Stiglitz e a defesa da mídia alternativa, por Luís Nassif

Uma mídia controlada somente por algumas poucas empresas ou indivíduos abastados fará com que suas visões dominem o discurso nacional.

No seu livro “Povo, poder e lucro: capitalismo progressista para uma era de descontentamento”, o Prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, faz um apanhado precioso sobre os desacertos da ultrafinanceirização que, a partir dos anos 70, tirou a vitalidade da economia americana, reduziu expectativas de vida e fez com que a nação mais rica do planeta, deixasse de dar direito à saúde e à educação aos mais pobres.

Não se trata de uma obra acadêmica, mas de um livro de guerra, no qual explica de forma didática todos os instrumentos que permitiram a superexploração dos trabalhadores e da classe média pelas grandes corporações; como o conceito de concorrência foi deturpado. E como tudo isso levou ao aumento das disparidades de renda, à redução do dinamismo na economia.

Um dos pontos de discussão é sobre o papel da mídia.

Diz ele:

“As fusões na mídia (entre estações de televisão e jornais), levando ao acesso marcadamente reduzido a diferentes pontos de vista, foram permitidas apenas porque há competição no mercado “relevante” de publicidade.

Isso está errado. Em nenhuma arena a competição é mais importante que no mercado de ideias. Cidadãos bem-informados são essenciais para uma democracia funcional. Uma mídia controlada somente por algumas poucas empresas ou indivíduos abastados fará com que suas visões dominem o discurso nacional.

A competição faz diferença. Um jornal alternativo em uma cidade pode ajudar a supervisionar tanto o conselho municipal quanto o jornal dominante. Além disso, a mídia consolidada é facilmente capturada por indivíduos abastados. Portanto, fusões de empresas de mídia e abusos do poder de mercado devem ser regulados por padrões ainda mais elevados que em outros setores”.

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. É preciso ver as coisas como elas são, e não como deveriam ser. O simples fato de que a mídia alternativa (GGN entre elas) é veiculada através de plataformas pertencentes (ou que um dia pertencerão) a grandes corporações já define essa situação em que hoje vivemos. Somos, GGN e seus (hoje) pouquíssimos leitores e comentaristas, apenas e tão somente tolerados. O Capitalismo opera assim, buscando o monopólio de tudo, até do ar que se respira, e manipula tudo, absolutamente tudo, de dentro; até mesmo a veiculação de ideias contrárias a sua essência. Essa atitude, além de aparentar um verniz de democracia – dar abrigo a vozes discordantes – não passa daquele beijo que é a véspera do escarro, o preparativo para a implantação do pensamento único, mediante o descrédito da discordância, através da sua diluição. Antes, enchíamos os posts do GGN com 100, 150 comentários, debatíamos tudo; hoje, são 3, 4, 5 comentários, quando muito. O Capitalismo concentra e acumula – e não apenas renda. Não é de sua natureza a diversidade e a distribuição. Essa é, ou deveria ser, a natureza da Mídia; e é isso que estamos vendo acontecer? Estamos sendo estimulados a debater, a diversificar as ideias, as fontes de informação? Essa é mais uma daquelas matérias que dizem o que é preciso fazer, o que deve ser feito, imaginando-se assim que o fator ‘povo’ faz, de fato, parte da equação com os outros dois, ‘poder’ e ‘lucro’. Não faz. Noam Chomsky já demonstrou isso. Quando Marx pôs a nu o funcionamento do Capitalismo, a mais-valia (ou mais-valor) era a pedra-de-toque do Capitalismo, sua Pedra Filosofal, o revestimento social da exploração pura e simples. Fundamento conceitual e calcanhar de aquiles social, pois era incômodo assumir a exploração da força de trabalho como razão de ser. Pegava mal. Ora, a financeirização colocou a mais-valia para escanteio, tirou-a do centro do debate. Por assim dizer, terceirizou a exploração da força de trabalho. É claro que o ponto de partida de todo sistema de produção é o trabalho, mas a financeirização permitiu aos capitalistas tirarem a mão dessa situação vexatória. A receita financeira suplantou a receita operacional, e ainda que, em última análise, aquela ainda dependa desta, essa dependência deixou de ser a face visível do Capitalismo, que passou a ser uma espécie de sócio-oculto dessa exploração, deixando visível apenas a miséria e precariedade do trabalhador como responsabilidade do Estado. O trabalhador continua produzindo valor; mas não é mais a única fonte deste. O valor produzido pelo trabalhador hoje é uma prostituta controlada por um cafetão, o sistema financeiro. Não deve haver, neste mundo, coisa mais depravada do que gerar dinheiro (e com ele adquirir bens) a partir de papéis, de direito financeiro futuro, concentrar e acumular esse valor, e largar 99% da humanidade ao deus-dará. O Capitalismo hoje faz omelete sem ovos. Em breve não mais necessitará, em escala minimamente razoável, do trabalho humano. E a Mídia é um de seus moleques de recado. Amigos leitores do GGN, digam que estou errado. Encham esse post de comentários. Estamos sendo absorvidos por essa mídia monopolista, estamos sendo seduzidos por suas maravilhas. Estamos a caminho de um matadouro onde nossa capacidade de raciocínio crítico será dilacerada. E com ela, a nossa capacidade de nos indignar e reagir a esse estado de coisas.

  2. Caro Nassif, não li o texto, para não contaminar o que pensei só lendo o titulo, a credibilidade das mídias alternativas, passam pelas pautas de quem as consome e confiam nelas. Até agora não li uma matéria se quer sobre o problema das pessoas com mais de 60 anos, sem mercado de trabalho, que contribuíram e também não conseguem se aposentar, todos roubados nas reformas previdenciárias indecentes. Por quê a mídia alternativa se cala nesse massacre humanitário e moral?

  3. Jürgen Habermas estudou “nunca mais nazismo”. Uma de suas conclusões: mídia pública financiada com dinheiro público. Assim, se num dia traz um cara de direita, noutro dia de esquerda. Se um progressista, depois conservador. O debate de ideias e deixar o público fazer sua opinião.
    O “Instituto conhecimento liberta” do Eduardo moreira e jesse souza, com sua forma de financiamento, também é revolucionário

  4. Você disse quase tudo. Essa diluição da visão alternativa nada mais é que um permissivo para legitimação da visão dominante.
    Nos dias atuais, com excesso de informação, a maioria das pessoas não sabe escolher as fontes certas da informação (assim consideradas aquelas que potencialmente informam com autoridade e mais próximas à verdade do conteúdo proposto). Muita mídia fajuta sendo consumida, muitos livros ridículos sendo vendidos, e o pouco tempo que possuímos para nos ilustrar (se isso ainda existir!) sendo gasto com leituras inúteis e redes sociais. Quem hoje possui uma formação clássica? Quem lê os gregos, os latinos, os clássicos???
    E, sobre a mídia em termos locais, é preemente que a esquerda, ou sociedade civil progressista, ou um grande empresário visionário, financie um grupo de mídia realmente digno de tal adjetivo. Só vejo essa solução, em algo semelhante como os Moreira Sales bancam a “Piauí”.
    Também vejo o declínio dos comentaristas por aqui, e um dos motivos é a possibilidade de rastreamento, medo de comprometimento em concursos etc. Já ouvi de muitas pessoas recomendação para não postar nada em sites de esquerda!

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