Como a Rússia sobreviveu às sanções dos Estados Unidos, por Luís Nassif

Recentemente, um relatório produzido pelo governo da Ucrânia revelou que foram encontrados microchips de fabricação ocidental em mísseis e drones russos.

Um dos grandes enigmas contemporâneos é a forma como a Rússia sobreviveu ao mais severo conjunto de sanções já impostas pelos Estados Unidos e Europa contra um país.

A última previsão do Fundo Monetário Internacional é a de que a Rússia crescerá mais depressa do que a Alemanha e Reino Unido, e acompanhará o crescimento da França e da Itália.

No início da guerra, os Estados Unidos confiscaram as reservas cambiais russas mantidas no exterior, expulsaram os bancos russos do sistema Swift, restringiram venda de produtos tecnológicos e induziram grandes empresas ocidentais a saírem do país.

A primeira previsão do FMI foi de uma queda de 8,5% no PIB da Rússia em 2022 e 2,3% em 2023. Nos dois anos, o país irá crescer 9,4 pontos percentuais acima da previsão do FMI.

O que ocorreu no período? Do lado das exportações, China, Índia, Malásia e Cingapura aumentaram as compras de petróleo russo enquanto o Ocidente aumentava a importação de derivados de petróleo.

China passou a fornecer semicondutores, drones enquanto Turquia, Emirados Árabes, Cazaquistão, Armênia e outros países da ex-URSS atuavam como intermediários entre vendedores ocidentais e a Rússia. Depois de uma queda de 43% nos primeiros meses da guerra, as importações voltaram aos níveis anteriores, incluindo de smartphones a maquinário.

Além disso, compradores relevantes fizeram com que a União Europeia evitasse a proibição de importações de produtos russos relevantes, como diamantes e aço. Alguns países da União Europeia chegaram a dobrar as importações de placas de aço semi-acabadas no ano passado, justamente para substituir as compras das usinas ucranianas de Mariupol, destruídas pelo exército russo.

Mais. A UE não cortou o Gazprombank, a holding do Gazprom, o gasoduto russo. E muitas empresas ocidentais simularam acatar as ordens dos respectivos países, mas encontraram modos de continuar a cooperar com parceiros russos, especialmente para o complexo industrial-militar.

No ano passado, o Departamento de Comércio dos EUA e o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro impuseram multa de US$ 3,3 milhões à Microsoft, por negócios efetuados com empresas russas em 2016 e 2017, quando iniciaram as sanções.

Recentemente, revelou-se que a empresa italiana Danieli – fabricante de máquinas-ferramentas de precisão para a siderurgia – continuou operando com o conglomerado russo Severstal até 14 meses depois do início da guerra. O acionista controlador da empresa, Alexey Mordashov, foi colocado na lista de sanções dos países ocidentais logo após o início da guerra.

Outras empresas continuam fornecendo serviços de petróleo e a fabricantes de cimento. No ano passado, essas empresas registraram aumento no volume de negócios, beneficiando-se da saída voluntária de concorrentes ocidentais.

Recentemente, um relatório produzido pelo governo da Ucrânia revelou que foram encontrados microchips de fabricação ocidental em mísseis e drones russos. Foram apontados os fornecedores Linx Technologies, Qualcomm e STMicroelectronics. 

Luis Nassif

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  1. As sanções impostas aos russos, lembram-me o bloqueio de Constantinopla pelos turcos em 1453, que resultou na busca por outros caminhos e redundou no descobrmento das Américas. Ao que tudo indica, os estrategistas da OTAN não compreendem a história. Sanções prejudicam mas não impedem de encontrar alternativas.

  2. A Rússia vem resistindo ao complexo BBB – banqueiro-belicista britânico, local e d’além mar, desde Catarina, a Grande, mesmo sofrendo pesados revezes como da ultima tentativa – terceirizada – de ser eliminada da face da Terra, em 1941. E hoje se constitui na força de equilíbrio entre a velha mania de assaltar dos bandos da Europa Ocidental (desde o fim da Idade do Bronze que é assim), e o novo poderio oriental (nunca se sabe). E tem certas manias de vir trazer os assaltantes, debaixo de chuvas de bala de volta até a própria toca. Escravos, nunca mais.

  3. Guerra dá lucro. A história da humanidade é uma sequência ininterrupta de guerras e/ou conflitos, que demandam a produção de uma série de mercadorias, de armas a coturnos, fardamento e alimentos, etc., etc., etc. É possível ignorar essa realidade tão simples? Paz é algo a ser mantida, ou seja, não impulsiona a produção nem aumenta o comércio. Mantém as coisas como estão. A guerra é rigorosamente o contrário. Os industriais americanos se fartaram de lucrar com a Alemanha nazista, principalmente Henry Ford, Rockefeller, dentre outros, mesmo depois de começada a guerra. Capitalistas fazem negócio até com o satanás, desde que possam lucrar com isso. Banqueiros emprestam dinheiro para ambos os lados em guerra, ganhando nas duas pontas – que o digam os Rothschild. Quem pensa em paz são os países como o Brasil, que nada lucram nessa situação, fora alguns ganhos marginais. A guerra é o estado natural da humanidade, e não sairemos desse ciclo achando que o objetivo final da guerra é alcançar a paz. Não só isso é de uma ironia acachapante – por ser um absurdo lógico insultante a nossa suposta inteligência – mas também, e principalmente, um atestado da nossa incapacidade de entender o real funcionamento do mundo e nossa posição nele. A guerra transformou a Europa em poder hegemônico no mundo, e os EUA depois do inevitável declínio europeu. O inevitável declínio americano está só começando. Como será esse próximo pós-dilúvio, não se sabe. Se é que vai ter um pós alguma coisa, dessa vez.

  4. Como será o próximo pós-dilúvio, se houver? Segundo Lukács, “a confusão mental nem sempre é o caos. Pode denotar as contradições internas da actualidade, mas a longo prazo conduzirá à sua resolução. Por isso a minha ética tendeu no sentido da praxis, da acção, e portanto da política. E isso levou, por seu lado, à economia. (…) Só a revolução russa arbiu realmente uma porta para o futuro; a queda do czarismo trouxe-lhe um brilho, e com o colapso do capitalismo tal apareceu à vista desarmada. Nesse tempo o nosso conhecimento dos factos e dos principios que lhes estavam subjacentes era dos menores e menos credíveis. Apesar disso vimos, finalmente! Finalmente! uma forma de a humanidade escapar à guerra e ao capitalismo.”

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