Professora pede demissão depois de ser intimidada na internet

Jornal GGN – Em Curitiba, Paraná, uma professora de História pediu demissão do Colégio Medianeira depois de se sentir intimidada por pais de alunos nas redes sociais. Ela, inclusive, apagou suas contas no Twitter e Facebook.

A confusão começou quando os alunos apareceram na escola vestidos de preto em um “protesto contra a corrupção”. Em sua página no Facebook, a professora escreveu:  “Hoje vi crianças numa escola, vestindo preto e pedindo golpe. Desprezando a democracia e exalando ódio. Parece que não conseguimos escapar do que Marx profetizou quando disse que a História de repete, primeiro como tragédia, depois como farsa…”.

Os pais de alguns alunos viram o comentário e reproduziram em um grupo fechado, com reações exaltadas, violentas até:

“Comunista descarada!”;

“Minha filha ainda está no ensino fundamental, mas se quando ela chegar no ensino médio, esses professores ‘dinossauros’ ultrapassados continuarem a lecionar, vamos ter problemas!!!! O socialismo fracassou no mundo inteiro!!! Quando eles vão acordar!!!”;

 “À diretoria do colégio deve tomar uma providência. Sou totalmente contra a ideologia de esquerda… Não aceito em hipótese alguma que professores fiquem doutrinando minha filha… Se minha filha aparecer em casa com alguma ideia esquerdista, vai dar confusão…”;

“O pior é que no desenvolvimento de textos eles não podem fugir desta ‘filosofia’ destes cidadões por medo de serem punidos na avaliação! Vão por mim : a coisa é muito pior q parece!”;

“SE EU PEGAR ALGUM TEXTO COMUNISTA no caderno do meu filho eu vou RASGAR e devolver rasgado. E vou convidar o professor a me convencer. O COMUNISMO SÓ DEU CERTO NA CABEÇA DELES………..Argentina caiu, Venezuela caiu, e por aí vai. MAS ISSO É CULPA DA COORDENAÇÃO DE ENSINO EM DEIXAR QUE ISSO ACONTEÇA”.

Da Gazeta do Povo

Professora opina sobre política, é execrada no Facebook e deixa Colégio Medianeira

Por Rogerio Waldrigues Galindo

Uma professora de História do Colégio Medianeira, de Curitiba, pediu demissão da função, depois de dez anos de trabalho, por estar se sentindo intimidada com a postura de pais de alunos nas redes sociais. A professora, que dava aulas para a turma de 9.º ano, também apagou suas contas de Twitter e de Facebook, e prefere não dar entrevistas sobre o tema.

Tudo começou quando a professora, que leciona História dos Movimentos Sociais no Século XX e História da América Latina, se manifestou no Facebook sobre um protesto dos alunos. Alguns estudantes do Medianeira compareceram ao colégio vestindo preto, afirmando que estavam protestando contra a corrupção. A professora foi á sua rede social particular e deu sua interpretação dos fatos.

 “Hoje vi crianças numa escola, vestindo preto e pedindo golpe. Desprezando a democracia e exalando ódio. Parece que não conseguimos escapar do que Marx profetizou quando disse que a História de repete, primeiro como tragédia, depois como farsa…”

Pais de alunos do colégio viram a postagem e a reproduziram em um grupo fechado no Facebook, com 800 participantes. As reações foram das mais exaltadas.

“Comunista descarada!”, dizia um.

Eis alguns outros exemplos:

“Minha filha ainda está no ensino fundamental, mas se quando ela chegar no ensino médio, esses professores ‘dinossauros’ ultrapassados continuarem a lecionar, vamos ter problemas!!!! O socialismo fracassou no mundo inteiro!!! Quando eles vão acordar!!!”

“À diretoria do colégio deve tomar uma providência. Sou totalmente contra a ideologia de esquerda… Não aceito em hipótese alguma que professores fiquem doutrinando minha filha… Se minha filha aparecer em casa com alguma ideia esquerdista, vai dar confusão…”

“O pior é que no desenvolvimento de textos eles não podem fugir desta “filosofia” destes cidadões por medo de serem punidos na avaliação !Vão por mim : a coisa é muito pior q parece!”

