1964 tinha no início mais apoio do que 2016, por Rogério Maestri

por Rogério Maestri

Por mais incrível que possa parecer em 1964 a base do golpe tinha mais apoio do que em 2016.

Em 1964 lembro-me perfeitamente de uma cena que me marcou e que demonstra a diferença daquela data e dos dias atuais.

Como estávamos em plena guerra fria, onde havia uma dualidade entre Estados Unidos e União Soviética, para muitos brasileiros o golpe civil-militar parecia no início uma forma de livrar o Brasil de se tornar uma nova Cuba onde a propaganda intensa da imprensa da época descrevia enormes barbaridades do regime Castro.

Pois bem, morava eu há menos de 100 metros das  portas do palácio Piratini, a sede do governo do estado do Rio Grande do Sul, para ser mais exato, a minha residência era a residência particular mais próxima deste palácio, logo passar pela frente do mesmo era um imperativo normal que se fazia toda a vez que não se pegasse o Bonde linha Duque de Caxias para ir ao centro.

Poucos dias após o golpe e depois de retornarmos de nossa saída estratégica de casa para o interior, algo que era feito quando a situação política se agravava e naturalmente tornávamos alvo de possíveis bombardeios ao palácio Piratini (o que por pouco não havia ocorrido em 1961), presenciei uma cena que para os meus 11 anos da época gravou e que agora relato.

Estava saindo de casa (isto deve ter sido lá por maio ou junho de 1964) e nos dirigíamos numa direção que necessariamente passaríamos de fronte ao Palácio Piratini. Quase a frente da porta principal deste palácio, fomos retidos por uma meia dúzia de batedores da polícia militar do Rio Grande do Sul, a Brigada Militar, que fechavam a passagem num cordão de isolamento frouxo e com um mínimo de segurança. Esperamos um pouco e logo a uma distância de menos de dez metros passou o governador do estado e o General Castelo Branco, que no momento já era presidente da república. Alguns populares que estavam na mesma situação que nós, parrados esperando a passagem dos dignitários pouco dignos, aplaudiram e os outros simplesmente esperaram eles passar para continuar a sua vida.

Vejam, isto ocorreu em Porto Alegre, cidade que se notabilizou muitas vezes pela resistência a movimentos golpistas, mas o que queria chamar a atenção que nos primórdios do golpe civil-militar de 1964, um presidente golpista saia pela porta da frente do palácio, sem uma grande escolta e a preocupação com sua segurança era mínima.

Posso também relatar que já em 1966 quando ocorria uma visita do governo federal, ministros, por exemplo, eles já saíam de automóvel e não de a pé (a formulação “de a pé” é característica do português do século XVIII) uma saída lateral que foi devidamente ajustada para saídas de rápidas e incógnitas de figuras lá não muito populares.

Vejam a diferença, em 1964, um presidente golpista, num estado que tinha características de forte oposição podia atravessar a calçada para entrar no automóvel. Já em 2016 o interino golpista não sai em público em lugar nenhum.

Agora projetando um pouco, se em 1966 a popularidade dos golpistas já havia se deteriorado ao ponto de ser mudado todo o esquema de segurança, que ocorrerá aos golpistas de 2016 em 2018?

Redação

7 Comentários

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  1. Também há outra coisa a se

    Também há outra coisa a se levar em consideração: o golpe de 64 desembocou no período onde se iniciou o “milagre brasileiro”, mas o golpe de 16 desemboca diretamente numa enorme crise econômica. No mesmo dia e noite  em que se consumou o golpe de estado, as ruas foram tomadas por manifestações contra o golpista e a repressão já foi acionada.

  2. O Golpe está sendo BANCADO

    O Golpe está sendo BANCADO PELA MÍDIA…

    O antipetismo é de origem midiática que reverbera posições da elite atrasada!

    Em São Paulo está o polo mais forte com Rede Globo, Estadão e Folha…

    O resto Brasil é principalmente a Rede globo!

