Desenvolvimento pede regulamentação da profissão cientista

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O Brasil está bem rankeado em produção científica mas não tem cientista pois a profissão não existe no país. Segundo levantamento da Thomson Reuter, entre 2007 e 2011, o país foi responsável por 2,6% da produção científica global. Ultrapassando as 25 mil publicações por ano, os artigos são feitos por professores, e não cientistas. Para a professora Suzana Herculano-Houzel a não regulamentação da profissão atrasa o desenvolvimento tecnológico do Brasil. Ela avisa que este erro cometido no Brasil, de delegar a produção na mão de estudiosos, mas não cientistas, é um erro que não aparece em muitos países no mundo. Leia a matéria da Agência Gestão CT&I

da Agência Gestão CT&I

A ciência brasileira não é feita por cientistas, afirma professora da UFRJ

Para Suzana Herculano-Houzel, o fato de não haver regulamentação da profissão cientista atrasa o desenvolvimento tecnológico do Brasil. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Para Suzana Herculano-Houzel, o fato de não haver regulamentação da profissão cientista atrasa o desenvolvimento tecnológico do Brasil. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Nos últimos anos, o Brasil vem acumulando bons resultados em rankings de produção científica. No último levantamento feito pela consultoria Thomson Reuter, entre 2007 e 2011, o País correspondeu a 2,6% da produção científica global. No entanto, esses artigos, que ultrapassam a barreira das 25 mil publicações por ano, não são feitos por cientista e sim por professores.

A avaliação foi feita pela neurocientista e professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Suzana Herculano-Houzel. Para ela, o fato de não haver regulamentação da profissão cientista atrasa o desenvolvimento tecnológico do Brasil.

“Não posso dizer que neurocientista é minha profissão, porque a minha profissão de cientista não existe no Brasil. Não está na tabela das profissões regulamentadas pelo Ministério do Trabalho (MTE). Para poder atuar como cientista, eu atuo como professora de nível superior, eu literalmente faço ciência nas horas vagas”, expôs.

A professora explicou que a maior parte da ciência no Brasil por professores universitários ou por pessoas que não tem emprego nenhum, jovens cientistas chamados estudantes de pós-graduação. “A produção científica cresce ao longo dos anos por causa do número de mestres e doutores que são formados no Brasil. São esses jovens que produzem o conhecimento cientifico”, disse.

Para ela, o trabalho que os jovens exercem não é chamado de trabalho e sim estudo. “É como se eles investissem na educação deles. Outros países já não cometem mais esse erro.  O erro é não reconhecer esse trabalho como qualquer outro”, lamentou. “É um esforço laboral que gera um produto científico. Por que o jovem cientista recém graduado precisa passar pela humilhação de continuar sendo estudante?”.

Baixa remuneração

Suzana Herculano-Houzel contou que durante uma graduação o jovem já faz ciência como aprendiz, ou seja, um estagiário durante a iniciação cientifica, ganhando uma bolsa que tem o valor menor que o salário mínimo muitas vezes. Para trabalhar com ciência, quando ele se forma tem que entrar para pós-graduação.  “Isso significa se sujeitar a uma bolsa de mestrado  de R$ 1,5 mil reais mensais fixos pelos próximos dois anos sem qualquer direito trabalhista ou qualquer outro trabalho para complementar a renda”, observou .

A professora criticou ainda a obrigatoriedade em assinar uma declaração de que não vínculo empregatício do pesquisador com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e/ou com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “É preciso passar por mais uma humilhação: o atestado de pobreza. Enquanto isso seus colegas recém formados em engenharia e direito, por exemplo, já têm trabalho de verdade, ganhando de verdade”.

 

Para o jovem continuar trabalhando como cientista, ele precisa ingressar num programa de doutorado. “É a única atividade de emprego se ele quiser atuar como cientista. A bolsa também tem valor mensal de R$ 2,2 mil, sem nenhum vínculo empregatício e benefícios trabalhistas”, comentou.

Sugestões

De acordo com Suzana, é possível fazer contratações por fundações e institutos  de ciências ligados as universidades,  que poderiam receber dos governos os valores que hoje são pagos como bolsa, com contrato de trabalho e todos os direitos empregatícios. “Com a obrigatoriedade de contratação virá a possibilidade de salários com valores competitivos”, decsreveu.

Para ela, dessa forma, a ciência caminha e a sociedade cresce. “É fundamental para a soberania de uma população que ela valorize  a produção de conhecimento cientifico. Isso começa por valorizar seus cientista. Fazer ciência no Brasil hoje,  infelizmente, é uma péssima decisão profissional com pouquíssimas perspectivas”, finalizou.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

28 Comentários

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    1. Puro preconceito!

      Quanto ganha um engenheiro em início de carreira? A situação do “aluno” de pós graduação é terrível, ele está completamente nas mão da instituições a qual ele está vinculado. Se tiver algum problema de saúde, não há nada que garanta que ele vá ficar sem receber nesse período. Além disso, até ele entrar de fato no “mercado de trabalho” são, no mínimo seis anos. Dependendo da área, não há nenhuma garantia que, depois de passado todo esse período você vá conquistar uma vaga numa universidade.

      Concordo plenamente que mestrandos e doutorandos com dedicação exclusiva sejam tratados como trabalhadores. A posição atual é de alto risco trabalhista, o que muitas vezes inviabiliza a formação de um pesquisador. Para se produzir ciência de fato, devemos sim profissionalizer esta área, como fizeram países que estão na vanguarda do conhecimento.

      Essa mentalidade atrasada e tacanha, de achar que todos no mercado de ciências são corporativistas e querem mamata é o que impede o avanço do Brasil nesta área, deixando escapar grandes nomes, ou para atividades puramente técnicas, ou para o exterior.

      1. A situação deles não é

        A situação deles não é IDÊNTICA a de QUALQUER professor ou PESSOA ligada ao ensino?

        São assuntos diferentes?

        Vc e o artigo parecem pensar que sim.

        Eles não são especiais! Convido os envolvidos a participar de uma CAMPANHA pela educação do Brasil que consiste em AUMENTAR SALÁRIOS para os profissionais envolvidos.

        Sem eleger “gente especial”!!! Como os advogados, os malandros, fazem!

         

        Se vc não é aprte da solução, é parte do problema! Esses aí…são problema!

        1. E esse é exatamente o

          E esse é exatamente o problema que a Prof. Suzana Herculano-Houzel está tratando! Como no Brasil o investimento em eduação acontece primariamente por meio das universidades, a pesquisa acaba sendo considerada apenas mais um braço da educação, mas não o é!

          Aqui, considera-se trabalhar na eduação superior como a função primaria do professor universitário/cientista, e a realização de pesquisa como sendo um anexo, mentalidade que é mais prevalente ainda nas instituições privadas de ensino, que pouco ou nada investem em pesquisa e desenvolvimento. Mesmo nas universidades publicas, após a aquisição de estabilidade, a única obrigação dos professores é de lecionar um volume minimo semestral, sem existirem requisitos especificos quanto a produtividade cientifica.

          Quando você fala dos professores, compreende que estamos falando de pos-graduandos, que apesar de produzirem uma proporção consideravel dos artigos cientificos publicados, são considerados apenas estudantes? E que estes mesmos “estudantes” não tem nenhuma especie de direito, apesar de muitas vezes trabalharem 10 ou mais horas diárias, as laboratórios cujos técnicos recebem adicionais de insalubridade devido ao risco de saúde? 

           

          1. Entao se vire na iniciativa

            Entao se vire na iniciativa privada. Saia fora das universidades, que te ensinam de graca, e va se virar.

          2. Entao tá

            Vamos acabar com toda a cadeia de producao científica nacional, só porque, os “bolsistas” não merecem ou precisam de direitos trabalhistas. É de doer! Isso aí é uma ideia neoliberal. Pensamento puramente escravocrata.

          3. Sem essa!

            sem existirem requisitos especificos quanto a produtividade cientifica.

            Tem sim! Tem de publicar ! Modelo estadunidense: X papers de qualidade Y por ano ou por semestre! Fora o relatório para a financiadora (CNPQ, Fapesp  ou equivalente), afinal dinheiro não é capim e deve-se dar conta de como o mesmo foi empregado.  Esse é o vigente aqui na Pindorama. Agora a qualidade do que se publica , ai Jesuis!

            Aluno chora demais!

        2. Falta de Segurança Trabalhosta

          Os “alunos” de pós-graduação em regime de dedicação exclusiva, os bolsistas, não tem qualquer segurança trabalhista, diferentemente de professores, que são ou estatutários ou celetistas, seja nas universidades ou escolas. Passar, entre seis e dez anos após estar graduado, sem qualquer vínculo empregatício, férias, seguro-desemprego, etc., que todo trabalhador tem (ou deveria ter) ,trabalhando sim 40 horas semanais entre cursos, atividades de pesquisa, em alguns casos até ensino, e, etc., é um ABSURDO.

          Precisamos sim enchergar esta atividade como trabalho e garantir direitos a essa classe. A questão do valor da remuneração é uma outra história muito mais complexa.

          1. Entendi agora

            O caso não é criar uma profissão de cientista (idéia que estranhei, porque cientista é qualquer pessoa, de qualquer formação, que execute estudos teóricos e/ou experimentos visando descobrir coisas em alguma área do conhecimento), mas cristalizar como profissão a vida de bolsista.

            Podre.

            Eu fui bolsita, no mestrado e depois como pesquisador visitante. E como você comenta, trabalhando com coisas perigosas (não era saúde não, mas morrer mesmo). Mas nunca encarei esse trabalho como “emprego”. Emprego é outra coisa.

          2. Se vc trabalha nisso

            Se essa é sua fonte de renda principal e se essa é a sua principal atividade, o que é isso então? Um hobby? Não é apenas uma atividade de aprendizado. Um mínimo de direitos é necessário, estamos falando da vida pessoas. Se vc sofresse um acidente e ficasse impedido de trabalhar, como vc ficaria? QUem pagaria suas contas? Viveria da caridade alheia?

             

          3. Por minha vez eu pergunto…

            É justo para proteger um grupo particular (os bolsistas) burocratizar a atividade de cientista?

            Fora o problema de estar burlando o concurso público, isto é, quem paga os bolsistas é o governo… Como ficaria então?

            Quero dizer, admitir como emprego implica na necessidade de instituir concurso. Então ao invés de um professor ter liberdade de solicitar uma bolsa para um aluno brilhante ele se veria amarrado a escolher quem passou num concurso público especifico. Ou seja, você começa querendo direitos “justos” e amanhã vai se deparar com jornais trazendo propaganda de cursinho para “bolsistas”! E o perfil dos “cientistas” (dos bolsistas) vai ser tudo, menos aquilo que você deseja.

    2. Não é só questão salarial

      Athos,

      Não se trata apenas da questão de valor das bolsas, e sim de considerar o que é trabalho como trabalho. Quem decide se dedicar a pesquisa passa anos trabalhando sob condições muitas vezes perigosas, em laboratórios expostos a patogenos e radiação, sem regulamentação de horário, sem consideração quanto a insalubridade.

      Pessoas que seguem o caminho da ciência, considerando as condições atuais de trabalho, definitivamente não estão interessadas em “salários de malandros”, a profissionalização é necessária para primeiro tornar o trabalho minimamente humano. Pos-graduandos trabalham as vezes em condições insalubres, lidando com radiação ou patogenos, sem nenhuma consideração quanto a insalubridade. Não existe plano de saúde, ou mesmo um mecanismo para extender bolsas de pesquisa em caso de acidentes que impossibilitem o “estudante” de realizar seu trabalho.

      Nas condições atuais, quando jovens da graduação perguntam-me se é uma boa idéia seguir com pesquisa, a resposta é não, e enquanto as condições forem assim, o desenvolvimento de ciência no Brasil vai ser feito por poucos que ignoram a realidade economica da “profissão”.

  1. Burocracia inimaginável

    Depois do pedido de regulamentação da profissão de filósofo (https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/profissao-de-filosofo-e-a-inacreditavel-abf) vem mais esta a juntar-se ao FEBEAPA.

    O chancelamento e reconhecimento pela burocracia não altera um milimetro as condições  da C&T nacional.

    No estado de São Paulo existe a carreira de pesquisador científico e qual o estado dos institutos de pesquisa?

    O modelo de fomento à pesquisa é completamente torto, calcado no que é realizado nos paises centrais, feito para uma realidade que não é a do Brasil. Mas Narciso  não acha bonito o que não é espelho…..

    Obs; enquanto isso o Pl2245/2007 se arrasta como um fantasma.

     

    1. Direitos Trabalhistas

      A questão que eu considero mais séria e que acho que deveria sim entrar em vigor é garantir direitos trabalhistas aos “estudantes” bolsistas. É uma vergonha você se dedicar, durante 6 anos, exclusivamente a uma atividade, sem direito a férias remuneradas, seguro-desemprego, etc. Só recentemente é que a licença maternidade foi reconhecida, algo perfeitamente natural, pois a maioria das pessoas nessa atividade, acredito eu, tem idade entre 25 e 35 anos. O risco que um jovem corre de ficar completamente desamparado é altíssimo nessa atividade.

      1. Quais direitos? O do estudante profissional?

        Já conhece plano de saúde e previdência privada? Ou recolhe como autonomo. É bolsa pois não há vínculo! É cartório puro e simples.

        Faça como zihões de trabalhadores da iniciativa privada. Deduza desde já da bolsa X $ para a cota da previdência e Y $ para o plano de saúde.

        Isso sem deixar de lado o quanto vai valorizar seu cv com um mestrado ou um doutorado. E analogamente, estagiário tem vínculo? Recebe bolsa! Como diria o José Simão:querem reinventar o estudante profissional! Pois independente do status, o mestrando ou doutourando é isso : um estudante (discente)!

        O Estado de São Paulo possui uma carreira de Pesquisador Científico. Concurso público (que há mais de cinco anos não é realizado) para compor os quadros dos seus Institutos de Pesquisa ( ex: Instituto Biológico). O dominante no Brasil é o binômio ensino e pesquisa, conjugado a uma carreira universitária, Ai é que pode ser feitos ajustes. Sabe quantas inovações o Bell Labs produziu? Pois é , o BL é hoje a Lucent ! Empresa privada. O que deveria seria o incrementado dessa participação da iniciativa privada no campo do desenvolvimento de pesquisa tecnológica.

        Finalizando:

        Estão querendo é por por outro baita esqueleto no armário da Viúva!

        1. Quanto preconceito!

          Porque seria tão complicado garantir o mínimo de direitos? Quanto as empregadas domésticas, elas merecem ou não merecem os direitos adiquiridos? E os bolsistas não merecem? Não podemos justificar um erro com outro. Acho sim que essa história de ser bolsista deveria acabar sim. Deveria sim ser o início da carreira de cientista. Por exemplo, quando se entra no Itamaraty, o recem concursado passa pelo processo de formação, que nada mais é que um mestrado, onde todos os seus direitos trabalhostas estão garantidos e, além disso, seu currículo é bastante incrementado. Disso ninguém reclama. Diplomatas são mais úteis que cientistas? Toda a carreira que exige um mínimo de especialização, no começo, todos devem passar por cursos de formação. Por que é diferente para a carreira de cientista?

          Acredito piamente que dentro em breve, se nada mudar, por conta de  tantas dificuldades associadas ao processo de formação, o número de profissionais tenderá a cair, principalmente nas áreas onde o Brasil mais precisa produzir conhecimento, como Engenharia e Ciências Exatas.

          Há algum tempo atrás, alguns europeus vinham estudar no Brasil, e hoje? Não há praticamente nenhum.

          Em 2006, quando entrei no mestrado, a bolsa  era de R$ 855,00, e muitos colegas meus dividiam o aluguel e montavam repúblicas na Zona Sul do Rio. Hoje, muitos estudantes estão tendo que morar em favelas, pagando alugueis absurdos. Dizer que eles devem reservar uma parte da bolsa para pagar plano de saúde e autonomia é uma piada de mau gosto. É muito fácil falar quando estamos numa zona de conforto. No meu tempo de bolsista era mais fácil viver de bolsa do que hoje.

          O cientista não é um ser especial que deve ter uma vida de privilégios. Mas se queremos atrair profissionais para essa área estratégica, precisamos sim investir nas melhorias das condições de vida, principalmente durante o processo de formação, para evitar evasão e que, se houver problemas, ninguém fique desamparado, dependendo da caridade alheia. Não podemos ser inseinsíveis a essa situação, que é sim muito grave.

  2. Pela regulamentação da carreira de cientista

    Terminei meu doutorado há quase três anos e nunca tive um emprego de verdade. Já estou no meu segundo pos-doutorado por motivos muitos, inclusive, porque é necessário “internacionalizar” a carreira, fazendo numa instituição estrangeira, de preferência uma de renome, o que já fazia na Brasileira e que, quando me tornar professor, continuarei a fazer, com menos dedicação por falta de tempo.

    Essa falta de profissionalização gera um estresse muito grande em quem faz pós-graduação com dedicação exclusiva, pois existe sempre a pressão de que, se vc não conseguir terminar (e isso acontece com frequência), você apenas jogou seu tempo pela janela, não ganhou dinheiro, viveu mal e comeu mal, tendo renunciado ao mercado. Durante o período que vc ficou fora do mercado, vc não fez seu nome, e se quiser voltar, vai ser bem difícil se colocar.

    A vida de um “estudante” de pós-graduação no Brasil não é nada fácil, principalmente se for comparada a vida dos “trabalhadores” graduados na mesma área e na mesma época.

    Apesar disto tudo, não posso dizer que não valeu a pena, pois as experências acumuladas durante este caminho, para mim, foram muito positivas e hoje tenho a possibilidade de trabalhar no que gosto de fazer e receber uma remuneração competitiva.

  3. Vale a pena passar 2 anos

    Vale a pena passar 2 anos fazendo mestrado, 5 anos fazendo doutorado e mais 3 fazendo pós-doutorado? Hoje eu digo, sem sombra de dúvida, que não vale a pena, pelo menos não no Brasil. Após dez anos de investimento em pesquisa científica, desisti. Meu objetivo hoje é unicamente fazer um concurso e dar aulas. 

  4. Claro!

    Pra ciência brasileira bombar, precisamos apenas de mais um cartório recolhendo anuidades dos trabalhadores. Precisamos do Conselho Federal de Cientistas!

    E, bem, falar que o Brasil produz 2,6% da produção científica global é divertido. Dá a exata noção de como nossa cultura científica é calcada no “publica qualquer porcaria, temos uma cota a cumprir”.

  5. A ciência e sua contingência

    Este debate, da maneira como está sendo sugerido pela colega da UFRJ, me parece equivocado.

    Fazer ciência não implica em ter cientistas formalmente nomeados como tal, com carteirinha e sindicato. A produção científica vai muito além dos corporativismos. O que eu defendo, ao contrário da colega, é que é bom que assim seja.

    Em primeiro lugar, a pergunta óbvia seria: cientistas profissionais para trabalharem aonde? Centros de pesquisa no Brasil são francamente minoritarios em termos de estrutura institucional, e isso é compreensível pela forma como a produção científica se organiza no país.

    Atualmente, o Brasil produz cerca de 15 mil doutores por ano. Há apenas 5 anos, esse número estava na faixa dos 10 mil. No final do governo FHC, esse número era de 6.300, e à época do governo Collor, era apenas 1.000. A Meta 14 do Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado por lei em junho de 2014, projeta alcançar 25.000 doutores e 60.000 mestres titulados anualmente em 2024. (No período de 2002 a 2012, o número de mestres titulados por ano passou de 24 mil para 47 mil).

    Nesse ritmo de crescimento, apenas a China supera hoje o Brasil (e supera em quatro vezes).

    A questão é: para onde vai toda essa gente? No Brasil, isso só faz um mínimo de sentido se articulado à Meta 13 do PNE, que pretende chegar em 2024 com 75% de todos os docentes do sistema de educação superior titulados em pós-graduação estrictu sunsu, sendo deles pelo menos 35% de doutores. As metas do PNE no que respeita à educação superior são ambiciosas: elas implicam simplesmente duplicar o tamanho do atual sistema.

    Lembro-me que quando eu estava no doutorado, no início dos governos Lula, a pergunta que todos nós fazíamos, olhando para trás, era: “Existe vida após o doutorado?” Só viemos a nos convencer dessa efetiva possibilidade com o passar dos anos e os novos ares no Brasil. Bom, agora temos o PNE aprovado, mas também temos o Joaquim Levy, de modo que é até provável que daqui a alguns anos a pergunta volte à tona na cabeça dos futuros doutorandos.

    Independente de contingências mais imediatas, o formato institucional da produção científica no Brasil a aloca fundamentalmente ao espaço da academia. O velho tripé formal definidor da educação superior brasileira, consagrado na Constituição de 88, da docência, extensão e pesquisa, significava, em termos de conteúdo: qualificação de mão-de-obra, diálogo com a sociedade e produção de conhecimento. A ideologia privatista neoliberal que se seguiu à carta constitucional sustenta que esse tripé deve ser, mal e mal, reduzido apenas à primeira perna. O resto que se dane; o resto é só despesa e não dá lucro (privado). Claro, bens sociais e coletivos não são contabilizáveis na lógica privatista. O que dizer então de um bem estratégico e dificilmente mensurável como o conhecimento?…

    Há vários países no mundo que possuem estruturas (relativamente) autônomas às universidades para a produção científica. Na França existe o CNRS (se lê “cenerrês”), Centre national de la recherche scientifique, criado em 1939. Com 25.000 funcionários permanentes em dez institutos, dos quais 11.200 são pesquisadores, o CNRS seria a segunda mais importante rede européia de institutos de pesquisa (perde para o CERN – Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear) e a décima do mundo.

    [Nesse ranking, a nossa Embrapa aparece em 24º lugar, o INPE em 33º, a FIOCRUZ em 57º e o IBGE em 70º: http://research.webometrics.info/en/world]

     Os pesquisadores do CNRS não precisam estar necessariamente vinculados a centros universitários, mas só conseguem difundir sua produção se conduzem seminários em grandes centros acadêmicos, pois é lá que as ideias circulam e os novos pesquisadores se aproximam dos mais antigos para aproveitar o potencial e expandir as pesquisas que aqueles realizam. Há pelo menos dois anos, discute-se na França se o CNRS não estaria asfixiado por uma carga burocrática de origem corporativa que lhe tolhe os movimentos e lhe afasta das ideias novas (veja-se http://www.lemonde.fr/sciences/article/2012/10/04/querelles-de-chiffres-entre-l-academie-des-sciences-et-le-cnrs_1770372_1650684.html).

