“Que fazer?”, parte 1
por Rui Daher
O russo Uliánov Vladimir Ilyitch, Lênin (1870-1924), entre 1901 e 1902, antes de escrever um livro com esse título, aconselhou-se com meu avô, o libanês Miguel Abrahão Daher.
Embora o vô já se preparasse para imigrar para o Brasil, ele não poderia recusar ao chamamento do chefe do poder bolchevique. E lá se foi para a cidade de Brest-Litovsk discutir as bases para estabelecer um tratado de três meses de armistício, para a Guerra Mundial I, com a Alemanha, o Império Austro-Húngaro, e demais potências ocidentais.
Nota: Assistam ao filme “1917”, é bom, e como futebol nunca mais …
A História conta que Lênin, após a Revolução vitoriosa de 1917, encavalar uma Guerra Mundial fazia da população e dos soldados russos cansados de lutar, sob situações climáticas severas, reordenação das estruturas russas. Era preciso um refresco, embora o frio fosse intenso e o goulash raro.
Os adversários, olho cá outro lá, aceitaram, a proposta de Lênin. Difícil foi convencer Bakhtin e a esquerda comunista, filme várias vezes reprisado. Trotsky se fez de Migué (não meu avô), deu um pulo a São Petersburgo e voltou a Brest-Litovski com a notícia: “ou a Rússia aceitava as reivindicações territoriais da Alemanha, ou retomaria a guerra”.
Consultado, vovô exortou a Lênin: “abre as pernas”. Se fake, não sei, mas quem me conta são tios mais velhos, já que meu avô Miguel conheci no caixão, em São José do Rio Preto/SP, e meu pai faleceu quando eu tinha 19 anos e, burro, muito mais eu poderia ter perguntado a ele.
Bem, estamos falando de um século de História, e eu, diante do vírus e do verme, querendo, como creio todos leitores não fanáticos pela burrice, também quererem: “Que fazer?”
Lênin tinha apenas dois objetivos: transformar a ação social política russa em social democracia e como organizar tal ação; espalhar tal condição para todo o País.
Vixe! E nós, no Brasil, “Que fazer?” Tarefa muito mais ingrata. Peço ao Conselho Celestial Consultivo do Dominó de Botequim e entreviste vovô Miguel. Segue:
– Alfredinho: Dr. Miguel, aceita alguma bebida?
– Duas doses de Arak. Soube que meu neto é afeito a bebidas imortais. Está perto de trazerem-no para cá? Quando ele chegar, eu e sua avó síria Maria, prepararemos uma ‘mijadra’ (arroz com lentilha) para ser comida aqui.
– Ariano: Dei uma aula sobre adorar mentirosos, seu neto mentiu muito sobre sua vida antes de vir para o Brasil?
– Nada. Apesar de nosso futuro trotskista, nunca, naquele momento, abandonaríamos a racionalidade de Lênin.
Darcy: De onde vinha tanta sua intimidade com Lênin, a ponto de consultá-lo sobre momentos decisivos da História, e aceitar suas opiniões?
– Certa vez, ele teve que se refugiar no Líbano, em uma cidade a 300 km de Beirute. Lá, passamos quatro dias bebendo, discutindo política e costumes ocidentais. Rimos muito sobre os capacetes que usavam nossos adversários na Guerra. Patéticos.
No momento, Melodia e Beth caem em gargalhadas convulsivas.
Dr. Walther: Dr. Abrahão, sabemos da situação de penúria depois que os sovietes assumiram o poder na Rússia. Valeu a pena tantos sofrimentos e mortes para se livrar do regime czarista?
– Com todo o respeito, o senhor é um homem estudado, conhecedor de como o capitalismo foi distorcido, o que o senhor queria, que a corte feudalista, Rasputin, continuassem enchendo o cu de dinheiro e tesouros, enquanto os pobres continuassem se fodendo? Desculpe, mas sei que meu neto puxou a mim e não tem papas na língua.
Darcy: Dr. Miguel Daher, o tema “Que fazer”, deveria ter trazido a conversa a condutas atuais brasileiras. Mas sua experiência tanto nos cativou, que acabamos nos desviando do tema central. Veja só, não cabe mais uma mosca aqui no “Dominó de Botequim” para ouvi-lo. Só que o espaço é muito pequeno. Falaremos com o Todo-Poderoso e, temos certeza, que ele, também interessado, abrirá espaço imenso para que todos possam ouvir suas ideias sobre o Brasil de hoje em dia. Tudo bem?
-Depende de quantas doses de Arak a mais me servirão. Alhamd lilah!
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.