Definitivamente, o mercado não gosta do PT, por Luis Nassif

No relacionamento com ele, Haddad tem demonstrado educação e preparo. Mas quem pega as castanhas quentes com mãos de gato é Campos Neto.

A última pesquisa Quaest, da Genial Pesquisa, procurou avaliar como o tal do mercado avalia a economia e o governo. Foram entrevistados gestores, economistas e analistas de fundos de investimento com sede em São Paulo e no Rio. Ao todo, 82 entrevistas.

A pesquisa retrata o óbvio: a enorme má vontade do mercado com o governo como um todo, com Lula, Fernando Haddad, o apoio a Roberto Campos Neto, e uma defesa do status quo.

Não peça análises, ponderações ou opiniões de pessoas racionais. O mercado analisa exclusivamente dentro da ótica: vou ganhar mais ou menos? É um coral que só canta em uníssono,

98% considera que a política econômica erra, contra 2% que diz que está certa. 78% aposta  em piora da opinião pública e apenas 6% em melhora. Na opinião pública mais ampla, 62% apostam em melhora e 20% em piora.

73% apostam em uma recessão este ano e apenas 20% acreditam em aumento do investimento externo.

90% avaliam como negativa a relação do governo Lula com a diretoria do Banco Central, e 45% dizem ser baixa a possibilidade do BC antecipar o corte de juros nos próximos 6 meses. Apenas 16% acreditam em possibilidade alta.

95% consideram acertada a decisão do BC em manter a atual taxa Selic. A preferência é óbvia. Permite a eles captar dólar com taxas baixas, converter em reais, aplicar a 13,75% em títulos do Tesouro e, na saída, ganhar mais um pouco com a desvalorização do dólar.

Tem muito mais. A lição central é que não adianta adular o mercado, tentar ganhá-lo com racionalidade e bons modos.

Nos primórdios do Plano Real, Gustavo Franco falava em saco de maldades do BC para segurar os movimentos especulativos. Recentemente, André Lara deixou claro que, tendo o BC na mão, nenhum governo fica refém do mercado.

Há um maremoto a caminho, na crise do mercado de crédito corporativo e nos ecos da crise internacional. Qualquer presidente de BC estadista estaria analisando o cenário e preparando-se para o pior.

Mas Roberto Campos Neto é um mero burocrata, sem conhecimento de política monetária, sem a menor vontade de enfrentar a borrasca a caminho.

No relacionamento com ele, Haddad tem demonstrado educação e preparo. Mas quem pega as castanhas quentes com mãos de gato é Campos Neto.

Infelizmente, vamos ter que esperar a chegada do dr. Crise para romper com a inércia.

GENIALQUAESTMERCADOMAR23

Luis Nassif

18 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O mercado jamais vai harmonizar com qualquer um que mova uma agulha do establishment. E olha que o Haddad Guedes tem se esforçado muito para conquistar. Mas o PT, muito a direita, ainda não percebeu que o discurso é pro outro lado. Bolsonaro, que não tão idiota assim, percebeu lá atrás e o deus mercado viu nele um potencial presidente. Mas o PT com esse discursinho de conciliação não vai longe. Já já teremos um 2013 aí.

  2. O PT também não gosta muito do mercado(financeiro).
    A crise dos bancos americanos e europeus vai chegar aqui e vai pegar os “bichinho” ainda grogues pelo calote das Americanas.
    Crise é certa.

