A revolução na saúde e os jornalistas do Centrão, por Luís Nassif

G20 da Saúde teve uma reunião com o MS para aprender como universalizar a saúde, fundamental para a redução das desigualdades.

A Ministra da Saúde, Nísia Trindade, é alvo do que se poderia chamar de “o Centrão da mídia”. São aqueles jornalistas que, por preguiça ou falta de discernimento, escoram-se nas informações prestadas pelo Centrão. E soltam “denúncias” contra uma mulher digna alimentados pelo que mais de indigno existe na política brasileira visando entregar a saúde de milhões de brasileiras às suas fontes em off.

A primeira acusação contra a Ministra foi a de ter contemplado Cabo Frio com uma verba extra, depois que o filho foi nomeado Secretário da Cultura. Os recursos foram liberados pela Portaria GM/MS de 5 de dezembro de 2023. O parágrafo referente ao Rio de Janeiro diz o seguinte:

“Considerando a Deliberação CIB/RJ nº 251/2023, de 29 de junho de 2023, da Comissão Intergestores Bipartite do Estado do Rio de Janeiro;”

O CIB é composto pelo Secretário de Saúde Estadual e pelos Secretários de Saúde municipais. O Ministério recebe a lista pronta. Obviamente a informação foi sonegada pelas reportagens porque jornalistas que se desprezem gostam de receber a receita pronta e não ter o trabalho de checar informações.

A coletiva da Ministra

Na segunda-feira houve coletiva da Ministra em Brasilia, para anunciar os planos do Ministério para os próximos anos. Após a coletiva, o murmurinho geral era a de que a Ministra tinha discurso técnico, frio, que não se comunicava bem. Trataram a coletiva com critérios que se aplicam a comícios, como se fosse papel dela – e não da imprensa – trocar em miúdos para a opinião pública. Com isso, muitos veículos deixaram de lado o conteúdo, que aponta para uma revolução no setor.

O Ministério foi encontrado com 4 mil equipes da saúde da família sem médicos; com uma queda histórica das coberturas vacinais desde 2016 – quando tem início o binômio Temer-Bolsonaro -, com ameaça de descontinuidade da Farmácia Popular, com o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) há quatro anos sem atualização do custeio, policlínicas sem receber recursos.

No curto período de um ano, a Saúde da Família passou a ser coberta por 2.198 equipes, 52,11% de aumento, 800 municípios receberam 1.600 médicos. E, atualmente, há 6 mil teleeletrocardiogramas por dia, sendo aplicados de forma digital.

E, aí, se entra na grande resolução em curso – que, tendo continuidade e a permissão dos “jornalistas do Centrão”, poderá ser a maior mudança no setor desde a criação do SUS.

A digitalização

Todo esse trabalho está centrado na digitalização da saúde, conduzido por Ana Estela Haddad – uma gestora primorosa, responsável pelo programa Brasil Sorridente, e pouquíssimo conhecida e reconhecida pelos jornalistas do Centrão. A Secretária que tirou férias apareceu mais na mídia, nos últimos dias, do que Ana Estela em todo o período da gestão Nilse.

A digitalização, com a carteira do SUS, o “Meu SUS digital”, entre outros avanços, permitirá uma centralização inédita do controle das diversas ações em curso. Através do Cartão SUS será possível:

1. Atendimento.

2. Teleregulaçao, teleconsultoria, agendamento para consulta

3. Especialista

4. Exames necessários

5. Plano terapêutico individual com referenciamento pelo médico da família

6. Resolução

7. Acompanhamento

O Ministério da Saúde abriu chamada pública no início de março. Segundo o material distribuído na coletiva, em apenas um mês todos os 26 estados, o Distrito Federal e 5.566 com 5.570 municípios, aderiram ao programa. Serão destinados R$ 460 milhões para elaboração e implementação dos Planos de Ação para a transformação digital.

Os núcleos de telesaúde saltaram de 10 para 26, três deles com oferta de telediagnóstico especializado.

Mais que isso, haverá um aprimoramento inédito do programa Saúde da Família, porque o sistema permitirá a avaliação do índice de satisfação do usuário. A meta é de 80% de cobertura nacional, com melhoria da qualidade, porque fiscalizada pelos usuários – não pelos jornalistas do Centrão.

Foi criada, também, uma nova função, de agentes comunitários e de endemia. No ano passado foi incluída a primeira turma. Este ano, serão 180 mil agentes.

Paralelamente, está sendo organizado o  Programa Mais Acesso a Especialistas. 

Etapa 1 — definição das normativas do programa

Etapa 2 – adesão dos gestoras – início em 16 de abril.

Etapa 3 – plano de ação regional – início em 20 de abril.

