Brasil ano Zero: Ética Jesuíta x Lei de Gerson Evangélica, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Nossos antepassados não eram protestantes. O sucesso da conquista do Brasil se deveu principalmente à ética jesuíta. Para os jesuítas a expansão do cristianismo era um dever da Igreja Militante. A pobreza da qual os povos do Novo Mundo deveriam ser resgatados não era material e sim espiritual. Isto explica como o processo de apropriação da terra e de tudo que havia nela não acarretou melhorias significativas na sua situação econômica dos índios mansos à medida que a colônia portuguesa se expandia resgatando-os da barbárie. Os índios bravios foram simplesmente exterminados e descidos à força para o litoral.

A riqueza material acumulada pelos colonos ociosos que exploravam a terra e os índios mansos e amansados (e, depois, os negros trazidos da África) era tolerada pelos religiosos. Afinal, ela também era empregada no sustento da Igreja e na expansão da fé.

Esta combinação única de ócio bem remunerado e tolerado com fervor religioso expansionista parece explicar não só a conquista do território brasileiro, mas sua defesa contra os inimigos externos e internos. Digo isto pensando especificamente na guerra movida contra os invasores holandeses protestantes e nas ditaduras impostas ao Brasil em defesa da fé cristã supostamente contra o domínio do ateísmo comunista (o golpe de 1964 foi também um fenômeno religioso).

Em 2016, os congressistas ligados às Igrejas evangélicas invocaram deus ao votar no impedimento de Dilma Rousseff. Desde então eles apoiam Michel Temer, usurpador que se esforça para romper com uma lógica secular. A ética jesuíta está deixando de ser o fundamento da coesão social, do poder político e da preservação histórica do Brasil. Mas não podemos dizer que ela foi substituída pela ética protestante.

Max Weber creditou o sucesso dos EUA à ética protestante. Os protestantes acreditavam que a riqueza só é “…ruim, do ponto de vista ético, conforme seja uma tentação ao ócio e a fruição pecaminosa da vida, e a sua aquisição somente é ruim quando realizada como o último propósito, o de uma vida folgada e sem cuidados. Entretanto, enquanto realização de um dever em uma profissão, esta não é apenas moralmente permitida ma é, na verdade, ordenada. A parábola do servo que era rejeitado porque não aumentava as capacidades que lhe eram confiadas parece ser bem explicita. Desejar ser pobre era, e isso era frequentemente argumentado, semelhante a desejar não ser saudável; é censurável como uma glorificação do trabalho e aviltante para a glória de Deus. Especialmente a mendicância, da parte de alguém apto a trabalhar, não é apenas o pecado da preguiça mas uma violação do dever do amor fraterno que estava de acordo com as próprias palavras do apóstolo.” (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Max Weber, Martin Claret, 2013).

Os arquitetos evangélicos do golpe de 2016 não estão preocupados com o sucesso do Brasil. Se estivessem, eles não estariam entregando nossas riquezas minerais, petrolíferas e aquíferas aos estrangeiros. Também não estariam provocando a degradação da nossa economia para beneficiar meia dúzia de rentistas, que investem seus lucros financeiros nos EUA e não em nosso país. Eles interromperam os programas de modernização das forças armadas e desarmaram o Brasil para facilitar o trabalho de invasão colonial norte-americana.  

A ética que ameaça dominar o Brasil é a velha Lei de Gerson. Os evangélicos querem levar vantagem em tudo para desfrutar o melhor dos dois mundos: na condição de donos incontestáveis de um país continental eles almejam desfrutar o ócio e as benesses concedidas aqui e no estrangeiro pelos seus patrões norte-americanos. Isto explica porque Deltan Dellagnol atacou ferozmente o legado da ética jesuíta no Brasil e elogiou os EUA. Também explica o envolvimento de pastores evangélicos com o crime organizado.

O processo de degradação moral, política e social produzida pela Lei de Gerson Evangélica no Rio de Janeiro é o mesmo que vemos crescer como um câncer no México. Naquele país, oitenta por cento da população foi condenada à miséria e a conviver com a violência policial e criminosa associada ao tráfico de drogas para que vinte por cento dos mexicanos possam desfrutar um padrão de vida semelhante ao dos norte-americanos.

Do outro lado da fronteira, contudo, dezenas de milhões de norte-americanos são mexicanizados, ou seja, empobrecidos. Prova incontestável de que a Lei de Gerson Evangélica está substituindo a ética protestante até mesmo nos EUA.

Em seu novo livro, Jessé Souza sustenta que a escravidão e seu legado (a criação da ralé brasileira) são os fenômenos que distinguem o Brasil da Europa. Ele está parcialmente certo. Todavia, a tese dele não é capaz de explicar como e porque a ética jesuíta foi capaz de construir um país e a Lei de Gerson Evangélica está destruindo o que foi construído para empobrecer ainda mais os brasileiros para que alguns pastores espertalhões possam levar vantagem em tudo em razão da recolonização do Brasil pelos norte-americanos.

Fábio de Oliveira Ribeiro

10 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Excelente abordagem, uma

    Excelente abordagem, uma provocação a todos, especialmente aos poucos pensadores evangélicos, não mancumunados com essa horda neopentecostal.

  2. As religiões só trouxeram violência e atraso

    Quando ouço falar na igreja católica e, particularmente, em jesuíta, o que me vem à mente imediatamente é a Inquisição Espanhola.

  3. Não vejo a contradição religiosa denunciada no último parágrafo.

     Na minha visão poltica, O Brasil nunca deixou de ser colônia. A independência foi uma manobra para que continuássemos servos da mesma família real. A proclamação da República foi resultado da insatisfação de nossa classe dominante com a abolição da escravatura.

    A única coisa que mudou foi a matriz, que deixou de ser Portugal, passou a ser Inglaterra e, posteriormente Estados Unidos. Houve tentativas de formar um país com Getúlio Vargas e, posteriormente com Lula, mas nossa elite colonial lutou contra nossa emancipação. Em meio a todas essas lutas, encontramos no meio religioso pessoas que apóiam nossa emancipação e outras que apoiam nossa submissão, isso vale para católicos, protestantes, judeus, espíritas, budistas e todos os demais.

  4. A bancada evangélica na câmara dos deputados. . .

    A bancada evangélica na câmara dos deputados foi um dos pilares mais fortes do golpe do impeachment contra a presidenta Dilma perpetrado pelos seguidores de Aécio e pela banda podre do PMDB. Hoje esses políticos evangélicos se sentem no poder, mas acho isso péssimo para eles, pois a maioria dos evangélicos tradicionais (luteranos, batistas, presbiterianos) não concordam com esse governo golpista de Temer, devido a isso acredito que muitos deles terão dificuldades em se reeleger nas eleições de 2.018.

  5. Sem demonstração histórica!
    Quanto aos jesuítas o autor, apesar de ter citado Max Weber, não citou o livro ou livros da ética jesuítica. Não citou em províncias eles estiveram, em que quantidade e por qual tempo. É puro generalização! Desconhece a obra Os “negros da Terra”, e “Espelho Indio: a formação da alma brasileira “

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador