As mentiras que levam à privatização das estatais, por Luis Nassif

Por que o jornalista insiste que haverá mais investimentos e menos tarifas? Ignorância? Desonestidade intelectual?

Foto: Agência Brasil

Uma das maiores fraquezas institucionais do país é o pouco apego à verdade por trás das instituições. Um magistrado que julga contra os fatos, um jornalista que explora inverdades, por todos os poros da Nação a informação é um objeto utilitário, não um fato objetivo, essencial para as análises e tomadas de decisão.

É o caso da lenda da “Petrobras quebrada”, alimentada pela mídia no período pós-2016, para fornecer álibis para privatizações de subsidiárias. Tratava-se de uma fakenews, uma notícia falsa.

Em abril de 2018 rebati essas falácias com uma série de dados:

  • Em 2015 a Petrobras levantou US$ 18,5 bilhões no mercado financeiro. Todas as emissões de bônus tiveram demanda varias vezes maior que a necessidade, todas tiveram boas notas de rating e foram lideradas por top bancos globais.
  • Em 1º de junho de 2015, ainda no governo Dilma, a Petrobras levantou US$2,5 bilhões em bônus de 100 ANOS de prazo, um prazo exótico e só aceito para emissoras de primeiríssima linha. A demanda foi de quatro vezes o necessário. A emissão foi liderada pelo Deutsche Bank e pelo J.P.Morgan. 
  • Em 17 de maio de 2016 a PETROBRAS emitiu bônus de 5 anos, valor de US$ 5 bilhões e bônus de 10 anos, valor de US$ 1,75 bilhões, demanda 3 vezes maior.
  • Em 9 de janeiro de 2017 a Petrobras emitiu US$ 4 bilhões de bonus com a finalidade de recomprar bônus com vencimento para 2026, operação típica de empresas super liquidas e que estão com o caixa folgado. Na realidade, a Petrobras estava antecipando o pagamento de dívidas, da mesma maneira que fez com financiamentos do BNDES.

No entanto, a mentira da quebra da Petrobras se estendeu por anos, enquanto se vendiam refinarias, BR Distribuidora, gasodutos. E, em 2016, pela primeira vez na história se aplicava aos preços praticados o PPI (Preço de Paridade de Importação), medida exclusiva de países importadores. Atribui-se a Pedro Parente, que implementou essa medida, a “salvação” da Petrobrás. Mais uma mentira!

Segundo a Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), o PPI serviu apenas para viabilizar a importação de derivados, especialmente de refinarias americanas. A razão é simples. Qualquer país racional buscaria a auto-suficiência na energia. A Petrobrás garante essa auto-suficiência a um custo imensamente inferior ao PPI – custo que leva em conta as cotações internacionais e o transporte.

Com o aumento de preços, a Petrobras abriu espaço para os derivados importados, perdendo 30% do mercado para suas refinarias. Ganharam os importadores.

Mais que isso, estudos da própria AEPET mostram que a redução da dívida líquida de US$ 115,4 para US$ 69,4 bilhões, e a alavancagem (dívida líquida/EBITDA ajustado) caiu de 4,25 para 2,20 entre o final de 2014 e 2018.

A venda de ativos respondeu por apenas 25,65% dessa redução. Os quase 75% restantes decorreram das atividades operacionais da empresa, que poderia ter sido bem melhor caso não tivesse perdido as receitas das subsidiárias privatizadas.

A redução dos juros pagos, devido às privatizações, foi de US $966,52 milhões por ano. Já a redução das receitas, em função da venda de ativos, foi de US $2,34 bilhões.

Como ficamos? Como pode um país com as dimensões do Brasil navegar pela economia sem bússola, exposto às intempéries de notícias falsas bancadas pelos próprios jornalistas.

Por exemplo, a privatização da Eletrobras fará com que jogue no mercado livre os contratos de longo prazo com distribuidoras, que garantem uma tarifa razoável para consumo residencial e de pequenas empresas. Haverá uma explosão tarifária tão evidente quanto a grosseria de Bolsonaro. Por que o jornalista insiste que haverá mais investimentos e menos tarifas? Ignorância? Desonestidade intelectual?

Seja o que for, confirma a máxima de que o maior custo Brasil é a mídia.

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Luis Nassif

6 Comentários

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  1. Infelizmente boa parte da midia trabalha em prol do neoliberalismo, do estado mínimo, e do capitalismo sem qualquer taxaçao ou controle. Criam todo o tipo de aparentes argumentos. Nessa hora pensamos na carreira do jornalismo. Onde ficaram os ideais da verdade, justiça,…. ?

