Faturamento e Lucro de Alcoólicos Anônimos

Por Luiz Alberto Bahia

Comentário do post “A crítica aos Alcóolicos Anônimos” 

Só agora vou responder a alguns questionamentos que foram feitos aqui porque não me foi impossível fazê-lo antes. A impossibilidade se deveu aos intensos debates que aconteceram em inúmeros blogues aqui na Net, eu consegui contar 59 deles. Mas aos poucos vou respondendo aos que me dirigiram, porque considero de suma importância que se estabeleça a verdade, trazendo a tona informações verídicas sobre a questão. Na verdade algumas pessoas não concordam com o que dizemos do A.A., sem no entanto conhecer os meandros da irmandade. Eu confesso até, que também fiquei surpreso e impressionado com muitas coisas que constatei, quando me aprofundei nas pesquisas sobre este “grupo carismático” de “culto a personalidade de Bill Wilson. Um dos comentários mais irrealista foi o da Márcia sobre o “sufoco” financeiro do A.A. Na verdade me parece que o objetivo dela certamente seria o sensibilizar o público para as dificuldades financeiras da irmandade, coisa que está longe da realidade, como poderão constatar nos achados que fiz. O texto abaixo é um capitulo do meu último livro, conforme se segue:

 

FATURAMENTO E LUCRO DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS

Texto extraído do livro “O mito da doença espiritual na dependência de álcool (Desmistificando Bill Wilson e Alcoólicos Anônimos)”

Desde que A.A. chegou ao Brasil, os seus administradores americanos estavam

muito mais preocupados em faturar do que recuperar dependentes. Tanto é que, quando o Dr. Donald M. Lazo se dispôs a traduzir o “Big Book” para o português, criaram tantos empecilhos, inclusive proibindo que o livro fosse impresso no Brasil e exigindo que o fosse nos Estados Unidos. Lazo desistiu da empreitada na época, só retomando o empreendimento posteriormente, depois de intensas negociações.

No site oficial de A.A., na sessão “A Literatura de Alcoólicos Anônimos” pode–se ler que em 1968 um brasileiro residente nos Estados Unidos, de nome Gilberto, conseguiu intermediar as negociações entre a A.A. World Services, Inc., e Lazo, não sem antes garantir os direitos e uma série de outras vantagens e polpudos lucros para publicação do Livro Azul. O Big Book, no Brasil, recebeu o título de Alcoólicos Anônimos e ficou também conhecido como o Livro Azul. Não traduziram literalmente o titulo da língua inglesa, que no caso seria “livro grande” ou “grande livro”, já que aqui não enganaram os leitores colocando papel de gramatura bem grossa para impressioná-los. Assim big book ficou um termo sem sentido, já que de grande não tem nada. A edição que temos em mão é de formato 21×13,5cm com espessura de 1 cm e não passa de 200 páginas.

O A.A.W.S. recebeu US$0,82 (Oitenta e dois centavos de dólar) por cada livro vendido ou distribuído, cujo valor total era de US$2,00 (dois dólares) cada exemplar, o que representa uma margem de 41% para os detentores dos direitos autorais americanos. Observem que o A.A. aqui no Brasil ainda abocanhou sua parte depois de pagar os royalties aos americanos. Como esses valores reportam a quarenta anos atrás, não servem muito de referência para apontar qual a margem de lucro de A.A., e para isso vamos estabelecer parâmetros atuais. O livro A Linguagem do Coração, que tudo indica, é a última publicação levada a efeito por A.A., hoje é vendido ao público por R$33,00 e o Livro Azul, por R$19,00. (ano de referência 2010) Um livro com especificação técnica semelhante à do volume A Linguagem do Coração (quanto à qualidade do papel da capa e miolo, tipo de impressão, e número de páginas, incluindo-se arte de capa e diagramação de miolo) tem um custo gráfico, para impressão de mil livros, no valor aproximado de R$7,00 cada volume, se for levado em conta o preço médio do mercado. Para o livro Azul, encontramos quem fizesse orçamento de R$4,50.

