Cunha e a grande conspiração, por Hildegard Angel

Do Blog da Hildegard Angel

A Grande Conspiração

Corre nas redes sociais o vazamento de um áudio com vozes atribuídas aos deputados Marcos Feliciano e Jair Bolsonaro, quando, ainda em 2015, eles já estariam tramando, tendo como aliado Eduardo Cunha, o impeachment que hoje está sendo votado no Congresso. É impressionante. Uma aula de estratégia ardilosa, sem ética e qualquer tipo de consideração aos princípios democráticos do país e ao povo brasileiro. O áudio deveria, sim, ser imediatamente investigado, pois é caso de Estado Maior, Polícia Federal, Ministério Público, resultando até no cancelamento desse processo em curso, na hipótese de que tenha sido como parece, fruto de uma conspiração.

O áudio: http://fb.me/4Euq34qWU 

Afinal, somos um país de conspirações e conspiradores. Apesar de que se convencionou dizer que no Brasil não há conspirações. Estabeleceu-se como politicamente correto que as conspirações são alegações de ingênuos e tolos, quando, ao contrário, somos isto sim um país de cegos que se recusam a enxergar o óbvio e são induzidos a isso.

Duas vezes investigado o acidente em que morreu minha mãe, Zuzu Angel, por comissões criadas pelo Governo do Brasil, duas vezes ele foi confirmado como tendo sido um crime de assassinato, por agentes do Estado. A Comissão da Verdade , a mais recente, foi mais longe: o coronel Freddy Perdigão, fotografado no local, respondia diretamente ao gabinete do ditador Geisel,conforme depoimento de Claudio Guerra, agente do Dops.

Contudo, ainda hoje, grandes colunistas e órgãos de imprensa, mesmo os que deram cobertura aos resultados das comissões, ainda repetem, como um cacoete, que Zuzu “morreu em acidente obscuro de causas ainda não esclarecidas”. A verdade parece não interessar nem convencer ao establishment.

Mas o Brasil não acredita em conspirações. Assim como não acreditou quando, no crepúsculo dos governos militares, quando saíamos deles derrotados, acabrunhados, vencidos, a ponto de engolir a Anistia bi-lateral, também aceitamos a eleição indireta com a esdrúxula chapa Tancredo-Sarney, daí advindo a fatídica consequência, com Sarney, do partido que representava ainda a ditadura, assumindo o poder.

Como fruto do efeito Sarney emergiu um monstrengo cujos tentáculos açambarcam há décadas os cargos-chave em todos os níveis de governo no país, o PMDB, fazendo do honrado MDB de dr. Ulysses apenas uma sombra difusa do passado.

Mas, não, isso foi um acaso. Não vem ao caso.

Não, no Brasil não há conspiração, como não foi o Mensarão para desconstruir a mística heroica da brava gente brasileira de 68, de que tanto nos orgulhamos. Aqueles que, esfacelados no corpo, não estavam mais entre nós; aqueles que, dilacerados na alma, resistiram e retornaram oa país para cumprir seu projeto de um país mais justo.

Mas o Mentirão, mesmo condenando sem provas, mesmo condenando e depois descondenando, mesmo seu encapado mor se desencapando ao fim do processo para ir viver o far niente em praias internacionais, não foi uma conspiração, pois delas estamos imunes.

Sorte temos nós de não termos conspiradores e de ser por acaso que uma investigação em primeira instância hoje desconstrói a nossa economia. Demole a construção civil, empregadora de um milhão e meio de brasileiros – e parece que isso não vem ao caso, porque não se trata de uma conspiração.

Bem como não vem ao caso a empresa que significa 10% de nosso PIB ser sistematicamente perseguida, bombardeada pelos órgãos de comunicação, omitindo-se todas as suas novas conquistas e os méritos atuais,para se valorizar apenas erros e desvios anteriores.

Não vêm ao caso a soberania brasileira, os empregos, a perda de ativos que significa o desmonte de equipes técnicas e científicas construídas ao longo de décadas nos setores petrolífero, nuclear, de engenharia civil e pesada. Não, não vêm ao caso.

Conspira-se contra o Brasil? Não, isso não está posto em questão.

Na verdade, o que me parece, o que efetivamente não vem ao caso são as múltiplas conquistas sociais desta última década e meia em prol do Brasil e dos brasileiros.

Vêm ao caso os interesses de uma classe dominante inconformada por não se manter em completo controle de todas as situações de poder no Brasil, para delas obter absoluto proveito pessoal.

E assim tem sido desde o Brasil Colônia.

Sim, enfim vislumbramos a luz no fim do túnel. E o povo brasileiro desejará continuar a vê-la. Desta vez, isso virá ao caso.

Desta vez, não será fácil, mesmo com uma grande conspiração, tapar o sol com a peneira de trama cerrada, que pretende nos impedir, a nós, o povo, de enxergar um futuro luminoso.

E por isso estamos aqui. Para unir a nossa voz aos que clamam para que não haja golpe – porque o povo brasileiro há de continuar a querer ver a luz da JUSTIÇA SOCIAL.

Era ela que vinha no fim do túnel tão celebrado!

_____________________________________________________________________

Excetuando-se a gravação apresentada na abertura do post, o texto acima foi a palestra proferida pela jornalista e blogueira, esta semana, por ocasião da mesa de debates do Ciclo “Que país é este?”, cujo tema foi “A democracia e o sistema político no Brasil”, na Fundação Escola de Sociologia e Estudos Políticos de São Paulo. A mesa contou com a presença do jurista Fábio Konder Comparato, Magda Blavaschi, desembargadora aposentada e doutora pela Unicamp, Gilberto Carvalho, presidente do Conselho Nacional do Sesi.

Redação

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Como eu disse anteriormente.

    Como eu disse anteriormente. Vocês perderam a capacidade de enxergar o óbvio. E hoje acrescento que quando finalmente começam a perceber que algo está errado, vocês tentam olhar para o outro lado esperando que o problema desapareça.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador