Um dos grandes dilemas da defesa da produção brasileira é o paradoxo da dupla escolha: se escolho defender o consumidor de insumos, mato o fornecedor; se escolho o fornecedor, mato o consumidor.
Não se trata de mero jogo de palavras.
Tome-se o caso da indústria siderúrgica e da indústria de máquinas. Hoje em dia, máquinas chinesas importados custam quase metade das máquinas nacionais. Um dos fatores centrais é o preço do aço.
Em 25 de janeiro de 2024, a diferença entre o preço do aço nacional e o aço chinês no Brasil é de cerca de 10%. A tonelada do aço nacional é negociada na faixa de US$ 825, enquanto o mesmo produto chinês no Brasil custa US$ 725.
A cada valorização do real o mercado comemora, comemora o governo, comemoram os investidores que trouxeram dólares. Antes, e choram os fabricantes nacionais, porque a diferença de preços aumenta.
A diferença de preços no aço da China é causada por diversos fatores, incluindo:
- Subsídios do governo chinês: O governo chinês é o controlador da maioria das siderúrgicas do país e determina a venda do aço nestas condições, em esforço anticíclico para manter a economia aquecida. É efeito da tal política indústrial velha, como a batizam nossos sábios que criticam a nova política industrial
- Sobreprodução: A China é o maior produtor de aço do mundo e, nos últimos anos, tem enfrentado um problema de sobreprodução, o que pressionou os preços para baixo. Em tempos mais racionais, seria mais que motivo para o Brasil impor tarifas protetivas.
- Práticas ESG: As siderúrgicas brasileiras têm adotado práticas ESG, com maior cuidado ambiental e de sustentabilidade na produção. Isso eleva os custos de produção, tornando o aço nacional mais caro.
Por outro lado, se taxar os produtos chineses, encarecerá imediatamente a produção de máquinas e equipamentos nacionais, aumentando a diferença com os produtos chineses importados. Salva a indústria siderúrgica e mata a de máquinas e equipamentos.
Outra saída seria taxar, também, as máquinas e equipamentos chineses, mas significaria aumentar o custo de aquisição de máquinas para todas as empresas brasileiras, gerando uma perda de competitividade sistêmica.
A propósito, a Tesla, ex-maior fabricante de carros elétricos, está pedindo proteção, nos EUA, em relação aos carros chineses. Qual a saída desse tríplice impasse? Criar subsídios para a indústria nacional, diriam os anacrônicos chineses, que preferiram ouvir Deng Xiaoping, em vez da Elena Landau; os atrasados norte-americanos, que trocaram os ensinamentos de Carlos Alberto Sardenberg por Alexander Hamilton, esses alemães que ousaram trocar Demétrio Magnolli por Bismarck; Elon Musk que não leu Elio Gaspari?
Restará aos nossos bravos ideólogos fazer a cabeça dos Marx. Não do Karl, mas do Chico, Harpo, Groucho, Gummo, Zeppo os verdadeiros precursores do modo de pensar moderno brasileiro contemporâneo.
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Há um bom tempo, colega projetista de estruturas metálicas industrias comentou: os chineses entregam a estrutura toda por quase a metade do preço. E se der problema, entregam outra. Como concorrer?