Precisamos falar sobre Lula, por Luis Felipe Miguel

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Precisamos falar sobre Lula

por Luis Felipe Miguel

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Ninguém se iluda: passado o frenesi dos resultados do primeiro turno das eleições municipais, o cerco contra Lula retoma seu curso. A questão não é “se” ele será preso na Operação Lava Jato, mas “quando”. Afinal, sua culpa foi determinada desde sempre. É uma operação que não nasce para investigar se há culpa, mas para encontrar algo que justifique uma culpa definida de antemão. Imagino que, nesse momento, Sérgio Moro e o alto comando de sua Wehrmacht curitibana estejam discutindo se a vitória da direita no pleito de domingo significa que Lula já pode ser preso sem risco de comoção popular ou se esse tipo de interpretação é só o discurso oficial a ser veiculado na mídia.

O antilulismo da direita tem razões claras. Lula é o mau exemplo, Lula é o operário que não soube seu lugar. Lula liderou o movimento que fez a classe trabalhadora ganhar protagonismo na política brasileira, a partir do final da ditadura militar. E Lula conduziu um governo que, com todos os seus problemas, contribuiu para reduzir a vulnerabilidade de milhões de brasileiros e para desafiar hierarquias centenárias. Embora sempre se lembre que a burguesia lucrou muito nos governos petistas, o antilulismo das elites brasileiras é perfeitamente razoável: para elas, manter a vulnerabilidade extrema da maioria dua população e proteger as hierarquias sociais faz muito sentido.

Mais difícil é entender o antilulismo de parte da esquerda. Sim, Lula optou por um pragmatismo político exacerbado e apostou na conciliação de classes. Os governos petistas foram covardes no enfrentamento de muitos privilégios e, quando atacados, só conseguiam reagir fazendo mais concessões. Lula se tornou bem mais amigo de empreiteiros e outros capitalistas do que seria razoável. Há muito o que criticar em sua trajetória.

Mas a esquerda antilulista age não como quem analisa erros políticos e desvios de caminho, mas como quem sofreu uma desilusão amorosa. O maior pecado de Lula é não ter sido aquilo que projetavam nele. E é essa vingança, que se traveste de radicalidade política mas nasce do coração partido, que faz com que o cerco a Lula, a destruição de seu legado e de sua imagem, sejam vistos por alguns com alegria aberta ou disfarçada.

É um sério equívoco, eu creio. Com todos seus erros, Lula é uma liderança popular invulgar – e o que se quer destruir é essa liderança, não os erros. Lula buscou um caminho, que foi conciliatório, tortuoso e limitado, mas era um caminho para retirar da miséria e ampliar os horizontes dos brasileiros mais desprivilegiados. Pouco, talvez, para quem sonha com o fim da exploração e da alienação. Mas o caboclo do interior do Brasil que não tinha energia elétrica e viu chegar o Luz para Todos, aquele outro que botou comida na mesa com o Bolsa Família, o trabalhador na base da pirâmide que ganhou com o aumento real do salário mínimo, o menino pobre que chegou na universidade, será que trocariam esses ganhos, ainda que insuficientes, por um punhado de teses sem ressonância no mundo social, brandidas de intelectuais da extrema-esquerda?

Vamos criticar a experiência petista? Vamos. Ela acomodou, ela cedeu, ela não foi tão firme quanto devia na defesa da classe trabalhadora, dos direitos das mulheres, da cidadania de gays, lésbicas e travestis. Compactuou com a corrupção, contribuiu para a sobrevida de elites políticas carcomidas, em vários momentos deixou de avançar quando podia, por culpa de sua incontrolável pulsão pela conciliação. Acreditou na sua própria fantasia de transcendência do conflito social. Terminou por enfraquecer as forças populares, ao promover sua desmobilização como forma de mostrar aos grupos dominantes que permaneceria dentro dos estreitos limites pactuados. Mas vamos também reconhecer os ganhos que foram alcançados e, sobretudo, a tentativa real de dar uns passos para a frente, poucos que fossem, mas para a frente – nas condições adversas de um país atrasado como o Brasil.

E vamos reconhecer em Lula o que ele é: com seus limites, com suas contradições, com seus vacilos, com o diabo a quatro, ele é a maior liderança popular da história deste país. Alguém que, por mais críticas e discordâncias que possamos ter, está do lado de cá, não do lado de lá. Não se trata de endeusar Lula, nem torná-lo imune a críticas, mas de compreender quem ele é e o que ele simboliza. Por isso, defender Lula contra a perseguição criminosa que ele sofre, protestar contra a arbitrariedade de que ele é alvo, contribuir para, sim, incendiar o país quando ele for preso – esses são compromissos de qualquer pessoa que se queira de esquerda, progressista ou democrata no Brasil.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. Pura realidade.

