas com saúde e educação foram limitadas a um teto, etc… Sequestrado pelos bilionários brasileiros e estrangeiros, o Estado brasileiro voltou a ser o carrasco dos pobres.

Os brasileiros foram levados à acreditar que o neoliberalismo diminuiria a taxa de desemprego e aumentaria a renda média dos trabalhadores. O que ocorreu foi justamente o oposto. A participação dos salários no PIB despencou e o desemprego não diminuiu. A única coisa que aumentou foi o subemprego e o trabalho por conta sob o comando de algorítimos (que pode muito bem ser chamado de escravidão pós-moderna).

Além de derrubar Dilma Rousseff, a imprensa se esforçou muito para inviabilizar a eleição de Fernando Haddad. A vitória de Jair Bolsonaro também foi garantida pelos juízes, pois eles impediram que Lula disputasse a eleição.

Após assumir a presidência, o mito deu seguimento às reformas neoliberais. Um ano depois a população começou a perder a paciência. Os investimentos internacionais prometidos não vieram. O crescimento da economia foi mínimo. O desemprego continua alto e a renda das famílias segue declinando.

Sob todos os aspectos o governo Bolsonaro é um fracasso, mas ele vinha conseguindo se manter em razão de ter conseguiu garantir o aumento da rentabilidade dos banqueiros. O mal estar causado pelas trapalhadas da família Bolsonaro foram contornadas pela imprensa e toleradas pelo Parlamento e pela cúpula do Judiciário.

No momento em que o mito começou a hostilizar e agredir jornalistas e a ameaçar a autonomia do Congresso e do STF as coisas começaram a mudar. A disposição da imprensa, das autoridades e da população para tolerar os abusos de um governante que atende apenas as expectativas dos banqueiros chegou ao fim. Ontem e hoje ocorreram panelaços em diversas cidades brasileiras. No condomínio em que em moro a população também se manifestou https://twitter.com/FabioORibeiro/status/1240416637846802433.

Fiz questão de registrar o episódio, pois Bolsonaro foi eleito pela periferia. O mito tinha muitos admiradores e eleitores no condomínio em que eu resido. Mas agora a periferia também está batendo panelas, pois elas ficaram vazias. As despensas serão esvaziadas em breve por causa da catástrofe econômica produzida pela peste do coronavírus.

Bolsonaro está tentando usar a pandemia para fortalecer sua imagem de líder forte. Mas o que ele conseguirá fazer é pintar um alvo nas costas.

O combate ao COVID-19 tem tudo para dar errado no Brasil, pois o mito tirou o controle das ações das mãos de um especialista (o Ministro da Saúde) e o colocou nas mãos de um amador (o general Braga Netto). Os recursos alocados para conter e derrotar a pandemia são insuficientes. Os estragos econômicos que ela produzirá nas camadas mais pobres da população (nas quais devemos colocar os comerciantes fadados a falir por falta de clientela) não serão remediados sem uma transferência massiva e a fundo perdido de recursos públicos para a sociedade (algo que não foi nem mesmo cogitado pelo governo).

Fábio de Oliveira Ribeiro

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