Acontece que um livro com as especificações técnicas do A Linguagem do Coração a este mesmo preço de R$33,00 nas livrarias, é o de um best seller, que quase sempre custou a criatividade e competência do autor, quando não intensas pesquisas e outras engenhosidades para ser aceito pela critica, ganhar o interesse dos leitores e se destacar no mercado. E que se leve em conta ainda que a planilha de custos para se chegar a esse preço final ao consumidor, em regra geral, obedece o seguinte critério: no caso de um livro adquirido nas livrarias, cujo preço final ao consumidor é no valor de R$33,00, está incluída a margem da livraria que, para obter um lucro líquido, calcula suas despesas administrativas, trabalhistas, operacionais e tributárias. Mas antes disso, a distribuidora do livro já ficou com uma margem em torno de 40%, para fazer face às suas próprias despesas e expectativa de lucro. Já a editora, que paga as despesas com a confecção do livro propriamente dita, os direitos autorais, a propaganda e as despesas com as mesmas rubricas das livrarias e distribuidoras, também tem sua margem de lucro lançada nesta planilha. A grosso modo, fica aí um esboço, que explicaria, em termos, porque um livro que custou R$7,00 de impressão teria um acréscimo em torno de 357% até chegar às mãos do consumidor, no caso de impressão superior a mil livros, esses valores (357%) percentuais aumentarão consideravelmente na mesma proporção que se aumenta a tiragem, obedecendo ao que se chama economia de escala. Mas no caso desses preços praticados pelo A.A., que é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, gozando da isenção de impostos, em que a grande maioria de seus trabalhadores é composta por voluntários sem remuneração, e não tem despesas com distribuidoras e livrarias – pois vendem diretamente aos consumidores – o que os justificariam? Sem a menor sombra de dúvida os preços de livros praticados pelo A.A. é exorbitante, conferindo uma prática lesiva aos adquirentes. O livro em questão, A Linguagem do Coração, não se trata de pesquisas ou de trabalho dispendioso, não envolve escritor de renome. Trata-se de um livro composto por mera compilação de artigos, de discutível qualidade literária, que foram publicados na revista Grapevine – que por sinal os leitores já pagaram. Trata-se de artigos em sua maioria repisados dos Doze Passos e das Tradições. Aliás, na maioria dos livros editados pelo A.A. há textos em comum (repetições) que ocupam páginas e mais páginas, não havendo temas novos que justificassem a edição de um novo livro. É a velha “máquina americana” de produção e marketing. Tem que se levar em conta ainda, e com muita relevância, que essas literaturas – pelo menos é esse o discurso de Bill e da irmandade – seriam de grande importância para que o adepto alcance ou mantenha sua abstinência ao álcool. Na verdade não há a menor consideração com o consumidor, apenas os interesses de quem detêm os direitos autorais são visados.

Outro aspecto muito importante que destacamos aqui, é quanto ao não cumprimento da legislação tributária. Ao adquirir um exemplar do livro A linguagem do coração, em 26/06/2009, na cidade de Belo Horizonte, não emitiram Nota Fiscal como manda a lei, em lugar disso, nos apresentaram uma nota de balcão, com o título de “Repasse de Publicações”, de número 01883. Esse procedimento é inteiramente ilegal, conforme nos atestou o encarregado de um dos postos da Secretaria da Receita do Estado de Minas Gerais. Segundo prevê a legislação, as entidades filantrópicas, mesmo gozando de isenção de pagamento de impostos, são obrigadas a cumprir a legislação, emitindo a Nota Fiscal nas transações de venda de mercadoria.

Nos foi dado a conhecer o teor do Capitulo I, “Das Obrigações do Contribuinte do Imposto – RICMS/2002, em seu Art. 96, que no item X, reza: “emitir e entregar ao destinatário da mercadoria ou do serviço que prestar, e exigir do remetente ou do prestador, o documento fiscal correspondente à operação ou a prestação realizada.”

Lembramos que ao pagar os quatro dólares pela consulta, abaixo descrita, ao Grapevine americano, deles também não recebemos nenhum documento fiscal correspondente a transação. Ao burlar a legislação tributária, principalmente no tocante a emissão de Nota Fiscal, o infrator normalmente visa lesar os cofres públicos, sonegando o imposto devido. Como o A.A. deve estar enquadrado como entidade isenta de impostos – a nosso ver indevidamente, já que anseia por lucros -, o procedimento ilegal deve visar a omissão de informações sobre sua real movimentação financeira. De qualquer maneira a pratica perpetrada por A.A. configura-se como pratica ilícita. Os contribuintes que forem apanhados cometendo o ato tido como crime, está passível de sansões legais, inclusive de prisão para os seus dirigentes responsáveis.