    Assim como na França, também na Argentina existe uma rede institucional exclusivamente científica e uma carreira profissional de pesquisador, abrigados no Conicet (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas), criado por Perón em 51.

    E também na Espanha existe o CSIC (Consejo Superior de Investigaciones Científicas), que possui 126 centros estritamente destinados à produção científica de ponta, apartados do sistema universitário, com cerca de 12.000 funcionários permanentes (3.000 deles, pesquisadores). Quantitativamente, apenas um terço do volume da produção científica do país é aportado pelo CSIC, enquanto as universidades aportam os outros dois terços, ainda que se estime que cerca de 58% dos docentes delas não desempenham nenhuma atividade de pesquisa (veja-se o capítulo 1 de http://www.investigacion.cchs.csic.es/dci/sites/investigacion.cchs.csic.es.dci/files/Analisis_Ciencia_Innovacion.pdf).

    Por conta das políticas de austeridade, desde 2009 os recursos do CSIC foram reduzidos em 45%, e o organismo teme perder até 35% de seus especialistas com os atuais horizontes orçamentários (perdeu 4.000 funcionários desde 2011, e só no ano passado 1.100; 811 deles jovens pesquisadores). Isso levou ao seu atual presidente a reivindicar, em novembro passado, uma captação de pelo menos 80 a 90 pesquisadores permanentes novos por ano, para manter o nível da produção científica da rede, que, de acordo com o ranking antes mencionado, coloca o CSIC como 11ª mais importante rede de pesquisa científica do mundo, imediatamente atrás do CNRS francês.

    Cada país tem as suas particularidades institucionais, mas o que parece comum em todos os casos é que a produção científica não pode viver apartada dos espaços de circulação das ideias e da formação de novos pesquisadores. A ciência não anda sem a massa crítica do diálogo. Quando um cientista no Brasil busca um concurso de uma grande universidade, o que ele busca é a materia-prima para formar grupos e linhas de pesquisa, para adensar o que ele começou, para formar gente que vá ampliar as apostas intelectuais do seu trabalho. Ele não vai produzir ciência só nas horas vagas, porque ciência não é só o trabalho de bancada. Reduzi-la a isso em nome de uma formalização corporativa me parece já de começo uma distorção reducionista, um mal entendimento do que sejam os fundamentos mais elementares da produção científica hoje. Foi-se há muito o tempo em que o cientista era uma espécie de heroi aloucado e solitário. Ciência hoje se produz em rede, e produzindo ao mesmo tempo gente nova.

    O processo de titulação é apenas um processo que conjuga formação com produção, e não tem necessariamente a ver com alguma lógica burocrática da aposentadoria ou do tempo de serviço, mesmo porque muitos cientistas jamais deixam de prestar serviços ao conhecimento, ainda que formalmente aposentados e sem qualquer remuneração complementar. A maior satisfação desses profissionais não está nem no aumento exponencial da remuneração nem no acúmulo de tempo de serviço. Ela está na obra que constituem (o que inclui os colegas que ajudaram a formar). Esses, sim, são os cientistas. Os outros são os burocratas.

    O Brasil optou por juntar institucionalmente o que em outros países parecia virtuoso estar separado. A opção brasileira não é ruim. Pelo contrário! Sob as nossas condições institucionais mais amplas, ela tende a ser virtuosa exatamente por explicitar institucionalmente a sinergia que faz da produção científica algo viável no Brasil. O resto é responsabilidade política e mobilização daqueles que não querem deixar a peteca cair. Ou então, é apenas irresponsabilidade predatória dos liberalismos triunfantes em sua própria obtusidade.

    1. O processo de titulação.

      O processo de titulação é bastante extenso, sendo o “aluno” uma pessoa que deixa o mercado de trabalho, por pelo menos 6 anos (no Brasil) para se tornar um profissional extremamente especializado. Durante este tempo o aluno fica completamente desamparado pela rede de proteção trabalhista. Se, por um acaso, levar mais do que o tempo previsto para terminar o seu curso (mestrado ou doutorado), vai ter que depender da caridade alheia. Isso não faz qualquer sentido. Contar ou não como tempo de serviço, depende das atividades que ele desenvolve, pois muitos bolsistas servem de mão-de-obra barata para que pesquisadores engrossem suas linhas de currículo lattes.

      É muito fácil defender este tipo de lógica quando estamos na região de conforto de uma posição permanente numa universidade.

      A pressão psicológica exercida por todo esse sistema sobre os bolsistas é completamente absurda. Temos que lutar para melhorar as condições de trabalho destes que ajudamos a formar e que darão continuidade a nosso trabalho, pois a condição na qual eles se encontram é realmente muito delicada.

       

      1. Abaixo a frescura!

        Quando um pesquisador de pós-graduação “deixa o mercado de trabalho”, ele o está fazendo para capitalizar uma qualificação pessoal que: 1. ou o recolocará no mercado em condições muitíssimo melhores (porque doutorado é algo que o prepara para ter uma visão estratégica do seu ambiente de informações); 2. ou o habilitará para atividades de pesquisa para as quais não tinha nem suficiente preparo metotológico nem suficiente bagagem teórica.

        Do contrário, seria muita presunção de neófito acreditar que uma tese de doutorado é uma obra prima da ciência. Como costumava dizer um professor meu: ela é não mais que uma “prima obra”.

        Fui pesquisador durante um ano e meio na França, durante mais de um ano na Espanha, durante 4 anos em vários países da América Latina, passei por alguns dos principais centros de excelência da minha área no mundo, e não hesito em reconhecer que as condições de financiamento a pesquisadores de pós-graduação no Brasil são umas das mais confortáveis do planeta.

        Pra mim, quem não sai da sua redoma não é mais que caipira; quem não aguenta uma pressãozinha não é mais que frouxo.

        Ciência não é para pimpolhos acomodados, nem para satisfazer “ego trips”. A aventura do conhecimento exige, sim, desprendimento e ousadia. Quem não tiver vocação para ela, que não vá nem para o mestrado nem para o doutorado. Ninguém obriga ninguém a isso. Melhor que vá passear no shopping.

        E, sim, não estou falando de nenhuma região de conforto de uma posição permanente numa universidade. Se assim o fosse, não estaria no meu terceiro pós-doutorado, prestes a me tornar apenas mais um desempregado.

        1. A fórmula vale para as domésticas mas não para os bolsistas?

          O profissional com doutorado  não é exatamente o sonho de consumo das empresas, pois pode ser visto como  uma ferramenta extremamente especializada e cara. 

          Não podemos compactuar com a exploração só porque em alguns lugares do mundo a situação é ruim.

          Não quero que os que vierem depois de mim corram os mesmos riscos que eu corri durante o período de formação. Não podemos enxergar os bolsistas como meros alunos, pois a atividade que eles desenvolvem, geram de alguma forma riqueza, seja para o avanço da ciência, seja para preencher linhas no currículo lattes dos pesquisadores, e assim, ajudar as instituições a avançarem nas avaliações da CAPES, o que pode render $$$.

          Durante a minha tragetória, vi gente pirar e ficar completamente desamparada, longe da família e sem qualquer suporte financeiro. Histórias tristes, maus tratos, assédio moral, entre outras coisas que poderiam ser evitadas ou minimizadas se houvesse o mínimo de segurança trabalhista. Da maneira como está, não recomendo a ninguém seguir por este caminho.

