A Argentina entrará em regime de guerra interna, por Luís Nassif

Provavelmente o único setor a ser beneficiado será o dos carabineros, a única força de sustentação do libertário Milei.

Nos próximos meses, a Argentina entrará em um regime de guerra interna. Provavelmente o maior personagem do período serão os carabineiros. O plano de Javier Milei será destruidor, mesmo tirando as loucuras iniciais, já deixadas de lado.

A proposta de Milei é reduzir o déficit público de 15% para 5% do PIB. Seu primeiro gesto, simbólico, foi o de reduzir os ministérios de 19 para 9. Entre os ministérios eliminados estão o de Educação, Trabalho, Cultura e Meio Ambiente. Isso dará o tom do seu governo.

Hoje em dia, de acordo com Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (INDEC), a taxa de pobreza atingiu 40,1%, o nível mais alto da história. Em 2002, quando terminou a loucura da paridade peso-dólar, a taxa de pobreza estava em 25,7%. Caiu para 10,7% em 2011, mas voltou a subir para 25,4% em 2020.

Agora, com os cortes a caminho, o quadro será dramático. Os gastos sociais representam cerca de 40% do total de gastos do governo. Será o alvo maior dos cortes, agravando ainda mais a pobreza nacional.

Entre esses gastos, há as pensões e aposentadorias do sistema de Previdência Social, que é um sistema público que consome 25,5% do total de gastos sociais. Há também gastos com assistência social, direcionados para famílias de baixa renda, pessoas com deficiência e outros grupos vulneráveis. Eles incluem programas como o Asignación Universal por Hijo (AUH), que é um benefício financeiro destinado a famílias com filhos menores de 18 anos. Consomem 10,6% dos gastos sociais.

Outro gastos significativo é com Educação. Pela Lei de Educação Nacional de 2006, a educação é gratuita e obrigatória até o nível secundário. A educação superior á gratuita para estudantes de baixa renda que atendam aos requisitos de elegibilidade.  Há anos, o sistema enfrenta problemas de subfinanciamento. No último orçamento, consumiu 13,8% dos gastos sociais.,  Com a entrada de Milei, provavelmente será totalmente desmontado.

Já o setor de saúde têm três pernas, o público, o privado e o complementar, O setor público é composto por hospitais, centros de saúde e postos de saúde administrados pelo governo federal, provincial e municipal. Consome cerca de 10% dos gastos sociais.

Tem mais. O governo paga subsídios à energia, aos preços da eletricidade, gás natural e combustíveis. Em 2022, esses subsídios representaram 2,6% do PIB. Também subsidia preços de passagens de ônibus, trens e metrôs, a produção de alimentos e outros bens essenciais. Em 2022, os subsídios representaram 7% do PIB.

Obviamente, não serão afetados apenas os consumidores, mas os setores diretamente afetados pela queda da demanda.

Em suma, provavelmente o único setor a ser beneficiado será o da Gendarmería Nacional Argentina, a única força de sustentação do libertário Milei. A mesma multidão cega e desinformada que o saudou na posse, daqui a algum tempo também emprestará suas costas para as chibatadas da Gendarmería.

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Luis Nassif

7 Comentários

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  1. Foi engraçado e triste ver o desconsolo da mídia brasileira com a posse do Milei. Nos dias que antecederam o evento, Globo, CNN, UOL e G1, bovinamente seguidos pelos sites mineiros UAI, O Tempo e Hoje em Dia, pintavam a posse como uma festa de repercussão mundial. Quando ficou claro que o Zelensky, com calça jeans e moletom preto, era a grande “personalidade” da cerimônia, apagou-se o brilho nos olhos dos comentaristas e repórteres. O tom fúnebre tomou conta de vez do cenário televisivo quando o pobre coitado do Bolsonaro foi posto pra fora do baile sem nenhuma sutileza. Na verdade deveriam, a mídia e o capitão, ter comemorado o vácuo. A foto oficial do Milei com os gatos pingados chefes de estado foi das coisas mais patéticas da política planetária. Só perde para as imagens do pobre coitado do Bolsonaro conversando com garçons na reunião do G20. Vou rezar pela Argentina.

  2. NÃO HÁ “CARABINEROS” NA ARGENTINA. OS “CARABINEROS” SÃO A INSTITUIÇÃO DE POLÍCIA OSTENSIVA NO CHILE. NA ARGENTINA, HÁ POLÍCIA FEDERAL E AS FORÇAS POLICIAIS PROVINCIAIS.

  3. Já ficou claro que ele atuará como o traste tupiniquim e lançará fumaça,uma atrás da outra,para se discutir o quão ridículo ele é e,enquanto isso,a boida passa,levando o que sobra dos hermanos e roubando o direito dos mais pobres.
    Que os hermanos não caiam neste mesmo golpe de ficar discutindo fumaça.

  4. Na última eleição presidencial, a Argentina viveu o dilema da situação continuar ruim ou piorar. A maioria dos eleitores optaram conscientemente pela PIORA. Agora só lhes resta aguardar a piora. Se servir de consolo: AGUENTA HERMANO!

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