Um Fahrenheit 451 encenado por juízes, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Um Fahrenheit 451 encenado por juízes 171, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A manutenção do Museu Nacional custava o equivalente à despesa com um Ministro do STF. O Estado brasileiro, que sempre tem dinheiro para custear os lanchinhos sofisticados dos juízes e para comprar carros oficiais de luxo para Desembargadores e Ministros de Tribunais, não foi capaz de evitar o desastre.  O acervo destruído no incêndio de 02/09/2018 é inestimável. Milhares de peças e documentos consumidos pelo fogo eram originais e únicos e não podem, portanto, ser recuperados.

Quantos museus poderiam ser construídos e mantidos com o dinheiro que o Estado deixou de arrecadar em virtude do perdão fiscal dado por Michel Temer aos banqueiros, barões da midia e ruralistas? Os empresários beneficiados pelo golpe de 2016 costumavam visitar o Museu Nacional? Algum jornalista será capaz de explicar porque o mercado não fez aquilo que o Estado deixou de fazer?

É um erro, contudo, culpar a austeridade neoliberal do usurpador Michel Temer. Afinal, ele apenas forneceu o Coquetel Molotov Fiscal para queimar o Museu Nacional. Mas foram os juízes gananciosos que arremessaram ele em chamas contra a instituição indefesa e não defendida pelo MPF e MP/RJ. 

Carmem Lúcia disse certa feita “Nossas instituições estão funcionando…”. É verdade, mas ela só esqueceu de dizer o principal. O Judiciário e o MP funcionam exatamente como no filme Fahrenheit 451:

https://www.youtube.com/watch?v=jgbkH7Ycqe0]

Nenhum Ministro do STF ou Desembargador do TJ/RJ veio a público para lamentar o que ocorreu. Eles estão todos satisfeitos. Os juízes, contudo, não estão nenhum pouco preocupados com o que ocorreu. Os salários, penduricalhos e privilégios medievais deles estão garantidos. E se depender deles até mesmo os Tribunais podem ser incendiados pela austeridade neoliberal.

A esperança política foi assassinada. A memória do país está sendo morta aos poucos. Em São Paulo, sob o governo de Geraldo Alckmin, várias instituições foram consumidas pelas chamas: Museu da Língua Portuguesa, Liceu de Artes e Ofícios, Instituto Butantã, para citar apenas os casos mais graves. Não por acaso há uma grande proximidade entre Michel Temer e Geraldo Alckmin. Ambos são incendiários.   

Um conhecido indiano (pseudônimo Jihadi Colin) me enviou uma mensagem pelo WhatsApp perguntando o que ocorreu. Quando lhe contei a amplitude da tragédia e suas causas remotas e próximas ele ficou chocado. Mas ele também recordou algo importante: o Taj Mahal também está indo para o inferno. Segundo ele, os governantes da Índia preferem gastar dinheiro viajando pelo mundo.

O que ocorreu no Rio de Janeiro em 02/09/2018 não é um caso isolado. Tampouco um fenômeno especificamente brasileiro. O mesmo problema que assola nosso país (neoliberalismo e descaso governamental/judicial com o patrimônio histórico) pode ser visto do outro lado do mundo. A civilização está afundando na barbárie. Isso explica também o fenômeno Jair Bolsonaro. Se for eleito ele incendiará ou privatizará (o que dá no mesmo) várias outras instituições.

Museu Nacional – Expedições (28/02/2012). Devorado pelas chamas do golpe de estado “com o STF com tudo”.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=2EtPI32BWO0

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

1 Comentário

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  1. Assino embaixo o post. O

    Assino embaixo o post. O mundo caminha, de fato, para a barbárie. A aliança do sistema financeiro, jurídico e midiático, sob a guarda do poder militar, está levando a humanidade à beira do abismo.  Ainda não está claro se haverá uma força em sentido contrário que impeça essa marcha para as trevas. Há décadas que a cultura vem sendo incinerada pelo mercado, o que resta são mercadorias fantasmagóricas da cultura.

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