Pautas Jornalísticas
por Frederico Firmo
Houve algum tempo onde achávamos que os roteiros que dirigiam as notícias nos jornais tv e mídia em geral, eram definidos por algumas cabeças pensantes. Mas nota-se que, mesmo na ausência daqueles que pensávamos dominar os corações e mentes, nossos jornalistas e apresentadores, por vontade própria, vão mantendo as mesmas coisas. Tomados por um esprit de corps, mesmo quando novos, não fazem a crítica do passado que muitas vezes sequer lhes pertence, apenas tentam justificá-lo. A realidade se modifica, mas o espírito das notícias é o mesmo. Agora está mais individualizado, cada jornalista briga pelo seu espaço, tenta marcar tudo com um toque de ” personalidade” e todos tem a certeza de que o marketing do próprio jornal ou emissora fará a propaganda do jornalista e não da notícia . Este tipo de jornalismo só se recorda do passado recente para algum tipo de elogio a si mesmo. O grupo como um todo, mais o departamento de promoção vão de forma sutil definindo o que cada um deve fazer. Assim, especialistas em coisa nenhuma, são clamados como se experts fossem. Em alguns casos, zelosos pelo papel de influenciadores, fazem eles mesmos os próprios roteiros. Criam factoides baseados, ou não, em press releases de agências nacionais e ou internacionais e transformam tudo nos velhos chavões. Morrem de medo de Maduro mas não impõe sanções sobre Trump, Biden ou Netanhyahu. Nos fazem odiar o Hamas e tomar muito cuidado com as palavras usadas contra Netanhyahu. Falam muito de jornalistas na China e esquecem dos jornalistas na Ucrânia, Oriente Médio. Segundo eles, o problema é a violação dos direitos humanos no país dos Uigures. Apesar de Trump a grande democracia nacional é a Americana. Apesar de Biden e todos os seus antecessores, os Estados Unidos sempre foram contra intervenção em qualquer país . Sem mencionar Cuba são contrários a sanções contra Israel enquanto aumentam as sanções contra a Rússia. Os movimentos de Milei, tratado como exótico, ao invés de receberem o carimbo de autoritários, e de violações dos direitos humanos, são apenas defesa da política econômica liberal atacada pelos sindicalistas peronistas vermelhos. Eu me pergunto se seria prudente fazer uma comparação Milei Maduro ? A catástrofe em Gaza, segundo eles não pode ser confundida com genocídio ou holocausto. Apesar disto já os vi falarem emocionados do genocídio armênio e de holodomor -holocausto ucraniano. Nestes casos a palavra holocausto nunca esteve em questão Depois de transformar o sofrimento em Gaza em uma disputa linguística, melhoraram no quesito imagens. Imagens são apenas apresentadas sem um aprofundamento linguístico. As imagens são tantas que não conseguem mais esconder por trás das palavras. O que na semana anterior era uma discussão linguística fundamental, com direito a pedido de impeachment, passa a ser apenas algo preparando para um recuo quando esta mídia dirá que sempre olhou por Gaza. Os fatos vão se acumulando, as imagens de outros meios de comunicação vão obrigando uma mudança que nunca é admitida, visto que não se tem responsabilidade pela notícia, mas sim pela narrativa. As narrativas podem ser modificadas desde que não comprometam um roteiro principal. Assim após a longa discussão semântica, e a observação de que foram frustrados por Blinken, ainda tentam trabalhar as falas de alguma autoridade estrangeira. A notícia do jornal não é: ” premier espanhol falou das mortes em Gaza , mas sim ele não falou o termo holocausto ou genocídio. Sem o menor pudor no mesmo jornal falam de que a Rússia estará sendo julgada numa corte internacional por um bombardeio onde morreram dez crianças. Sequer ruborizaram para dar tal notícia, após falar em Gaza.
Nas notícias nacionais mídia televisiva e jornalões transformaram em ringue da disputa parlamentar a escolha de Nikolas Ferreira para a comissão de Educação. A escolha é um escárnio para a nação, mas TV e jornalões só enfatizam o caso como derrota do governo por falha na comunicação com a oposição. Obviamente a escolha é desastrosa para o país, uma pessoa que não tem qualificações, nem perfil para um cargo desta importância é indicado apenas como provocação e para a instalação do caos. Mas a mídia e jornalões estão se divertindo com a situação e apenas anseiam pelos primeiros passos. Provocativamente perguntaram sobre o Terraplanismo. A resposta é tão plana quanto a proposta de homeschooling. Jornais, mídia e Nikolas exultam com as possibilidades de criação de casos. Nikolas já prepara com esmero e pesquisa todos os impropérios que utilizará. Visará sem dúvida a escola pública e a Universidade. E os nossos Faria Limers, como se nada tivessem com isto, emitirão aquele sorriso, e mais uma vez dirão que o Brasil não tem jeito. Jornalões e mídia tem um prato ideal, pois obviamente vão criticar a figura de Nikolas, mas vão sobretudo criticar o PT e o governo Lula e o povo. Mais uma vez colocarão em foco a disputa no ringue do parlamento deixando a realidade social como mera espectadora.
Durante dias e semanas mobilizaram todos os meios e penas de aluguel para combater uma especulação improvável de que o CEO da vale seria Mantega indicado por Lula, e investem contra a Petrobrás e política industrial, entretanto, os jornalecos não irão fazer campanha alguma contra a escolha de Nikolas para Educação e Toni para Justiça. Apenas estarão lá para noticiar o caos instalado. De maneira perversa, alguns em seus editoriais falaram contra Nikolas. Mas como sabemos um editorial não faz verão. Para não se comprometer levantarão parte da folha corrida de cada um dos indicados , mas não irão fazer julgamento, apenas informarão. A notícia é e será Nikolas e Toni são derrotas do governo. Nenhuma palavra sobre a derrota da justiça ou da educação.
No momento os resultados das pesquisas estão no foco. Tentando não se comprometer falam sobre falhas na comunicação do governo, como se os pecados de comunicação não estejam com a imprensa. O extenso número de crimes, na baixada santista praticados por uma intervenção selvagem da polícia em São Paulo é acompanhado da análise do discurso de Tarcísio . Segundo a imprensa, é um bom discurso eleitoral. Esqueceram de avisar aos ditos jornalistas que a questão, nem é o discurso nem a eleição. Não os avisaram que quando dizem que é um bom discurso eleitoral estão apoiando a barbárie deste discurso. Se um ou outro jornalista declara que a barbárie está vencendo, ele com todas as armas que tem está apenas se escondendo. Um dentre eles , que se diz jornalista ou analista, culpabiliza a esquerda. Segundo ele, tudo é culpa do discurso de direitos humanos e da plebe ignara que segundo seu raciocínio adora ser morta pela polícia. Isto não nos deve causar surpresa, afinal, há poucos dias a imprensa e mídia, sempre de forma velada, apoiaram a ideia de prender qualquer adolescente, preto , pardo e pobre que estivesse no seu direito de ir e vir, nas ruas próximas à praia. Parece que em conjunto dizem que o discurso sobre direitos humanos deve ser calado para não incomodar a classe média que vai à praia. Segundo eles este discurso não é defesa da civilidade e humanidade mas apenas causa de polarização. Pós tentativa frustrada de golpe, o grande discurso agora é: muito cuidado pois se deve sempre pedir a militares e evangélicos licença para exercer a cidadania. Não importa o que haja deve-se pedir permissão aos seguidores de Malafaia.
Frederico Firmo – Físico, professor Titular aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina. Autor do livro “Luz sobre os campos: Maxwell e Faraday”- Editora Odysseus. E posts no GGN
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