Etapa 4 – contratualização com rede privada e serviços da rede público – Início 1o junho

Etapa 5 – Oferta de cuidados integrados – Inicio 1o de julho

`Além disso, há enorme investimento em inovação e tecnologia, como novas técnicas para tratamento do câncer, desenvolvidas em parceria com universidades federais.

O ponto central é que, com a digitalização, poderá ser alcançado o objetivo final de uma política pública de saúde: o acompanhamento integral do paciente, acompanhando o ciclo da doença e os prazos necessários para seu controle.

Fazer jornalismo

Cada um desses temas valeria uma cobertura intensa, se os jornalistas do Centrão parassem de tratar o jornalismo como serviço às fontes espúrias. As metas propostas dependem do orçamento federal, em um momento em que saúde e educação sofrem novos ataques para eliminar as destinações obrigatórias do orçamento.

O atingimento de metas depende da Fazenda e do Planejamento e, mais do que eles, da vontade política do presidente da República. Fazer jornalismo significa acompanhar esses programas, lutar pela liberação de verbas e cobrar da área econômica sua responsabilidade em relação à saúde.

Mas, nesses tempos bicudos de subjornalismo, a Secretária que saiu de férias mereceu mais atenção do que uma política que mexerá com a saúde de dezenas de milhões de brasileiros.

A propósito, o G20 da Saúde teve uma reunião com o Ministério da Saúde para aprender como universalizar a saúde, um feito brasileiro, fundamental para a redução das desigualdades. Mas sem a mínima importância, se comparado ao caso da Secretária que tirou férias.

Luis Nassif

11 Comentários

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  1. Obrigado Nassif, consegui tirar uma angustia após este artigo, pois li num jornal online sobre essa notícia difamando a ministra, “denunciando” a verba extra após a contratação do filho. Confesso que fiquei em dúvida, mas não acreditei de fato. Sempre dei o benefício da dúvida pro governo Lula, mesmo quando todos do meu entorno o condenavam.

  2. Meu caro, jornalismo no país é um diploma na parede e saudades para quem ultrapassou 50 anos. Há muito não temos boas reportagens e temáticas que atraiam ouvinte/leitor/telespectador na mídia. As redações esvaziadas, os aquários em vez de inteligência têm mofo e os jornalistas, bem, jornalistas nada sabem da língua portuguesa ou de literatura: são meros papagaios. Jamais imaginei que a frase de Joseph Pulitzer, que ouvi nos primórdios em uma redação do interior (“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”, Joseph Pulitzer) fosse tão atual.

  3. Valeuzão! Logo que li a notícia lembrei do Ricardo Barros e fiquei, ou finquei pé atrás. Escrevo já caminhando, cantando, encantado, novamente, salve Vecina e Chioro, com o adicional resumo sobre a gestão do SUS, que sorvi como aquele chorinho de canjibrina. Obg.

  4. Nassif não perde esse pensar Poliana, de achar que é tudo culpa de jornalistas preguiçosos que não sabem ou não querem saber exercer a profissão.
    Meu caríssimo Nassif, você, por tudo que já passou nas grandes redações, deveria saber que NÃO é culpa dos jornalistas, é culpa dos jornaleiros (quem VENDE jornal é isso, né?).
    A primeira consideração: desde, pelo menos, o final da ditadura de 1964, as empresas jornalísticas começaram uma mudança interna muito clara. Antes, apesar de claramente direitistas, muitas vezes abertamente fascistas, ainda tinham algum prurido em ser descaradas. E aí contratavam os Nassifes da vida, para ter algum contraponto. Nas reportagens, esmagavam qualquer coisa que cheirasse a progressismo, esquerdismo. Mas tinham lá seus colunistas nessas linhas de pensamento. Desde os anos 1980, isso vem acabando. Se o cara não é neoliberal na economia e fascista na política, nem é contrado. Estão aí Globo, Folha, Estadão, Veja, etc, que não me deixam mentir.
    A segunda consideração: desde que Brizola ganhou as eleições no Rio de Janeiro nas barbas do velho Marinho, virou rotina nas organizações Globo intensificar três tipos de matéria no ano, ano e meio que antecede eleições: saúde, sempre desqualificando o SUS; segurança pública, sempre mega amplificando a já permanente sensação de insegurança; educação pública, sempre desqualificando o que eventualmente esteja sendo feito em favor dos pobres.
    A questão, Nassif, não é se os jornalistas são sujos, preguiçosos ou apenas imbecis. A questão guarda uma forte semelhança com a criação de cães. Você pode ter pitbulls brincalhões, estabanados e fofões, ou pode ter assassinos, como os do caso recente de Saquarema. Quem cria os pitbulls da imprensa corporativa do Ocidente TODO não quer nenhum fofão e brincalhão. Quer eles estraçalhando o progressismo, o esquerdismo e a democracia…

  5. Ótima reportagem, mas não entendi a citação do Saramago em castelhano… é uma pegadinha, uma referência? Consta que o homem era português…

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