Beagles e o marketing

O episódio do assalto a um instituto de pesquisa por um grupo que dizia querer proteger as cobaias, cães beagles, contra experiências científicas, mostra como a razoabilidade e a lógica se tornaram secundárias para colocar um tema em debate e vivemos em tempos nos quais o marketing está no comando.
 
Provavelmente muitos entre os invasores do instituto foram salvos por produtos farmacêuticos obtidos com a ajuda de experiências em cobaias. Se não as fizermos em animais, teríamos que fazê-las diretamente em seres humanos. Mas não é isso o relevante neste texto.
 
Interessante mesmo é o fato que, uma vez noticiada a invasão do instituto e solto os cãezinhos, dezenas de reportagens na imprensa escrita e programas televisivos passaram a ter como tema o uso de animais em pesquisas, a possível origem do cão beagle, suas vantagens e desvantagens como animal de estimação, o preço do cão nas lojas de animais, a vida dos animais retirados do instituto nas famílias que os adotaram e etc.
 
Ou seja, os diversos aspectos do fato e suas possíveis derivações nortearam a elaboração dos órgãos de comunicação e as conversas nos diversos grupos sociais durante os dias seguintes. Houve então outras tentativas de invasões semelhantes, uma enorme procura de beagles nas lojas de animais, mais programas de debates na TV ou editoriais de jornais entre os que apoiavam ou eram contra a invasão, deputados passaram a fazer projetos de lei protegendo animais contra laboratórios e etc. As repercussões continuam ocorrendo, o beagle será o presente mascote preferido das crianças no Natal, certamente estreará na novela da Globo.
 
O episódio foi enfim, exemplar, em demonstrar que tipo de fatos recebem importância em nossa sociedade. Quem quiser levantar a importância da discussão de um tema, não deve divulgar argumentos, por mais relevantes que sejam: deve provocar um fato que chame a atenção da mídia. Fiquemos atentos para ver qual é o próximo.
Redação

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