Destacamos ainda que, segundo o Código de Defesa do Consumidor, o consumidor tem o direito de receber a Nota Fiscal das mercadorias que compra, mesmo porque ela é o único documento que possibilita ao mesmo, reclamar e propor ações que visem reparar os prejuízos que possam ter, em função de defeitos apresentados, ou danos que a mercadoria possa lhe provocar.

Voltando aos lucros de A.A., que não são apenas de literatura, o A.A. no Brasil vende outros oitenta e seis itens, diretamente para os grupos, e além da literatura, conta com quadros, cartazes, banner’s, DVD’s, CD’s, Fitas de vídeos, livretes. Até os simples folhetos de divulgação são vendidos. Para se ter uma ideia, as famosas fichas de A.A., já referidas em nota, estão a disposição nas seguintes especificações e preços, conforme Tabela de Preços JUNAAB – Julho/2009: Ficha Comum com Emblema R$1,30, Ficha Plástica de Luxo R$9,00 e Ficha Plástica Dupla R$18,00.

Para A.A. um dos maiores acintes, pelo menos no discurso, é cobrar pela recuperação de dependentes de álcool. Quanto alguém cobra por materiais ou por serviços prestados à recuperação, eles dizem que estão vendendo o Décimo Segundo passo.

Então cabe perguntar se eles não estão vendendo (e caro) o Décimo Segundo passo? Quanto ao A.A. americano, nem temos ideia de quantos itens vendem, pois até para ter acesso a um único artigo da revista Grapevine, virtual, via internet, tivemos de pagar quatro dólares.

Depara-se aí com outra face de A.A.: um grande negócio capaz de gerar lucros extraordinários. Funciona como qualquer outra multinacional americana, sedenta de faturamentos e lucros de proporções injustificáveis. Do faturamento de milhões e milhões de dólares, o fabuloso lucro proveniente de literatura e de dezenas de apetrechos e de propaganda, voltam para a matriz americana em forma de royalties. Os grupos são verdadeiramente joint venture da causa. A nacada maior do dinheiro evidentemente sai dos bolsos dos dependentes de álcool “socorridos”, quase sempre, em petição de miséria quando chegam ao fundo do poço. O que não conseguiram de Rockefeller (Bill tentou fustigantemente obter milhões de dólares do milionário – acabou ganhando uma mesada semanal para si e para o Dr. Bob) estão obtendo de doentes, em sua grande maioria, pobres. É do conhecimento público que religiões conseguem fabulas de dinheiro de humildes e pobres seguidores. Estaria aí a razão de não se mudar os princípios arcaicos de A.A., e seguir pelo caminho científico que têm se provado ser bem mais eficaz? Atualizar seria um risco na obtenção de lucros? Algo tão rentável não poderia correr o risco de, ao sofrer mudanças, passar a não auferir os mesmos vultuosos resultados financeiros. Alguém ou um grupo de pessoas estão ganhando fabulosas somas de dinheiro produzidas por meio desta máquina. Por ocasião das discussões que vieram a público, sobre a reportagem “É preciso dar mais do que doze passos”, em que um trabalho científico apontou a ineficiência de A.A., uma das argumentações utilizadas com mais intensidade, por aqueles que participaram das discussões polêmicas, foi a acessibilidade de A.A. devido a gratuidade para afiliação e frequência. Até o Dr. Dartiu, coordenador do trabalho, ponderou e apontou essa vantagem de A.A. como ponto fundamental para a existência da irmandade. A dita gratuidade de A.A. acaba saindo muito caro para a maioria de seus adeptos, quando não em sacrifícios. E como sempre, para benefícios de poucos. Um legado de Bill. Sob pena de faltar com a verdade não se pode dizer que há gratuidade em A.A., nos termos em que inspira desoneração para o membro.

