O tucano e o marshmallow, por Tadeu Porto

 
 
Tadeu Porto | Do Brasil Debate
 

Existem textos que começamos a escrever um pouco contrariados. Digitamos, digitamos e digitamos, parecendo não acreditar que temos de juntar tais palavras, orações e pensamentos naquele momento. É exatamente assim que eu me sinto formulando um artigo para defender a manutenção do regime de partilha no País, efetivado faz menos de cinco anos.

Contextualizando: o Senado nacional colocou em pauta, utilizando o famigerado regime de urgência (visto outrora na votação do PL 4330), uma lei que revisa o modelo de exploração por partilha, tirando da Petrobrás a prerrogativa de ser operadora única do óleo proveniente do pré-sal. Esse projeto de lei, de número 131/2015, é de autoria do senador José Serra.

Já na síntese, de apenas um parágrafo, é possível achar alguns absurdos utilizados para a defesa e a implantação do projeto proposto pelo vampiro paulista. Destaco alguns a seguir:

Em primeiro lugar, é inacreditável que uma figura política como o Serra consiga se eleger para fazer exatamente o que prometeu a uma concorrente, fato apenas descoberto graças ao trabalho revolucionário de Julian Assange e seu WikiLeaks (a propósito, o sueco completou três anos sem poder sair da embaixada do Equador em Londres e ainda não recebeu nenhuma visita de senadores brasileiros).

Pois então, e se um engenheiro da Ferrari fosse descoberto contatando a equipe da Mercedes e dizendo ”fiquem tranquilos vamos mudar isso” e ainda mantivesse o emprego?

Difícil, não é?!

E esse mesmo funcionário ainda no cargo, sabe-se lá por que, propondo em uma reunião dividir com equipes adversárias algumas ideias. “Pelo bem da Fórmula 1”, diria o mesmo…

Bem, é mais ou menos essa façanha que o senador tucano paulista está querendo, sem o menor senso de vergonha, o que, obviamente, não é de se estranhar.

Em segundo lugar, a despeito do entreguismo nojento – mas previsível – do ex-meio prefeito de São Paulo, vem os resultados atuais do regime de partilha. A Petrobrás não fica para trás em nenhum quesito operacional, quando comparada as principais petroleiras do mundo (mesmo com crise do petróleo e tudo). Muito pelo contrário! A taxa de retorno de exploração do pré-sal é extremamente satisfatória e, arriscaria dizer, é uma das mais altas da história recente do mercado petrolífero, pois não é qualquer empresa que sai do zero para 800 mil barris/dia em menos de sete anos.

O único argumento plausível para rever a partilha é o de que poderíamos explorar ainda mais nosso óleo com outras empresas no circuito, gerando mais royalties, empregos e receita fiscal no curto prazo. O que não é uma mentira se não pensarmos no grande estrago colateral de médio e longo prazo que essa atitude traria, que é, em resumo, tirar a soberania nacional sobre a reserva de uma energia tão estratégica como o petróleo.

Num mercado tão engenhoso e complexo, há de se ter a destreza de pensar que nenhuma empresa que deseja ser grande deve entregar sua matéria-prima para algum monopólio.

E é nessa hora que recorremos ao famoso teste do marshmallow, talvez um dos mais populares da psicologia: entre as décadas de 60 e 70 do século passado, um psicólogo de Viena, Walter Mischel, realizou em Stanford, nos EUA, um experimento que visava a entender as características de crianças que conseguiam ou não retardar o recebimento de uma recompensa, se a mesma fosse maior depois de um prazo definido.

Em suma, a criança ficava numa sala, isolada de distrações, e tinha duas escolhas: diante a um marshmallow, poderia consumi-lo a qualquer hora ou, então, se resistisse 15 minutos sem o mesmo, receberia, em adição, outro doce.

Segundo o estudo, as crianças que conseguiram postergar a recompensa se mostraram, no futuro, mais bem-sucedidas em diversos quesitos como, por exemplo, apresentando melhores resultados acadêmicos e mantendo uma vida mais saudável.

Ou seja, a investigação nos ajuda a inferir que nenhuma tomada de decisão deveria ser feita pensada simplesmente no curto prazo. Se uma atitude inconsequente ou um impulso impensado impacta a vida de uma só pessoa, imagine o que pode acontecer na política mal planejada de todo um país.

Nesse sentido, alguma boa alma, ou mesmo um hábil neurocientista como o Miguel Nicolelis (um dos melhores do mundo), poderia mostrar ao nosso Senado este conceituado teste. Quem sabe, assim, parte do nosso Legislativo não desista de entregar nosso ouro para o exterior, pelo preço de alguns royalties imediatos, em troca da soberania nacional sobre uma gigante reserva de energia, que deve pertencer a toda uma nação.

