CNV revela novas provas de dois estudantes desaparecidos e de Stuart Angel

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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A Comissão mostrou possível local de sepultamento dos estudantes e novas informações sobre o caso de Stuart Angel
 
 
Jornal GGN – A Comissão Nacional da Verdade revelou novas provas sobre a morte de três presos políticos durante a ditadura do regime militar (1964-1985). Depois de uma perícia, foi possível identificar que dois estudantes tidos como desaparecidos no Rio de Janeiro – Joel Vasconcelos Santos, em 1971, e Paulo Torres Gonçalves, em 1969 – foram enterrados como indigentes. A CNV também encontrou novas provas sobre o desaparecimento de Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel.
 
O militante do PCdoB e integrante da União da Juventude Patriótica (UJP), Joel Santos, desapareceu aos 21 anos, após ser preso no Morro do Borel, no Rio de Janeiro. Junto com Antônio Carlos de Oliveira e Silva, foi levado a um quartel da PM e, de lá, para a Polícia do Exército, na Barão de Mesquita, onde foram presos e torturados pelo DOI-Codi.

 
Após a pesquisa em fichas datiloscópicas e documentos de pessoas sepultadas como indigentes no Instituto Félix Pacheco e no IML, a CNV conseguiu identificar que as digitais de Joel foram registradas como a de um homem que deu entrada no IML em 19 de março de 1971, por meio da realização de novo laudo de perícia. A versão “oficial” apontava que Joel foi atropelado. O estudante foi enterrado no Cemitério Ricardo de Albuquerque, na zona norte do Rio.
 
O estudante Paulo Torres desapareceu aos 19 anos, após sair de sua casa, no dia 26 de março de 1969, para ir ao colégio. A família veio a descobrir que Paulo teria sido preso pelo DOPS do antigo Estado da Guanabara, e transferido para a Marinha.
 
O mesmo método de pesquisa de Joel foi feito com Paulo pela Comissão Nacional da Verdade. As digitais do estudante revelaram que ele também foi sepultado como indigente, no cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador, em 16 de abril de 1969. 
 
Já o caso de Stuart Angel obteve mais respostas. A investigação do núcleo pericial da CNV ocorre desde outubro de 2013, depois do depoimento do capitão reformado Álvaro Moreira, informando que o militante foi assassinado por agentes da Aeronáutica, sob tortura, em maio de 1971, com 26 anos. Ele teria sido enterrado na cabeceira da pista da Base Aérea de Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro. 
 
Com a informação, a Comissão pesquisou e descobriu no acervo fotográfico da Polícia Civil uma nova prova. Em 1976, a base aérea passou por uma ampla reforma pela construtora Cetenco. Em um canteiro de obras dessa empreiteira, no centro do Rio, foi localizada uma ossada com o crânio quase completo. 
 
 
As fotos foram submetidas à análise comparativa craniofacial, no Centro de Ciências Forenses da Universidade de Northumbria em Newcastle, na Inglaterra, e pela equipe do legista Marco Aurélio Guimarães no Centro de Medicina Legal da USP, em Ribeirão Preto. Os dois exames concluíram que o crânio pode ser de Stuart Angel, não havendo elementos que descomprovem a similaridade. 
 
Com informações da CNV.
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. Pois é… minha casa foi
    Pois é… minha casa foi invadida varias vezes em 1967 pelos gorilas da ditadura porque meu pai era comunista. Pedi várias vezes pela Internet para a CNV investigar isto. Não fui atendido. Depois de muito incomodar a CNV me foi enviada uma ficha do DOPS do meu pai, um documento da década de 1950 que não continha qualquer anotação. Quando eu tinha 3 anos de idade a ditadura me fodeu. Aos 50 anos de idade fui esquecido pela CNV. Tenho a impressão que esta merda de Estado só vai me tratar como um ser humano quando eu começar a matar, matar e matar gente de direita que declara apoio àquela ditadura. E mesmo assim o Estado só o fará para me tratar como um criminoso.