    O sucesso da mídia só se dará com sucesso do governo.

    O governo é uma coisa e a mídia é outra!

    O governo do PMDB é util para fazer  o trabalho sujo, pois o que querem é o psdb no alto!

    Precisam que o PMDB faça o trabalho sujo MAIS RÁPIDO POSSIVEL para que caindo o governo em popularidade e contando com a aversão da esquerda, possam via JUSTIÇA colocar um psdb no comando, provavelmente o aécio, SUPER DELATADO, mas é super protegido e suas falas traduzem isso – ele fala como se nada houvesse acontecido entre o fim das eleições e o 31 de agosto de 2016!

    Não há inocentes!

    Só que o PMdb tem o cunha e o cunha depois de stress todo, não passará o bastão assim tão fácil!

    E quem é rede globo para derrubar o cunha –  ele conhece todos os labirintos dentro da politica!

    Se o PMDB continuar, vai derrubar a mídia que está com a IMAGEM VINCULADA AO GOLPE!

    Então a partir do ano que vem, será a mídia que dependerá do governo!

    Para o PMDB se manter no poder haverão concessões que ora penderá para os empresários, ora para os trabalhadores!

    O Renan sabe fazer isso…

    O Brasil PATINARÁ ANOS e as coisas boas que teremos até a proxima década serão as obras lançadas pelo governo LULA E DILMA.

  3. Tudo depende do preço das

    Tudo depende do preço das commodities. Se por um desses desígnos divinos, Temer for agraciado com um ciclo de alta no preço das commodities que coloque o Brasil em trajetória de expansão, acho que pode haver uma reversão das expectativas negativas. Está certo que isso parece ser bem improvável agora, mas a princípio não dá para fazer uma comparação direta do pós 1964 com o pós 2016. São golpes diferentes dados por grupos que agem de maneira diferente em um país completamente diferentedo que era 50 anos antes.

    1. Concordo plenamente com a proposta de países diferentes.

      Em 1964 éramos ainda um país que tinha laços com o Brasil Rural, pois mesmo que naquela época estávamos ultrapassando a barreira dos 50% dos citadinos contava ainda nesta percentagem grande número de habitantes de pequenas cidades e muitos migrantes recentes que ainda guardavam o comportamento rural, logo o que determinava a forma de pensar era a mentalidade do homem do campo.

      Devido mesmo esta característica do homem do campo de sentir de perto o poder dos latifundiários esta mudança leva a uma mobilidade maior da opinião do povo brasileiro pois os vínculos com o grande capital, em 1964 com o capital nas mãos dos latifundiários e em 2016 sem mais estas amaras, muda por completo uma projeção do que pode ser o Brasil no futuro recente.

      Inclusive o governo ilegítimo deve estar num grande dilema, ou segue a velha política da época de Sarney e perde apoio de grande parte de sua atual base de sustentação ou segue um aprofundamento na política neoliberal e perde por completo o apoio do povo.

      O discurso anti-PT vai se esvaziar logo, pois eles mesmo criaram uma expectativa que a mera repressão de uma suposta mega-corrupção resolveria o problema, logo ao ver que esta repressão a corrupção deverá ser abrandada para não atingir a sua própria base aliada, não restará mais nada do que palavras e propaganda intensiva nos meios de comunicação da grande mídia.

      Quanto um aumento no preço das Commodities é algo que mesmo que o impossível ocorra e estas subam a preços exorbitantes (que é praticamente improvável de ocorrer), a vascularização destes recursos ao grande público, que só poderia ser feita com mais rapidez por ações governamentais, não vai ocorrer.

      Realmente a medida que a população for entendendo os motivos do golpe a resistência aumentará, e numa situação de coadjuvante os meios militares não entrarão somente na fase de repressão.

      Em resumo, com a modificação do país, e a modificação dos meios de informação, mais rápido deverá ser a queda de qualquer apoio a meio populares que acreditaram nas propagandas midiáticas.