Vai ser difícil, claro, pois, no nosso caso, o tucano sequer come o marshmallow a que tem direito, apenas pega o doce e entrega para a águia em troca de algumas migalhas. Vá entender, parece que o grande êxtase do entreguista é exclusivamente entregar.

Todavia, não podemos perder o sonho de ver nosso país ser efetivamente um dos maiores protagonistas no mundo do petróleo, pautando a geopolítica mundial e utilizando a indústria como carro chefe do desenvolvimento nacional, criando ainda mais empregos com conteúdo nacional e garantindo serviços públicos de qualidade.

 

Redação

15 Comentários

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  1. Sensato

    Boa ideia, Tadeu, sugerir a Zé Serra que procure um psicólogo, um psiquiatra e, para ajudar na interdisciplinaridade, um geriatra. E quem sabe, na medida em que for se sentindo melhor, Serra convença Aloysio Nunes e Fernando Henrique Cardoso.

    Já Aécio Neves e Eduardo Cunha são caso de polícia…

    1. E CERRA?

      Também não o é um caso policial. Desde a Privataria Tucana e a Vale do Rio Doce, esta figura grotesta frrequenta a página policial dos escândalos econômicos do Brasil. Das ambulâncias dos Vedoins a mafia dos vampiros. Foi ele que demitiu todos mata mossquitos ocasionando uma explosão dos casos de dengue no Brasil que não reduziram mais.

      1. Código Penal, Art. 26 –

        Código Penal, Art. 26 – Inimputáveis
        É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

         

  2. Assisti a esse debate semana

    Assisti a esse debate semana passada e a conversa mole é a mesma desse pessoal pra tudo: vai ser bom para a petrobras, risivel e raso, como se fosse bom para uma padaria ficar sem pão, um acougue sem carne, mas na visão desses “beneméritos, é bom uma empresa de petroleo sem petroleo e com concorrentes; alguem deveria ter coragem, (por que  a maioria dos senadores não te m -fora o Telmário e o Requião) , ficam muito naqueles rapapés ridiculos, e perguntar para esse senador por que essa obssessão em tirar a petro bras do pre sal e entregar tão facinho assim para empresas estrangeiras, ele é de sp, a maioria das plataformas estão fora de sp, quais os motivos que o movem? Deveria estar brigando para a construção de mais refinarias e parques tecnologicos da petrobras no estado, ou se curvar nos varios problemas que temos por aqui e não mexer no que está dando certo.

  3. O tucano e o marshmallow
    É inacreditável que uma pessoa que teve a trajetória de José Serra apresente ao Senado um projeto que beneficie interesses contrários aos do nosso país e fragilize a nossa empresa maior que é a Petrobras. Considero este um crime muito mais grave do que o dos ladrões que surupiaram seus cofres. O que nós, cidadãos brasileiros, podemos fazer contra tanta indignidade?
    Clara Gaia Bahia.

  4. Orgulho

    É para orgulho danação que me dirijo aos leitores do blog para lançar o grande filho da pátria

    ÇERRA45, prizidenti, vice fegacê…viiiiiiiiiixe! para 2038 ! (dois mil e trinta e oito)

    (Para adesões, favor contatar o caixa de campanha, sr. aloisyo trezentão.) 

  5. Não é à toa que o apelido do

    Não é à toa que o apelido do Serra é “Vampiro Brasileiro”! Essa confusão da partilha do Pré-Sal já vem desde que foi descoberto as jazidas de petróleo. Como sempre, SP quer levar a bolada e os PSDBistas paulistas não querem que os royaties sejam para todos os brasileiros, e o Serra, um americano patriota espirão disfarçado de brasileiro, instiste que as petroleiras americanas venham pegar uma parte, por quê? Mistério…

  6. “O único argumento plausível

    “O único argumento plausível para rever a partilha é o de que poderíamos explorar ainda mais nosso óleo com outras empresas no circuito”

     

    Será mesmo que é “plausível” ?

     

    “A Petrobrás tem, hoje, cerca de R$ 68 bilhões em caixa; a Companhia é líder mundial na exploração / produção de petróleo em águas profundas; em apenas 8 anos já está produzindo, no pré-sal, mais de 700 mil barris de petróleo dia. (1). No Golfo do México foram necessários 20 anos para atingir a marca de 500 mil barris, e no Mar do Norte 10 anos, em período inferior a esse, já estamos produzindo mais de 700 mil barris. E com um fato inegável e que vai na contramão das justificativas apresentadas pelo (PLS) 131/2015: Enquanto no Mar do Norte e no Golfo do México haviam várias empresas explorando, no Brasil a Petrobras é operadora única, e mesmo assim foi muito mais eficiente (2).

