Estudo revela apoio do Banco do Brasil à escravidão no século XIX

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Pesquisa de revisão histórica destaca que traficantes de escravos foram diretores e acionistas da instituição

Fachada do Edifício Banco do Brasil na Asa Norte, Brasília. Foto: Fernando Bizerra/Agência Senado

O Banco do Brasil recebeu recentemente estudo que aponta o envolvimento da instituição financeira no tráfico de escravos realizado durante o século XIX.

O documento foi elaborado por 14 pesquisadores de universidades brasileiras e americanas, e integra inquérito civil instaurado pelo Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro para apurar a responsabilidade do banco na escravidão.

Os coautores são ligados às instituições acadêmicas Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade de Brasília (UNB), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Harvard University e University of Pittsburgh, as duas últimas americanas.

A reunião também teve a presença de representantes dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania.

Segundo o documento, o Banco do Brasil foi criado em 1808, liquidado 20 anos depois e refundado em 1853, após a Lei Feijó, de 1831, que ficou conhecida como “lei para inglês ver”, uma vez que o texto proibia o tráfico de escravos e não foi efetivamente cumprido.

De acordo com a Agência Brasil, os pesquisadores revelaram a existência de “vínculos diretos entre traficantes e o capital diretamente investido em ações do Banco do Brasil”.

Além disso, acrescenta que “a instituição também se favoreceu da dinâmica de circulação de crédito lastreada na propriedade escrava que imperou ao longo de toda a primeira metade do século XIX”.

Os pesquisadores afirmam que “entre os historiadores econômicos é consensual que o Banco do Brasil, refundado em meados do século [XIX] como maior instituição financeira do país, cumpria papel singular na sustentação da economia mercantil escravista”. 

“Muito dos recursos que fundaram o banco, é isso que é apresentado na pesquisa, são recursos oriundos do tráfico”, afirma o procurador da República Julio Araujo.

No documento entregue à presidência do banco, os acadêmicos observam que grandes acionistas e diretores da instituição eram ligados diretamente à propriedade de escravos. “A direção do banco personificava o enlace daquela instituição com a economia e a sociedade escravista”.

O documento assinado pelos pesquisadores conclui que “parece não haver dúvidas que boa parte do capital que constituiu o maior banco do Império era oriundo do tráfico e dos negócios da escravidão”. 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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