Uma fábula persa, brasileira. Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Uma fábula persa, brasileira. Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Hoje tive um sonho interessante.

“Num restaurante de luxo o cofre do banco estava sendo roubado. O cofre estava aberto, mas o ladrão não se preocupa em subtrair seu conteúdo. Ele prefere trocar o segredo do cofre antes de concluir o serviço.

Intrigado com a conduta do ladrão um de seus parceiros resolve ir embora. Ao passar entre as mesas vazias o garçom pergunta se ele gostou da comida. Ele não responde, nenhuma comida era servida no local.

Na rua o fugitivo pega um ônibus vazio. Ninguém está conduzindo o veículo. O fugitivo se sente inseguro, imagina que está sendo perseguido. Algum tempo depois ele desce e nota que ninguém está seguindo o ônibus. Ele fica sozinho numa rua de terra escura. A mata fechada dos dois lados da rua não inspira nem terror nem vontade de explorar o desconhecido. O fugitivo fica onde está como se isso fosse a única coisa que pudesse fazer.”

Como numa Fábula Persa, tudo neste sonho está descolocado do seu verdadeiro sentido. 

O restaurante não serve comida. Serviços bancários não são servidos em restaurantes. O ladrão não está roubando nada e sim mudando o segredo do cofre como se esse fosse mais valioso do que seu conteúdo. Nenhum crime ocorreu, mas o parceiro do ladrão foge sem necessidade. O garçom não poderia servir comida, mesmo assim pergunta se ela está gotosa. O ônibus não tem motorista e não leva ninguém. O fugitivo inseguro desce antes de chegar ao seu destino em segurança. A solidão não incomoda o fugitivo. A floresta é incapaz de penetrar na consciência dele, pois o ônibus sem condutor o levou ao local em que ele gostaria de estar.

Certeza e incerteza. Essas parecem ser as duas molas que nos fazem agir, não agir ou transformar em ação a inação. A consumação do crime é mais importante do que a percepção de que uma conduta é criminosa? Fugir ou ficar são opções diferentes quando não se pretende mais fugir do lugar em que se chegou desnecessariamente?

O crédito é o alimento da economia. O alimento depositado no estomago estende a vida do consumidor de serviços bancários. Portanto, bancos e restaurantes vendem a mesma coisa. Todavia, nem mesmo as pessoas mais ricas podem comer dinheiro. A utilidade do alimento desaparece quando já estamos satisfeitos. O dinheiro em excesso, porém, pode ser útil desde que seja transformado em crédito.

O que realmente tem valor? O conteúdo de um cofre ou o segredo que permite abri-lo a qualquer momento? Michel Temer assalta o cofre do Brasil (refiro-me obviamente a extinção do Fundo Soberano) como se ele tivesse algo valioso. Lula, porém, parece acreditar que o segredo mais valioso é aquele que abre os corações dos banqueiros, ou seja, dos credores do Estado. Só assim o alimento poderá voltar à mesa dos brasileiros.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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