Elias Jabbour
Elias Jabbour é professor Associado dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas (PPGCE) e em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Autor, com Alberto Gabriele, de "China: o socialismo do século XXI" (Boitempo, 2021). Vencedor do Special Book Award of China 2022.
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Xi Jinping e o “marxismo de Lênin”, por Elias Jabbour

Ao deslocar as teorias do desenvolvimento (estruturalismo latinoamericano e anglosaxão) e de Estado Desenvolvimentista à explicação de um fenômeno novo em prol do conceito de formação econômico-social, abriu-se um relevo de possibilidades intelectuais.

Foto Xinhuanet

Xi Jinping e o “marxismo de Lênin”

por Elias Jabbour

Tenho trabalhado com a ideia de que emergiu na China em 1978 uma nova classe de formações econômico-sociais, o socialismo de mercado. O “marxismo de Lênin” foi fundamental na minha recente trajetória intelectual. O que chamo de “marxismo de Lênin” é o marxismo que alça o conceito de formação econômico-social ao grau de conceito de fronteira das ciências humanas e sociais. Esse conceito, um tanto quanto obscuro em Marx e Engels, e ganha forma e conteúdo em Lênin e seu livro “Quem são os amigos do povo e como lutam contra a socialdemocracia?”. São inúmeras as contribuições de Lênin e outros pensadores à construção deste conceito. Destaco Mao Tsétung, Mariátegui e, no Brasil, Ignacio Rangel.

Eu e Alberto Gabriele em “China: o socialismo do século XXI” e ser lançado em breve pela Boitempo Editorial trabalhamos, aprofundamos e tentamos inaugurar uma visão inovadora sobre a China tendo este conceito como chave. Uma homenagem ao “marxismo de Lênin” sob forma de uma inovadora e polêmica construção de uma visão do socialismo e do capitalismo nos últimos 100 anos e posicionando a formação econômico-social que emerge na China em 1978 como parte desta nossa construção teórica. O que tem a ver Xi Jinping com isso tudo? Xi Jinping inaugura uma era em que mudanças institucionais intentam transformar qualitativamente os esquemas de propriedade do país. Isso não é um ato isolado, uma simples virada política. Tem luta de classes, mas tem conceito.

Ao deslocar as teorias do desenvolvimento (estruturalismo latinoamericano e anglosaxão) e de Estado Desenvolvimentista à explicação de um fenômeno novo em prol do conceito de formação econômico-social, abriu-se um relevo de possibilidades intelectuais. Uma formação econômico-social é algo em constante movimento. É algo que abriga diferentes modos de produção de diferentes épocas históricas operando em unidade de contrários, porém hegemonizado pelo poder político de novo tipo e suas respectivas formas de propriedade públicas.

O caráter desigual do processo de desenvolvimento de uma formação com diferentes “camadas geológicas” que se combinam, dando origem a novas, nos levou a buscar o cerne de sua dinâmica. O chamado universal no particular que as grandes terias não nos entregam. Essa desigualdade no processo interno de desenvolvimento demandava a constante construção de instituições capazes de mediar as relações entre os diferentes modos de produção, historicamente distantes. Mas territorialmente próximos, em processo de combinação.

O processo de desenvolvimento econômico em meio esta dinâmica depende da capacidade de resposta institucional do Estado. É colocar constantemente as relações de produção em concordâncias com as novas forças produtivas que surgem. O universal no particular na experiência chinesa pode ser percebida nesta capacidade de mudanças institucionais rápidas que explicam o crescimento ininterrupto chinês. Recolocar o Estado e o setor privado em diferentes papeis ao longo do tempo.

Assim foi se desenvolvendo essa nova formação econômico-social. Em meio a inúmeras contradições. Como o movimento e a contradição são as lógicas fundamentais, não é de se estranhar o avanço do setor privado sobre o estatal na década de 1990, por exemplo. Observando em dinâmica. A urbanização elevou a capacidade de organização dos trabalhadores que passaram a ser voz mais ativa, empurrando para frente aquela experiência e dando forma a um Estado nada weberiano. Uma nova teoria do Estado é necessária para compreender aquela dinâmica. Está aí mais uma lacuna a ser enfrentada. Conto com a inteligência de Eduardo Costa Pinto para isso.

Mudanças institucionais cíclicas e luta de classes são uma totalidade. Xi Jinping capitaneia uma nova onda de inovações institucionais, mais profunda e ativa. Esquemas novos de propriedade surgem, novas formas históricas de propriedade hegemonizadas pelo setor público, idem. A síntese disso é o surgimento, também, de uma nova dinâmica de acumulação, com leis e regularidades próprias a serem descobertas, que chamamos de “Nova Economia do Projetamento”. Trata-se da forma histórica do socialismo em nossa presente época.

Enfim, as ideias são assim. Não podemos requentar o que autores europeus e norteamericanos, inclusive marxistas, falam e escrevem sobre a China. Podemos mais. Podemos elaborar mais e melhor. Coragem e força a quem enfrenta, de verdade, este debate em alto nível.

Elias Jabbour, professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas (PPGCE) e em Relações Internacionais (PPGRI) da UERJ

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Elias Jabbour

Elias Jabbour é professor Associado dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas (PPGCE) e em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Autor, com Alberto Gabriele, de "China: o socialismo do século XXI" (Boitempo, 2021). Vencedor do Special Book Award of China 2022.

1 Comentário

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  1. Me ocorre, quando é feita a correlação entre novas forças produtivas e o impulso, digamos natural, a revolucionar as instituições, pensar no caráter revolucionário da burguesia quando, em pleno século dezoito, ao raiar das primeiras manifestações da Revolução Industrial, se torna urgente dar outra forma ao trabalho. A palavra de ordem de Turgot é Liberação do Trabalho. Me parece que tomando a Econ. Pol. como exigência teórica de um momento histórico, momento que resulta de 4 séculos de transformação nas estruturas de produção, o que se “repete” neste nosso milênio é uma revolução universal marcada por uma potência nova contida nas forças produtivas. A velocidade dessa nova potência não se mede mais por séculos. Seu tempo também é novo.

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