Projeto quer diminuir estatística dominante de cesárias em partos

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Do Portal Brasil

Desafio é conscientizar gestantes, médicos e mudar o sistema de atendimento em hospitais particulares para que a cesárea seja exceção e não regra

Oito em cada 10 crianças que nascem em um hospital particular vêm ao mundo por meio de uma cirurgia. Esta é a realidade que o projeto Parto Adequado pretende mudar. Lançado no ano passado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Hospital Israelita Albert Einstein – com o apoio do Ministério da Saúde e Institute for Healhcare Improvement (IHI) –, o projeto deve criar mecanismos de organização e sensibilização para reduzir a taxa de partos cesáreos realizados na rede privada de saúde no Brasil, que é de 84,6%. O percentual supera e muito a taxa recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 15%.

Segundo a gerente executiva de Aprimoramento do Relacionamento entre Operadoras e Prestadores da ANS, Jacqueline Torres, o projeto vai ajudar os hospitais participantes a se reorganizarem por meio de evidências científicas, buscando modelos assistenciais que se adaptem melhor às realidades e objetivos dos hospitais. O projeto-piloto deve ser concluído em setembro de 2016 e até lá serão realizados vários encontros, com aplicação de modelos, além do monitoramento de resultados preliminares.

Por enquanto, ainda não há meta geral de redução, mas os hospitais estão estipulando índices viáveis dentro do contexto de cada instituição. A partir da definição desses objetivos será possível traçar um índice nacional a ser atingido.

“Estamos muito motivados. Claro que o resultado vai aparecer ao longo do processo e o projeto-piloto vai nos ajudar a entender onde acertamos e onde temos que fazer ajustes, mas acreditamos que no final de todo o processo, quando conseguirmos modificar o sistema poderemos melhorar a atenção ao parto para toda a população”, afirma Jacqueline.

Ela explica que o desafio não é somente conscientizar gestantes e médicos, mas modificar o sistema assistencial atual. “Da forma como o sistema está organizado leva médicos a optar pela realização da cesárea: ele tem um número grande de pacientes para atender, recebe por procedimento, enfim. O atendimento pode ser feito, por exemplo, por uma equipe de plantão que terá sempre um médico e uma enfermeira obstetra para realizar o parto”, cita.

Estão participando 40 hospitais – entre eles cinco maternidades que atendem pelo Sistema Único de Saúde. Entre as instituições privadas, oito estão entre as 30 maiores em volume de partos do País e 11 entre as 100 maiores, o que demonstra o compromisso social com a melhoria da qualidade da atenção ao parto e nascimento. Esses hospitais possuem taxa de cesarianas de 88,7% – superior à identificada na saúde suplementar (84%) e na rede pública (40%). Já os estabelecimentos do SUS foram escolhidos por apresentarem percentual de cesarianas acima de 60% e por realizarem mais de mil partos por ano.

Papel de enfermeiras obstetrizes foi importante para baixar taxas em Jundiaí

O projeto vai contar com hospitais particulares que já têm experiência na redução das taxas de partos cesáreos. Um deles é o Hospital Paulo Sacramento, de Jundiaí, que se orgulha de ter começado o processo de conscientização da equipe relativa às cesáreas em 1994. De acordo com José Emílio Duran Bueno, diretor médico do hospital, uma das exigências para receber o selo Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), era a redução da taxa de cesárea, na época em torno de 90%. Ele aponta que um dos destaques foi a contratação de enfermeiras obstetrizes, em 2007, com o objetivo de tornar o atendimento às mães mais humanizado. Hoje, a taxa é de 45%.

A estratégia utilizada foi adotar o programa de Aleitamento Materno, associado ao programa de gestação segura, onde o acompanhamento das gestantes é monitorado por equipe especializada. Por este modelo, o casal é informado durante toda gestação sobre o parto em cursos para gestante.

Para garantir uma eficácia da ação todos os colaboradores, profissionais médicos e enfermeiros são constantemente treinados e atualizados para a implementação das políticas que envolvem o aleitamento materno e a promoção do parto humanizado. “Realizamos treinamentos, fazemos acompanhamentos dos índices e incentivamos a equipe para que ela se mantenha motivada. Além disso, fazemos orientação prévia da gestante”, disse ele sobre o empenho para manter os índices.

Colaborador

O Hospital Albert Einstein é o Colaborador técnico-científico e operacional do projeto. O que significa que a instituição é responsável pela logística de participação dos hospitais e capacitará os participantes, atuando como laboratório de excelência na atenção à saúde. O Hospital também participará como hospital-piloto, testando as mudanças propostas ao longo do processo.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Só existe uma maneira.

    Equiparar o pagamento de ambos os partos. Como nos partos por cesária os médicos ganham mais eles vão continuar convencendo as pacientes a fazerem cesárias para que possam faturar mais. Simples assim.

    1. Você está equivocado, pois a

      Você está equivocado, pois a maioria das operadoras paga mais pelo parto normal e esta única atitude não reduz as taxas de cesarianas desnecessárias. A solução é complexa e creio que o caminho apontado pela reportagem é o mais correto. 

       

  2. Desde

    Desde que eu me lembro se fala em diminuir as cesáreas no Brasil.

    Eu já tenho 63, isso quer dizer que, se tudo correr bem, vou continuar a ouvir a mesma música por pelo menos mais vinte anos. 

  3. Eu sou inocente nessa historia.
    A creditar que os médicos ficarão acompanhando pacientes por horas no trabalho de parto, é sonhar alto.

  4. Cadê as mulheres?

    Vocês não acham que a mulher tem o direito de escolher como parir? O parto normal é DOLOROSO e muitas vezes acaba sendo um risco para o bebê…

    Ah, se fossem os homens a ter de parir!

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