Cachoeira Doc seleciona filmes engajados e cinema de invenção, por Josias Pires

Premiados do Cachoeira Doc.

Por Josias Pires

O festival  de cinema  Cachoeira Doc , em sua sexta edição (1 a 8/09) às margens do rio Paraguaçu, no Recôncavo da Bahia, consolida-se a cada ano como espaço-tempo de encontros de novos documentaristas brasileiros; exibição de filmes instigantes; espaço de reflexão sobre o fazer documentário. O Cachoeira Doc determina-se pela coragem de ousar, de investir no pensamento crítico, de expor-se às inovações formais e temáticas no campo do documentário.

Criado no interior do curso de Cinema da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), tendo à frente as professoras Amaranta Cesar e Ana Rosa Marques, o festival está atento também às potencias transformadoras na sociedade, e disse a que veio logo na sua abertura (1/9), com a exibição, em espaço aberto, de dois filmes sobre os índios Tupinambá de Olivença, seguida de debate com o Cacique Babau.

Liderança indígena perseguida pela polícia, um dos articuladores da luta pela retomada da terra Tupinambá na Serra do Padeiro, Babau denuncia assassinatos de lideranças indígenas e de milhares de negros das periferias urbanas, a guerra civil por outros meios em que estamos metidos.

Cinema de combate. A retomada da terra Tupinambá em Olivença é fenômeno dos últimos 15 anos. O festival traz para o centro da cena rebeldes, excluídos, em luta, afirmando-se. Acrescido de mostras, conferências, mesas redondas, debates o evento abre-nos visão de mundo sob outras – e novas – perspectivas. Ver Programacão 

Foram 22 filmes exibidos na Mostra Competitiva, incluindo curtas, medias e longa metragens. A seleção, distribuída em seis programas de exibição, incluiu filmes recentes (2014 e 2015).

Mostra Competitiva

Quase a metade – dez filmes – da Mostra Competitiva poderíamos incluir na categoria “engajados”, filmes diretamente militantes ou dedicados a temas de relevância política e social: Ressurgentes (movimentos de ruas no DF entre 2005 e 2013), Retratos de Identificação (fotos policiais são revistas para denunciar a violência contra a guerrilha), Audiência Pública? (Movimento Ocupe Estelita), Ocupação (ocupação militar na Favela da Maré/RJ),  A Loucura entre nós (vida manicomial), A última das Minas (Tambor de Mina do Maranhão), Exília (expulsão de comunidade pesqueira), Meio Fio (vida urbana), Ruim é ter que trabalhar, O Mar, a Mata e a Humanidade. Neste bloco pode ser incluído também o filme Curadores da terra floresta, do cineasta yanomami Morzaniel Iramari.

Ao lado desse grande bloco foram selecionados filmes que poderíamos dizer que transitam no campo do “cinema de invenção”, quando a linguagem ganha ou tenta ganhar centralidade em relação ao tema e tende a haver fecundos diálogos entre o cineasta e seu fazer Trata-se de nove documentários poéticos, reflexivos, performáticos: Ana; Noite; Mais do que eu possa me reconhecer; A Paixão JL; A Festa e os Cães; Eu, Travesti?; Virgindade; Sem Título: Dance of Leitfossil; NOva Dubai; No caminho de Mário.

Este último reúne as seguintes singularidades: é dirigido por um coletivo de cineastas indígenas da nação Mbya-Guarani e documenta o feliz encontro entre o cineasta-câmera Aldo Ferreira e sua gente, particularmente com o garoto Mário, tornando o ato de filmar momento sublime de descobertas. O filme levou o prêmio de melhor curta metragem dado pelo júri oficial e de menção honrosa pelo júri jovem.

O primeiro anúncio da noite foi o de melhor curta metragem, prêmio do júri jovem para Ana (Camila Camila, 20 min, BA/2015). Formada no curso de Cinema da UFRB, Camila Camila realiza algo instigante: filma a performance desempenhada por uma atriz criada a partir de fragmentos de memórias familiares. A câmera acompanha o fluxo livre da ação e nos revela inventivo exercício de documentário performático, para usar a expressão do teórico Bill Nichols.

A Festa e os Cães pelo uso inventivo do dispositivo de narração utilizado; e Sem Título: Dance of Leitfossil pela alta síntese poética obtida levaram Menção Honrosa do júri oficial.

O prêmio de melhor longa do júri oficial foi dividido entre Ressurgentes – um filme de ação direta, de Dácia Ibiapina (DF, 2014); e Retratos de Identificação, de Anita Leandro (RJ, 2015). Conforme aponta o texto lido pelo júri oficial, “mais de 40 anos separam os conflitos desses dois filmes, mas não separam o espírito combatente, o desejo de liberdade e a resistência dos jovens brasileiros contra  à violência do Estado e a opressão policial que prolonga a ditadura”.

Cabe destacar também quatro outras Mostras Especiais e sessões especiais, dentre elas Iraque Ano Zero (2015, 334 min) de Abbas Fahdel.

Redação

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