Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
[email protected]

Por que Wall Street investe na deficitária indústria de Hollywood?, por Wilson Ferreira

Franquias hollywoodianas como “Jurassic World”, “Star Wars” e “Velozes e Furiosos” são celebradas pela grande mídia como responsáveis por supostos recordes históricos na indústria do cinema dos EUA. Porém, essa é a superfície de uma auto-imagem que Hollywood faz questão de criar, girando em torno do glamour do Red Carpet e mansões de atores-celebridades nas colinas de Beverly Hills. Porém, a realidade é outra: apenas 5% dos filmes a cada ano são rentáveis. O restantes fica entre pesadas perdas e a falência. Mas desde os anos 1980 cresce o investimento dos fundos de Wall Street nos grandes estúdios e independentes, apesar do negócio ser incerto e com lucros decrescentes diante de filmes com orçamentos e retorno imprevisíveis. Por que os ricos fundos de investimento de Wall Street continuam a financiar produções do cinema, quando poderiam investir em negócios mais seguros? É a pergunta que faz o artigo “The Hollywood Economics” de Sophie Leech, do site “The Market Mogul”. Afinal, qual é o tipo de lucro procurado por Wall Street? Financeiro ou ideológico e político?

Hollywood criou em torno de si, principalmente na sua fase de ouro no pós-guerra, a aura de um negócio que supostamente seria uma verdadeira mina de ouro: superproduções, recordes sucessivos de bilheterias, atores milionários morando em mansões nas colinas de Beverly Hills, o glamour do “Red Carpet” nas premiações do Oscar com atores, diretores e técnicos vestindo caríssimas grifes, merchandising e “product placement” em filmes recheados de caríssimos efeitos especiais etc.

Mas tudo isso parece ser apenas a imagem mercadológica do negócio. Observando os números frios e pouco divulgados sobre a indústria do cinema dos EUA, podemos ficar surpresos. Apenas 5% dos filmes produzidos a cada ano são rentáveis. Entre 15 a 20% quebrará e 65 a 75% terão pesadas perdas financeiras.

O público nos cinema tem diminuído desde 1948, principalmente agora com o crescimento da oferta de streaming como o Netflix, Amazon e Time Warner – destaca-se ainda o recente crescimento dos negócios de aquisições com a compra da AT&T pela Time Warner.

Os números da economia hollywoodiana transformam o negócio do cinema nos EUA como uma das indústrias menos bem sucedidas do mundo. No entanto, muitas grandes e pequenas empresas continuam investindo nesse ambiente de negócios implacável.

Por que os ricos fundos de investimento de Wall Street continuam a financiar produções do cinema de Los Angeles, quando poderiam investir em negócios mais seguros como, por exemplo, startups do Vale do Silício? Por que continuam a comprar direitos de um pedaço de propriedade intelectual de um roteiro, pagam um salário exorbitante para um ator-celebridade e, em troca, recebem uma quantidade de lucros cada vez mais decrescente?

Wall Street investe contra si mesma?

Essas são questões levantadas por Sophie Leech no artigo “The Hollywood Economics – Is Tinsel Town Losing Its Sparkle?” no The Market Mogul, site dedicado a análises de economia global – clique aqui.

Leech mostra como Hollywood  evita apresentar detalhes sobre os termos dos negócios de distribuição, financiamento e subsídios. Qualquer tentativa em buscar a fundo essas informações, é barrada pela resistência e pouca transparência nos negócios dos maiores players do mercado desde a década de 1950: Columbia, Disney, Paramount, Warner Brothers e 20th Century Fox.

E para tornar ainda mais aparentemente irracional esse interesse de Wall Street por Hollywood, desde a crise financeira global de 2008 a série de filmes sobre o episódio produzido desde então (Margin Call, A Grande Aposta, O Lobo de Wall Street etc.), filmes críticos que denunciam a ambição, fraudes e mentiras dos mercados financeiros, são eles próprios financiados por fundos hedge de Nova York. 

“Margin Call”, “A Grande Aposta” e “O Lobo de Wall Street”: Wall street faz autocrítica?

Participação que só aumenta desde 1980, inclusive nas produções de estúdios independentes  como a Catch 22 Entertainment, Lionsgate e a própria Regency Enterprises, produtora do Oscar de Melhor Filme A Grande Aposta (2015) – sobre isso clique aqui.

Wall Street investe em filmes que revelam seus próprios podres à opinião pública? E o que é pior, com lucros decrescentes?

Hollywood: um negócio deficitário

Antes de um novo produto ser lançado ao mercado, as empresas realizam pesquisa de mercado para estabelecer a probabilidade de um novo modelo ter sucesso. Isso é impossível para Hollywood. Nenhum modelo analítico consegue prever os gostos dos espectadores, sempre em constante mudança. 

O orçamento médio de um filme de grande estúdio chega a 40 milhões de dólares, enquanto nos independentes é de 25 milhões em média. Mas essa imprevisibilidade do negócio pode elevar o orçamento total para 100 milhões de dólares. 

Com o número decrescente de espectadores nos cinemas, as vendas externas são uma fonte crítica de receita, principalmente para filmes independentes. Porém, dependem de grandes nomes muito bem remunerados como Jennifer Lopez e Tom Cruise, atores-celebridade com forte penetração na França e na China.

Porém, sofre a crescente concorrência de Bollywood (a indústria do cinema da Índia) e Nollywood (a Hollywood nigeriana) que não dependem de vendas externas. Ao contrário dos EUA, seu forte é o mercado interno explorando a cultura cotidiana local. 

