Ativistas analisam campanha do governo contra DST/aids

Da Agência de Notícias da Aids

Campanha de prevenção às DST/aids no carnaval provoca críticas e elogios de ativistas

Jéssie Panegassi

Lançada nesta quinta-feira, 31 de janeiro, no Rio de Janeiro, a campanha nacional de prevenção às DST/aids do Ministério da Saúde tem como público alvo a população sexualmente ativa dos 15 aos 49 anos. O filme produzido especialmente para esta campanha mostra a dificuldade de viver com HIV e traz dados sobre a quantidade de preservativos e remédios distribuídos pelo governo. A pedido da Agência de Notícias da Aids, ativistas analisaram a campanha federal.

Para Beto Volpe, representante da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP+) no estado de São Paulo, a campanha, apesar de “bastante interessante”, falhou ao não focar em ações para populações vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens (HSH). “Por um lado, não retratar nenhuma população específica dá mais abrangência para o tema, mas, por outro, é necessário ter uma ação mais incisiva sobre a população de homossexuais e travestis”, argumenta. 

“O Ministério usa este filme para fazer autopromoção. A gente esperava que eles focassem em alguns públicos, principalmente entre jovens gays, já que se trata de uma população que o governo tem dificuldade de atingir”, opina Rodrigo Pinheiro, presidente do Fórum de ONGs Aids do Estado de São Paulo. 

Willian Amaral, da RNP+ do Rio de Janeiro, alega que no slogan final da campanha, quando se fala que a aids não tem cura, “remete à aids ser uma doença mortal, sendo que mortais somos todos nós”. Para ele, a campanha, que só foca nos preservativos, deveria informar também sobre a testagem para conhecimento do diagnóstico e acesso ao tratamento. “O simples ‘use camisinha’ é uma coisa batida. A gente já está falando isso há 30 anos”, afirma. Ele ainda critica a falta de casais homossexuais no baile de carnaval e diz que a campanha ficou vaga. 

Já Renato da Matta, do Fórum de ONGs Aids do Rio de Janeiro, gostou da campanha, diferentemente do que aconteceu nos anos anteriores. “Ao contrário dos outros anos, eles não colocaram que viver com aids é a oitava maravilha do mundo, e sim que ela é uma doença para a vida inteira. Achei bem interessante o tom que eles deram. Gostei também porque não teve um foco para um único público”, comenta. “Assim como a aids, que não escolhe orientação sexual ou estilo de vida, a campanha também não escolheu”, acrescenta.

De acordo com o Ministério da Saúde, ao longo dos últimos 12 anos, a porcentagem de casos de aids na população geral de 15 a 24 anos caiu. Já entre os gays da mesma faixa etária houve aumento de 10,1%. Em 2010, por exemplo, para cada 16 homossexuais vivendo com aids, havia 10 heterossexuais. Essa relação, em 1998, era de 12 para 10.

Carnaval 2012

O ponto que não passou desapercebido e não dividiu opiniões foi o “sentimento de lástima” com relação a não apresentação da campanha contra DTS/aids do ano passado, voltada para os homossexuais. “O Ministério da Saúde perdeu a oportunidade de ter uma campanha ousada no ar. Nos últimos anos elas sempre ficaram a desejar e no ano passado a campanha foi censurada – o que agrava mais ainda a situação”, desabafa Willian. 

“A gente está lutando para que eles coloquem (a campanha) no ar em veículos de massa. Ela ajudaria até a trabalhar melhor as questões de estigma e preconceito. Se veiculada em massa ela realmente atingiria o público que está mais vulnerável”, completa Rodrigo. Renato vai além e afirma que “aquele foi um dinheiro jogado fora. Se tivesse ido ao ar seria muito bom, além de ter evitado desperdício de verba”.

Luis Nassif

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