  3. A RAZÃO PARA O MERCADO NÃO GOSTAR DO LULA E DO PT É FÁCIL DE ENTENDER: ELES REPRESENTAM O PERIGO DO MERCADO FINANCEIRO PERDER O CONTROLE DO BANCO CENTRAL. OU SEJA: A CHAVE DO COFRE. NÃO EXISTE NO MUNDO, NENHUM PAÍS QUE TENHA UM BANCO CENTRAL INDEPENDENTE. O QUE EXISTE SÃO: BANCOS CONTROLADOS PELO GOVERNO, PELO SISTEMA FINANCEIRO E GESTÃO COMPARTILHADA, NESTE CASO, O GOVERNO COMPARTILHA COM O MERCADO FINANCEIRO O CONTROLE DO BANCO. AQUI NO BRASIL, O BCB É CONTROLADO PELO MERCADO, DESDE O GOVERNO FHC E FICOU COM MAIS PODER COM A APROVAÇÃO DA AUTONOMIA FAJUTA APROVADA NO GOVERNO DO COISO.SEJAMOS HONESTOS, SE HOUVESSE REALMENTE AUTONOMIA DO BCB, OS PRIMEIROS A SEREM CONTRA, SERIA O MERCADO FINANCEIRO E SEU SÉQUITO ESPALHADOS PELA MÍDIA. INFELIZMENTE O GOVERNO LULA PRECISA LIDAR COM ESTA CORJA, FINGINDO ACREDITAR NOS SEUS PROPÓSITOS PARA COM EQUILÍBRIO DAS CONTAS PÚBLICAS, DAÍ A NECESSIDADE UMA ÂNCORA FISCAL, OBSERVEM QUE ELES INSISTEM NO TERMO ÂNCORA FISCAL. PORQUE O USO DESTE TERMO? A ÂNCORA NA NAVEGAÇÃO É UM DISPOSITIVO PARA PRENDER A EMBARCAÇÃO NUM DADO LUGAR. NA ECONOMIA A ÂNCORA FISCAL É UM INSTRUMENTO USADO PARA IMPEDIR QUE A ECONOMIA DESLANCHE. NUMA ECONOMIA ESTAGNADA, O GOVERNO NÃO AUMENTARÁ A ARRECADAÇÃO E POR CONSEQUÊNCIA NÃO DISPORÁ DE RECURSOS PARA ATENDER AS NECESSIDADES CRESCENTES DA SUA POPULAÇÃO. É AÍ QUE ESTÁ A ESTRATÉGIA DO FAMIGERADO MERCADO: O GOVERNO SERÁ OBRIGADO A USAR RECURSOS EXTRA ORÇAMENTO, GERANDO OS DESEQUILÍBRIOS FISCAIS QUE EM ÚLTIMA INSTÂNCIA, VAI PROPICIAR MAIORES GANHOS PARA O MERCADO FINANCEIRO. O SUCESSO DE UM GOVERNO LULA, MESMO COM TODAS AS CASCAS DE BANANAS JOGADAS NO SEU CAMINHO, PODE FRUSTAR OS PLANOS DO MERCADO FINANCEIRO, COLOCANDO EM RISCO O SEU CONTROLE SOBRE O BCB. DAÍ A SUA REJEIÇÃO A LULA E AO PT.

  4. Não entendi o ‘definitivamente’. O Mercado nunca gostou do PT. O Mercado não gosta de Lula. O Mercado não gosta de Haddad. O simples uso da palavra ‘gostar’ é descabido, em se tratando de Mercado. O Mercado não gosta de nada e de ninguém. Aqueles que não o fazem lucrar são apenas tolerados, até ao ponto em que começam a dar prejuízo. O Mercado sequer gosta do Brasil. O Mercado tolera o Brasil – e os governos que nele se sucedem – porque aqui é o paraíso dos juros altos, há um mercado consumidor considerável, a mão-de-obra é mais barata que banana em fim de feira, e as leis são uma espécie de papel higiênico – finíssimo – que os mantém limpos permanentemente, apesar de ser ele, o Mercado, uma fonte permanente de sujeira. E só. O Mercado é esquizofrênico; imagina estar o tempo todo em Miami, ou em temporada de ski nos Alpes, nas roletas de Monte Carlo, na Disneylândia, mesmo estando aqui, na barriga da miséria onde nasceu, cercado de fome e pobreza, dentre outras sortidas misérias e mazelas. Na mente do Mercado, as ruas são limpas, e não dormitório de mendigos e despossuídos; os pobres são invisíveis, e se há necessidade de trabalho para gerar valor a ser apropriado e capitalizado (noção cada vez mais distante nesse maravilhoso mundo novo das finanças em si, por si, e para si), essas pessoas espalhadas por aí são todos escravos, sempre em plena disponibilidade. É de bom tom evitar a palavra povo, por isso eu disse ‘essas pessoas espalhadas por aí’, a fim de não ferir a suscetibilidade de nosso asséptico Mercado. Não demora muito e, ao ouvir tal calão, ‘povo’, vão indagar: o que é isso? E que alguém possa responder: é aquilo que te torna rico. Mas um dia isso vai acabar. Infelizmente, desconfio eu, será um fim comum, para todos. Resta saber se, havendo inferno, haverá um para os ricos e um para os pobres. Creio que sim. E não será preciso muita imaginação para saber qual o melhor dos dois. Simples reprodução de modelos preexistentes, como sempre foi. O Mercado definitivamente não gosta do PT. Nem de Lula, nem de Haddad, nem de si mesmo. Só de dinheiro. De Capital. Luxo. Tudo que nós fornecemos a ele, pensando em vencer na vida, como diria o Belchior.