  6. Falando em ciencia, ja falei

    Falando em ciencia, ja falei pra voces a respeito do motor duplo que gera eletricidade?  Eh assim:  um motor apontado pro outro com, cada um, uma espiral.  Elas ficam lado a lado nos eixos do lado de fora do motor.  Devido a uma “engrenagem” reversa. as rotacoes dos motores estao trancadas entre si mesmas, e se um se move, o outro tambem.

    Agora a geracao de eletricidade:  as espirais tem imans que as fazem rodar, portanto gerando eletricidade em dois motores simultaneamente.  (Por estarem trancadas na rotacao, as espirais nunca trombam uma com a outra.)

    Voila.  Motor duplo espiralado.  Vai ser batizado de “O Importante Motor Ivaniano”.

    Uh…

  7. A CIÊNCIA NÃO É LEVADA A SÉRIO PELO CONGRESSO!

    Srs. cientistas, só ciência não resolve, é preciso um pouco de politização. Nossos cientistas falaram pra paredes durante a elaboração do novo código florestal, nem sequer foram ouvidos pelo Congresso, que só consegue ouvir com o “bolso”. Não está chegada a hora, de decisões como essa passarem por consulta popular, através de plebiscitos e referendos convocados pelo próprio povo, sem esquecer de que nossos cientista fazem parte desse povo?
     

    O QUE FALTA NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS

    AQUI TEMOS DE SOBRA

    Parece incrível, mas grande parte de nossos empresários são os principais culpados pela disseminação da violência, e até arrastões que temos visto ultimamente em shoppings. Se nossa juventude frequentasse uma escola de período integral, onde fosse incentivada a progredir nos estudos, acompanhada por psicólogos, e praticando esportes de alto nível. Além de não correrem atrás de ideologias extremistas, e buscar promover o caos na sociedade; ainda evitaríamos o vexame olímpico, com a participação apagada que vamos ter.

    Se querem saber o que estão colocando na cabeça de nossos jovens:

    http://democraciadiretabrasileira.blogspot.com.br/2013/11/movimentos-sociais.html 

    O QUE NOSSOS EMPRESÁRIOS GANHAM COM ISSO?

    Absolutamente nada. De fato, a classe empresarial brasileira foi quem melhor assimilou a tradição de corrupção e trambiques, que datam desde a colonização do país; quando presidiários recebiam indulto, se viessem para o Brasil, criando uma cultura extremamente corrupta. Para agravar ainda mais, na maioria de nossos empresários de nível médio a despolitização é uma característica marcante, aliada à deficiência de ensino; onde muitos nem cursaram uma faculdade, e os que tiveram esse privilégio, fizeram cursos de péssimo nível. Para se ter uma ideia da situação, não temos notícias de nenhum curso superior no país, seja de economia, administração, sociologia, história, geografia, direito, etc; que leve aos seus alunos o conhecimento desse fenômeno social e político, encontrado nas sociedades mais avançadas; que também é escondido pela mídia:

    http://democraciadiretabrasileira.blogspot.com.br/2013/10/plebiscitos-referendos-e-recalls-pelo.html 

    Porque não precisa ser nenhum gênio, para perceber que esse sistema mais democrático é o que propicia a criação de empresas formidáveis nesses países, alicerçadas por uma equipe de funcionários altamente qualificados. Enquanto eles aperfeiçoam seu sistema político econômico capitalista, construído sobre as bases sólidas da livre concorrência; aqui nossos empresários de pequeno, médio, e até de grande porte, diante de sua total ignorância sobre o processo político econômico, limitam-se a seguir outros empresários, e de preferência os maiores, que realmente se dão bem com os trambiques. É um ciclo vicioso não acabamos com a corrupção por falta de consciência e conhecimento, e não conseguimos atualizar nosso conhecimento por causa da corrupção roubar as verbas da educação… 

    A livre concorrência é fundamental para o sistema capitalista. Se poucas empresas tiverem acesso aos contratos públicos através da corrupção, isso desequilibra todo o sistema; que passará a premiar o empresário trambiqueiro, no lugar do mais competente; tornando nossas empresas verdadeiros dinossauros, perto do que se tem nos países desenvolvidos. Os empresários são os que mais deveriam zelar e cobrar pela austeridade na administração pública, mas acabam sendo os principais agentes da corrupção. Alguns até se dão muito bem, quando têm “bons” contatos no mundo político, compensando inclusive as perdas que sofrem com esses ladrões; mas são uma minoria. 

    A grande maioria fica feliz em dar dinheiro pra campanha política dos ladrões, e entrar pra quadrilha, achando que também poderá roubar à vontade. Realmente receberão algumas vantagens, mas que nem de longe compensarão o estrago feito pelos políticos ladrões. A primeira coisa que os vermes fazem, é desviar os recursos da educação e pesquisa científica. O que deixa nossos empresários sem a menor condição de competir com os estrangeiros. Nos EUA, o governo paga a pesquisa científica de suas empresas, e também espiona as de outros países para elas de graça. Enquanto aqui, damos dinheiro pro ladrão se eleger e roubar os recursos que são das empresas, através da pesquisa científica. Devemos ser até motivo de piadas no exterior…

    Por isso acontecem fenômenos interessantes no Brasil. No auge da crise financeira internacional, o país vivia um excelente momento econômico, só que os investimentos estrangeiros diminuíram em função das dificuldades dessas empresas em seus países. Entretanto, nossas necessidades de investimento não pararam. Ora, mas por que os próprios empresários nacionais não investiram, como os chineses, russos, e indianos, que continuaram, e continuam crescendo; se o BNDES tinham dinheiro sobrando para emprestar a juros muito atraentes? Isso é extremamente simples, e acontece, porque não temos profissionais qualificados em número suficiente, para assumir as mesmas responsabilidades daqueles que vem para cá junto com as empresas estrangeiras. Porque roubaram a verba da educação, e da pesquisa científica.

    Não bastasse tudo isso, a corrupção política evoluiu, ganhando espaço inclusive no mundo acadêmico, sob o nome de neoliberalismo. É a antiga nobreza feudal, uma classe parasitária, que nada produz, mas engorda como um verme gigantesco; tomando o poder de quem trabalha e produz, através da ESPECULAÇÃO FINANCEIRA, ou se preferirem, DITADURA DO MERCADO. 

    Assim, nossos empresários, que não conseguem reunir profissionais competentes nem para investir em seu próprio país, caíram no conto do fundo soberano. Já temos quase meio trilhão de dólares em reservas internacionais aplicadas no exterior. Eles acharam que poderiam investir lá fora igualmente, multinacionalizando-se; mas diante dessas dificuldades apontadas, como já previsto pela DITADURA DO MERCADO (os especuladores financeiros), acabaram impossibilitados de investir no exterior; e os recursos precisaram ser investidos em títulos podres americanos, que pagam 1% ao ano de juros ao Brasil, enquanto desvalorizam quase 5% devido à inflação. 

    E tem mais, recursos sobrando em dólares para facilitar a multinacionalização de nossas empresas, é algo que interessa a alguns industriais; quem depende exclusivamente do mercado interno, tem outras necessidades, e deve exigir um mercado interno mais aquecido, e não facilidades para investir no exterior. Ao entupir Brasília de ladrões e salafrários, os empresários chegaram ao cúmulo de ver o dinheiro que é deles, o da pesquisa científica, sendo desviado; e os investimentos produtivos no exterior sendo aplicados na especulação financeira. É o ciclo vicioso, não podem investir, porque não têm know how; e não tem know how, porque deixam roubar os recursos que seriam investidos na educação, para adquirir esse mesmo know how.

