Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Os motins no Exército Francês, por Andre Motta Araujo

Resultaram, desse enfrentamento, 3.427 Cortes Marciais que lavraram sentenças de prisão com trabalhos forçados para 2.878 soldados e sentenças de morte para 629 soldados, das quais foram executadas 49.

Os motins no Exército Francês

por Andre Motta Araujo

Durante a Grande Guerra de 1914-1918 ocorreram, dentro da França, graves motins em batalhões de 11 Divisões do Exército francês, envolvendo 27 mil soldados, situação que foi enfrentada com extrema dureza pelo Alto Comando do Exército. Resultaram, desse enfrentamento, 3.427 Cortes Marciais que lavraram sentenças de prisão com trabalhos forçados para 2.878 soldados e sentenças de morte para 629 soldados, das quais foram executadas 49.

Os motins de soldados e oficiais de baixa patente existiram no Brasil e fizeram parte da História. O mais impactante foi o episódio dos “18 do Forte”, de cujo desdobramento nasceu o “Tenentismo” e depois a Coluna Prestes. Foram processos mais políticos do que de condições de caserna.

Na Marinha, o grande motim, e esse foi por condições de serviço nas belonaves, foi a “Revolta da Armada”, liderada pelo marinheiro João Candido.

Em período mais recente, um movimento de sargentos e marinheiros em apoio ao Presidente João Goulart foi o detonador do processo de derrubada do Presidente e da instauração do governo militar de 1964, na ocasião esses movimentos causaram enorme reação dos Altos Comandos.

Ao fim, todo motim tem inspiração política ou pode ser instrumentalizado pela política. A questão da sindicalização disfarçada nas polícias militares é grave.

A sindicalização não oficial se dá por via de associações com fins assistenciais cuja direção geralmente cabe ao ativismo político mais truculento dentro da força, a maioria dos quais numa segunda etapa se elegem como vereadores ou deputados. É um processo que corre solto e produzirá desdobramentos que colocarão em risco a operacionalidade dos comandos sobre essas forças que se tornarão incontroláveis sob o ponto de vista do Estado.

No passado, e especialmente no regime militar de 1964, as Polícias Militares tinham forte supervisão do Exército através de uma Inspetoria Geral.

O comando de grandes Polícias Militares, como a de São Paulo, esteve a cargo de Generais do Exército, como o do Gen. Antonio Ferreira Marques, meu fraternal amigo, registrando que a origem da Polícia Militar de São Paulo é a histórica FORÇA PÚBLICA que atuou como exército combatente na Revolução Paulista de 1932, enquanto a Brigada Militar gaúcha, origem da Polícia Militar do Rio Grande do Sul, foi epicentro de revoluções e movimentos de guerra interna. Portanto, motins dentro dessas forças são, do ponto de vista militar, inadmissíveis sob qualquer angulo de visão.

Causa espanto a passividade do Exército frente a motins em Polícias Militares, forças que existem e atuam como auxiliares do Exército e que podem ser por este mobilizadas a qualquer momento, assim como na maioria dos países forças internas de polícia armada estão à disposição da Força Armada Nacional como arma de reserva. Esse é o modelo praticamente universal de organização de forças de segurança interna.

Portanto, motins em polícias militares são tema de interesse imediato do Exército e não apenas da autoridade civil nominalmente a cargo da folha.

Desde os tempos do Império Romano se sabe que motins ou são enfrentados ou o motim vence, não há meia solução, é tema de Estado e não apenas administrativo, com repercussão política grave e desdobramentos imediatos entre Estados federados. Não é assunto que se fecha na folha de pagamento.

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Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

12 Comentários

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  1. “Na Marinha, o grande motim, e esse foi por condições de serviço nas belonaves, foi a “Revolta da Armada”, liderada pelo marinheiro João Candido.”

    Por coincidência passei o dia de ontem procurando informações sobre o exílio de Rui Barbosa e a Revolta da Armada. Não encontrei nenhuma referencia João Candido, que liderou o que ficou conhecido como Revolta da Chibata, falando de orelhada.

    Aqui estão os endereços pesquisados: https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_da_Armada
    https://jus.com.br/artigos/73555/o-confronto-de-rui-barbosa-com-floriano-peixoto-e-o-exilio
    https://www.camara.leg.br/noticias/92271-negros-tem-dificuldades-para-progredir-nas-forcas-armadas/
    https://jornalggn.com.br/noticia/continuo-preso-diz-capitao-marinho-oficial-negro-do-exercito/

    No mais, o artigo é muito oportuno, pois se deixar correr frouxo, como vem acontecendo, com anistia ampla e irrestrita em todos os estados, depois de paralisações, vai se chegar a um momento em que ninguem mais conseguirá deter esse pessoal. Para mim nesse momento o Exército está ultrapassando todos os limites da tolerância. Já tá passando pano faz tempo, passando a mão na cabeça de rebelados.

    Quem dera nós esquerdistas encontrássemos por partes das FAs nos anos de chumbo a mesma tolerância, teríamos feito a revolução de esquerda. Os PMs vão fazer a revolução de direita, fascista, nas barabas das FAs, nessa picada.