Quase sempre é mantido a sete chaves os números referentes ao faturamento e lucro de A.A. mas, conseguimos algumas informações neste sentido no Boletim nº 32 da JUNAAB, que transmite uma ideia do que sejam os valores movimentados pela irmandade. Neste Boletim, o CF – Comitê de Finanças – informa sobre a movimentação do último trimestre de 2008. Informam que é de destacar o equilíbrio das contas do ESG – Escritório de Serviços Gerais. Como fruto das diretrizes orçamentárias, verificou-se um crescente aumento das disponibilidades financeiras, o que permitiu uma reavaliação da “Reserva Prudente” e, consequentemente um aumento de R$150.000,00. Embora não se tenha dito muita coisa, como por exemplo, para quanto foi total destas disponibilidades financeiras, ou quanto foi o total dos valores que remeteram para a matriz americana, contudo, apenas a informação de que se aumentaram as disponibilidades financeiras em R$150.000,00 já nos revela que é muito grande a quantidade de dinheiro que envolve os negócios desta entidade, dita filantrópica.

Uma observação sobre a falta de reciprocidade de A.A. na remuneração por serviços prestados é bem azada. A.A. tem um esquema bem montado para angariar a simpatia de quase todos os segmentos da população, que aos olhos desta parece ser muito carente e necessitada de ajuda. Com isto a entidade consegue obter os meios para atingir seus objetivos sem ter que pagar por isso. Apesar do faturamento vultuoso, A.A. despende um mínimo de dinheiro para funcionar. Como já foi dito, a maioria de seus trabalhadores é composta por voluntários sem remuneração, os grupos quase sempre funcionam em igrejas e dependências cedidos gratuitamente, não assumindo nem as despesas com água e energia elétrica desses espaços. Embora tenham uma propaganda intensiva em toda mídia, não se tem noticia que pagam pela publicidade. Nesse sentido, Bill fez um agradecimento no livro A.A. Atinge a Maioridade, na página 125, onde disse “Um outro grande serviço realizado pelos amigos de A.A. são os da imprensa, rádio e demais veículos de comunicação. Esses órgãos têm dado à Irmandade milhões de dólares em publicidade gratuita”. Também conseguem a prestação de serviços gratuitamente de profissionais liberais, através dos CTO – Comitê Trabalhando com os Outros, que fazem gestões junto a esses profissionais, solicitando-lhes palestras e confecções de artigos para publicações, e nem se fala, literalmente, quanto aos honorários pelos serviços prestados.

Como já vimos, em A.A. é muito comum dizer que se está “vendendo o 12º Passo”, quando querem se referir que alguém (do A.A. ou fora dele) está ganhando dinheiro com a recuperação, ou mesmo com qualquer ganho que alguém possa ter, atuando junto a dependentes de álcool, e pelo visto, diante do que apuramos, é correto dizer que A.A. está vendendo do 12º Passo. Contudo essa prerrogativa é apenas do A.A., não sendo estendida aos adeptos. Estes, segundo exaustiva orientação, devem levar a mensagem “ao outro que ainda sofre” sob a tutela do lema “daí de graça aquilo que recebeste de graça”. E aqui parece estar outro legado de Bill, se for levado em conta o acontecido quando ele quis trabalhar no Towns Hospital, e houve protestos dos demais membros da irmandade, fato este já registrado aqui: para justificar seu oportunismo, Bill argumentou que estava escrito na Bíblia que todo trabalhador merece o salário, mas os outros membros se revoltaram com a proposição e disseram “Você não pode fazer isso conosco Bill. Não percebe que para você, nosso líder, receber dinheiro para levar adiante nossa magnífica mensagem, enquanto o restante de nós tenta fazer a mesma coisa sem receber nada[…] Por que nós deveríamos fazer de graça de graça aquilo pelo qual você seria pago?”

A ineficiência de A.A. ficaria apenas por conta da recuperação dos dependentes de álcool, porque a eficácia na obtenção de dinheiro é patente. Os empreendimentos humanos quase sempre encontram justificativas em sua razão de ser nos dividendos que proporcionam.

Em meu blogue www.greda-luizalbertobahia.blogspot poderá ser obtidas mais informações, verídicas, sobre o A.A.

Luis Nassif

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