      É notável que quando se percebe os discursos dos representantes mais atrasados da sociedade capitalista, como o Senador Caiado, o discurso do mesmo parece não convencer muito quem não é beneficiado pelo golpe. As forças populares que através dos partidos vinculados aos religiosos adventistas, a grande esperança dos golpistas, é mais volátil do que se pensa, estes grupos são tremendamente divididos e há uma espécie de luta pelo “mercado evangélico” que deixa de crescer no momento atual e a concorrência ficará mais clara a cada dia.

  4. Não sobrevirão dez anos!

    Sem fui da teoria que o golpe não vingava, a maioria pode dizer que estava errado, porém na realidade o golpe não vingou, o que ocorreu foi um pequeno refrigério para as esquerdas se reorganizarem para 2018.

    Se os golpistas tivessem um pouco de cabeça teriam alguns deles votado pelo não impeachment de Dilma, pois caberia a ela a difícil tarefa de vencer a crise internacional que não mostra sinais de recuperação, porém preferiram no meio desta crise assumir o poder por um período de dois anos, dois anos que na realidade é praticamente um ano e meio.

    Renan Calheiros num golpe magistral, inocentou Dilma do crime de responsabilidade, ficando claro que do Jurídico-Político o jurídico foi para o ralo e o político que preponderou.

    Qual o legado do Golpe? Esta é a grande questão que todos devem trabalhar, não foi provada a culpabilidade de Dilma e sua popularidade foi em parte retomada tornando-a para as eleitoras brasileiros um símbolo de todos os atos de misoginia e machismo que TODOS os HOMENS BRASILEIROS TEM EM MAIOR OU MENOR GRAU, quando coloco todos eu estou me incluindo (acho que num grau mínimo)

    Vários exemplos internacionais de presidentas, primeiro-ministros do sexo feminino foram derrubadas e levadas de novo ao poder, simplesmente porque a mera retirada do poder de uma presidenta ou primeiro-ministro não é suficiente para acabar com a vida política destas, e a volta muitas vezes é em grau de poder muito mais forte do que na primeira vez.

    O que se avizinha já no início do governo Temer é uma guerra de quadrilhas, que como acontece no tráfico de entorpecentes as vítimas mais numerosas são dentro dos bandos que tentam assumir a supremacia.

    O PSDB que poderia ser um elemento chave no atual governo, por ter um candidato já com a total perda de vitalidade (Aécio Neves) perdeu grande parte do seu protagonismo, o PMDB, dividido como sempre, começa o governo mostrando a sua divisão. Os partidos menores, que nas eleições passadas corriam por fora do grande embate, também perderão fôlego, por sua total incapacidade de promover pautas reais naquilo que o eleitor realmente quer, a economia.

    Devido a isto e a outros fatores, considero que o golpe não vingou, e neste ponto concordo com o ex-presidente do supremo, foi um impeachment TABAJARA.

    1. Não acho sua análise tão fora

      Não acho sua análise tão fora da realidade. Bom, um dia eles iriam ganhar novamente pelo voto, e aí, como é que ficaria? Fariam tudo o que querem fazer hoje de qualquer jeito. E fariam com a legitimidade das urnas e não teria como carimbar na testa deles “golpista”. Pode ser que no médio prazo tudo isso seja positivo. A postura da Dilma, não mexendo na Lava Jato, não fazendo acordos e conchavos, e saindo engrandecida como saiu (e, na outra ponta, com os golpistas desmoralizados), talvez seja mais importante para essa outra etapa. Isso pode servir como referência futura. Não podemos pensar só no hoje, pois o hoje é muito fugaz. 

    2. Rogério, este cenário que

      Rogério, este cenário que descreves é o que fará com que a marcha golpista em direção ao fascismo seja mais acelerada do que o golpe de 64. E próprio recrudescimento fascista acelerará o fim do golpe.

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