  2. Só se espanta quem quer, quem não compreende até onde vai a deformação ideológica neoliberal (cada vez mais conjugada com o fanatismo religioso). A questão toda não é o motim em si, mas CONTRA QUEM os amotinados estão. Se é contra “a esquerrrda”, tudo vale, tudo pode. A “guerra” desse pessoal é IDEOLÓGICA; toda existência, visão de mundo desses caras foi erigida em cima disso. Sem isso a vida deles perde o sentido.

    Vão morrer atirando…

    Causa espanto é ver que aa essa altura do campeonato tanta gente ainda não percebeu com quem estão lidando: um bando de boçais desvairados; um besteirol ideológico de envergonhar secundarista dos anos 60, arrastando um pais inteiro para uma discussão maluca, toda ela baseada em estupidez e mentira, uma aversão figadal aa ciência e ao conhecimento: “marxismo cultural”, “globalismo”, “foro de sao paulo”…um show de besteiras…

    Não há uma força politica relevante propondo “revolução”, “luta armada”, “expropriação de meios de produção”, “ditadura do proletariado”, “partido único”…Nada. Absolutamente nada. Mas os doentes mentais ficam nessa de criar um inimigo imaginário, um espantalho…

    Falta completar a frase famosa do Tim Maia: aqui cafetão se apaixona, traficante se vicia…e “liberal” odeia os Direitos Humanos, “cidadãos de bem” fazem apologia aa tortura e ao assassinato, exportadores defendem quem arruma briga com os importadores dos produtos…E por ai vai.

  3. Interessante lembrar que as forças estaduais foram, nas décadas posteriores à Proclamação da República, verdadeiros exércitos à disposição dos governadores, que assim decidiam ou não seguir as ordens do governo federal.

    Numa época em que o efetivo do Exército Brasileiro rondava a casa dos 60.000 homens, boa parte desses concentrados no Rio Grande do Sul por conta do medo que a Argentina inspirava, uma Força Pública como a de São Paulo, que alcançava seus 30.000 homens, dava ao governador a possibilidade de aceitar ou não as determinações vindas do Rio de Janeiro – sendo o período da República Velha de uma anarquia hoje inimaginável, apesar dos tempos bolsonaristas.

    A subordinação das forças estaduais somente veio após a patetada paulista de 1932 (sou paulista, antes que tentem adivinhar minha origem), para a qual a Força Pública paulista tentou se preparar inclusive por meio da compra de canhões Krupp, oportunamente confiscados por Góis Monteiro poucos meses antes do conflito, e se consolidou na época do Regime Militar.

    Sugiro a leitura, para quem tenha a sorte de localizar um exemplar, do livrinho “O Pequeno Exército Paulista”.

  4. Não confundir a REVOLTA DA CHIBATA, liderada por João Cândido, da REVOLTA DA ARMADA, movimento muito maior, associado ao levantamento de 1893, e liderado por altas patentes.

  5. Esses policiais amotinados e grande parte das PM são bolsonaristas e caminham para ser os camisas pardas desse presidente nazifascista. Sr. Andre, por sua indicação estou lendo o livro Ascensão e Queda do Terceiro Reich de William L. Shirer, que diz que o sucesso de Hitler foi ter, quando ainda jovem em Viena, compreendido que para ter o Poder precisa estar aliado/apoiado com uma das seguintes forças políticas, que transcrevo da página 47 do primeiro volume:” ‘ Havia um outro erro dos pangermânicos que Hitler não iria cometer. esse erro consistia no fracasso quanto a consecução do apoio de pelo menos algumas das poderosas instituições estabelecidas da nação: se não a Igreja, então o Exército, ou o Gabinete, ou o chefe de Estado”.
    Bolsonaro tem o Exército, visto o acordo que fez com o ex-Ministro Villas Boas, as Igrejas Pentecostais, as PMs e por fim o tal ‘Mercado’. Brasil, Pobre Nação. Como chegamos a isso.

  6. É difícil separar na pessoa do Bozo onde termina o primata puro e começa alguma forma humana inteligente, mas uma coisa ele sabe: enquanto tiver a lealdade da guarda pretoriana vai se segurando. Falo do milico raso, moldado na mesma forma da brutalidade e do desprezo pelo semelhante.

  7. Meus amigos lembram o quanto Bolsonaro insisti em armas desde o primeiro dia de governo e em sempre ter um inimigo? Não sejamos mais ingênuos,o Brasil está sob ataque maldoso pesadíssimo,Guedes & ministros ajudando a destruir o Brasil na nossa cara e a mídia passando pano a toda atrocidade dessa turma !!

  8. Os motins podem se transformar em enormes tragédias quando não solucionados devidamente. Vejam a Tragédia Brasileira vivida em 90 anos de Quartelada QuintoMundista de baixa patente produzido pelos Estábulos do Exército. Julio Prestes havia alertado às Forças Armadas que ainda tinham um viés de amadorismo por tamanha inércia. A falta de ações e providências durante o ano de 1930, jogou a Nação mais promissora do planeta na Idade Médía, por intermináveis 9 décadas.

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