Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Quem é esse cara que se diz de direita?, por Francisco Celso Calmon

Bolsonaro, ONDE ESTÃO OS NOSSOS MORTOS E DESAPARECIDOS PELA DITADURA? Cadê o Queiroz? Quem mandou matar Marielle? Quem banca Adélio Bispo?

Quem é esse cara que se diz de direita quando não passa de um pústula?

por Francisco Celso Calmon

O presidente miliciano ofendeu à memória de um morto, tripudiou sobre o filho, por extensão, a todos os filhos e netos dos mortos e desaparecidos da ditadura, e agrediu a nós sobreviventes daquela tirania.

Recentemente Bolsonaro fez um covarde ataque ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, e à memória de seu pai, Fernando Santa Cruz, cruelmente assassinado pela repressão da ditadura militar no Rio de Janeiro em 1973, segundo consta no relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Em forma de escárnio declarou: “um dia, se o presidente da OAB quiser saber como o pai dele desapareceu no período militar eu conto para ele… ele não vai querer ouvir a verdade”.

Confrontando o Relatório da CNV, afirmou que o estudante não fora assassinado pelo Estado ditatorial e sim que teria sido morto por próprios companheiros da Ação Popular (AP); organização que atuava no combate à ditadura de forma pacífica. Mentiu, como lhe é costumeiro, sem absolutamente uma prova, contrariando até notas oficiais dos órgãos das forças armadas da época. O Relatório do Exército de 1993, por exemplo, informa que Fernando Santa Cruz “foi preso no RJ em 23/02/74, sendo dado como desaparecido a partir de então”.

Afrontando a dor da perda de um pai, cujo corpo a família sequer teve a oportunidade de sepultar, Bolsonaro, com crueldade, vocifera ódio, calúnia e injúria contra a memória de milhares de perseguidos, torturados e mortos pela ditadura militar.

Consoante aos relatórios da CNV e de outras comissões estaduais e municipais, auxiliadas por pesquisadores e historiadores, a verdade histórica é inquestionável e permite afirmar que o Brasil viveu um terrorismo de Estado por 21 anos.

Desde o primeiro dia do golpe, 1º de abril, pessoas foram presas, torturadas e mortas: 50 mil só de abril a agosto de 1964, 500 mil investigadas, 200 mil detidas, 11 mil acusadas e 5 mil condenadas, inclusive à pena de morte, 11 mil torturadas, 10 mil exiladas, 402 mortas pela repressão, 143 ainda desaparecidas, em torno de 9 mil índios e camponeses atingidos, 7,5 mil militares perseguidos; ou seja: a nação foi estuprada, vilipendiada e colocada no pau de arara. Fecharam-se as portas do Congresso Nacional, acabaram com o habeas corpus para os “crimes políticos”, instituíram mortes por fuzilamento aos opositores do regime, fizeram 536 intervenções em sindicatos; extinção e colocação na ilegalidade de entidades estudantis, UNE, UBES e demais.

Num país de 90 milhões de pessoas, à época, meio milhão fora investigado, o que dá bem a dimensão da ditadura de uma minoria obcecada pela política de suspeição de todos como inimigos internos.

Crianças e adolescentes tampouco eram poupados. Maria Luiza M. de Albuquerque foi presa, na mesma ocasião que eu, aos 16 anos, pelo agente do CIE Paulo Malhães e comparsas. Na ocasião, o juiz de menores, Alyrio Cavallieri, proferiu a decisão “Autorizo continue dita menor à disposição das autoridades militares…”. Maria Luiza conta em depoimento à CNV: “fiquei em torno de 40 dias. Apesar da fragilidade que aparentava, não fui poupada da brutalidade de uma tortura insana. Em uma destas sessões de tortura cheguei a ter à minha volta cinco homens que babavam de satisfação ao ver a urina escorrer por minha calça, motivada pelo choque elétrico. Cada gemido ou grito de dor era para eles como um troféu adquirido. Em outro momento, já muito depois de ter escurecido, me levaram para uma área no pátio onde existia um cativeiro de jacarés…”. “Fui agarrada e ameaçada de ser jogada lá dentro para ser comida; segundo eles, seria muito fácil destruir qualquer vestígio de meu corpo. Menos de um ano depois, com 17 anos, fui novamente sequestrada”.

Um outro relato: “Presa aos seis meses de gravidez, Criméia de Almeida conseguiu manter seu filho na barriga, apesar das torturas. Quando a bolsa estourou, na cela solitária que ela ocupava em uma carceragem do exército em Brasília, dezenas de baratas que habitavam o lugar começaram a subir por suas pernas, alvoroçadas por se alimentarem do líquido amniótico. Embora pedisse ajuda teve de esperar horas até ser transferida para um hospital. “Quando o bebê nasceu, já o levaram para longe de mim. E o médico me costurou sem anestesia. Eu gritava de dor. Daí eles passaram a usar meu filho para me torturar. Passavam dois dias sem trazê-lo para mamar. Quando ele vinha estava com soluço, magro, morto de fome. Ele nasceu com quase 3,2 Kg, mas com um mês pesava apenas 2,7 Kg. Na infância ele tinha muitos pesadelos, chegou a ter convulsões…”

Foi o Estado ditatorial bestializado que produziu essas agressões aos filhos deste solo.

