Tratativas invisíveis de Eduardo Cunha na Câmara

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mesmo afastado, atua na Câmara dos Deputados “em benefício próprio”. Assim se pronunciou o presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar José Carlos Araújo (PR-BA), antes da leitura do relatório contra Cunha no processo de cassação.
 
Horas antes de receber em seu gabinete o relatório que Marcos Rogério (DEM-RO) iria ler, pedindo a cassação do mandato de Cunha, na sessão desta quarta (01), Araújo recebeu um aviso, em mais uma tentativa de pressão do ex-presidente da Câmara, ainda que teoricamente afastado das atividades legislativas. 
 
Da mesma forma como atuou sobre o interino Waldir Maranhão (PP-MA), que se viu pressionado a favorecer o peemedebista, uma vez que seu nome poderia ser o próximo da lista de cassações por relações em esquemas de corrupção investigados na Lava Jato, ganhando assim um aliado, a pressão contra Araújo foi “recordada” hoje.
 
Justo antes da leitura do parecer, a Corregedoria da Câmara “avisou” José Carlos Araújo (PR-BA) que ele é alvo de três representações no órgão – por suposto uso de laranja na aquisição de terras na Bahia, por compra de votos na eleição de 2014 e por calúnia de adversário político em programa de rádio baiano.
 
Pelas regras internas da Casa, membros do conselho de ética não podem responder a processos. Caso contrário, são automaticamente afastados de suas funções até o fim das investigações. 
 
As apurações estavam na Corregedoria há mais de um mês, mas a notificação chegou apenas agora, na fase de leitura do relatório de cassação e votos contra Cunha. O aviso foi ordenado pelo corregedor Carlos Manato, deputado do Solidariedade (SD) do Espírito Santo. Manato é aliado de Eduardo Cunha. E Araújo foi um dos 11 votos a favor da abertura de processo contra o peemedebista. 
 
Ao chegar o aviso em seu gabinete, Araújo denunciou: “É mais uma manobra para tentar me intimidar, me amedrontar. Não vão conseguir. Não me surpreenderia se outros membros do Conselho passassem pela mesma situação”.
 
Mas contrariando as declarações, José Araújo não escondeu sua preocupação com os rumos do processo contra o ex-presidente da Câmara. Imediatamente após receber o aviso, o deputado dirigiu-se ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. 
 
No encontro, expôs preocupação sobre a ação recente do aliado do peemedebista, o interino Waldir Maranhão. O deputado questionou à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) os ritos dos processos de cassação de deputados federais, em tentativa de estender mais uma mão para as manobras de Cunha.
 
Alertou a Janot sobre a ação, também de Maranhão, de limitar o processo contra o peemedebista à denúncia de que mentiu em CPI da Petrobras, sobre a existência de contas secretas no exterior, excluindo da investigação todos os autos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), de que Cunha seria beneficiário de corrupção. 
 
José Araújo contou, ainda, ao PGR, todas as formas de pressão feita por Cunha, ainda que não presente nas atividades da Câmara. “Questionei a ele tudo aquilo que eu considero manobra feita pelo deputado Eduardo Cunha e Janot ouviu pacientemente”, foi a resposta do parlamentar.
 
Para a estratégia de Cunha ser efetivada, basta o interino Waldir Maranhão (PP-MA) ou o também aliado e atual vice-presidente Fernando Giacobo (PR-PR) aprovarem um pedido de Carlos Marun, deputado peemedebista de confiança de Eduardo Cunha, que pede que novas investigações podem ser abertas com outras em andamento. Mais objetivamente, que José Carlos Araújo possa ser alvo, ao mesmo tempo em que corre o processo contra Cunha.
 
Se seguir as políticas internas da Câmara, após a notificação, Araújo será afastado do Conselho. Em seu lugar, entraria qualquer um dos seis suplentes de seu bloco que registrar presença nas sessões em que houver votações. Destes 6, apenas um é declaradamente contra Eduardo Cunha: o deputado Assis Carvalho (PT-PI). Os outros cinco são de partidos alvos fáceis de manobras do peemedebista (PP, PRB, PR e PROS). 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Até quando vaos ver esse

    Até quando vaos ver esse bandido agir impunemente. Porque a Lava a Jato até hoje não conduziu coercitivamente a mulher e a filha do Cunha para depor em Curitiba.

  2. Representante da plutocracia

    O capiroto do casco rachado que atende pela alcunha de Eduardo Cunha não pussui o estigma da origem pobre, nordestina; o par de cromossomos de sua determinação de gênero é o XY…. Por isso segue livre e impune gozando de regalias pagas com dinheiro público. Perfeito representante da Plutocracia.

  3. O juizeco Morinho é uma flor

    O juizeco Morinho é uma flor com o Cunha, nada de chamar a mulher e a filha para esclarescimentos na Torre de Londres de Curitiba.

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