“SE EU PEGAR ALGUM TEXTO COMUNISTA no caderno do meu filho eu vou RASGAR e devolver rasgado. E vou convidar o professor a me convencer. O COMUNISMO SÓ DEU CERTO NA CABEÇA DELES………..Argentina caiu, Venezuela caiu, e por aí vai. MAS ISSO É CULPA DA COORDENAÇÃO DE ENSINO EM DEIXAR QUE ISSO ACONTEÇA.”

O clima que se seguiu foi definido por um pai de aluno como “macartismo” (em referência ao período da história dos EUA, nos anos 1950, em que comunistas eram alvo de perseguição). A professora foi alvo de reclamações e pais pediram que ela fosse afastada. No fim, ela mesma acabou pedindo o afastamento e se retirou das redes sociais.

O colégio assumiu a defesa da professora e diz que não aceitou sua demissão. Diz que ela tem 10 anos de casa e é uma excelente professora, que tem o direito de se manifestar publicamente, especialmente fora de sala de aula. “O colégio é solidário à professora e repudia a incitação ao ódio”, diz a assessoria do colégio.

No fim de semana, o Medianeira publicou uma carta na internet sobre o tema, sem se referir exatamente à situação da professora. Eis um trecho:

“É fundamental que nossos educandos e educandas, professores e professoras, pais e mães, sintam-se seguros, possam manifestar seus pensamentos, convivam em meio à diversidade de opiniões e de posicionamentos políticos. São pressupostos para a formação de pessoas reflexivas com sentido de história, de tempo e de espaço, do local e do global, do racional e afetivo. Por isso, são construções e não algo dado naturalmente.

Convidamos a todas e todos a essa tarefa. Que o princípio do discernimento, tão caro à tradição educativa jesuíta, nos auxilie a ler estes e outros sinais, responsabilizando-nos por essa construção, pois como nas palavras do jesuíta  Pe. Arrupe, “somos mais quando nos abrimos aos demais”.

Alunos também fizeram uma manifestação no colégio, vestindo branco e com cartazes em defesa da professora.

Protesto de alunos a favor da professora. Foto: Maria Eduarda Santos.

Pais de alunos também assinaram uma carta em sua defesa:

“Nós, pais e mães de alunos do Colégio Medianeira apoiamos a continuidade de seu projeto político-pedagógico, que é pautado, entre outros princípios, na busca do diálogo, da livre expressão de ideias, do respeito aos direitos humanos e do estado democrático.
Apoiamos a escolha de professores que além do ensino do conteúdo curricular, promovem o debate e a análise crítica da realidade. Ao nosso ver, este é o maior valor ensinado na vivência escolar.

O ensino “neutro”, sem posicionamento político, que está sendo requerido por alguns, é a reedição de uma farsa imposta na época da ditadura militar e que nos subtraiu tanto da capacidade de análise crítica da realidade e nos induziu ao pensamento da mídia dominante, fantasiosa, eivado pelos interesses de manutenção de uma ordem social desigual e excludente.
Se somos partidários da construção de uma sociedade mais justa, não somos neutros ou imparciais. Já nos posicionamos. O comportamento ‘apolítico’ foi aquele imposto pela ditadura.

A escola livre de posicionamentos, ensinando “apenas” a ciência, como se também fosse neutra da mesma forma, não existe. Estamos firmemente posicionados contra a quebra dos direitos constitucionais e do Estado de direito, porque não queremos viver a volta da ditadura, os crimes do Estado contra os cidadãos, as torturas, os assassinatos, o medo e o horror legalizados.

No atual momento político e social que a sociedade brasileira vive, há claramente a intenção de criar um clima de caça às bruxas, sobretudo voltado aqueles que compartilham suas ideias progressistas. Consideramos que uma instituição, como o Colégio Medianeira, deve hoje ser a garantia de lucidez e firmeza na manutenção de uma formação democrática, plural e inclusiva.
Seguimos juntos na construção de uma sociedade democrática e melhor para todos.”

Com colaboração de Euclides Lucas Garcia

Redação

23 Comentários

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  1. Excelente atitude tomada pelo
    Excelente atitude tomada pelo colégio. E é importante que os filhos dos “fascistas” percebam o erro dos pais e sintam vergonha deles.

  2. É o preço
    Da ignorância !

    Repare no nível DA DEFESA:
    “…apoiamos a continuidade de seu projeto político-pedagógico…”

    Já imaginou este esquerdista idiota em algum cargo no Governo do PT porque é do bem.

    ABAIXO OS IDIOTAS!
    de ambos os lados!

    1. foi duro segurar as pontas, o subconsciente sempre trai

      Toda e qualquer atitude pode ser enquadrada como politica, de direita ou esquerda. O calor do momento ou a deformação maniqueísta levam os Athos de Curitiba a este divisor da verdade.

      Parafraseando uma frase: “ já imaginou um sujeito deste em algum cargo da PF republicana”.

    2. Não parecem ser idiotas, a

      Não parecem ser idiotas, a ignorância política tem lado, contra a educação. O site do colégio diz:

      “Há 57 anos, o Medianeira é referência em educação de excelência, formação humana, social e política, ensino crítico, criativo e reflexivo. O Medianeira é um dos caçulas entre os 15 colégios e 4 universidades da Companhia de Jesus espalhados pelos Brasil. Temos uma família grande e antiga, de raízes cravadas no compromisso com a educação. Nossos “antepassados” começaram o trabalho educativo há mais de 460 anos, quando a Companhia de Jesus foi fundada por Ignácio de Loyola, ou Santo Ignácio de Loyola.”

      “Valores

          Trabalhar o conhecimento como sujeito e meio da leitura crítica e criativa da realidade, como fomentador de utopias dinâmicas de transformação e como formação de pessoas reflexivas com sentido de história, de tempo e de espaço, do local e do global e do racional e afetivo.
          Contribuir com o processo de humanização social e pessoal, na construção de uma sociedade (realidade) com sentido de ética, de solidariedade/alteridade, de autonomia/heteronomia, de reciprocidade e de justiça.
          Construir a excelência humana e acadêmica pelo conhecimento ativo e interativo de maneira pluralista, dialogal, dialógica, crítica e criativa.”
       

    3. Projeto político-pedagógico está correto

      Prezado Athos,

       

      Projeto Político-Pedagógico (PPP) é o nome que se dá ao projeto de uma escola. Para não haver dúvidas, consulte, por exemplo, http://gestaoescolar.abril.com.br/aprendizagem/projeto-politico-pedagogico-ppp-pratica-610995.shtml: 

      É projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo.É político por considerar a escola como um espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão individual e coletivamente na sociedade, modificando os rumos que ela vai seguir.É pedagógico porque define e organiza as atividades e os projetos educativos necessários ao processo de ensino e aprendizagem.

      Observe que se trata de uma publicação da Abril. Portanto, é razoável supor que é insuspeita de ser “esquerdista” exceto, talvez, para tipos como aquele amigo do Pateta (não, não é o Mickey, é o tal do Rodrigo Constantino).

       

      Atenciosamente,

      Roberto

       

    4. Idiota é quem não sabe se expressar…

      Se você só consegue se expressar por meio da ofensa pessoal a incapacidade é sua e não de quem você critica. Se você se agarra preconceitos tolos como “esquerdista idiota” para se referir a alguém sinto lhe informar que o idiota neste caso é você mesmo!

