Pedro Corrêa expõe corrupção em estatais desde 1978

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Pedro Corrêa, ex-deputado federal do PP de Pernambuco, preso na 11ª fase da Operação Lava Jato, em abril de 2015, e condenado por Sergio Moro por receber R$ 11,7 milhões de propina com 72 crimes de corrupção passiva e 328 operações de lavagem de dinheiro na Petrobras, afirmou em delação premiada que o esquema existe pelo menos desde 1978.
 
“Durante todos os seus mandatos de deputado federal, atuou através de expedientes ilícitos, para indicar pessoas a cargos no governo federal de forma a atender aos interesses de empresários e setores relacionados aos cargos, a fim de ser recompensado por propinas pagas pelos empresários beneficiados. Atuou desta forma desde o governo do General Figueiredo (último presidente do regime militar, 1979 a 1985)”, publica o relatório da equipe da Lava Jato no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF).
 
As informações são de reportagem do Estado de S. Paulo. O jornal afirma que o acordo de delação, negociado há quase um ano, desde que foi preso na fase da Lava Jato, foi a única saída para o ex-deputado, condenado no Mensalão, antes da condenação de Moro, já cumprindo pena na penitenciária de Canhotinho, em Pernambuco. “Aos 68 anos de idade, diabético e hipertenso, o ex-deputado não teve alternativa”, escreve a reportagem. 
 
A promessa é de que a delação de Corrêa passaria “a República a limpo”, havia adiantado seu primo e advogado Clóvis Corrêa Filho, que teria orientado o ex-político a fazer a delação. O resultado das informações prestadas é recente. Corrêa contrariou o foco dado pela equipe da Lava Jato em governos petistas e revelou que a prática é mais antiga que a própria redemocratização do Brasil. 
 
“Os valores (de propina) arrecadados eram utilizados para manutenção do poderio do partido, em nível federal, estadual e municipal. A arrecadação beneficiava, inclusive, deputados estaduais, prefeitos e vereadores. O objetivo maior era manter os mandatos e o poder”, disse o delator à Procuradoria-Geral da República.
 
“Os indicados pelos partidos eram responsáveis por conseguir a propina dos empresários e repassar aos parlamentares”, completou, na indicação sistêmica dos crimes, já considerados práticas comuns nas estatais. Corrêa confessou que nos sete mandatos como deputado federal, desde 1978, pelo extinto Arena, a “regra geral” era indicar pessoas a cargos no governo federal para negociar interesses de empresários e ser, assim, “recompensado” com propinas. 
 
As negociações que transformavam órgãos públicos em “balcões de negócios” angariavam fundos para os partidos e campanhas diversos, revelou. Durante o governo do ditador Figueiredo, por exemplo, Corrêa disse que indicou o Superintendente do extinto INAMPS, vinculado ao Ministério da Saúde, controlando o setor público e privado em Pernambuco.
 
“Entre as inúmeras indicações que fez (enquanto integrante do PP) para fins ilícitos, nos mais variados governos, pode apontar, exemplificativamente, as seguintes: INAMPS, Ministério da Indústria e Comércio, IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), ANVISA, DENATRAN, Ministério das Cidades, Ministério do Trabalho, Ministério da Agricultura, Ministério da Previdência Social, TBG (Transporte Brasil-Bolívia de Gás), Ministério da Saúde (Secretaria de Assuntos Estratégicos), Diretoria de Abastecimento da Petrobras, BNB, CEME, SUDENE, CEF, entre outras”, diz o relatório dos investigadores.
 
“Regra geral, as ilicitudes consistiam no seguinte: Determinadas pessoas eram indicadas, estrategicamente, para altos cargos nos Ministérios, Secretarias, Empresas Públicas, Autarquias, a fim de, ao atender o interesse de empresários, possibilitar a arrecadação de propina destinada ao partido e seus integrantes, viabilizando assim a manutenção do poder nas mais diversas esferas”, publica o resumo da delação.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. Oh, que surpresa!

    E eu que pensava que o PT havia inventado a corrupção no Brasil!

    Mas… não. O PT inventou coisa muito pior: reduzir pelo menos um pouco a abjeta iniquidade social brasileira. Corromper a Hierarquia Segregadora Excludente, derivada da escravidão, e atribuir cidadania aos subalternos; que horror!