Diante daquela tirania, brasileiros se insurgiram, legitimados pelo direito sagrado de resistência, e combateram a ditadura por todos os meios. Foram impedidos de trabalhar, cassados, sequestrados, aprisionados, torturados, julgados, condenados, banidos, exilados, mortos e desaparecidos, sob a mortalha das leis e tribunais de exceção. E sobre suas ações muita falsidade pela imprensa engajada com a ditadura.

Recente, Bolsonaro, o mesmo que disse em entrevista em rede nacional “O erro da ditadura foi torturar e não matar”, declarou “lamento a morte dos dois lados”, tentando fazer o revisionismo histórico sobre a verdade da ditadura militar.

Não existiram dois lados. Não houve guerra civil. O Estado com o monopólio da força e da violência foi conduzido por uma ditadura militar que não aceitava qualquer tipo de oposição; sua linguagem era a da repressão institucional e física. A ditadura que vigorou no Brasil de 1964 a 1985, provocou várias atrocidades e violou todos os protocolos internacionais de Direitos Humanos. 

Direitos humanos é obrigação do Estado manter e assegurar aos cidadãos. Em vez de cumprir com o seu dever, cometeu crimes de lesa-humanidade, como tortura, desparecimento forçado, punições extrajudiciais, sequestro de opositores e até de bebês.

O Estado é um ente abstrato que atua através de suas instituições, e estas, por sua vez, operam por meio de agentes públicos, civis e militares, portanto, os que cometeram crimes imprescritíveis são responsáveis penalmente pelos seus atos.  

A nossa luta foi por vocação ao ideal da sociedade justa e democrática. Conforme disse Tancredo Neves, o grande conciliador nacional do período de redemocratização do país: “Na luta contra as forças das sombras houve os que tombaram, os que conheceram o degredo, e os que não aceitaram a humilhação dos poderosos, vencendo, com dignidade, a perseguição e a calúnia. Os melhores filhos da nação souberam resistir, na peleja de todos os dias, ocupando os reduzidos espaços da ação política, até que o povo inteiro, afastando o medo e recuperando o ânimo, irrompeu na força avassaladora das ruas”.

Os militares que hoje estão no governo são remanescentes e adeptos da linha dura da ditadura militar, agem, exata e precisamente, conforme agiram aqueles que os antecederam. São declaradamente a favor de toda violação dos direitos humanos e atrocidades que os seus cometeram.

A gorilada nos provoca. Mas não nos amedronta. Resistimos à ditadura militar e ao final vencemos. Novamente a democracia há de sair vitoriosa com a força do povo brasileiro.

A página da história só será virada quando restabelecer o Estado democrático de direito e a memória, verdade e justiça prevalecer

Bolsonaro, ONDE ESTÃO OS NOSSOS MORTOS E DESAPARECIDOS PELA DITADURA? Cadê o Queiroz? Quem mandou matar Marielle? Quem banca Adélio Bispo?

Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017).

 

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

5 Comentários

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  1. Uma noite dessas, eu desfilei na passarela da História e constatei que os Movimentos Libertários – de Spartacus à Comuna de Paris, da Revolução Russa ao Socialismo Chileno do Salvador Allende, do Occupy Wall Streets às Jornadas de Junho – ou são esmagados ou são assimilados pelos Opressores. Estes preferem a assimilação, pois o uso da violência sempre os deixa feios na foto.

    Será que se desencadeará algum Movimento Libertário que não seja esmagado nem assimilado pelos Sanguessugas?

  2. Concordo com cada LINHA escrita mas, mas gostaria de lembrar que após este PESADELO, tb teremos que fazer uma análise dos erros, riscos e omissões desnecessárias pq passamos (ou provocamos) e que culminaram nesse estado selvagem de coisas de hoje ..mais, sem tb desmerecer que “a gorilada e suas falanges” são, por baixo, 20% dos brasileiros, um contingente que não pode ser apartado ou ignorado como muitos tentaram fazer nos últimos anos.

  3. A pergunta que o Sr. Francisco Celso Calmon faz é tudo o que o ocupante ilegítimo da cadeira de presidente não quer e não pode responder. Porque as respostas desnudariam tudo o que denuncia a sua ilegitimidade. A começar pelo que sustenta e protege o Adélio Bispo. O mesmo aparato que se propõe a desvendar até um mistério de hackers que não existem, se apresenta incapaz de explicar o caso de um detento vivo, mantido sob custódia do Estado comandado por criminosos. Não porque o mistério que envolve o detento seja indecifrável, mas porque é, ao contrário, muito bem conhecido e sabido como mais uma farsa que, como tantas outras, se esclarecida, revelaria mais uma das tramas integrantes da grande mentira que levou ao poder um bando de boquirrotos, ignorantes e delinquentes.

  4. Artigo vai ao cerne da questão: esse (des)governo quer nos esconder a nossa história, para que não consigamos enxergar que ele age como agiam os militares em 1964 – perseguindo o povo trabalhador, os estudantes, as minorias sociais, censurando posicionamentos políticos e opositores.

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