Enquanto os EUA produziram 476 filmes em 2012, Bollywood  lançou 1.602 filmes e Nollywood 1.844 filmes. Por isso, mídia inovadoras como Netflix procuram cada vez mais criar conteúdos locais em séries e filmes como, por exemplo, Narcos ou a produção de minissérie sobre a Operação Lava Jato no Brasil – clique aqui.

Enquanto isso, estratégias mercadológicas como o “product placement” (colocação de produtos em filmes) e o merchandising cobrem muito pouco os custos da produção. Por exemplo, a Heineken pagou US$ 45 milhões para apresentar sua cerveja ao invés do típico Martini de James Bond em Skyfall. Uma contribuição de apenas 4,5% em relação ao custo total.

Por que Wall Street investe em Hollywood?

Voltamos à questão inicial: por que, contrariando a racionalidade econômica, fundos de investimento de Wall Street investem cada vez mais em um negócio tão deficitário e arriscado como a indústria cinematográfica de Hollywood?

>>>>>Continue lendo no Cinegnose>>>>>>>

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O motivo é que os filmes que

    O motivo é que os filmes que dão muita audiência compensam as perdas dos filmes que não chamam a atenção do público. Na verdade é o mesmo modelo das startups de tecnologia.

    Provavelmente os leitores desse blog vão preferir a explicação de que é uma conspiração, decerto dos habituais suspeitos.

    1. É deve ser por isso que eles não deixam fazer uma auditoria né, deve ser tudo “conspiração” kkkkkkkkk retardado de direita sempre com suas burrices, são capazes de acreditar em mamadeira de piroca mas em fatos criveis duvidar.

  2. a pergunta

      Porque holywood faria filmes que denunciariam os proprios vicios?

    Simples, porque quem os assiste não esta afim de pensar muito, Querem mesmo “desligar” do mundo por umas horas.

    (a vida está dura, ainda mais com esse governo)

    Essa foi a explicação que recebi de amigos quando os questionei.

    Hollywwod sabe que dessa gente não sai um questionador, quanto mais um revolucionario!

     

  3. (“Heineken pagou US$ 45

    (“Heineken pagou US$ 45 milhões para apresentar sua cerveja ao invés do típico Martini de James Bond em Skyfall. Uma contribuição de apenas 4,5% em relação ao custo total”:

    O budget do filme foi entre 150 e 200 milhoes, Wilson, utlimo item do box aa direita:  https://en.wikipedia.org/wiki/Skyfall )

    1. Percentual de receita

      Ivan, você está correto. O artigo original, donde o Wilson tira a informação, menciona que esses 45 milhões correspondem a 4,5% da receita total gerada pelo filme, de cerca de 1 bilhão de dólares.

  4. A pergunta-título responde a
    A pergunta-título responde a si mesma. Se há investidores interessados é porque há perspectiva de lucro. O problema pode estar na forma como a contabilidade foi feita, o resto parece teoria conpiratoria. Aliás se Bollywood e Gollywood são viáveis economicamente porque Hollywood não seria?

  5. Wall Street só ?

        Hollywood, a industria de entretenimento de massa norteamericana, são há mais de 50 anos, um dos elementos – chave, subsidiarios da politica externa dos Estados Unidos, a exportação de cultura, forma de vida, visão social, são ações que geram alem de dinheiro, projeção geopolitica, alem dos governos, atuam diretamente na população.

         Uma ocasião, no inicio dos ’90, um pessoal de “fundos” de investimento, prospectando vender novos negócios no Oriente Médio ( ” Golfo ” ), foi contatado por potentados arabes, cheios da grana, que queriam investir em Hollywood, até mesmo poderiam adquirir um estudio, por trás deste investimento havia uma idéia politica, a de financiar filmes/séries nas quais se contrapuse – se a visão arabe sobre a comum visão israelense que Hollywood propagava como a “certa”.

          Não rolou, até injunções semi oficiais do departamento de estado, congressistas, entraram na fita para embarreirar o negócio, que não saiu..

  6. Por que Wall Street investe na deficitária ind de Hollywood?

    Bom, no passado quem colocava dinheiro là era a máfia, até desviar boa parte de sua lavagem de dinheiro para Las Vegas, cujo fundador foi Benjamin “Bugsy” Siegel, assassinado pela propria mafia. HollyWood é uma maquina de eficiente  de PROPAGANDA, capaz de empregar muita gente e demonstrar o poder do tio sam em “parabolas”. Ha alguns anos se você dissesse que existem espioes dos EUA espalhados pelo mundo ou que paises como o Brasil são espionados, você seria tachado de idiota no minimo, principalmente por parte de certos “jornalistas” ou “articulistas”. Até que apareceu Assange e mais tarde Snowden. E o que eles fazem: Contam a historia desses dois personagens “traidores” do estilo de vida americano(do norte). Disfarsadamente eles investem em contadores de historia e não em historiadores. No Brasil é mais facil(como gosta a nossa elite), e mais barato investir em Marco Antonio Villa. Cada um tem a HollyWood que merece, apesar de não merecermos esse “embuste” do Villa.

  7. Não é bem assim

    Wall Street não investe, mas aposta. Um filme pode render mais ou menos independente de seu orçamento ou lucro. E até desastres em bilheteria podem dar um bom dinheiro para quem apostou numa put option. Este é o mundo dos hedges, da loucura do capital financeiro. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador