Política para deficientes: devemos apontar equívocos

No Brasil sempre tivemos uma sociedade com aspectos cordiais e perversos. Estes últimos por conta da má distribuição de renda, das omissões, corrupção e truculência do poder público, do preconceito contra deficientes, negros e seus descendentes, que arrastou a escravidão até às portas do século XX. De uma hora para outra surgiram consciências e movimentos dispostos a acabar com essa situação, e então surgiram as políticas de quotas, que preveem  inclusão profissional, social e educacional por meio de leis. E, como sempre,  nos movimentos-ondas politicamente corretos, surgiram os exageros, autoridades querendo votos, profissionais querendo destaque e ganhos e o que parece ser correto descamba.
 
A aprovação da inserção de quotas de deficientes em empresas parece ser uma das incorreções, pois inexiste número suficiente para preenchê-las, tornando os negócios presas fáceis de fiscais, membros do Ministério Público, juízes, que pouco se importam se existe ou não deficientes para serem contratados, se os que existem não querem trabalhar por pisos salariais pouco superiores ao que o INSS paga se eles ficarem em casa, se o governo não os prepara para exercer profissões mais sofisticadas e etc.
 
Por sua vez, assusta o número de medidas que os órgãos públicos e parlamentares vão propugnando e incrementando para facilitar a vida dos deficientes nas cidades. As rampas de acesso do deficiente do leito da rua para a calçada servem para cadeiras de rodas, mas não para o deficiente visual, cuja bengala, por não sentir a rampa, pode levá-lo a pensar que ainda está na rua. Tem que haver, pois, dispositivos eletrônicos ou outra forma de avisá-lo. A deficiência visual também exige alterações em postes, telefones públicos, caixas de correio, lixeiras e etc., dispostas nos calçamentos. Todos devem emitir um sinal sonoro que permita ao deficiente detectar sua aproximação.
 
Nesse mesmo sentido, táxis, ônibus e abrigos de espera, faróis de trânsito, estações e carros do metrô, sede de órgãos públicos e empresas de comércio ou prestação de serviços, os bancos, tem que ser adaptados para cada tipo de deficiente, acesso, WC e etc.  Parte desses equipamentos de rua já vem sendo instalados na Avenida Paulista, bairros como os Jardins e o Centro.
 
Como em muitos estabelecimentos comerciais fica caro construir uma rampa, exige-se a construção de elevadores especiais, que muitas vezes custam mais que o investido no próprio estabelecimento. Resta ao comerciante fechar as portas.
 
Claro que ninguém pode ser contra melhorias na cidade, principalmente nos prédios e equipamentos urbanos que estão por vir, para tornar mais agradável a vida de deficientes. Mas, e se pensarmos na realidade social em que vivemos? Há dezenas de milhares de sem tetos nas cidades, milhões de brasileiros vivendo em favelas da periferia, onde sequer esgoto existe. E como colocar tantos dispositivos se também inexiste calçada? Acrescente-se que em meio  a esta população vive o maior número de deficientes, os analfabetos, os mais carentes de recursos.
 
É preciso reconhecer que a realidade é complexa e que as políticas para deficientes devem adequar-se à definição de prioridades diversas. E evitar-se lobbies que apenas veem este problema para ser resolvido, políticos que apenas querem ganhar votos e aparecer bem na foto.
 
Essa gente argumenta muito com o que já se faz na Europa e EUA, mas estes países tem muito mais recursos. Os EUA, por sua vez, tem muito mais deficientes, vez que a cada três ou quatro anos invade um outro país mais fraco, sob pretextos diversos, mas na verdade para manter incólume seu domínio imperial sobre o planeta. Como consequência, milhares de jovens voltam para o país envelopados em plásticos para serem enterrados ou em cadeiras de rodas.
 
Justo, pois, que não nos impressionemos com a dívida social para com os deficientes; temos parcos recursos e devemos cuidar com racionalidade das carências existentes, sem deixar de definir prioridades na busca de soluções.
Redação

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