    Perfeito equilíbrio da colocação dos argumentos. Contudo, devemos lembrar que, em que pese tudo argumentado, Lula é o lider maior de um projeto debruçado sobre a plataformas histórica de uma esquerda que perdeu o habito de discutir projetos com a base partidária. Hoje as ESTRATÉGIAS  são discutidas em 4 paredes por líderes que se isolaram, deixaram de ouvir as bases e governaram com “pragmatismo político exarcerbado”. Como resultado, atualmente a esquerda não possui a mesma densidade reflexiva, perdeu hábito de autocrítica e não possui renovação de seus quadros, nem sinais de democratização. Ocorre que Lula foi peça de relevo nessa contrução de uma esquerda rompida com debate democrático e fidelização de princípios. Então, de fato, a grande questão de ordem no curto prazo passa a ser preservar politicamente o lider popular Lula (uma vez que provas não existem contra o mesmo), concordo com isso. Contudo, quem nos garente que sob sua liderança não vamos continuar incidindo nos mesmor erros? É necessário podar a autocracia da oligarquia partidária sob o risco de estarmos nos tornando refens eternos de ciclos de conciliação e concessões indevidas.

  2. Precisamos falar sobre Lula, por Luis Felipe Miguel

    Essa é grande verdade de nossos conturbados dias políticos.

    Ouvir o palavrório de líderes de outros partidos, seja qual o campo ideológico que seja, é ouvir a contestação feita pela incapacidade de aceitar a diversidade brasileira.  Após mais de DOIS anos de investigações a “República dos Estados Unidos de Curitiba” diz que não tem provas mas convicção. E tem lideranças que dão crédito a isso.

    Basta olhar sua história para ver que Lula foi antes de tudo um conciliador entre trabalhadores e patrões. Suas qualidades pessoais o fizeram ter créditos entre os envolvidos e,assim, tornou-se o lider que hoje é, incontestávelmente.

    Como o próprio já disse seu crime foi ter sido eleito presidente do país e por lá passou sem se sujar. Contrariou os ególatras senis, “empresários” que apenas sabem explorar o trabalhador a berrar,agora, 80 horas semanais e, como bem notado, promoveu avanços e deu esperanças a milhões de brasileiros.

    Externamente, deu peso à presença do Brasil nas relações internacionais e abriu mercado para nossas grandes empresas a competir com gigantes americanas e de outras bandeiras. A Petrobras e a nacionalização de suas compras alavancou a indústria do setor.

    Outro crime.

    O Brasil grande, independente e justo é inaceitável para o império e seus mandaletes logo no “quintal” a dar “mau exemplo” a outras nações latino-americanas. Para a turma do circo vermelho/azul montado em Curitiba essa é a “convicção maior” contra o operário presunçoso.

     

  3. A melhor análise crítica sobre Lula, nos últimos anos.

    Prezados leitores,

    É com satisfação que leio esta brilhante crônica crítica sobre o grande líder popular e político brasileiro, o Lula. Em poucos parágrafos, que cabem numa página, Luiz Felipe Miguel resumiu com maestria o que são Lula, o PT e os governos que comandaram. Se fosse para eu resumir numa página o que penso sobre Lula, sobre o PT e sobre os governos liderados por esse ex-metalúrgico, eu escreveria quase o mesmo que Luiz Felipe Miguel.

    Como ressaltou o articulista, qualquer cidadão brasileiro que se considere democrata, progressista ou de Esquerda precisa defender Lula de toda a perseguição criminosa de que ele tem sido vítima nos últimos dois anos. É preciso que chamemos a Fraude a Jato pelo que ela é: uma ORCRIM institucional, composta por policiais federais, procuradores do MP e juízes. A burocracia estatal brasileira (polícias, MPs e PJ) é infestada de quadrilhas e está a serviço das oligarquias plutocráticas, escravocratas, privatistas e entreguistas; as quadrilhas da burocracia estatal protegem, blindam e dão guarida às quadrilhas políticas, notadamente a do PSDB e de outros partidos de direita e extrema direita.

  4. Ainda mais agora que o

    Ainda mais agora que o Nosferatu Fora Temer, o  usurpador,  lança o seu novo programa Vamos tirar o Brasil do Vermelho, mas o rombo quem produziu foi ele que gastou tudo o que encontrou no cofre. Então só sobra o vermelho do PT e esse vermelho eu não tiro porque  vermelho é minha cor predileta, é a cor da paixão, do coração. E no coração ninguém mexe, ninguém manda.

