Por Rui Daher
Primeiro de Maio: 1964, 1983,1985, 2016
Em 1º de maio de 1964, um mês depois do golpe civil-militar que derrubou João Goulart e implantou a ditadura no Brasil, manchete da Folha de São Paulo dizia: “Greve: o governo quer urgente regulamentação”. No 1º Caderno, notícias da comemoração da data no exterior e um editorial pedindo ao presidente Castelo Branco pacificar o País.
A “Campanha da Fé” tinha como slogan “O Brasil vai ganhar a paz: confie, trabalhe e produza”. Clássico do acordo secular de elites, restringir o direito dos trabalhadores e pedir-lhes que confiem e entreguem mais valia para o lucro.
Un giorno prima del 1° maggio del 1983, io, mia moglie e una coppia di cugini, di recente laurea da FAU/USP, erano a Napoli, dove la nostra piccola Fiat è stata attaccata da ragazzi su uno scooter. Riportiamo alla stazione di polizia. I carabineri de la Questura si mise a ridere di noi e ha detto di andare in albergo. Il giorno dopo, le bandiere rosse punteggiato la città. Ci uniamo alla folla. Sciopero! Avanti popolo!
Antes havíamos passado em Paris. Sonhava visitar o Instituto Léon Trotsky e lá comprar os Cahiers, editados em 1978 pela EDI (Etudes et Documentation Internationales), com sede por muitos anos no 88, Rue Saint Denis. Deixei o pequeno prédio de três andares emocionado, com os 14 volumes de “Oeuvres”. Cléo reclamava do peso que seria na mala e do medo de sermos presos ao entrar no Brasil.
Ils sont encore dans ma bibliothèque, étaient mes moyens de résister et d’apprendre.
São Paulo, 1º de maio de 1985, militares já desembarcados do poder. A mesma Folha publicava: “Mínimo dobra; vai a Cr$ 333.120” e “Sarney quer pacto pela democracia”. No editorial, “Greve e Cidadania”. Saíamos de 21 anos de ditadura atrás de pactos.
1º de maio de 2016: “Tchau querida … Democracia”. Mais uma vez.
Recebo uma ligação: Signori, ecco la Questura di Napoli. Parla carabinieri Pino, ricordi? Oggi è Primo Maggio, viva Brasile, 33 anni fa, l’età di Cristo”.
Desde que o ativismo pelo impeachment de Dilma Rousseff enganchou na operação Lava Jato, tive a impressão de que, finalmente, a democracia tinha levantado a bola para o golpe chutar. O fato de a presidente ser uma mulher honesta e lutadora, mesmo em economia capenga há três anos e de costas para os movimentos sociais, fazia difícil constituir motivo para afastamento. Faltava o pelo na casca do ovo.
Coube ao PT e grande parte das esquerdas realizar a mágica. Entregou-se o fácil e se fez piores as consequências. Em firulas e embaixadas deixamos entrever que uma pequena melhora na economia sob Dilma elegeria Lula em 2018, confirmando 20 anos de hegemonia petista. Ao mesmo tempo, no estádio Contas da União de Brasília, jogavam as seções Contábil e Fiscal. O lateral-esquerdo Arno Augustin arriscou uma pedalada dentro da grande área, perdeu a bola, puxou o pescoço do centroavante, cometeu pênalti, foi expulso e cuspiu no juiz.
A ficha do Dragão da Maldade caiu. Viu ser urgente repor o acordo secular de elites. Pouco criativos, cogitaram o clássico dos golpes latino-americanos. “Abacaxi? Não gosto”, responderam as casernas. Correram, então, aos demais podres poderes: legislativo, judiciário, midiático e dos patos amarelos.
Assim, fora das regras que em 1988 constituíram a competição, o que parecia impossível aconteceu: ficaram com a taça.
Do lado de fora do estádio, 54 milhões de torcedores brasileiros assistiam estupefatos. No planeta, uns riam outros se espantavam: “mas não se tratava de uma democracia estável”?
Se os caríssimos leitores e leitoras pensam estar aí a desesperança, sobretudo para seus filhos e netos, condenados à infelicidade social ao seu redor, independente do que venham a herdar, estudar ou enriquecer, desculpem-me a expressão chula, mas o buraco é muito mais embaixo.
São cada vez mais numerosos e evidentes, em estudos, estatísticas e indicadores, os sinais de que o atual ciclo neoliberal do capitalismo se esgota e tem horizonte insustentável, pois amplia a pobreza ao assassinar trabalho e produção. O novo velho governo que virá é adepto fervoroso desse modelo.
A transformação necessária é de tal intensidade que precisaria de algo impossível hoje, ações sociais descompromissadas com a concentração de renda. Vale dizer tributação maior sobre quem pode. Esqueçam, pois.
A polarização entre a soma de patrimônios e ganhos financeiros contra a crescente pauperização ganha contornos abissais. Qual será a extensão desse horizonte se não um individualismo restrito a umbigos de status e ambições?
Filhos e netos precisarão fundar outro planeta econômico. A minha geração e as passadas falharam. O primeiro de maio é apenas mais uma data. Como o Dia da Sogra.
Nota: não considerem o fato de alguns trechos do texto estarem em porco italiano e parco francês como frescura. Foi apenas saudade de longínquas e reais histórias.
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oi,
destabulou o texto no início.
Obrigado, Frederico
acho que já deram uma ajeitada. O analfabeto digital aqui que errou e não sabia corrigir. Abraço
Bolsonaro (na falta de um
Bolsonaro (na falta de um Hitler) vem aí!
Muito burro, Bispo
O Hitler, apesar de ser do mal, era inteligente. “Minha Luta” é um grande livro. Bolsonaro é uma toupeira que só ajuda a esquerda com seus absurdos. Abraço
Alguns Mandantes locais do golpe planejado pelo NSA
Cunha
Temer
Paulinho da força
Bolsonaro
Maluf
Aécio
FHC
Serra
Geraldo
Dória
Romero
Padilha
Moreira Franco
Marinhos
Sayads
Skafs
Setubals
E quadrilhas
E esses?
Sérgio
Gilmar
Celso
Renan
Silas
Feliciano
Macedo
Maçonaria
Agripino
Caiado
etcétera
Jonas,
minha munição acabou. Deixo esses por tua conta. Não, não, o Caiado é meu. Vou de estrangulamento. Abraço,
Faltam muitos,
mas os por você selecionados já servem para alegrar a minha AK-47. Abraço
da memória e da
da memória e da contextualização da política mundial
pintou um excelente texto do que virá por aí…
mas a nossa geração não é fracassada…
vencemos o medo por um período bastante longo na história cheia
de golpes e de reduzida duração democrática…
há um legado, o o qual, espero, se transforme em
resistencia a essa infamia golpista..
É Altamiro,
ainda bem que seus comentários sempre me animam. Ando meio pra baixo. Abraço
Bella, ciao!
Que diremos daqui ha alguns anos desse 1° de Maio? Reminiscências de uma luta desesperadora para impedir o Brasil de adentrar ao obscurantismo politico e econômico?
E com a ponte para o escuro confirmada, nos restara dizer que la resistenza continua!
Resistenza sempre,
Maria Luisa, siamo di fronte a un episodio di stupidità di destra. Pleonasmo?