  2. Por que o jornalista insiste que haverá mais investimentos e menos tarifas?

    1. Não existe jornalista (pessoa física) sem Empresa Jornalística.
    2. Empresa jornalística é uma empresa privada – tem dono com interesses comerciais/privados, que representam o “quarto poder” da República!
    3. Esse quarto poder é controlado pelo capital privado associado ao capital internacional e aos interesses geopolíticos dos EUA. Chateaubriand era contra a Petrobras. A Time Life financiou a Globo (ilegalmente). Silvio Santos mora em Miami (o Gugu também morava, Faustão idem). A Abril foi fundada por um ítalo-americano. Hoje quem controla parte relevante da mídia são grandes bancos – associados ao capital internacional, interessados em grandes transações comerciais, leia-se privatizações. And so on…

    Resumo da ópera: A mentira a que o Nassif se refere é publicada para servir aos interesses comerciais dos donos das empresas jornalísticas, que por sua vez estão associados aos interesses do grande capital (nacional/internacional) e geopolítico dos EUA. Esses interesses determinam o que as empresas de mídia publicam – os jornalistas são apenas funcionários a serviços desses interesses. Em suma, eles não publicam o que querem, mas o que o patrão permite. E, se forem malandros (ou venais, vendo sob outra ótica), irão publicar o que vai de encontro aos interesses dos donos dos veículos de comunicação.

  3. É a mídia ou é a globo?
    Para mim, a única mídia que existe no Brasil é a da globo. O resto é o resto. Se não existisse não mudaria absolutamente nada.

  4. Lucro acima de tudo – e só para uns poucos.
    O que é a mentira?
    Uma versão da verdade. O contrário da verdade não é a mentira – é a versão.
    Desde que o Homem mais (supostamente) autorizado a revelar o que é a Verdade, negou-se a fazê-lo, creio quer podemos assumir que a Verdade, em si, não é mais importante do que a versão, cujo curso Ele mesmo garantiu com essa atitude, no mínimo; ainda que eu julgue, agora, dois mil anos depois, que se Ele ficou calado, é porque chegou a conclusão que a dita cuja, a Verdade, não existe. Portanto a questão não é o que publicar, se a verdade ou a lenda, é entre a verdade e a versão. A segunda da provas abundantes, variáveis e multiformes de sua existência. A primeira leva ao silêncio – e produz, automaticamente, as versões.
    Mas chega de filosofia; a versão pura e simples – e amplamente divulgada – é de que a Petrobrás, além de prejuízo, deficit, e preços altos, é um estorvo ao desenvolvimento do país e ao bem estar do seu povo.
    A verdade que se lasque; o mundo é das versões. Ignoramos a verdade, e nos deleitamos com as versões, que são sempre mais coloridas, promissoras, e, ao fim e ao cabo, ilusórias; não importa, logo atrás vem outra, ainda mais colorida, sedutora e cheia de promessas.
    O público interessado na verdade é do tamanho da audiência dos blogs antigamente chamados sujos – poucos e capazes de ler criticamente seu conteúdo preferido.
    O resto da humanidade é o público que consome as versões. Aqui entre nós, Globo, Folha, Estadão, etc., e seus leitores no topo da pirâmide social.
    Viver é melhor que sonhar; mas, para eles, lucrar é melhor que viver. Nós vivemos em busca da verdade; eles, em busca do lucro. A versão – que traz o lucro – está pouco se lixando para a verdade – que, por sua vez, nunca deu lucro.
    A mentira dorme com o poder na cama arrumada pela verdade dos jornalões e da mídia corporativa, bem poderia dizer o Cristo Militar em ‘A Idade da Terra’- mas o único papel, nessa história, reservado à Verdade, é o de arrumadeira, que é invisível àqueles que se deitam nas camas por ela arrumada. E todo dia ela tem que arrumar de novo.
    Perdoem as divagações. Mas é que já estou cansado de repetir as mesmas coisas.
    LUCRO ACIMA DE TUDO. TUDO É UMA QUESTÃO DE SER CAPAZ DE VENDER, SEJA O QUE FOR, SEJA COMO FOR.
    Longa vida às arrumadeiras. Espero que um dia arrumem o leito de Procusto para essa gente que só pensa naquilo: LUCRO.

  5. Ignorância? Desonestidade intelectual? Nenhum dos dois, eles na verdade estão enganando
    o leitor de notícias das mídias deles, e está levando o eleitor uma informação falsa para prejudicá-lo,
    a bem do interesse dos patrocinadores da mídia. Isso tem outro nome e se chama estelionato.
    O crime de estelionato exige quatro requisitos, obrigatórios para sua caracterização: 1) obtenção de vantagem ilícita; 2) causar prejuízo a outra pessoa; ; 3) uso de meio de ardil, ou artimanha, 4) enganar alguém ou a leva-lo a erro. Esse é o famoso crime do artigo 171 do Código Penal.

  6. A mídia corporativa é financiada por anunciantes, e não pelos leitores. Dá para imaginar quais interesses esta mídia defende, não?

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