  3. A direita não quer o povo pensando em política

    A direita quer criminalizar a atividade politica dos cidadãos, não quer que as pessoas pensem, analisem politicamente mas nada diz sobre a pregação, doutrinação constante exercida pelos meios de comunicação. Isto para ela não seria política pois defende o status quo, que nada seja mudado. Na verdade não há como separar um pensamento, qualquer pensamento mesmo um pretensamente puramente científico, de política pois política não está só num debate tipo PT X PSDB. Somos moldados pelo meio e pelo processo educativo a que fomos submetidos e qualquer ação que tomamos envolve uma consideração sobre este meio e este processo seja de endosso, automático sem que o percebamos, ou de contestação que é quando seu conteúdo político se torna mais evidente. Nossas crianças devem sim aprender a reconhecer o conteúdo político, sempre presente e estimuladas a debate-lo, a participar.

     

  4. Anos 90

    Anos 90, Colégio Andrews, Humaitá, Rio de Janeiro. Apesar dos meus esforços, meu filho não é modelo de comportamento. Fui chamado pelo professor responsável pela Disciplina (Isto é, pelo comportamento dos alunos). Mostrou-me o enorme dossiê do meu filho, que já tinha se envolvido em todo tipo de briga e discussão. Garotos de treze anos são terríveis. Meu filho era incrivelmente forte, brigava sempre com dois ou três garotos e vencia. Mas eu nunca me orgulhei disso, ao contrário, me envergonhava. Prometi ao professor que teria uma conversa séria com ele. Era sexta-feira. Adverti meu filho dizendo que não toleraria aquele tipo de comportamento. Ele devia obediência a todos os professores. Se se julgasse injustiçado, falasse comigo. Respondeu que o disciplinador era “viado”, veja as camisas apertadas que ele usa. Respondi que não interessava, que devia respeitar todos os professores e ponto.

    Naquele sábado, a face perversa da internet me surge pela primeira vez. Aliás, as coisas perversas que cafajestes podem fazer na rede. Naquela época, computadores pessoais era coisa de famílias chiques e a internet usava linha discada. Mesmo assim, um e-mail com fotos comprometedoras do professor surgiram no correio eletrônico. Os telefones disparavam, parecia que todos os alunos da escola se comunicavam naquele momento. “Não falei?”, abordou-me meu filho. Eu estava pasmo com aquele escândalo todo, não sabia o que dizer. O professor foi demitido. Fizemos uma comissão, eu, minha esposa e uma amiga nossa, cuja filha também estudava na instituição. Apenas 3 pessoas. Fomos interceder pelo “professor gay”. O diretor, homem muito sério e educador responsável, respondeu que também lamentava profundamente, que havia entrado em contato com o professor para ele se defender (eram fotos de uma revista gay no carnaval). Mas o professor disse que não era montagem, eram fotos verdadeiras. O problema era o seguinte: mais de cem mães ligaram para a casa do diretor exigindo a cabeça do professor. Emparedado, viu que a única decisão possível seria demitir o professor. Aconteceu no Rio, agora perseguem uma professora em Curitiba e há milhares de outros casos dos quais não tomamos conhecimento. Triste este nosso país.

  5. Como agora parece que temos

    Como agora parece que temos um Ministro da Justiça, será que ele vai tomar alguma providência em relação aos grupos que estão ameaçando os outros pela internet? Que tal começarmos a prender alguns deles, para colocarmos alguma ordem nesse país? Vamos permitir que as pessoas não exerçam seu direito de livre expressão e de liberdade política por que estão com medo, e pior, que possam até a ser machucadas ou mortas? 

    Ou alguma coisa é feita sobre esses grupos fascistas (e pelos que não necessariamente são fascistas, mas que estão aderindo ao ódio), ou não sei como será o nosso futuro. Se hoje já está assim, logo logo não teremos mais como sair na rua ou falar nada que não seja o que esses grupos de ódio querem. 

