“Kriegerin” nos revela que o nazismo é apenas uma prática de ódio, por Alfeu

“Kriegerin” nos revela que o nazismo é apenas uma prática de ódio

por Alfeu

Houve época em que quando uma guerra chegava ao fim, muitas das seqüelas deixadas eram vistas e sentidas imediatamente. Eram as ruínas em que se transformavam cidades, a tristeza que corroía por dentro pela perda de parentes e amigos, além dos traumas e das feridas que teve de se carregar por muito tempo nos corpos e nos sentimentos das pessoas.

Todavia, essas guerras deixam outras marcas, ocultas, pouco abaixo do nível do solo, que mesmo depois de décadas ainda cismam em se fazerem lembradas.Em diversas áreas do planeta minas terrestres ainda se encontram escondidas, onde a guerra, que para muitas pessoas que não a viveram, perdeu o peso de seu significado mas que acabam se tornando vítimas delas tempos depois quando inadivertidamente acionam esses artefatos ao pisarem sobre um deles. Com o perigo presente  um clima angustiante toma conta das pessoas que se sentem ameaçadas pelos fantasmas da guerra.

Depois da derrota da Alemanha nazista na II Grande Guerra, o seu território é dividido em duas regiões e tempos depois é na parte leste  onde se desenvolve profundas  transformações começando com o fim do comunismo seguido, após um certo período, da reunificação, quando o país retorna praticamente ao seu desenho original e é nesse ambiente que se desenvolve o filme “Kriegerin”(Guerreira).

Vistos de longe poderiam parecer certos grupos de jovens afins de muito rock, bebidas, adrenalina e etc, ou seja tudo na maior normalidade. Mas ao se aproximar mais do grupo de Marisa, Sandro, Markus, Svenja e outros, as diferenças vão se tornando bem nitidas. São portadores de uma irracionalidade, que se explode em ódio sobre aqueles que eles não enxergam como seus pares, são frequentemente alimentados de desinformação por um tio (1). Nesse maremoto de ódio agem também como um cardume de tubarões; quando um indivíduo por qualquer motivo se fere os demais imediatamente se viram na sua direção e o devoram.O grupo em questão são na verdade formados por ossis nazistas, habitantes de uma região que sofreu grandes transformações, como descritas acima, onde o nazismo se manteve incubado; hibernando por muito tempo como as minas terrestres.

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Por essas bandas, a pratica da intolerancia, do ódio, do achincalhe e etc tem se manifestado, nos últimos tempos, de forma gradativa atingindo o nível de extrema violencia atual.  A virulencia de grupos sintonizados com a direita encontram respaldo no jornalismo e no entretenimento midiático e  acaba alcançando grandes proporções além de conseguir sedimentar em parte da sociedade a violencia como forma de resolver diferenças.

Já se começa a haver manifestações (2) para conter o avanço desses setores retrógados; mas apesar disso a própria justiça na figura do seu órgão máximo, o STF(3) dificulta essa resistencia atendendo às demandas de grupos de direita ainda mais quando o assunto é educação. Se protegem em seus gabinetes, evitando o “bullying” da mídia, que sempre ameaça com seu banco de dados que pode vir à tona a qualquer momento montando uma estória verossímel de qualquer um; além da presença desses grupos raivosos berrando na porta da residencia de um membro da justiça com a finalidade de intimidar. Dessa forma numa canetada desviam toda essa violencia que seria para si, e a lançam contra os movimentos sociais – mulheres, negros, lgbts e etc – uma bomba, sem que haja qualquer avaliação mínima dos magistrados da consequencia desse ato, que irá causar sérios danos a cada uma dessas minorias e em última análise a imensa pressão sofrida por um indivíduo estando só.

No momento só resta mesmo resistir, mas para reverter essa situação parece que as ditas minorias vão precisar esperar a chegada de um mundo mais justo e igualitário. Até lá….  

 

(1) Estudantes da UFPE explicam confronto com fãs de Olavo de Carvalho – Vi O Mundo

(2) É preciso levar a sério a autodefesa antifascista, por Luís Felipe Miguel – Jornal GGN

(3) Cármen Lúcia libera desrespeitar direitos humanos no ENEM – Jornal GGN

 

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“Guerreira” leva a brutal realidade da cena extremista alemã às telas

O jovem diretor David Wnendt fez um filme sobre o assunto do momento: “Kriegerin” (Guerreira) mapeia com profundidade o extremismo de direita no Leste da Alemanha. Uma obra forte, que assusta e perturba.

Por Jochen Kürten, DW

 

A estreia do jovem cineasta David Wnendt se deu com um filme que vai certamente ser motivo de muitas discussões nas próximas semanas na Alemanha. Kriegerin (Guerreira) revela os bastidores do extremismo de direita nos estados do Leste do país. Um roteiro que, diante das recentes descobertas sobre os assassinatos cometidos pelo chamado Grupo de Zwickau, mostrou ser muito mais realista e verdadeiro do que a maioria dos espectadores gostaria que fosse.

