As ameaças à democracia e o papel de Barroso, por Luís Nassif

Barroso sempre atuou como vírus oportunista. Foi assim no auge da Lava Jato e, agora, quando sente a volta do lavajatismo

Com acréscimo

O futuro do Brasil corre uma série de riscos enormes. A rigor, a única âncora da democracia é o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente o Ministro Alexandre de Moraes.

O primeiro risco é o avanço da ultradireita – expressa nas votações do Congresso – e do aumento na bancada de senadores radicais a partir das eleições de 2026. O Senado ganharia poderes até de impichar Ministros do Supremo.

O segundo risco é o ressurgimento do lavatismo – por tal, entendido a rebelião de juízes e promotores em relação aos órgãos centrais de controle, o STF, o Superior Tribunal de Justiça, o Conselho Nacional de Justiça e o inoperante Conselho Nacional do Ministério Público.

A ameaça do presidente da APJUFE (Associação Paranaense de Juizes Federais) de uma greve da categoria deveria receber a resposta mais direta possível, o afastamento do juiz, que só encabeçou essa loucura por suas aspirações a fazer carreira no Tribunal Regional da 4a Região.

O terceiro risco é a volta do parafuso da mídia, aos tempos pré-Bolsonaro.

Essa soma de fatores culmina com a ação dos chamados agentes oportunistas, aqueles que aproveitam a mudança de ventos e a vulnerabilidade do equilíbrio institucional para ações de boicote. Entre eles, nenhum se iguala ao Ministro Luís Roberto Barroso, do STF.

Sua manifestação na reunião do CNJ, rebatendo o relatório do Ministro Luís Felipe Salomão, foi de advogado, com uma virulência que transcendeu os objetivos do julgamento. Na sessão, discutia-se apenas o afastamento de desembargadores e de dois juízes, entre os quais a juíza Gabriela Hardt. Não estava em jogo a avaliação dos crimes dos quais são acusados. Mas Barroso se precipitou – talvez encantado pelos atributos jurídicos de Hardt – passando pano na tentativa de desvio das multas da Lava Jato para a tal fundação, a ser presidida pelo MPF do Paraná, orientado pela Transparência Internacional Brasil e com um orçamento superior ao da própria Procuradoria-Geral da República.

Tratou como “tentativa” de dar uma destinação legítima aos recursos numa manobra clara de desvio de recursos para fins particulares.

Barroso sempre atuou como vírus oportunista. Foi assim quando se tornou o principal arauto da Lava Jato no Supremo, quando incluiu militares na comissão incumbida de analisar a seguranças das urnas de votação e, agora, quando sente que há espaço para um renascimento do lavajatismo, expresso na insubordinação de tribunais estaduais e nos editoriais dos jornais.

É o único espaço onde ele consegue alguma relevância já que, no enfrentamento da conspiração dos militares, se escondeu atrás de Alexandre de Moraes e, no dia a dia da administração política do STF, é um ator mirim, perto da experiência de Gilmar Mendes, Moraes e Flávio Dino.

Resta-lhe, então, a esperança de ressurgir surfando nas ondas de um neo-lavajatismo, que nasceria da derrota do relatório de Luiz Felipe Salomão.

Na sessão de antes de ontem saiu derrotado: três desembargadores foram afastados e os dois juízes passaram por margens mínimas, de 7×6, apesar de todo o empenho de Barroso.

A AJUFE

No meio do julgamento do CNJ, o presidente da APJUFE (Associação Paranense dos Juízes Federais do Brasil), anunciou uma greve de juízes em protesto contra o afastamnento de dois deles, nas investigações sobre a Lava Jato. Era bazófia pura, que fazia parte da encenação visando pressionar o CNJ. Passado o momento, a Corregedoria Regional da 4a Região respondeu a uma indagação dizendo que “a entidade citada no e-mail pelo consulente não deflagrou qualquer movimento (portanto) houve a perda do objeto da presente consulta”.

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Luis Nassif

15 Comentários

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  1. Incrível a lucidez e coragem de Nassif. Vivemos um jornalismo covarde, oportunista, além de despreparado. Nassif se destaca com competência, sabedoria e flutua léguas à distância em conhecimento amplo.

  2. Luís Roberto Barroso é a ‘mistura do oportunismo com gangsterismo e pitadas de psicopatia”, sendo, no judiciário, o que o gangster oportunista Eduardo Cunha foi no legislativo. Tal como Cunha, Barroso não se conforma em perder disputas nas cortes e órgãos de que participa – STF, TSE, CNJ.. -, e, tal como Cunha, manobra com todo tipo de jogo sujo para reverter, na marra, as derrotas. Melhores exemplos deste comportamento nefasto e ditatorial do barroso são este, aqui relatado no CNJ, e a escrotidão com que agiu no julgamento da revisão da vida toda (RVT) no STF.

    Tal como o gangster Eduardo Cunha quando perdia votações na Camara – até de emendas constitucionais – e, de formas as mais escrotas, dava jeito de repetir as votações (já concluídas) até obter o resultado que ele desejava, Barroso agiu na RVT, de forma a mais escrota possível, anulando a RVT, já aprovada no mérito, introduzindo um jabuti (a especialidade também do gangster Cunha) na votação de OUTRA AÇÃO para derrubar a RVT, de forma criminosa [1] na essência.

    E agora no CNJ, Barroso, que deveria votar por último, por ser o presidente, viola a norma processual, fura a fila de votação e pede vistas para, novamente de forma escrota e entre outras possíveis sacanagens em mente, arrastar este julgamento dos bandidos lavajateiros pelo menos até o final de seu mandato – setembro de 2025 – à frente do CNJ, para delírio de Moro, Hardt, Dallagnol et caterva.

    – – – – – – – – – –
    [1] Crime de responsabilidade, como diz a lei do impeachment – LEI Nº 1.079/1950 – sobre minstros do Supremo, no seu artigo 39: Barroso está certamente enquadrado no crime do item 1, pelo que fez no julgamento da RVT, e provavelmente pelo menos nos crimes dos 2, 4, e 5, pelo que fez na RVT e agora no CNJ, motivos pelo qual deve ser encaminhado o seu impeachment no Senado.

    “Art. 39. São crimes de responsabilidade dos Ministros do Supremo Tribunal Federal:
    1- alterar, por qualquer forma, exceto por via de recurso, a decisão ou voto já proferido em sessão do Tribunal;
    2 – proferir julgamento, quando, por lei, seja suspeito na causa;
    3 – exercer atividade político-partidária;
    4 – ser patentemente desidioso no cumprimento dos deveres do cargo;
    5 – proceder de modo incompatível com a honra dignidade e decoro de suas funções.”

  3. Isso mesmo e muito mais .
    Barroso praticamente rasteja no Tribunal , e só tem uma
    pequena relevância no horário nobre da G. News .
    Acho que pode ser uma opção do Departamento de Estado dos
    EUA , para um confronto com Moraes , e posteriormente com
    o Governo Lula , leia-se BRIC´S !!!

  4. 1- Não existe democracia com capitalismo, existe forma de controle político (externo) às sócio reproduções do modelo econômico, com a ilusão democrática, simulada em arranjos representativos, da “liberdade individual” para vender sua força de trabalho (liberdade que não existe de fato, mas apenas de aspecto formal), ao mesmo tempo que, mesmo nos aspectos de proporcionalidade de representação, as minorias (elites) são sem super representadas, em detrimento da sub representação das maiorias.

    2- O judiciário é parte integrante desta (super) estrutura de controle, e nunca será um aliado na construção de algo que se aproxime da democracia, porque seu papel é “conservar” o “status quo”.

    3- A mera injunção de que há “guardas bons e guardas maus no STF” já é uma clara demonstração de seu funcionamento subserviente aos interesses das elites.

    4- Há outro truque comum, além “dos guardas bons e maus”, que de tempos em tempos é utilizado, ou seja, aprovar ou atender demandas de costumes, como as pautas de “direitos e gêneros”, isso dá verniz de modernidade.