    1. Madrugada de panico, o vizinho, amanhecer gelado,

         São Paulo, agosto de 1970

         Fábio vc. já disse que é de Osasco, portanto deve conhecer o bairro da Lapa, especificamente a Lapa-de-baixo, em São Paulo, bairro a época escuro, de casas proletárias, de gente trabalhadora, a classe C de hj. para nós que lá moravamos, seria o apice da “riqueza”.

          Passada uma meia-noite, fria e molhada, alguem bate palmas a sua porta, casa de fundos,  entra pelo corredor, a dona-da-casa, sono leve, se levanta – não dá para ser o marido, ele estava no “turno” da noite na Sofunge – quem vai com ela atender a porta é um menino de 10 anos ( eu ), era um nosso vizinho, ex- Força Publica, já “antigo” foi para a PM, com “posto” – sem uniforme, e de 67 para frente trocava de carro todo ano – e disse: ” Dona…..vi seu filho hj., no DEOPS, tenho certeza que era ele, lá na General Osório, sendo transferido para a delegacia da rua Tutóia ( 36o DP – atrás ficava a sede do DOI-CODI/SP), a Sra. sabe se o “zinho” esta envolvido com estes terroristas ?

           Minha mãe acreditava que ele se encontrava em Campinas, na Espcex (Escola de Prep. de Cadetes. do Exército), onde ele estudava e morava., sistema de internato.

           Meu tio, que morava perto, tinha um taxi, nos levou, de madrugada até a Tutóia – minha mãe desesperou -, e lá recebeu a informação clássica: “não temos registro de ninguem com este nome, a sra. deve ser louca”, fomos até Campinas, já de manhã, atendidos pelo oficial-de-dia da escola, ele categoricamente informou: ” Este nome jamais constou como aluno da ESPCEX ” , e claro, a documentação por minha mãe apresentada, foi retida, inclusive o recibo do envio do “enxoval”, e declarada “falsa”.

            10 dias de agonia: IML, Policia, conhecidos, advogados e nada – até mesmo um ex-febiano, coronel do exército R1, nosso conhecido, consultamos – e ele disse: ” Dona…..eles cancelaram até a minha patente e pensão “.

            A solução: Um amigo, dono de uma confecção na Lapa, ex-oficial do exército, mas com “amigos – sócios”, em uma empresa privada de segurança patrimonial, ainda existente,  formada por ex-militares, entrou no “circuito” – não falou nada, mas na noite seguinte – madrugada – uma C-14 Veraneio, com 4 homens apareceu, um deles disse: ” A Sra. me escute, prepare uma muda de roupa, e amanhã 06:00 esteja no portão de trás, era em frente ao DETRAN, no Ibirapuera – os fundos do prédio de Comando do II Exército – seu nome está na “casa da guarda”, não pergunte, espere “

              Não dormimos, na manhã seguinte, um frio do cacete – meu tio, minha mãe e eu, estavamos lá ás 05:00, esperamos por mais de 2 horas, quando vi, meu irmão, com dois PEs escoltando – nú – subindo desde lá de baixo,até a “casa da guarda” – assinou um monte de papel, ele e minha mãe – ele voltou “para casa”, em choque, um trapo irreconhecivel, hj. passados mais de 40 anos, o que ele lembra:

              Tanto no DEOPS, como na Tutóia, e na Cia. de Comando IIExército: Os gritos, os quais ele descreve, como de homens, mulheres, ele afirma que depois de 24 hs. vc. identifica quem está gritando, e até hj. bloqueia o resto.

               Pq. ele foi detido: Na antiga rodoviária de São Paulo, com uma passagem para Porto Alegre, pois ele estava desistindo do exército, estava de “saco cheio”, estava fardado, foi parado por uma equipe do DEOPS, que chamou a PE,lhe exigindo as “ordens”, as quais ele não possuia, e rodou – era só um moleque desertor, que foi tratado como um “perigoso terrorista”.

      1. e tem gente que ainda defende…………

        cruel Junior…………muito cruel

        e tem gente (fdp) que ainda hoje, tem a desfaçatez de defender esta desgraça de ditadura militar.

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