Volto ao tema que tratei aqui há alguns dias http://www.jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/os-modelos-e-seus-duplos-por-fabio-de-oliveira-ribeiro
Existem dezenas, talvez centenas de filmes de ação “made in USA” em que policiais, soldados, criminosos e espiões atiram nos adversários a partir de um helicópteros. O mais antigo que me ocorre citar neste momento é Rambo I (1982): https://www.youtube.com/watch?v=CTaz2K9MZHs
A cena deste filme foi claramente inspirada no uso letal de helicópteros durante a Guerra do Vietnã: https://www.youtube.com/watch?v=IkMMdLXytkI
Do cinema para a realidade. No Brasil há vários vídeos de policiais fazendo exatamente a mesma coisa que pode ser vista nos filmes como Rambo I:
https://www.youtube.com/watch?v=iQmQZu0YCCo
https://www.youtube.com/watch?v=xloN0xy0UrQ
Hoje os norte-americanos puderam ver algo que se já se tornou comum no Brasil há quase 10 anos:
http://sputniknews.com/us/20150919/1027226414/California-Helicopter-Cops-Kill-Suspect.html
Em nosso país, o direito à vida é uma garantia constitucional. A pena de morte é expressamente proibida pela CF/88. Mas nada disto tem qualquer valor jurídico durante as operações policiais. Os paradigmas cinematográficos são mais importantes para os policiais do que a letra da Lei que eles devem cumprir e fazer cumprir?
Nos filmes, os atores coadjuvantes são descartados com tiros de festim e sangue falso. Ninguém sequer pergunta se eles tem uma história pessoal ou se a eliminação deles acarretará uma tragédia familiar. Eles estão ali apenas para cumprir uma função: emoldurar a narrativa do herói.
Os policiais também gostam de pensar que são heróis. Mas o sangue que eles derramam não é cinematográfico. Cada pessoa que eles matam tem irmãos, primos, filhos, pais, tios… que inevitavelmente ficarão tristes, ruminando ódios e planejando vinganças. É possível sair ileso de um filme. Toda operação policial com vítima fatal deixa marcas indeléveis na sociedade e afeta a vida do policial mesmo que ele seja absolvido com base no Relatório que produzirá junto com seus colegas de trabalho.
A vida real do cinéfilo é tranquila. A do policial que imita modelos fílmicos é quase sempre trágica, povoada pela culpa e pelo medo de represálias. O desejo de matar novamente as vezes se torna um sentimento mais forte que os outros. É assim que os esquadrões da morte germinam primeiro nas salas de cinema?
Os policiais norte-americanos certamente são capazes de fazer o que os policiais brasileiros fazem. Eles tem mais recursos e, portanto, podemos supor que eles desempenharão seus papeis com mais eficiência e letalidade. Há uma epidemia de violência policial no Brasil e nos EUA?
Usando o Google podemos encontrar 1.440.000 vídeos relacionados à expressão “cop violence”. A expressão “violência policial” resulta apenas 158.000 vídeos.
O Twitter reproduzido pela Sputnik sugere que atirar num suspeito usando helicóptero é novidade nos EUA https://twitter.com/mpamer/status/645026900482523136?ref_src=twsrc%5Etfw . Quantos filmes contendo cenas semelhantes aquela moça viu e esqueceu? O WOW usado pela autora do Twitter me sugeriu uma brincadeira. Mandei uma resposta burocrática para Melissa Palmer e aguardarei a resposta:
“@mpamer This is very common in Brazil:
https://www.youtube.com/watch?v=iQmQZu0YCCo
https://www.youtube.com/watch?v=xloN0xy0UrQ
O caminho percorrido pelos modelos neste caso é interessante. Os norte-americanos fizeram filmes inspirados na Guerra do Vietnã que são copiados pelos policiais brasileiros. Somente depois que a ficção policial se tornou realidade no Brasil, os policiais norte-americanos começam a copiar o que é feito aqui há quase uma década. Nós somos apenas ratos num laboratório comportamental? O desprezo que a imprensa brasileira nutre pelas vítimas da violência policial em nosso país já tem seu duplo nos EUA? Nos próximos 10 anos quantos norte-americanos e brasileiros serão mortos por patrulhas aéreas? Façam suas apostas.
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