Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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O que é prioritário no Brasil? Nada. E prioridade? Tudo. Por Rui Daher

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O que é prioritário no Brasil? Nada. E prioridade? Tudo. Por Rui Daher

Há diferença sim. Prioridades, vocês sabem, emprego, distribuição de renda, aparelhos de saúde, educacionais, saneamento e segurança, caráter político e modelo econômico que deem dignidade à estrondosa maioria da população não-cidadã. Para tanto, necessita-se consciência “do outro”. Isto é política, ideário de partidos, construção intelectual e histórica. De que adianta os guetos do luxo viverem a reclamar e defender-se da barbárie dos que não foram meritosos ou abençoados pelos deuses, tantos são eles hoje em dia.

Poucas vezes me vali da condição de prioritário em portões de embarque em aeroportos. Percebia uma baita confusão. Filas extensas, impossível saber onde ficar para se valer do benefício, anúncios falados com a rapidez de narradores futebolísticos de rádio. Se em inglês, pior. Tanto nos portões como nos anúncios dentro da aeronave, o inglês dos comissários(a)s é uma boa oportunidade de você ficar conhecendo como soa a língua afegã.

A forma de priorizar-me sempre foi a de esperar sentado e ser um dos últimos a embarcar.

Aos quase 73 anos de idade, impossível não saber como são tratados idosos na Federação de Corporações. Pelos que fazem normas, regras ou leis e pelos “tanto faz”, que não as respeitam.

Nos domingos, há poucas opções para sair de Petrolina (PE) para São Paulo. Somente Avianca, meio-dia, ou 17:30, chegando em GRU 1:20 da manhã, escala em Recife e conexão em Salvador.

Isso foi só um introito para explicar o porquê, em Petrolina, procurei pela fila dos prioritários.

Vendo três filas imensas, dirigi-me ao balcão e perguntei, como prioritário, onde deveria me posicionar. Uma ave colombiana indicou-me o final de enorme fila. Nela, moças fogosas, rapazes musculosos, apenas um casal visivelmente idoso e uma senhora cadeirante.

Insurgi-me aos brados. Repreendido pela minha companheira de viagem, continuei enfurecido dizendo que, depois do golpe de estado de 2016, resolvi não abrir mão de nenhum de meus direitos, por menores que possam ser.

Cantou a ave colombiana: “todos entram na fila se dizendo prioritários, e eu não posso impedi-los”.

Piorou. “Como não podem? Cadeirantes, pessoas com dificuldade de mobilidade, acompanhados de crianças de colo, gestantes, são difíceis de identificar”?

No caso de idosos, embora a aparência facilite, por que pedem documento com foto para conferir o bilhete. Seria difícil ler a identidade e fazer voltar?

Avianca, então, a regra é confusão, desrespeito, pouco caso e uso abusivo do abominável exercício de funcionários ‘pequenas autoridades’?

E pioram, pioram, pioram. Agora, na classe dos idosos, criaram uma nova: quem tem mais de 80 anos de idade. Também para não identificar? Quando irão criar a classe dos defuntos?

Não apenas em suas operações no Brasil, a Avianca assim procede. Já voei para Bogotá/Cartagena com a companhia e não foi diferente. Talvez pelo motivo de sentirem-se superiores aos vizinhos venezuelanos pós-Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Como se não soubéssemos do extermínio de suas populações rurais junto às plantações de coca em pulverizações aéreas.

Prepotência sul-americana é duro de engolir, pois meio desajeitada, copia-se descaradamente o hemisfério Norte, mesmo sabendo o quanto fomos sugados. Diria, servilismo atávico.

Faço o possível para não ser prioritário em nada. Não construí mérito para tanto. Nem mesmo reclino o banco para evitar incomodar quem está na poltrona atrás de mim, embora sempre alguém fará voar o meu laptop ou “lanchinho e guaraná”.

Da mesma forma, deixo todos saírem da aeronave na minha frente. Reconheço suas necessidades de carregarem várias mochilas, malas de rodinhas, sacolas e canudos de dois metros de comprimento. Escolho sempre o assento do corredor para permitir aos companheiros do centro e janela pisarem em meus pés porque acham que demoro. Seus afazeres sempre serão prioritários.

Querida avezinha colombiana, sou bobo não. Sabe o motivo de vocês não poderem cumprir a lei? Sabem, né? Só não contam.

Alto e bom som, ontem, resolvi gritar. Ao contrário de meu estilo, fiz uma puta quizomba.

É a can(r)alhada de prioridades que vocês criam para prospectar clientes e vender mais passagens. Mais dinheiro para seu curanchim, avezinha.

Prioridades para a Avianca e demais companhias aéreas são os Clientes Platina, Gold, Class&Honor, Trump Menos Dois, Magnificent, Charmeuse, Campeão Nacional, o Siri Recheado e o Cacete.

Pera aí! Não voe ainda não. Mais uma vez, e o CACETE!

 

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

4 Comentários

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  1. pior é no aeroporto de Melbourne (AUS)…

    onde prioridade depende da nacionalidade………………………………

    em sendo brasileiro, Mercosul, pode até desmaiar na fila que eles nem ligam

    e minha filhota foi morar logo nesta merda de lugar

  2. Amigos,

    tempo curto, cada vez mais um velho briguento, mas respondi a todos comentários do texto anterior ao do aeroporto. Agora vou tentar escrever a coluna de amanhã para a CartaCapital, em seguida republicada neste blog.

    Abraços, vão lá, vão, a discussão está boa.

     

  3. rs………………..não deu certo mesmo não

    e está precisando de uma redefinição geral………………………..

    eu diria que humanidade é uma ótima ideia fora do lugar

    abraços

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