    Ps.: Precisamos é Tirar o Brasil dessa Velharia que assumiu o poder. os mesmos velhacos de sempre (lembram da ‘porra do Jucá’?). São esses mesmos. O que essa gente tem a oferecer para o país? Nada a não ser a mão leve.

  5. …o caboclo do interior do

    …o caboclo do interior do Brasil que não tinha energia elétrica e viu chegar o Luz para Todos, aquele outro que botou comida na mesa com o Bolsa Família, o trabalhador na base da pirâmide que ganhou com o aumento real do salário mínimo, o menino pobre que chegou na universidade, será que trocariam esses ganhos, ainda que insuficientes, por um punhado de teses sem ressonância no mundo social, brandidas de intelectuais da extrema-esquerda?

    Pegeui parte de um parágrafo do próprio articulista e transladei acima. Agora vamos a respostas: sim. sim e sim. Se ficou alguma dúvida basta ver o proprio resultado das eleições deste ano de 2016. O que o Nordeste e outros redutos desses benefícios deram de resposta? Porrada!!! Conheço  pessoas que tem dois médicos na família pelo Prouni 100% e não tão nem aí para o PT. Tenho membros da família que tem filha veterinária formada pela nova Faculdade Federal da era Lula, que odeiam o Lula. Portanto…

  6. Temo por Lula

    A República de Curitiba já se mostrou ser sem escrúpulos morais e também um bando de nazi-fascistas, encastelados na PF, MPF e no protetorado de Moro, que estão se lixando para o que o outro lado da opinião pública (aqueles e aquelas que não se pautam pelo cinismo de Bonner e cia) pensa ou pode fazer caso eles resolvam de fato encarcerar o torturar Luís Inácio.

  7. Pelo bem do Brasil, as

    Pelo bem do Brasil, as lideranças de esquerda, TODAS, deveriam se unir numa unica FRENTE CONTRA O ARBÍTRIO, 

    SEM CONCILIAÇÃO COM A DIREITA. Diálogo com a direita é o diálogo do pescoço com a guilhotina, sendo que o pescoço

    é sempre o da esquerda.

    TODAS as direções partidárias que se considerem de esquerda deveriam abrir mão de suas vaidades e se juntarem, ignorando 

    divergencias pontuais e se concentrando no OBJETIVO MAIOR: DEVOLVER AO POVO O DIREITO DE DECIDIR O SEU 

    DESTINO.

    Peço desculpas pelo uso de algumas caixas altas, mas é preciso estancar o arbítrio.

     

  8. “Lula é o operário que não soube seu lugar”

    Sobre saber o seu lugar

    A véspera do dia dos pais de 2014 me pegou em um lugar improvável, um churrasco no quiosque (confotável para mais de 100 pessoas) de um condomínio de classe média alta (3 torres, 270 apartamentos). Estava ali na condição de estranho no ninho, porém de olhos abertos e ouvidos atentos. Para animar o convescote, os condôminos contrataram uma atração musical, um cover do cantor brega cearense Falcão, o Falquinha. O diacho é que o Falquinha não apenas fazia o cover do Falcão, mas era a cara do próprio e igualmente cearense, o mesmo tipo físico. O paletó florido e os óculos escuros compunham o personagem à perfeição. 

    Falquinha chegou na sua moto surrada por volta das 18 horas, e começou montar a tralha, caixa de som, microfone, notebook, mesinha de som, violão. E seguiu a seleção de músicas bregas, do nordeste ao sertanejo. Turbinada por muita tequila, uísque, vodca e cerveja, a festa ficou animada, todos se divertiram, dançaram e cantaram junto. Sucesso. 

    Lá pelas 20p0, Falquinha sentou, bateu 2 pratos formidáveis de muita maturatta Swift, arrumou a tralha de volta na garupa da moto, e saiu às pressas para fazer um aniversário em outro condomínio. Antes, passou o chapéu e recolheu o combinado, R$ 400,00, um excelente cachê por sinal. 

    O Falquinha ainda dava os últimos acertos na garupa da moto quando começou a avaliação do evento por uma das mesas, justo a que eu estava. Consideraram a quantidade de pessoas, cada um trouxe sua parte na festa, e o acerto que foi chamar o cover do Falcão, realmente muito divertido, etc e tal. Um deles foi além, disse que gostou principalmente porque o Falquinha “ficou na dele, não invadiu, não tomou liberdades, ficou no seu lugar”. Todos concordaram. 

    Não se apaga 350 anos de escravidão assim de um dia para o outro, ainda mais em São Paulo. 