    Reflitam: O que pode fazer um governo deixar de capitalizar sua empresa de petróleo, para que possa explorar sozinha o pré sal; e a Infraero, para que possa administrar melhor os aeroportos; e em troca disso, investir em títulos podres americanos, importando a crise deles para cá? Não tem gente levando propina por fora para fazer isso? Quem foi que financiou o Marcos Valério no mensalão, para que emprestasse dinheiro ao PT e seus aliados, deixando-os endividados até o pescoço? Isso mesmo, a VISA NET, uma multinacional dos banqueiros internacionais, da especulação financeira. Agora, o que deveria ser investido na produção, está sendo pessimamente mal aplicado nessa ciranda, que faz sumir as economias do povo brasileiro. E não adianta dizer que isso é coisa apenas do PT, porque com o PSDB era até pior.

    Se parte desses recursos (temos quase meio trilhão) fossem investidos em empresas como a Petrobrás e a Infraero, ou formado consórcios de empresas genuinamente nacionais para desestatizar o setor; veríamos no Brasil a criação de altos cargos executivos altamente remunerados, o aumento da pesquisa científica, e uma imensidão de concursos públicos com excelentes empregos aos nossos jovens. Não somos contra as multinacionais, que devem até ser incentivadas; mas elas devem vir para suprir nossas dificuldades de investimentos, que não existem no momento, e aumentar a livre concorrência; isso sem dominar qualquer setor que seja da economia, ou entrar em setores estratégicos, como mineração, telecomunicações, e energia. Pois quando vêm pra cá, além de não produzirem suas pesquisas científicas no Brasil, também pagam seus mais altos salários no exterior, elevando o mercado interno deles, reduzindo o nosso, e retirando de nossos jovens as oportunidades que por direito devem ser deles. 

    Não é que devamos fechar as portas aos investimentos estrangeiros, mas sim que precisamos criar as mesmas condições de pesquisa científica e espionagem em favor de nossas empresas. O que é impossível sem se investir pesadamente na educação, e acabar com os desvios de recursos pela corrupção. 

    Entre os pouquíssimos que se dão bem com a corrupção, dentre eles principalmente especuladores e políticos, é comum mandar o dinheiro dos trambiques ao exterior. Até porque, se ficasse aqui, não teria como justificar esses recursos no imposto de renda. Então, devem comprar ações de multinacionais no exterior, e usar de sua influência para que elas invistam aqui no Brasil; onde contratarão serviços de empresas desses acionistas no Brasil, trocando favores e legalizando os recursos desviados anteriormente. Esses são os ladrões que deram certo, e quem não faz parte do trambique, pode ter certeza de que está entrando pelo cano. E não adianta vir dizer que o dinheiro acaba voltando ao país, porque a pesquisa científica e os mais elevados salários dessas empresas continuam no exterior, empobrecendo o Brasil, seu povo, e suas empresas. Se hoje nossos jovens recebem apenas as migalhas, enquanto os deles ficam com o filet mignon; isso se deve à corrupção. E se a corrupção se generalizou, e está ativa dessa forma no país; isso se deve aos próprios empresários, principais financiadores das campanhas dos corruptos..

    DADOS DA EDUCAÇÃO:

    Infelizmente, essa é a realidade. Nossos problemas vão muito além dos investimentos em educação.

    http://www1.folha.uol.com.br/saber/882676-brasil-fica-no-88-lugar-em-ranking-de-educacao-da-unesco.shtml

    Nesse vemos países que estão bem atrás do Brasil em padrão de vida, mas com um sistema de ensino melhor.

    Existem vários motivos para isso, podemos destacar uma cultura enraizada entre nossos professores, onde parte deles desconta sua insatisfação com seu padrão de vida nos alunos, reduzindo a qualidade do ensino. Não tenho dados de pesquisas sobre isso, são experiências pessoais, conversando com alguns professores. Existe uma parcela significativa que tem essa prática, e a maioria são de extrema esquerda. Quando falamos com eles, não conseguem justificar logicamente sua atitude; mas quando analisamos a tendência política, fica fácil perceber. 

    Comunista é igual urubu, fica torcendo sempre pelo pior, quer ver o circo pegar fogo, o governo quebrar, a Europa e os EUA falirem, e não colaboram em nada para irmos pra frente. Aliás, são contra iniciativas populares de lei, plebiscitos, e a democracia direta. Uma elevação dos salários é indispensável, para que profissionais mais competentes e atualizados passem a se interessar pelos concursos públicos do setor.

    Também é preciso acabar com esse tipo de aberração, que tem sido estimulada pelos políticos:

    http://democraciadiretanobrasil.blogspot.com.br/2013/01/politicos-estao-envenenando-nossas.html

    Para compreender melhor o assunto:

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=351949744940694&set=a.300951956707140.1073741826.300330306769305&type=3&theater 

    http://democraciadiretabrasileira.blogspot.com.br/2013/11/existempartidos-como-o-pt-pdt-psb-etc.html 

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=303084256493910&set=a.300951956707140.1073741826.300330306769305&type=3&theater

     — 

  8. Algumas impressões sobre o

    Algumas impressões sobre o tema acima.

    Tenho visto a discussão acontecer entre os pós-graduandos e pós-doutorandos, pois ainda tenho muitos amigos nessa situação, além de acompanhar o site Pós-graduando, porém, infelizmente, não vejo professores e pesquisadores envolvidos nela. A Susana está propondo um projeto no congresso que irá impactar diretamente a atividade fim de professores e pesquisadores e eles não estão nem aí pra isso. Ou seja, a discussão está sendo direcionada apenas pela visão de uma única profissional e está tendenciosa para a perspectiva dos estudantes de pós-graduação. A impressão que tenho é que o que ela está querendo levar ao congresso está voltado,basicamente, para tornar os estudantes “empregados”. Portanto, meus comentários abaixo vem muito em torno disso. É parte de um e-mail que troquei com um amigo doutorando, com algumas adições.

    Antes de escrever muito, meus pontos:

    (a) sou a favor da profissionalização, em especial dos postdocs;

    (b) não vejo como algo simples, pois a legislação trabalhista não favorecerá isso;

    (c) Isso poderá levar a uma redução no número de vagas;

    (d) isso exigirá uma mudança de paradigmas;

    (e) Sou a favor da causa da Suzana, mas acho que ela diminui a importância das bolsas e do financiamento público.

    (1)

    Quanto à classe de “cientista”, talvez esse seja um problema inerente à universidade brasileira. Acho bem legal o modelo da Embrapa, por exemplo, onde o profissional é contratado como pesquisador, mas onde cada um mantém sua identidade profissional: agrônomo, biólogo, zootecnista etc. Não sei se, necessariamente, precisamos ter uma profissão de “cientista” regulamentada, ainda mais porque “cientista” é muito amplo. Temos cientistas em basicamente todas as áreas do conhecimento. É como colocar todos os profissionais de uma empresa, com todas as suas peculiaridades, dentro de uma mesma classe. Como será, por exemplo, definido o salário mínimo profissional de uma classe que inclui graduandos, mestrandos, doutorandos, pós-doutorandos, agrônomos, médicos, biólogos, cientistas sociais, matemáticos, físicos, químicos, administradores, advogados, pra citar só alguns? Porém, pagar os salários mínimos profissionais de cada classe poderá se tornar muito caro para as universidades e, realmente, seria mais conveniente pagar seus profissionais como professores ou como cientistas, com pisos salariais diferentes dos de suas categorias de graduação.