    Apenas no primeiro trimestre de 2015 já foram investidos pela Petrobras aproximadamente US$ 5 bilhões de dólares na exploração de petróleo no Brasil (1). Em 3 meses, prezados senadores, a empresa investiu na exploração do petróleo nacional mais do que a multinacional Shell em 15 anos de operação no Brasil. “Desde 1998, a Shell já investiu mais de US$ 4,4 bilhões em sua atuação de upstream no Brasil.” (3)”

     

    “Como dita a lei da oferta e da procura, quanto maior a oferta menor o preço, e com o preço do barril girando em torno de US$ 60, o shale gas fica inviabilizado. Ora senadores, se estão inviabilizadas as principais reservas a disposição das grandes petroleiras internacionais, é lógico que eles se voltariam as reservas brasileiras. E seria do nosso interesse jogar ainda mais petróleo no mercado neste momento através da abertura da exploração a empresas estrangeiras ?? A reposta é óbvia demais para ser ignorada senadores, ao fazer isso estaríamos diminuindo ainda mais o preço do barril e perdendo boa parte do importantíssimo dinheiro de nossas reservas petrolíferas ao monetizá-lo de forma precipitada e incorreta.

    Temos que controlar o ritmo da exploração de nossas reservas para monetizá-las de forma correta e gerando o maior beneficio financeiro possível senadores. Essa é uma lição estratégica básica aprendida a 40 anos atrás pelos países árabes quando da criação da Opep no chamado choque do Petróleo. E é uma lição que estaremos ignorando completamente ao aprovarmos o (PLS) 131/2015. É estratégico para o Brasil que o governo dite o ritmo da produção de petróleo, algo que somente a Petrobrás atuando como operadora única iria cumprir.

    Essa é uma verdade que não pode ser ignorada, e o exemplo da Indonésia é extremamente claro para exemplificar a questão estratégica do controle do ritmo da exploração. O país asiático abriu totalmente suas reservas a exploração por empresas estrangeiras, e hoje importa petróleo, depois que suas reservas foram quase que completamente exauridas pelo ritmo não controlado da exploração das multinacionais. O México também é outro exemplo de exploração predatória que prejudicou o país. Nas palavras do professor da UFRJ, Carlos Lessa, “A Indonésia foi membro da Opep, exportou a US$ 2 o barril; com o esgotamento de seus campos, passou a importá-lo, em julho de 2008, a US$ 147 dólares o barril. O México viu ¾ de suas reservas de petróleo desaparecerem, após a renegociação de sua dívida externa. Houve a exploração predatória dessas reservas e o México corre o risco de se transformar em importador de óleo.” (8)”

     

    https://jornalggn.com.br/fora-pauta/carta-aberta-aos-senadores-sobre-o-pre-sal-por-paulo-cezar

  7. *

    O resumo da ópera é o que já disse: O Alienista de Machado de Assis explica esses falsos brasileiros, psdbistas e agregados.  A frase: …” Vá entender, parece que o grande êxtase do entreguista é exclusivamente entregar.”… Demonstra realmente sadice total, um bom tanto de complexo de vira-lata, e muita corrupção. Chegam ao delírio de achar que conseguem esconder seus podres.

  8. Para   mim, esse é o homi a

    Para   mim, esse é o homi a ser derrotado. Ele não é brasileiro, só nasceu aqui. Deveria é ser expatriado, já. Mas ele quer primeiro pegar a grana da Chevron e seguir então para viver  nos EUA. , seupaís de coração.                                                                                            

  9. O que espanta é a facilidade

    O que espanta é a facilidade com que o infame vampiro desfila argumentos que nada tem a ver com o valor real da riqueza do pré-sal para os brasileiros.

    Ele fala em dívida da Petrobrás, como se fosse possível produzir sem investir antes. Na verdade, a dívida é inexpressiva frente ao valor do óleo das reservas.

    Ver um infame vampiro mover-se na claridade do dia a serviço contra os interesses nacionais, contra o povo, contra o páis, é uma agressão que ninguém merece.

  10. Se temos ali uma mina de ouro

    Se temos ali uma mina de ouro a mesma tem que ser pelo do povo brasileiro, a Chevfon já provocou danos ambientais irreparaveis ao Brasil….os tucanos ja doaram a Vale e agora querem a Petrobrax,..as jornadas conservadoras de junho 2013 provocaram isso: a eleicao do lixo da politica,..casacestado mandou seu lixo pro congresso, de Caiado a Cunha passando por Agripino, Heraclito, chega

    sobre o projeto serra vampiro e danos ambienais

    http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Meio-Ambiente/Vale-o-paradoxo-da-destruicao/3/33875

     

     

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