  9. A Classe Que Ousou Sonhar

    Nassif: pouco a se falar sobre alguém que trás consigo a maldição de haver galgado o topo do Olimpo e incomodado os doze Deuses da sociedade e da política brasileira.

    Era de se esperar, como acabou acontecendo, que as elites e a burguesia coroada nunca o perdoariam.

    Imagine a humilhação do patrão, mesmo viajando na classe VIP, saber que mais abaixo, na econômica, apertadinho, estava um de seus empregados, seguindo às próprias custas.

    No destino paradisíaco rumos diferentes. Um, para hotel 1000 estrelas; outro, para a Pensão da Cotinha. Mas, frequentando ambos a mesma praia. Um quadro destes é insuportável. E Lula o culpado pelo cenário vexatório.

    Então, era preciso mudar, restabelecer o império perdido.

    Agora, o judiciário, parte fundamental na reestruturação social, pomposamente a decretar o “status quo ante”, no juridiquês de plantão, para que a classe continue nos mocambos e palafitas, que tenha o pior e a mais deficiente assistência de saúde e educação.

    São ou não eles os donos das melhores escolas particulares e das fábricas de remédios? Por quê não turno de trabalho com 12 horas? O atual Presidento já propôs àqueles 2/3 do Congresso, com certeza de aprovação. O exército está encarregado de infiltrar espias para acompanhar até manifestação do dia da criança. Missa do Galo será monitorada. Os do Jardim Botânico garantirão a desinformação por toda grande mídia.

    Estudos superiores, só para os da boa cepa, que trabalhador não precisa de instrução além das fornecidas pelo SESC e pelo SENAI, seus instrumentos para “intelectualizar” do que chamam carinhosamente de ralé.

    Quando, e se, precisar de técnicos e especialistas em número que exceda as vagas disponíveis para seus parente e amigos, manda vir do exterior. À ralé e chão-de-fábrica que se danem.

    Aliás, Henfil já havia cantado esta bola — “O que falta no Lula? Cheiro de patrão, verniz, cara de patrão, óculos de patrão, diploma, voz de patrão, gravata, paletó e cuecas de patrão. E o que mais falta? … Ah! Falta tudo!”. Sem ser patrão, se meteu a ajudar pobre, não deu outra, cana na certa.

    O pitoresco disso tudo é que se cumprirá à risca a profecia (não sei de quem) — NO BRASIL A ESQUERDA SÓ SE REUNE NA CADEIA!

    O artigo é bom e certeiro. Faltou só contar que a classe “operária” não sabia que no Paraíso havia maçã envenenada. Por isso, além de ver a humilhação a que está sendo submetido seu líder, vai pagar caro o sonho que ousou ter de um dia ser feliz.

  10. Desde o início, a intenção de

    Desde o início, a intenção de Moro e dessa turma de Curitiba é condenar/prender o Lula. 

    Se não for com esse desfecho, de nada terá adiantado, aos ohos de Moro, toda essa operação, que já dura mais de dois anos. Com Lula elegível, de que teria adilantado o esforço da direita?

    A cabeça de Lula será o troféu a ser exibido pela direita. 

    Cabe uma reflexão: a direita, com Moro,  traçou toda uma estratégia de longo prazo para chegar ao ponto da condenação/prisão do Lula. 

    E a esquerda, qual foi a estratégia?

    O que estão preparando para o dia da condenação/prisão do Lula? Qual o plano?

    Infelizmente, será tudo na base do improviso, sem uma diretriz a ser seguida. Com certeza, não haverá unidade, pois a esquerda, tradicionalmente, valoriza as brigas internas dos diversos setores dentro da própria esquerda, em detrimento do combate organizado à direita.

    Os movimentos sociais já mandaram recados que não se concretizaram. A reação ao golpe foi muito tímida. A direita não os teme. Exército do Stedile não assusta a direita. 

    Qual a diretriz?

     

     

     

     

  11. As estrelas incomodam

    Parece que o nazifacismo, não gosta de estrelas preferem viver nas trevas, na segunda guerra mundial quiseram exterminar os judeus cujo simbolo do judaísmo é a estrela de Davi, que tem seis pontas. No Brasil os nazifacistas estão tentando exterminar as pessoas que se dizem de esquerda e cujo o maior representante destas pessoas é o Partido dos Trabalhadores – PT, cujo simbolo também é uma estrela de cinco pontas, também temos o PSOL, cujo simbolo é o sol, que também é uma estrela, será que estas pessoas nazifacistas não gostam da luz, de fazer as coisas as claras, gostam de viver no escuro para que possam fazer suas maldades sem serem vistas.  

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