    Salvem-nos São Moro e São Janot!

    Chamem os milicos!

     

    1. O PT não inventou a corrupção, mas…

      Não foi o PT que inventou a corrupção, mas foi o PT que inventou o combate á corrupção, primeiro com seu inovador discurso em prol da ética na política, e depois, quando chegou ao poder, com o suprimento de recursos à Polícia Federal e a nomeação de juízes isentos ao STF (JB foi nomeado pelo PT, lembram?)

      Como e porque o PT tornou-se vítima de seu próprio invento, é questão que ainda não está bem explicada e por certo levará ainda algum tempo para ser adequadamente analisada. O fato é que o PT, ao mesmo tempo em que montou o combate à corrupção, começou a roubar como se não houvesse amanhã. Talvez apostasse na tradicional leniência do eleitorado de baixa renda para com a corrupção, contando que a prosperidade dos primeiros anos ia durar para sempre. O brasileiro tolera o rouba-mas-faz. O problema é que não tolera o rouba-e-não-faz.

      1. Roubar como se não houvesse amanhã?

        Quem? Dilma não embolsou um centavo. Lula, estão tentando achar grana que ele teria embolsado, em vão. Vaccari? Não tem onde cair morto. Dirceu? Carta fora do baralho desde o julgamento do Mensalão… Só se você estiver pensando no Delcídio. Mas esse nunca chegou a ser um quadro orgânico do PT… 

  2. Caráter.

    Isso só mostra a falta de caráter de uma boa parte de nossa população, sempre houve corrupção no páis desde Cabral, mas o discurso era que só começou no governo do PT.

    Essas pessoas sabiam disso e sabem que os políticos que apoiam também estão envolvidos em esquemas de corrupção, mas nunca admitem.

     

  3.  
    Os intestinos da política

     

    Os intestinos da política estão expostos à luz do dia, às vistas de todos.

    Nada vai mudar,  enquanto a massa permanecer ignara.

     

     

    1. O PROBLEMA NÃO É A MASSA

      O PROBLEMA NÃO É A MASSA IGNARA. AS SAÚVAS QUE CORROEM O PAÍS, DESDE SEMPRE, SÃO LAUREADAS COM DIPLOMAS DE DOUTORES NAS MELHORES UNIVERSIDADES.

  4. Pedro Corrêa sai da narrativa

    Pedro Corrêa sai da narrativa oficial iniciada pela globo-lava jato e desponta com uma anamnese mais profícua para diagnosticar o vício profundo do patrimonialismo nunca encarado de fato pelo poder no Brasil. Claro que ele fala a partir do momento em que participa dos assuntos de Estado. O que já é um dado real para lidar com o mal entranhado desde que o paciente existe oficialmente, então é possível elaborar teses realistas sobre os métodos anteriores até os atuais. Não sei onde exatamente nasceu a história da narrativa da corrupção tão bem explorada em situações diversas na história do Brasil, lembramos a fase dos pós-guerras, o cenário da guerra fria, a Igreja e os movimentos anticomunistas, a queda do Muro de Berlim e a Perestroika, com o fim da União Soviética etc. Mas tem uma novidade no cenário. Até pouco tempo atrás, era difícil desmontar as teses principais utilizadas num golpe ou numa mudança drástica do poder geo-econômico mundial. Eram necessários 50 anos para que os cofres dos arquivos históricos fossem liberados pelo poder central de cada bloco. E tem um sentido maior na rapidez com que as versões são vazadas no momento. Aqui no Brasil e em parte da AL sabemos porque o golpe ou os golpes foram dados, sabemos a quem interessa, mas não sabemos o que exatamente virá depois. Só o caos? Mas não era o dinheiro e a especulação que era importante? Ou os recursos naturais? Ou o trabalho escravo ou semi-escravo? Pra quê, então, o caos promovido? Ouso pensar que é a queda da instituição República como conhecemos até hoje. Não conhecemos, no entanto, nenhuma formulação teórica do que irá substituí-la. Nenhuma filosofia, nenhum embasamento jurídico que a sustente. Aliás, o que está em profunda decadência é a ordem jurídica. No mundo todo. Não se iludam.

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