“No futuro faltará água para o consumo”, alerta pesquisadora

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O alerta é de Sâmia Tauk-Tornisielo, em entrevista ao especial Água, matéria primeira

Professora Titular da Unesp e pesquisadora do Centro de Estudos Ambientais (CEA), Campus de Rio Claro, há mais de dez anos Sâmia Maria Tauk-Tornisielo dedica-se ao estudo da água e do meio ambiente. Desde 1990 ela coordena uma equipe que investiga a bacia do Rio Corumbataí (SP), com o apoio do Consórcio PCJ (bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí), dos Comitês das Bacias Hidrográficas do PCJ, SEMAE (Serviço Municipal de Águas e Esgotos de Piracicaba) e Unesp. Atualmente é membro da Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico do Consórcio Intermunicipal Bacias dos Rios PCJ. Ganhadora do Prêmio Jabuti 1992 com o Livro Análise Ambiente: uma visão multidisciplinar, Sâmia diz alertar para a possível falta de água desde 1990. Veja entrevista da especialista para o especialÁgua, matéria primeira, realizado pelo Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI_Unesp) para alertar sobre a escassez de água. O especial está disponível no endereço http://www.ippri.unesp.br/#!/agua-materia-prima-da-vida/

IPPRI_Unesp – O livro Bacia do Rio Corumbataí – aspectos socioeconômicos e ambientais, organizado pela senhora juntamente com o engenheiro José Carlos Esquierro, traz o resultado de uma investigação realizada naquela bacia sobre a qualidade da água, o solo e a intervenção do homem no meio. O que foi observado no estudo?

Sâmia – Este estudo iniciou-se em 1990 com um diagnóstico ambiental da bacia do rio Corumbataí, que nasce no município de Analândia e tem sua foz (deságua) no rio Piracicaba, no bairro Santa Terezinha, no município de Piracicaba. Este rio passa por oito municípios – Analândia, Corumbataí, Rio Claro, Itirapina, Ipeúna, Charqueada, Santa Gertrudes e Piracicaba – com a importante função de fornecer água para todos eles. O livro foi escrito por vários autores. Entre diversas constatações, podemos ressaltar que devido à falta de planejamento adequado e de tratamento dos efluentes, a ameaça de falta de água futuramente não pode ser descartada.

O aumento populacional na bacia do Rio Piracicaba é um efeito da transferência do desenvolvimento da região metropolitana para o interior. E os municípios da bacia do Corumbataí não estão imunes a esse processo, pois recebem os impactos da pressão populacional na qualidade de suas águas.

IPPRI_Unesp – Quais são as consequências desse impacto para os rios?

Sâmia – São a poluição, a carga orgânica gerada pelo esgoto doméstico e industrial, de agroquímicos resultantes das atividades agrícolas, além do assoreamento. Foram obtidos diferentes resultados quanto aos fatores químicos, físicos, físico-químicos e biológicos, evidenciando a ocorrência de uma deterioração gradativa quanto à qualidade e quantidade das águas na bacia, a importância da cobertura vegetal, o descaso com a conservação ambiental, a falta de educação ambiental entre outros aspectos. Além destes itens, coloca-se aqui o aumento gradativo de sais, cafeína, bifenol e hormônios nas águas dos rios e que não são retirados com o tratamento usual das Estações de Tratamento de Água (ETAs). No final, alertamos para a necessidade da mitigação dos impactos ambientais, sociais e econômicos.

IPPRI_Unesp – Desde que o livro foi publicado, em 2008, alguma coisa mudou na região estudada?

Sâmia  Os estudos continuam nos afluentes do rio Corumbataí, como os rios Passa Cinco, Cabeça, Ribeirão Claro e os córregos situados na área urbana do município de Rio Claro. Todos eles demonstrando a degradação ambiental e o descaso com os mesmos devido à falta da mata ciliar, mau uso e ocupação do solo, utilização desses corpos de água superficiais para descartes de diferentes tipos de lixos e efluentes, destruição das nascentes, inclusive pela ação imobiliária na área urbana e monoculturas nas áreas rurais. Alguma melhoria na qualidade do Ribeirão Claro está sendo constatada com a coleta de esgoto ao longo desse rio e a instalação da Estação de Tratamento de Esgoto no bairro Conduta, município de Rio Claro.

IPPRI_Unesp – Especialistas dizem haver desperdício de água no Brasil, seja em âmbito doméstico ou de governo. Em sua opinião, o que precisa ser feito?

Sâmia – Programar ações nas prefeituras. Elas são responsáveis pelo uso e ocupação do solo do município. Entre as ações, diminuir a perda da água tratada com a substituição da tubulação antiga, melhoria das condições do saneamento básico, cuidados com as nascentes para conservá-las, controlar melhor o descarte de lixos nos córregos, rios e riachos, entre outras. A população vem demonstrando um descaso acentuado quanto à higiene, limpeza e outras atividades diárias. Muitos são os avisos, pedidos e ensinamentos, mas a maioria permanece omissa resultando em perda de água tratada, aumento de doenças, como o caso da dengue. Orientação e ensino têm estado presentes, agora está na hora do alerta e multas pesadas, pois estas últimas são o que funcionam, “pesa no bolso”.

IPPRI_Unesp – Se não houver mudanças, poderá faltar água no futuro?

Sâmia – Embora existam controvérsias científicas, até este momento, os estudos realizados em rios, riachos, pesque-pague e reservatórios pela minha equipe demonstraram e demonstram que haverá falta de água para o consumo. A falta de água não depende somente da intensidade de chuvas, mas também nos fatores abordados nas respostas anteriores. Desde a década de 1990 alertamos para este fato e não houve aceitação, ao contrário, houve zombarias e descréditos.

IPPRI_Unesp – Como acredita ser possível conscientizar para a preservação das fontes de água?

Sâmia – Melhores ações nas escolas, estímulo à formação de grupos e associações de bairro para a cobrança de atuação pública e envolvimento nos vários setores da comunidade; aumento do número de fiscais (podendo credenciar cidadãos para esta tarefa). Maior e melhor desempenho político.

Acesse o conteúdo do livro Bacia do Rio Corumbataí – aspectos socioeconômicos e ambientais em: 
http://pt.calameo.com/read/000363365a6aa3082a5da

 

Lourdes Nassif

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