    5- Desde sua fundação, o STF é o único poder que manteve intacta a sua estrutura, e nunca teve nenhum integrante admoestado durantes os tempos de arbítrio, no nosso caso, quase toda a República.

    6- O máximo que se fez, como no caso da Redentora de 64, foi aumentar o número de juízes, para fazer maioria para os gorilas.

    Então, vamos combinar, né Nassif, Moros, Gabrielas, Deltans não são, como vocês querem inferir, pontos foras das curvas, eles só foram os mais desajeitados, porque são burros para caramba.

    E isso só depõe ainda mais contra quem diz combatê-los…se esse pessoal, de intelecto reduzido e trejeitos messiânicos, deram conta de arrasar a República (com STF com tudo), quem é pior?

    Eles ou quem deveria vigiá-los?

    PS: Ninguém acha estranho que as famílias e apaniguados de juízes constituam escritórios poderosos de advocacia no entorno das cortes superiores, cruzando processos entre si, para evitar suspeições ou impedimentos?

  5. Como não há nenhum indício de “caso” entre o ministro “lamparinista” e a juíza que “vai ter problemas”, restam as questões de que ele é lavajatista raiz e/ou que está sob alguma chantagem como tantos outros nesta “car wash task force” que mais uma vez na nossa história ajudou a frustrar a decolagem desta cruza de galinha com albatroz que é o braZil.
    Acrescente-se a nossa ingenuidade cultural de estabelecer órgãos de “controle” populados pelos próprios controlados, como auditorias subordinadas à contabilidade ou bandidos “regulados” pelos próprios e não por órgãos externos e independentes.
    O recrudescimento do lavajatismo somado ao bozismo e a interferência “exógena” é um fato que merece ação…
    Senão…
    (“once again the cow goes to the marsh”)???

  6. Grande Nassif, desnuda como açougueiro a pocilga intratável de de supostos homens “probos”, de papelão, que temos na republiqueta do faz de conta. Vida longa ao seu Nassif, coragem, determinação e verve afiada a desnudar os patifes em véus obscuros de malandragem e oportunismo….

  7. Há mais coisas entre o Powerpoint e a fundação do que sabem nossa vã veia jornalística
    Falou “o príncipe” de Antoine de saint-Marx e Hegel

  8. Eu avalio que este senhor moço, que já se faz um idoso, já deveria estar sofrendo um processo de afastamento do STF. A menção idoso não é uma ofensa, mas é um meio de fazê-lo entender o que está fazendo com milhares de idosos idênticos a ele. O certo é que, quer ele queira ou não, e nesse quesito ele não tem como usar de autoridade ou o poder de manipular o direito, para transformá-lo ilegalmente em um direito improcedente.
    O Brasil inteiro grita, principalmente pelas vozes dos grandes, fiéis e honestos seguidores do direito constitucional e jurídico.

    O Brasil grita que o ordenamento e a segurança jurídica brasileira está, por mais incrível e mais inacreditável que pareça, a mercê de alguns juízes que se mostram como deuses poderosos e voltados para influir na importância das suas vontades, desejos e suspeitas intenções. Quem, pergunto, em sã consciência demonstra transparecer uma ingratidão incompreensível pela sua história e pelo seu currículo?
    Qual a razão de se mostrarem como praticantes de recheadas, desesperadas e insistentes parcialidade, quando, pelo meu entendimento, além de prejudicar intencionalmente o lado justo do direito em favor do inconstitucional, ainda prejudicam estupidamente a si próprios?
    Julgo que o Poder Judiciário nunca esteve em péssimas mãos, como tem estado atualmente.

  9. “A ameaça do presidente da APJUFE (Associação Paranaense de Juizes Federais) de uma greve da categoria deveria receber a resposta mais direta possível, o afastamento do juiz…”.

    E isso porque se tratava de “bazófia pura”… Imagine se fosse mesmo intencional…

    Nassif é um legítimo democrata, defensor da liberdade de expressão. Por isso endossa tudo que o Ministro Alexandre de Moraes tem feito, a despeito de todo abuso de poder contra cidadãos brasileiros.

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