  5. Temos um presidencialismo com muitos partidos e um governo cujo partido, o PT, elegeu 69 deputados em um universo de 513 na Câmara Federal. Na prática, temos um semipresidencialismo, quem manda é o presidente da Câmara, Arthur Lira. Tudo isso, mais a independência do Banco Central e a fome por cargos e verbas de partidos circunstancialmente aliados, contribuem para a fragilidade e dificuldades do governo federal. Nos EUA temos um monte de partidos, mas só dois elegem representantes no Legislativo: um é governo, outro é oposição. Lá a independência do FED não atrapalha…

  6. O primeiro mundo vai começar a diminuir os juros antes que se descubra pra onde esta indo as reservas dos bancões. Aqui o imbecil do BC arrepia a crista e quer brigar na sua rinha. Vamos ver até onde o espertalhão vai. Qto à pesquisa seria mais produtivo entrevistar um rebanho se preferem feno ou terra.

  7. Esse tal de mercado nunca ganhou tanto quanto nos governos petistas. Ele não gosta de política social, inclusão do povo no orçamento e por ai vai. Mesmo comparando com os governos que foram seus queridinhos, como FHC e outros.

  8. Não entendo de economia, mas não vejo com bons olhos um grupo de pessoas com pouca sensibilidade política e social, chefiando um setor importante da economia, numa época grandes mudanças na Humanidade. Deveria ser alguém com mais maturidade e mais experiência de vida.

  9. GRANDE PESQUISA. O mercado não está gostando do governo? Ótimo!
    Mostra claramente que o governo está no caminho certo.
    Mas a luta vai ser grande.
    Mas estamos preparados para a batalha.

  10. Uns dos motivos do golpe contra Dilma Roussef foi pra reverter a lógica da economia voltada para o desenvolvimento social e bem estar social, para o mercado, era necessário que todo o dinheiro em circulação no país tivesse um só endereço: bancos, pressionada Dilma acabou fazendo a vontade do mercado ao colocar uma cabeça de planilha pra a comandar a economia do país. Nesse cenário o mercado, mentiroso e obtuso a tudo, menos a seus interesses, elogiou aos píncaros a equipe econômica, enquanto o pais afundava. Por conta disso, a opinião do mercado vale tanto pra mim tanto quanto um cocô de tubarão.

  11. Nassif desde sempre eu afirmo, nossos liberais não são capitalistas, são escravagistas

    Nunca terão boa vontade com o quem não é escravagista

  12. Um governo que tem chamado só pessoas incompententes para todas as posições. Uns dinossauros com uma agenda de 1989 em pleno 2023. Um presidente beligerante, vingativo, cheio de ressentimento. E vocês querem que quem tem dinheiro poupado invista nessa situação? Está todo mundo parando tudo e logo logo começa as demissões. Prepara que vai ser grande a crise.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador