Covid-19 – O sumiço das estatísticas nacionais: Inércia, má-fé ou excesso de ansiedade?, por Felipe Costa

Embora o argumento possa ser verdadeiro (apenas nove dos 27 estados mantinham a divulgação diária), a decisão final foi uma tolice

Covid-19 – O sumiço das estatísticas nacionais: Inércia, má-fé ou excesso de ansiedade?

Por Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia divulgadas em artigo anterior (aqui). Em escala nacional, a situação neste momento é desconhecida. O Ministério da Saúde suspendeu a divulgação diária das estatísticas. E a divulgação semanal ainda não decolou. Nos sítios do MS e do Conass, as estatísticas mais recentes foram divulgadas em 4/3. Máscaras e vacinas seguem sendo as melhores armas que nós temos para (i) impedir a ocorrência de surtos locais; e (ii) impedir o surgimento de novidades evolutivas que venha a promover uma nova e acentuada escalada dos números.

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1. ESTATÍSTICAS MUNDIAIS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES.

Levando em conta as estatísticas obtidas na tarde de ontem (13/3) [1], eis um resumo da situação mundial.

(A) – Em números absolutos, os 20 países mais afetados [2] estão a concentrar 74% dos casos (de um total de 676.609.955) e 68% das mortes (de um total de 6.881.955) [3].

(B) – Nesses 20 países, 486 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 96% dos casos. Em escala global, 655 milhões de indivíduos já receberam alta.

(C) – Olhando apenas para as estatísticas das últimas quatro semanas (= mês), eis um resumo da situação: (a) Em números absolutos, a lista segue a ser liderada pelos Estados Unidos, agora com 960 mil casos/mês; (b) Entre os cinco primeiros da lista, estão ainda o Japão (419 mil), Alemanha (355), Rússia (351) e Coreia do Sul (290); o Brasil (171 mil) segue na sétima colocação; e (c) A lista dos países com mais mortes segue a ser liderada pelos Estados Unidos (9,45 mil); em seguida aparecem Japão (2,8 mil), Alemanha (2,28), Brasil (1,6) e Itália (1,05). (Lembrando ainda que houve um recrudescimento na China, meses atrás: nas últimas quatro semanas, foram anotadas por lá 58 mortes.)

2. O EXECUTIVO FEDERAL NÃO PODE SE TORNAR REFÉM DE PREGUIÇOSOS.

Lamentei muito saber da decisão do Ministério da Saúde de suspender a divulgação diária das estatísticas (aqui). Embora o argumento possa ser verdadeiro (apenas nove dos 27 estados mantinham a divulgação diária), a decisão final foi uma tolice e pode vir a se revelar desastrosa. Veja: Sequer a prometida divulgação semanal decolou. Nos sítios do MS e do Conass, as estatísticas mais recentes foram divulgadas em 4/3. (Em minha opinião, apesar da cobertura bastante ruim por parte imprensa, ouso dizer que a opinião pública já havia entendido que as flutuações diárias nos números eram artificiais.)

Mentiras e mortes em série talvez sejam duas das maiores heranças deixadas pelo governo anterior (2019-2022). A população brasileira, no caso das mentiras, por exemplo, nunca antes havia sido exposta a doses tão elevadas. E mentiras absurdas, sem pé nem cabeça. Todo santo dia. Era algo pensado, planejado. Visava iludir e manipular, além de servir como uma espessa cortina de fumaça. (Funcionou – parte expressiva da população brasileira segue a se comportar como um exército de mortos-vivos.)

Não faltam problemas e armadilhas deixados pelo governo anterior. É compreensível. Afinal, até os últimos dias de 2022, cada ministério parecia estar tomado por uma quadrilha especializada em determinados tipos de crime (desvio de mercadoria, desmonte de carro roubado, assalto a banco, contrabando de joias, ocultação de cadáver, estupro etc.).

Os novos ocupantes dos ministérios ainda estão tomando pé da herança maldita que herdaram. Ainda assim, no entanto, o governo federal não deveria se render às chantagens de governos estaduais omissos e preguiçosos (e.g., MG, RJ e DF). Ocultar ou dificultar o acesso às estatísticas da pandemia, por exemplo, seria um erro grave e grosseiro. Mesmo que não haja inércia ou má-fé. (Como gentilmente me contou, dias atrás, ao falar sobre o novo governo, um colega que trabalha há muitos anos na Fiocruz, “Numa avaliação preliminar e descompromissada […], eu trocaria preguiça por ansiedade. É tanta vontade de fazer que, por ironia, o que precisa ser feito fica para trás”.)

3. CODA.

Enquanto isso, nós, o povo, devemos ter em mente o seguinte: Máscaras e vacinas seguem sendo as melhores armas que nós temos para (i) impedir a ocorrência de surtos locais; e (ii) impedir o surgimento de novidades evolutivas que venham a promover uma nova e repentina escalada dos números. (Lembrando que a vacina combate a doença, mas não impede o contágio. O que pode impedir o contágio é o uso correto de máscara facial.)

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço [email protected]. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Como comentei em ocasiões anteriores, as estatísticas de casos e de mortes estão a seguir o painel Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA), enquanto as de altas estão a seguir o painel Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em 11 grupos: (a) Entre 100 e 110 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 40 e 45 milhões – Índia; (c) Entre 35 e 40 milhões – França, Alemanha e Brasil; (d) Entre 30 e 35 milhões – Japão e Coreia do Sul; (e) Entre 25 e 30 milhões – Itália; (f) Entre 20 e 25 milhões – Reino Unido e Rússia; (g) Entre 15 e 20 milhões – Turquia (estatísticas congeladas); (h) Entre 12 e 15 milhões – Espanha; (i) Entre 10 e 12 milhões – Vietnã, Austrália e Argentina; (j) Entre 8 e 10 milhões – Taiwan e Países Baixos; e (k) Entre 6 e 8 milhões – Irã, México e Indonésia.

[3] Nessas estatísticas (casos e mortes) estão computados os números da China. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver os volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes.

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Redação

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