As tendências mundiais do trabalho, por Luis Nassif

A automação e redução do emprego tradicional aumentará a geração de empregos via empreendedorismo. Ou seja, o bico.

No trabalho “Macrotendências Mundiais Até 2040”, da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CIESP (Centro das Industrias do Estado de São Paulo), um dos temas abordados é de trabalho e qualificação.

O objetivo do trabalho é identificar tendências para orientar o planejamento das empresas industriais.

O ponto central são os impactos da pandemia da Covid-19 sobre a saúde pública. Segundo o trabalho, uma das consequências foi a percepção do papel estratégico da indústria na saúde pública, segurança nacional, energética e alimentar.

O trabalho detalha as 4 revoluções industriais e a complexidade da quarta.

1a – Primeiro tear mecânico, em 1784, com a utilização da energia da água e do vapor.

2a – Primeira linha de montagem, em 1870, através da produção em massa com a utilização da energia elétrica.

3a – Primeira sistema de controle lógico programável em 1969, através da aplicação de eletrônicos e Tecnologia da Informação (TI) para produção mais automatizada.

4. – Revolução industrial baseando-se em sistemas de produção ciberfísicos, fundindo mundo real e virtual.

Nas próximas décadas, a 4a Revolução Industrial terá um período de ampliação e maturação, com reflexos diretos sobre o emprego.

Há um conjunto de tecnologias ligadas a ela:

* Digitalização

* Manufatura aditiva

* Robótica colaborativa

* Inteligência artificial

* Internet das coisas

* Computação de borda e de nuvem

* Economia comportamental

* Computação quântica

* Nanotecnologia

* Realidade aumentada

* Redes de 5G

* Blockchain

Fatores impactantes

Haverá características inéditas na 4a revolução.

Uma das características será a interoperabilidade, permitindo que serem humanos e fábricas inteligentes se conectem e se comuniquem.

Outra característica será a virtualização, a conexão entre dados de sensores  com modelos de plantas virtuais para simulações.

A segurança tecnológica exigirá atenção especial a fatores até agora desprezados.

O primeiro, são as terras raras e minerais estratégicos, essenciais para semicondutores, grafemos e cerâmicas avançadas. Os dois materiais mais relevantes são o lítio e o grafeno, essenciais para baterias de veículos elétricos.

O Brasil possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo, mas é apenas o nono maior produtor.

Depois, semicondutores e componentes eletrônicos, com aplicações de automóveis e eletrônicos até armamentos.

Segundo o trabalho, semicondutores serão um dos fatores centrais da transição energética, na construção de sistemas de internet 5G.

Os resultados sobre o trabalho

O trabalho divide esse tema em três submetas.

O primeiro são as alterações na relação de trabalho, com maior flexibilidade das relações de emprego, trabalho remoto ou híbrido e diversidade no mercado.

Haverá mudanças mais frequentes de carreiras e novas oportunidades de novos trabalhos. Aposta também no crescimento do empreendedorismo e da importância de novas habilidades.

Tudo isso exigirá crescimento da educação à distância e ensino tradicional complementado com aprendizagem constante.

Hoje em dia, há 57,3 milhões de pessoas realizando algum trabalho avulso nos Estados Unidos. A expectativa é que cheguem a 86,5 milhões em 2027, ou 51% da força de trabalho no país.

A competição por mão de obra qualificada ampliará políticas migratórias e para maior participação da mulher no mercado de trabalho.

Empresas latino-americanas mais abertas à diversidade de gênero, etnia e orientação sexual terão 55% mais probabilidade de obterem uma performance superior.

Há uma fantasia no trabalho, de supor que, com a redução na geração de empregos no modelo tradicional, e desenvolvimento de novas tecnologias, o empreendedorismo será, crescentemente, o meio de criaçãod e trabalho e renda. Ou seja, aceita-se como inevitável o bico.

Luis Nassif

6 Comentários

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  1. Existe um X da questão que bico nenhum resolve: A super-produção, advinda da IA,da robotização e digitalização será destinada a quem?
    Somente existe viabilidade para produção se houver mercado consumidor, sem este não haverá continuidade do desenvolvimento,exceto se admitimos o fim da espécie humana e substituí-la por androides. Não é impossível e um pouquinho mais de irresponsabilidade pode trazer está realidade para bem perto de nós.

  2. Ou seja, a precarização do trabalho será um ‘fantasma’ sempre com maior presença. Para o empresariado a “modernização” das relações de trabalho. Para os trabalhadores, o empobrecimento.