    O Ministério da Justiça poderia fazer, por exemplo, uma central de atendimento, com algum tipo de procedimento que já dê um encaminhamento imediato a esse tipo de ameaça. Pode ser algo simbólico, que seja. Algo precisa ser feito. A pessoa precisa se sentir segura para expressar a sua opinião política. A central poderia, por exemplo, deixar um número de contato, anotar nomes dos agressores, e aí procurá-los para uma “conversa” (pode ser um assistente social, alguma coisa assim). Garanto que já initimidaria bastante.

  6. Se deu na TV…

    Se deu na TV que o comunismo morreu….    … então tá!!!

     

    ( o que esses caras sabem de comunismo e socialismo é somente o que a imprensa permite que eles saibam )

     

     

  7. Esses “cidadões” são a

    Esses “cidadões” são a verdadeira deformação pedagógica  para os seus filhos. Fora a vergonha dessas pobres crianças, por terem pais e mães facistas, manipulados, estúpidos, violentos e encrenqueiros.

    Mas, deixo a dica para esses petizes: jamais (jamais!) chamem seu pai ou sua mãe, ou quem porventura tenha postado essas mensagens, para ajudar no dever de casa de história.

  8. Quem se sente ameaçado

    Eu penso que quem se sente ameaçado deve fazer B.O sem discusão  se são alunos da escola tem fazer um B.O e exigir que direção da escola chame os pais de preferência com um policial para que esses jovens e pais dos mesmos fiquem cientes do que pode  acontecer, eu penso que vale para todas as escolas do PR,esse Moro é o distintivo do inferno que passou para  aos jovens a sua furia e ódio.

  9. Estas pessoas querem que seus

    Estas pessoas querem que seus filhos cresçam sem saber história e filosofia. Se possível for, sem conhecer sociologia, antropologia e até geografia. Radicalizando um pouco mais, vão querer que os filhos sejam criacionistas e que saibam que Darwin foi um maldito comunista. Para eles, não é o comunismo que faz mal, é o conhecimento em si. Ao tempo das ditaduras, na Argentina os militares queriam proibir o ensino da matemática moderna. Não se sabe quem soprou para eles esta idéia. Só voltaram atrás quando lhes explicaram que sem matemática jamais as forças armadas poderiam se modernizar.

  10. Intimidada pela internet

    O pior de tudi foi intimidada pela internet. Nem tiveram coragem de conversar com ela.

    Alem de ignorantes são tambem covardes.

    Aposto que não leram nenhum livro sobre socialismo senão não escreveriam tanta bobagem.

     

  11. Nelson Rodrigues

    Apenas citou uma frase de Marx , e isso já bastou para liberar uma avalanche de  histeria. 

    Era me melhor ter citado Nelson Rodrigues (adaptado) : ignorância assim não se improvisa , é resultado de séculos de estupidez .

  12. A culpa disso tudo é da rede globo que simplesmente fritou o…

    A culpa disso tudo é da rede globo que simplesmente fritou o cérebro da classe média brasileira.

  13. Organize-se coletivamente.

    Com milicias fascistas organizadas e sem controle das forças da ‘ordem democrática’, não é hora de nenhuma pessoa de esquerda agir sozinha  Organize-se, procure seu sindicato, um partido, um grupo politico independente de esquerda. Se não faz parte de nenhuma organização ou grupo de esquerda, a hora é essa.  Diante do fascismo deve se retormar a tradição da esquerda e se agir de forma coletiva, organizada e disciplinada.

     

     

  14. Os colégios jesuítas, como

    Os colégios jesuítas, como esse, costumam ter um professorado de muito bom nível, como essa professora. Em compensação, são colégios de elite, de gente rica, e sabemos que tipo de gente é essa, com raras exceções…

  15. Pasquale Cipro Neto – Somos todos imbecis

    Pasquale Cipro Neto

    Somos todos imbecis

    17/03/2016 02h00

    Pela enésima vez neste espaço, recorro a Paulo Freire: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Permito-me, mais uma vez, explicar aos que não entendem: quem não compreende o mundo, a realidade e as suas correlações não entende a palavra, o (con)texto etc.