    Dentro do contexto da universidade, acho a criação do cargo de cientista (para pessoas com doutorado e empregados efetivos da universidade) uma solução interessante, pois desde muito tempo sabemos que nem todos tem vocação para serem ambos, cientista e professor, como já dizia o velho Max Weber no início do século passado. Portanto, contratar as pessoas com as vocações corretas ajudaria a melhorar a qualidade tanto do ensino como da pesquisa feitas nas universidades.

    (2)

    No que diz respeito aos estudantes de pós-graduação e pós-doutorandos, eu concordo com a profissionalização e acho que é uma forma de valorizá-los. Porém, penso que isso deve ser melhor discutido. Não vejo essa transição como algo simples e, no mínimo, essa mudança reduzirá pela metade a oferta de bolsas de pós-graduação e pós-doutorado, visto que um empregado custa quase que o dobro do seu salário ao seu empregador.

    Recentemente tive que fazer o exercício de calcular o custo de um postdoc, não como bolsista e, sim, como empregado. A princípio, eu estava me baseando no valor de bolsa do CNPq, que é de 4.000 e poucos reais para um pós-doutorando. Só que eu me dei conta de que teria que pagar, além de todos os direitos trabalhistas, o salário mínimo de sua categoria. Por exemplo, se o postdoc for um engenheiro teremos um custo de R$10.842,88, isso sem considerar o vale transporte, que é direito por lei, e outros benefícios que uma empresa pode fornecer a seus empregados como, por exemplo, plano de saúde. Para esse cálculo, considerei uma jornada de 8 horas diárias, que, pelo sindicato dos engenheiros, pede um salário mínimo profissional de R$7.092,00. A mesma lógica pode ser aplicada a um mestrando ou doutorando, já que todos tem o título de graduação. Ou seja, mesmo um doutorando, custaria ao Governo (pois é ele quem financia a pesquisa no Brasil), mais de R$10.000,00.
     
    Esse valor paga, hoje, quase 5 doutorandos ou paga 2 postdocs. Ou seja, se você quiser pagar um doutorando como profissional, com todos os direitos trabalhistas que temos, eliminaremos 4 doutorandos do pedaço. Considerando o mesmo valor como o salário de um pós-doutorando, o que também se aplica, isso corresponde a US$4170.00, que é mais do que eu recebia como um pós-doutorando iniciante nos EUA. Eu recebia US$3000.00 e ainda tinha direito ao plano de saúde. Ou seja, o custo de um mestrando, doutor ou de um pós-doutor, seguindo a legislação trabalhista, será maior no Brasil.
     
    A solução seria tratar os ex-estudantes de graduação como uma classe a parte, ainda com direitos trabalhistas, mas desvinculando-os dos salários base de suas categorias, pois, afinal, estariam desempenhando um outro papel. Talvez essa seria a tal classe de “cientista”? Porém, isso é discutível, pois, um biólogo fazendo pesquisa em microbiologia não  estaria exercendo sua profissão de biólogo e não teria o direito de receber o salário mínimo de sua categoria? Não sei qual seria o efeito psicológico disso, pois, como estudante a pessoa tem um status diferente. É até algo que valoriza. Agora, como biólogo que não recebe o salário base da categoria, isso poderia criar uma classe “limbo”. A pessoa teria alguns direitos, mas se consideraria um empregado de segunda categoria. Quem disser que não se sentirá assim é ingênuo, pois é da natureza humana querer sempre mais. O que faremos, na verdade, é criar uma classe de terceirizados da ciência, que farão um trabalho científico temporário para, depois, se tornarem desempregados. Bem, não muda muito o estado atual, a não ser que a pessoa receberá direitos trabalhistas. Se isso for melhor que ser considerado estudante, que assim seja. Talvez seja do ponto de vista econômico, mas não sei do psicológico. Pode ser que alguns fiquem felizes por sentirem que ainda tem alguns direitos, enquanto outros se sentirão como trabalhadores de segunda categoria.
     
    Consideremos algo mais: a necessidade de trabalharmos mais do que deveríamos em algum momento, o que não é incomum durante uma pesquisa de mestrado e doutorado. Como isso será resolvido, com o financiamento limitado dos projetos e com a dificuldade em se gerenciar esses recursos? Imagine, se você tiver que guardar dinheiro pra pagar horas extras de quando seu aluno de doutorado precisar trabalhar até mais tarde para completar um experimento?

    Algo que a Suzana sugere e que eu acho legal: que a contratação seja feita pelas FAP’s, como já se faz em projetos financiados pelas fundações de universidades, como a FAPUR e a FUNARBE. O dinheiro do projeto é gerenciado por essas fundações e elas contratam as pessoas. Então, o vínculo não é com a universidade, e o contrato pode ser temporário. Isso evita que pessoas mais sagazes usem da situação para caracterizar vínculo empregatício com o serviço público sem a necessidade de concurso (não tenho dúvidas que isso acontecerá, se já acontece com gente sendo considerada aluno). Porém, permanece o problema de “o quanto vamos pagar”: Teremos um salário mínimo para a categoria? Como fazer isso para uma profissão que inclui, praticamente, todos os tipos de profissionais de nível superior? Vamos ter que pagar o que exige a categoria de graduação de cada pós-graduando?
     
    Vejo tudo isso como uma “europeização” do sistema de pesquisa, o que não acho ruim: fulano entra às 8 h e sai às 17 h. Se precisar fazer algo depois do horário, será proibido. Terá que se planejar de acordo com a atividade. Se é isso que queremos, sem problemas. Acho válido. Só depois não me venham com a visão romântica da profissão do cientista. Aliás, acho que necessitamos despir a profissão dessa visão romântica.
     
    Quanto ao fato dos estudantes conduzirem trabalhos de pesquisa na pós-graduação, que é, sim, estudo e investimento, como ter um estudante de pós-graduação desvinculado do seu trabalho de pesquisa? Quer coisa melhor do que aprender fazendo? Reclamamos tanto da falta de prática na graduação e na hora de aprender fazendo, reclamamos que estamos sendo explorados… E, sim, os estudantes são cientistas em exercício se vemos de um ponto de vista, mas não são cientistas de facto, pois ainda estão em formação! Eu gostaria de ter a capacidade de auto-valorização de alguns, pois mesmo depois de anos de formado e trabalhando com ciência ainda me considero um cientista em formação. É fato que os pós-graduandos são estudantes. Já os postdocs, eu consideraria claramente como profissionais, pois são doutores diplomados.

    (3)
     
    Pra mim, o problema é mais complexo. Temos que mudar o sistema: tornar o gerenciamento de recursos de projetos mais flexível, permitir que os PIs incluam custos para pagamento de pessoal nesses projetos, como se faz nos EUA, e, me desculpe, talvez flexibilizar os direitos trabalhistas? (Vai ter gente querendo me fuzilar por causa desse comentário). Digo isso numa perspectiva geral. Do jeito que a Suzana fala, vejo o mundo que ela defende dentro de uma lógica mais liberal e competitiva, sem as garantias de estabilidade mesmo para os pesquisadores, como acontece na Europa. Estou sendo polêmico, mas fico me questionando sobre como essas reivindicações feitas por ela se ajustarão ao modelo brasileiro. Ainda somos muito dependentes do modelo estatal, seja para a pós-graduação, seja para a pesquisa. Uma coisa é certa: vamos onerar mais os gastos públicos ou diminuiremos significativamente o número de pós-graduandos e postdocs.