  3. Este é, na minha opinião, ao lado da questão ambiental, o mais importante desafio do ser humano, hoje: o Trabalho.
    Vale dizer, a necessidade de dar trabalho – ou, se for o caso, manter ocupados, com remuneração – a uma quantidade imensa de pessoas que, ao afunilar-se a necessidade crescente de especialização nos mais diversos campos de atividades humanas, todas, sem exceção, sob o assédio da tecnologia e do algoritmo, vão escorrer pelas bordas do funil, o único acesso ao mercado de trabalho.
    Desempregado há alguns anos, e vendo os bicos disponíveis – digo, as possibilidades de empreendedorismo em minha área de interesse, experiência, e atuação – escassearem mais e mais a cada dia, já li e refleti bastante sobre o assunto. E, desgraçadamente, devido ao meu vício de pensar – ato cada vez mais obsoleto neste maravilhoso mundo novo em que tudo já vem pronto para consumir, usufruir, etc. – começo a me ocupar de um desdobramento que, a cada dia que passa, vejo tornar-se cada vez mais provável: a virtualização dos desejos e das necessidades do ser humano, vale dizer, a substituição da mercadoria real pela mercadoria virtual.
    Em meados dos anos 80, uma canção muito famosa mencionava um adolescente “jogando futebol de botão com seu avô”. Ainda não se passaram 40 anos, desde então; e já há mais de uma geração para quem essa frase é ininteligível.
    O mundo dos adolescentes cabe numa tela de celular; o dos adultos só existe fora dela por saudosismo. Não vou ocupar o tempo dos leitores do GGN enumerando os postos de trabalho eliminados, limados, pulverizados, pela 4ª Revolução Industrial. Seria, igualmente, um exercício de saudosismo inútil.
    Mas não são só os postos de trabalho. As mercadorias que se produzem, também. Quer jogar futebol de botão com seu avô? Tá no celular. Quer jogar War, Ludopédio, Detetive, Banco Imobiliário? Tá no celular. Quer ver um jogo de futebol, um filme, uma série? Tá no celular.
    Antes da 4ª Revolução Industrial, a indústria da celulose empregava quantos trabalhadores? Hoje, quantos emprega? 1/3, 1/4 do quadro de funcionários daquela época? Para que um neto jogasse futebol de botão com seu avô, era necessário transformar a madeira, encomendar aros de ferro à indústria metalúrgica, plásticos. Onde foi parar o emprego das pessoas que faziam esses trabalhos?
    A vida está no celular; a mercadoria, o bem de uso e consumo. Onde isso irá parar? Será que chegaremos em um tempo em que não será necessário sair de casa para viver, consumir e usufruir em sua plenitude? Um tempo em que o convívio e a interação humana serão 100% virtuais? Começo a desconfiar que chegará um dia em que não precisaremos acordar para viver, consumir e usufruir em sua plenitude todos os prazeres da vida. E os vícios, as perversidades, a ambição e a cobiça, igualmente. O sono virtualizado – ou os óculos de realidade virtual – tudo proverá.
    A mercadoria será virtual, a alimentação será virtual, a vida será virtual.
    Nem quero saber de que, ou como, viverão os Bezos, Gates, Musks, da vida. Já não estão, de fato, vivos, hoje. Vivem (sic) para acumular e exibir-se. Isso é vida?
    Talvez eu esteja viajando na maionese. Não é de se espantar; não tenho como viajar de bicicleta, que dirá de avião. Eles viverão virtualmente, talvez; nós, nem isso. E que sejam bem vindas as guerras, as pandemias, a fome, a exclusão em si, para poupá-los de ter que esbarrar em mendigos largados pelo chão em suas cidades.
    Mas as cidades deles serão virtuais. Nós, que vivemos à margem do mundo real, nesse mundo sequer entraremos. Sem trabalho, sem salário, sem consumo; seremos totalmente inúteis, nessas cidades. Nelas não haverá mendigos. Só os virtuais, para mera diversão zoológica dos Bezos, Gates, e Musks.

  4. Tive que ler o texto do Uchoa Neto antes. Me solidarizo. Tenho a impressão que, dada a pressão da virtualização, haverá, e já acontece agora, uma valorização do “feito à mão”. Como uma alternativa econômica para a massa e como um centro de inovação para o mundo 4.0. Como a personalização é uma caracteristica inerente da 4.0, se faz necessário um laboratório de novidades, de prototipagem, de aperfeiçoamento, atividades que um artesão fará muito mais rápido e melhor. Ainda mais se estiverem organizados, como as corporações de ofício. Mais que uma legislação necessária para coibir os abusos tão comuns no Brasil, a mentalidade do industrial é ampliar as chances de gerar inovação para poder competir mundialmente nessa fase industrial que se apresenta. É também ecológico. Mas vale uma população bem alimentada, pensando e criando e com condições de se divertir, olha ai o Domenico de Masi e o Titâs, que uma população sem condições de contribuir. A floresta vale mais em pé que cortada.

  5. “Sei”Nassif, já peguei um Uber cujo motorista, de quase sessenta anos, me disse que a profissão dele acabou por causa de programas de computador, era desenhista e trabalhava para arquitetos….aliás, não foi o único, conheci vários nessas situação mas me chamou a atenção de uma editora de livros que trabalhava com um carro de luxo, desses que fazem 5km por litro por falta de opção….com a terceirização selvagem do funcionalismo público, temos uma tragédia anunciada para o futuro próximo…

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