Se tivesse sido lançado há poucos meses, é possível que Guerreira tivesse sido rotulado como um filme cheio de clichês. Mas, nesse meio tempo, a realidade superou a ficção, e Wnendt surge como um diretor com qualidades premonitórias. Depois de ter estreado em meados do ano, no Festival de Cinema de Munique, Guerreira foi exibido em alguns festivais, dentro e fora da Alemanha, tendo recebido diversos prêmios. Em janeiro, o filme chega aos cinemas do país.

 

Símbolos nazistas e ataques racistas

Wnendt conta a história da jovem Marisa, uma adolescente do interior no Leste alemão, fortemente ligada a um grupo de extrema direita. Tatuada com símbolos nazistas, cheia de ódio e brutal com estrangeiros, ela sobrevive como pode. Seu ambiente próximo é povoado por jovens, em sua maioria homens, todos simpatizantes do nazismo.

Depois de um incidente envolvendo dois jovens afegãos, requerentes de asilo na Alemanha, Marisa perde o controle e os atropela, deixando-os feridos. A seguir, a protagonista acaba se redimindo gradualmente do que fez. Ela entra em contato com os dois afegãos e, por fim, auxilia-os na fuga para a Suécia.

Wnendt conta que, há muitos anos, ele tinha apenas a intenção de fazer uma série de fotografias no Leste alemão, a fim de documentar as ruínas industriais em decadência naquela região do país. Neste contexto, acabou entrando cada vez mais em contato com jovens ligados à extrema direita: “Nos povoados do Leste tem-se a impressão de que se trata de um fenômeno de massas. Achei isso assustador, mas também interessante”, relata Wnendt.

Ele começou então a pesquisar intensamente sobre o assunto, entrando em contato com extremistas, sobretudo com mulheres jovens. “Nos últimos anos, a proporção das mulheres na cena da extrema direita aumentou mais ainda. Elas não são mais somente simpatizantes, mas assumem cada vez mais um papel ativo, em diversos sentidos”, observa o cineasta.

 

Ambiente autêntico

Wnendt mostra em seu filme como os jovens, bêbados, gritam palavras de ordem nazistas e assistem, em DVDs, a filmes antigos de propaganda do regime de Hitler. O diretor encena ataques a estrangeiros em trens e bondes, mas também pequenos ataques racistas no dia a dia. Wnendt também mostra seus protagonistas no ambientes familiar, retratando a onipotência dos pais e mães. Isso torna os personagens e cenários realistas e autênticos.

A história só se torna inverossímil, do ponto de vista psicológico, com a aproximação rápida demais entre Marisa e o jovem afegão requerente de asilo. Por que o jovem estrangeiro vai pedir ajuda exatamente a uma garota ligada à extrema direita, pouco depois de ela tê-lo atropelado, permanece um enigma até o fim do filme. O fato de Marisa se redimir do que fez deve-se também mais às convenções dramatúrgicas do cinema do que à plausibilidade psicológica da personagem em questão.

No entanto, apesar das críticas, Guerreira é um filme que deixa o espectador abalado e com a respiração presa. A ideia do diretor, de maneira geral, deu certo. “O filme deve ser educativo sem ser pedagógico. Deve se posicionar sem apelar a clichês. Deve provocar e entreter sem incluir efeitos baratos”, diz Wnendt.

Guerreira oferece ao espectador explicações para um tipo de comportamento, que, na verdade, não é explicável. Por que a xenofobia espalha-se exatamente pelo Leste alemão e, lá, nas regiões mais interioranas? Por que os jovens deixam a casa dos pais, fazem tatuagens com símbolos nazistas e saem por aí berrando canções nazistas?

 

Falta de perspectivas e impotência

Wnendt oferece em seu filme respostas em parte já conhecidas para essas perguntas, mas que vão ao cerne da questão: é a falta de perspectiva dos jovens, a onipotência dos pais, as altas taxas de desemprego e possivelmente também o vácuo ideológico que surgiu na região depois da queda do Muro de Berlim.

Mas há também fenômenos típicos da juventude, pequenas ciumeiras, lutas e concorrência dentro das turmas, que acabam frutificando no solo fértil da disposição à violência e do racismo. Ou seja, são respostas que não surpreendem, mas que, encenadas de maneira interessante num filme de ficção, ganham um grande poder de convencimento.

“Os temas e as opiniões dos extremistas de direita inflitram-se cada vez mais no centro da sociedade”, diz Wnendt. Segundo ele, a confiança na democracia está se esmaecendo. O diretor aponta que metade da população do Leste alemão não acredita mais na democracia como a melhor forma de Estado. Mesmo aqueles que não se intitulam “de direita”, fala Wnendt, são com frequência xenófobos. E isso, na maioria dos casos, em regiões do país nas quais a percentagem de estrangeiros é muito baixa.