    A vida é um complexo e interminável texto, caro leitor. Às vezes, julgamo-nos capazes de entender ao menos os textos mais comezinhos, embora isso seja extremamente difícil ou mesmo impossível para a parcela imbecil da humanidade.

    Como diz Leonardo Sakamoto, faltam amor e compreensão de texto. Quando se leem os comentários dos “internautas” sobre determinados textos, nota-se que o analfabetismo funcional, aliado ao ódio, ao preconceito, à ignorância, à falta de sensibilidade, de cultura, de educação, gera manifestações dignas de pena, nojo, desprezo etc., etc., etc.

    Do alto da sua grande sabedoria, o eterno Umberto Eco dizia que a internet deu voz aos imbecis, o que é fato cabal, mais do que cabal. Que eu saiba, Eco não chegava a dizer que os imbecis são majoritários.
    Exemplifiquemos a compreensão torta: em suas delações, Delcídio diz que o PT isso, o PT aquilo, e automaticamente isso se torna “verdade”. Quando ele diz que o PSDB isso, o PSDB aquilo, o barulho e o ódio não são os mesmos, e nada disso vira “verdade” imediatamente.

    Se você ler o que acabei de dizer como uma defesa do indefensável PT, sugiro que volte aos bancos escolares e reaprenda o beabá da leitura. Desenho, para quem entendeu tortamente: uma delação, seja contra quem for, carece de comprovação, nada mais do que isso.

    Mas agora a questão é outra. Um ponto é manifestarmos a nossa imbecilidade por avaliarmos como o Diabo gosta textos que não têm (nem de longe) o sentido que neles enxergamos, por ignorância, ódio, miopia intelectual, moral, ética.

    Outro ponto é estarmos no pleno domínio das nossas faculdades mentais e também da capacidade de compreensão dos fatos e das suas correlações e alguém tentar nos convencer de que a nossa compreensão do texto (isto é, dos fatos) não é correta, verdadeira, pertinente etc.

    Aí é o caso de inverter a proporção do que dizia o grande Umberto Eco, se é que ele não julgava majoritários os imbecis: no Brasil de hoje, nós, os imbecis, somos majoritários.

    O melhor exemplo disso tudo é o que tem feito o “governo” nas suas desesperadas tentativas de sobreviver. Os imbecis não conseguimos compreender a real intenção da nomeação de Lula para a Casa Civil, por exemplo, o que prova e comprova que somos todos imbecis. Também não compreendemos a real intenção de Dilma no telefonema para Lula.

    Os imbecis não conseguimos compreender também que nunca antes neste país houve roubalheira, ou seja, a roubalheira começou com o PT. Não conseguimos compreender, por exemplo, que, antes do PT, as empreiteiras investigadas na Lava Jato eram verdadeiros monastérios, desde a imaculada ditadura militar, recheada de santos, bravos e indefessos defensores da pátria.

    Tomo emprestados uns versos da letra da genial e atualíssima “Saudosismo”, de Caetano Veloso: “Eu, você, depois, Quarta-feira de Cinzas no país, e as notas dissonantes se integraram aos sons dos imbecis”. É, caríssimo Umberto Eco, siamo veramente tutti imbecilli.

    E eu já tô de saco cheio. É isso.
     

  16. Essa escola é católica, faz

    Essa escola é católica, faz parte de um grupo de escolas dirigidas por religiosas, e aqui em SP temos uma delas, na qual estuda minha neta já no último ano do ensino fundamental, a caminho do colegial. Numa aula no dia da passeata de esquerda, uma das professoras instada pelos alunos se declarou contra o golpe e que iria à manifestação. Todos os alunos receberam com naturalidade a postura da professora, alguns até disseram que também iriam, e eu me senti abençoada por poder pagar uma escola onde minha neta possa ter professores conscientes de sua posição no mundo, sem medo de censura. Parabéns à direção e aos pais dos alunos que foram contra o arbítrio. Teria sido uma grande decepção para mim se houvesse ocorrido o contrário.

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