    Algo em que alguns que estão reclamando e pixando a pós-graduação no Brasil como algo ruim não pensam: se esse sistema já fosse implantado, será que, com o número de vagas reduzido, eu e você teríamos tido a oportunidade de ter passado pela pós? O sistema de seleção se tornará muito mais rigoroso. Bem, isso é bom desde que garanta a seleção dos melhores (se o sistema for imparcial, claro).

    (4)

    Quanto ao problema do emprego pós pós-graduação, ele continuará com ou sem “profissionalização” dos pós-graduandos. Temos que ter alternativas ao serviço público para absorver os profissionais que saem do mestrado e do doutorado. Esse é um ponto de igual relevância, ou até mesmo mais relevante do que o da “profissionalização”. Se houvesse empregos para absorver a grande maioria dos nossos jovens após a pós, aposto que o número de descontentes seria muito menor. E isso seria muito mais efetivo do que criar um status de emprego temporário, que é o que a pós-graduação se tornará, enfim. Alguém aqui mesmo mencionou exemplos de centros de pesquisa em outros países que tem financiamento privado. E, por exemplo, eu tenho colegas nos EUA que hoje trabalham em empresas privadas como cientistas. Infelizmente, isso não é bem a realidade no Brasil. Nossos jovens, em sua maioria, têm que depender dos concursos nas universidades, institutos federais ou dos poucos centros de pesquisa existentes. É realmente frustrante e estressante ter que depender de concurso público.

    Por outro lado, quem entra nesse jogo sabe dos riscos que corre. Alguém com graduação já é maduro o suficiente para medir os riscos de suas decisões (por exemplo, o risco de se tornar muito caro para o mercado e muito especializado ao se fazer uma pós-graduação). Quando me perguntam sobre pós, geralmente eu aconselho fazer um mestrado, pois acho que pode valorizar o currículo da pessoa hoje em dia, mas recomendo o doutorado só pra quem quer seguir carreira acadêmica. O mundo da ciência não é flores e muita gente pensa em desistir dele, pois existe muita pressão. Temos que despir a carreira de cientista desse romantismo que ainda existe e considerá-la como uma carreira qualquer, com seus pontos fortes e fracos, com direito a toda sorte de problemas que uma profissional qualquer tem.

    (5)
     
    O que não gosto no discurso da Suzana, por mais legítimo que ele seja, é a forma como ela desdenha da pós-graduação no Brasil. Ela chega a ser insolente. E vejo como outros foram contaminados com esse discurso ao ler os comentários no Pós-graduando e aqui no blog. O discurso dela encaixa como uma luva no sentimento dos jovens que estão passando por uma fase de transição e incertezas. Antes da Suzana não se via pessoas desdenhando da pós-graduação como vemos agora. Sim, existiam pessoas infelizes e desiludidas, mas as reivindicações da Suzana deram razão de viver à muita gente descontente ou desiludida com a pós-graduação.

    Considero que o discurso dela possa ser utilizado como um discurso retórico para dar maior ênfase às mazelas e desvantagens do sistema, mas ela insiste tanto a ponto de me parecer mais a posição de alguém que veio de classe privilegiada e que toma o que tem “for granted”, desdenhando do que tem. É a mesma atitude de pessoas que recebem financiamento do Governo, pago pelo povo brasileiro, mas que desdenham da oportunidade que tem na pós-graduação. Um amigo doutorando que voltou recentemente do sanduíche na Escócia fez uma reflexão bem interessante a esse respeito. Ele via alguns alunos brasileiros no exterior reclamando do suporte brasileiro, mas quando ele fez uma comparação da situação dele e desses alunos com os estrangeiros (e.g., espanhóis) que estavam fazendo pesquisa lá, por sinal, EMPREGADOS, ele viu que eles tinham que trabalhar como garçons para complementar a renda e moravam em repúblicas enormes para economizar. Enquanto isso, ele e os outros estudantes brasileiros tinham tudo pago e podiam se dedicar à pesquisa integralmente. Porém, a Suzana chama esse privilégio de se ter uma experiência integral no exterior (em alguns casos com direito a muito passeio, ao ponto de apelidarem o CsF de “Turismo sem Fronteiras”), uma realidade possível pra muitos só quando financiada com dinheiro público, de exploração.

    Pós-graduação é, sim, estudo e investimento. Vamos ver do ponto de vista dos colombianos, que têm que pagar pra fazer mestrado e doutorado. Lá na Colômbia, ao contrário do que a Suzana argumenta, mestrado e doutorado SÃO investimentos. Enquanto ela desdenha, dizendo que pós-graduando é ralé no Brasil, que pós-graduação não é investimento etc., os colombianos e peruanos estão vindo para o Brasil, se beneficiando de nossas bolsas (bem fazem eles), para voltarem bem qualificados para os seus países, pois eles têm ciência de que pós-graduação é, sim, investimento e que isso vai garantir um emprego melhor para eles, seja nos seus países de origem ou no Brasil.
     
    Além disso, o discurso dela é específico para uma categoria de pós-graduandos, isto é, os envolvidos nas ciências biológicas, da terra e engenharias. O modelo que ela propõe, por exemplo, não é suportado por estudantes de ciências humanas. Já li comentários de biólogos ou similares, no site Pós-graduando, diminuindo o pessoal das ciências sociais por preferirem o sistema de bolsas.

    Bem, esses são pensamentos aleatórios e posso até mudar de ideia com mais reflexão, mas já faz algum tempo que não concordo com o desdém que tenho visto da parte da Suzana. Concordo que devemos avançar nessa discussão, mas não concordo com a visão míope e enviesada do nosso sistema. Ela é uma pesquisadora competente na área de estudo dela, mas isso não a torna sumidade em outros discursos. Afinal, até o James Watson, com prêmio Nobel e tudo, fala suas besteiras.

    Saudações,

     

  9. Há exatamente 14 anos, quando

    Há exatamente 14 anos, quando ingressava no Mestrado, deixei meu consultório particular para me dedicar inteiramente à “carreira acadêmica”. Deixei com entusiasmo, não com pesar, pois desde cedo sabia que a pesquisa era minha vocação. E ainda é. Não falo isso apenas porque gosto de pesquisa, mas sim porque sei que nasci para ser pesquisadora. Fiz Mestrado, Doutorado e dois Pós-doutorados, todos com bolsa. Vivi a angústia de saber que tudo teria um começo e um fim. O fim da bolsa. O desemprego. A dificuldade da recolocação profissional. A dificuldade de conseguir emprego na minha área. O fato é que, no Brasil, a “carreira acadêmica” é ingrata sim! As oportunidades são raras e a política em torno delas é algo que prefiro não comentar. Não defendo a regulamentação da “profissão bolsista”, pois bolsa é bolsa, salário é salário. Apesar de produzirmos pesquisa na pós-graduação, estamos em processo de aprendizagem, ou seja, estamos no papel de estudantes. Talvez só no Pós-doutorado é que já temos esta independência. Defendo sim, maiores oportunidades para docentes e pesquisadores, de forma que cada um possa exercer suas funções com excelência. Vejo docentes que não gostam de ministrar aulas, ministrando muitas vezes por obrigação e deixando o ensino em segundo plano. Gostam é da pesquisa. Gostam de estar nos seus laboratórios ou salas orientando alunos, lendo artigos, solicitando projetos. Outros, amam ensinar, mas não apresentam aptidões para a pesquisa, e por isso são cobrados de forma enérgica pelas universidades. Enfim, este é apenas um desabafo, já que tenho poucas esperanças de que esta situação mude no Brasil. 

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