Wnendt realizou com Guerreira um filme extremamente atual. O fato de que sua temática de estreia tenha se tornado subitamente tão atual deve deixá-lo apenas parcialmente feliz, pois a ficção de seu filme é assustadoramente real.

Autor: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Alexandre Schossler

http://www.dw.com/pt-br/guerreira-leva-a-brutal-realidade-da-cena-extremista-alemã-às-telas/a-15595990

 

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“…but I keep flying, I keep fighting
you won’t ever bring me down”

                                                                                       ” Hater” – Korn

[video:https://www.youtube.com/watch?v=0K67veEPOYM align:center

 

 

 

 

Redação

3 Comentários

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  1. Começo a acreditar – aliás,

    Começo a acreditar – aliás, venho raciocinando desta forma já há algum tempo, desde que aceitei, após muita relutância, a noção de Chomsky, sobre a aquisição inata da linguagem, ou da capacidade de desenvolvê-la – que o racismo (palavrinha insatisfatória) também é algo inato no ser humano.

    É, na verdade, o medo – o medo do que é diferente, e, portanto, potencialmente ofensivo e ameaçador.

    O conceito de raça, deliberada e persistentemente atrelado à realidade da discriminação generalizada (cor da pele, posição social, posse de bens, etc.) que domina o inconsciente das pessoas, obscurece e deturpa nossa capacidade de compreender essa discriminação, já a partir dessa denominação “racismo”.

    O medo, o grande impulsionador do desenvolvimento humano em seus primórdios, é resultado da capacidade do homem de perceber que o ser que o está rondando – uma onça, um tigre, seja lá o que for – é diferente dele, e, portanto, ameaçador.

    Isso está maravilhosamente ilustrado na sequência inicial de 2001:Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick.

    O antropóide já percebeu que alguns seres diferentes são inofensivos, e outros não. Aqueles que lhe são inofensivos ele ataca, para proteger seu domínio, e daqueles que lhe são ofensivos ele se mantém afastado e protegido.

    Quando o ser é igual a ele, a reação – enfrentamento ou fuga – só surge após uma interação: no caso, a disputa por uma fonte de água.

    Quando o brasileiro branco, de origem portuguesa, entrou em contato com os negros, esses entraram em cena em posição não apenas subalterna, mas subjugados.

    Não eram uma ameaça. Eram apenas uma necessidade econômica. Nós aqui, na Casa Grande, eles lá, na senzala. Sem interação. A não ser nos episódios de exploração sexual.

    Mas, a partir da abolição, deixaram de ser estatística, deixaram de ser objetos de exploração, e voltaram a sua condição de humanos.

    Mas humanos diferentes: eram negros.

    Sabe-se lá o que queriam? São diferentes! Melhor mantê-los afastados. Favelas, prisões, qualquer coisa serviu para esse fim.

    Mas, apesar de tudo, passaram a interagir conosco, e isso não nos foi nem um pouco agradável. Começaram a pulular em aeroportos, seus filhos começaram a aparecer em universidades, e outras coisas mais, novamente tudo muito desagradável.

    Resultado: Tratamos de segregá-los novamente.

    Estamos fazendo isso, agora. E quando um dos nossos – branco, educado, bem posto na vida, comete um deslize, uma incontinência verbal qualquer, inofensiva, corremos a acudi-lo.

    Afinal, não foi nada demais.

    Gilmar Mendes, Raquel Sherazade, Reinaldo Azevedo, Demetrio Magnolli, Malafaia, todos nossos, todos homens de bem.

    Ou de bens, mas deixa prá lá.

    Afinal, as verdadeiras vítimas são os de lá, mas na verdade estão apenas praticando a já costumeira “vitimização”.

    Não éramos todos Charlie? Por que então não fomos todos Somália, após o atentando de outubro?

    Pode ser que tenha alguma coisa a ver com o fato de que, em Paris, morreram brancos, e, na Somália, negros.

    Os judeus não precisaram ser negros, na Alemanha, nem os armênios, na Turquia. Se fosse enumerar aqui, levaria dias. Os nordestinos, não precisam ser nada. Nem brancos, nem negros. Não é questão de etnia, nem cor de pele. Basta que existam – odiemo-los.

    Pode ser, mas eu não sei.

    #somostodosracistas

    Admitamos. É o primeiro passo para reconhecer que temos um problema.

    E tentemos nos educar.

    Não deve ser impossível: os Dez Mandamentos são dez negativas, dez formas de reconhecimento tácito de que o ser humano tem uma tendência natural para agir de forma que prejudique ou maltrate o outro.

    Já que a perfeição é inalcançável, tentemos ao menos admitir que não somos, sempre seres ternos, compreensivos, tolerantes. E que só os outros são maus, exploradores, assassinos.

    Isso é uma espécie de pele que não nos cobre os olhos, mas cobre a consciência. Ou a alma, como queiram chamar.

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