Boaventura e os justiceiros da legalidade, por Luís Nassif

Um dos maiores pensadores da atualidade pagou definitivamente por seus erros, vendo 60 anos do melhor trabalho intelectual comprometido

Quando cheguei a São Paulo, na loucura do trânsito dos anos 70, conheci um tipo de linchador, o justiceiro, aquele que, se vendo dono da razão, não se importa com as consequências de seus atos sobre os infratores. Se o pedestre atravessar um sinal vermelho, passará por cima. Qualquer erro, qualquer pecado, pena máxima.

Aliás, dia desses houve o caso do motorista de aplicativo que atropelou um transeunte. Saiu em pânico do carro, até descobrir que a vítima era um ladrão que acabara de furtar um celular. A partir daí, o atropelador tornou-se vitorioso, celebrando a morte da vítima e ironizando a tragédia, fazendo L para os defensores de direitos humanos.

É o mesmo sentimento que acomete os linchadores de redes sociais, os promotores de cancelamentos.

Fui vítima do primeiro movimento de cancelamento logo após as eleições de 2010. Foi um ano terrível, com meia dúzia de escoteiros enfrentando o exército profissional de José Serra. Levava tiros pela frente e facadas por trás, da EBC e da Secom. 

Estava indo a Atibaia, para uma palestra na ONG de uma jogadora de vôlei, quando me ligaram da redação, perguntando se poderiam publicar um comentário de um dos posts, que mencionava a palavra “feminazi”. Nunca tinha ouvido o termo. Achei que fosse apenas mais uma das muitas expressões que pululavam na neo língua das redes sociais. Autorizei a publicação. Em pouco tempo, passei a ser atropelado pelos justiceiros. Como tinha permitido o uso daquele termo? De nada adiantou explicar que eu não tinha a menor ideia sobre o sentido da palavra. “Todo mundo” conhecia o termo, me diziam. 

Foi uma semana de pancadaria no Twitter e inúmeros cancelamentos de pessoas que, teoricamente, estavam no mesmo campo político. Ainda não existia o comando “bloquear” para dar um descanso.

A líder do movimento continuou comandando cancelamentos variados, até o dia em que mexeu com pessoas desequilibradas, de outro campo político, os verdadeiros inimigos, não construções retóricas para exercitar sua agressividade, e passou a sofrer ameaças físicas.

A virulência dos novos movimentos

Mesmo assim, entendi que se tratava de uma ação compreensível em todo grupo que necessita de afirmar nos primeiros movimentos do jogo político.

Lembrei do comportamento dos primeiros sindicalistas da CUT, os discursos incendiários de Lula, até o momento em que se inserem no jogo político, ganham seu espaço, e passam a substituir a virulência pelas ideias e pela negociação. Não há mais a necessidade de ganhar espaço no grito..

Ocorreu o mesmo com o movimento negro, com os LBGTI+, MST e tantos outros que ajudaram a colorir o quadro político brasileiro, com uma vitalidade que havia desaparecido da política tradicional. Ou seja, a agressividade inicial é sinal de emponderamento, de descobrir o próprio poder, de jogar fora séculos de submissão.

Já o fascínio pela agressividade prosseguiu, e nos ambientes mais inesperados. É um vício. Tempos atrás saí de um grupo que reunia advogados, jornalistas, defensores de direitos humanos, depois que uma advogada da Bahia, do nada, ameaçou me denunciar às feministas por não convidar advogadas mulheres para o TV GGN Justiça. São convidadas, mas não na mesma proporção dos homens.

Uma conversa civilizada, uma dica, me alertaria para preservar o equilíbrio dos convidados. Mas ela queria um álibi, um motivo para se apresentar ao grupo. Apossou-se da ira santa do atropelador e passou a atropelar o macho branco. 

É por aí que se entende a agressividade fora de lugar. Na quadra atual, para se considerar incluída no grupo das feministas, ou ser identificada como tal, a senha é a retórica de guerra contra o “macho branco”, de preferência do mesmo campo político, mais suscetível de ser afetado.

É um cerimonial curioso, da mesma natureza de outros grupos, que se valem de senhas, saudações, gritos de guerra, tatuagens, colagens, ataques a torcidas adversárias para firmar sua identidade.

Entre alguns grupos de feministas, a senha é a palavra virulenta, seja qual for a circunstância. E, com todo respeito, isso não é bom para a causa. Não há nada mais legitimador do que a reação indignada de uma mulher contra um abuso ostensivo; e nada mais comprometedor do que o exercício permanente da indignação ou, pior, o linchamento.

O caso Boaventura

Dou essa volta toda para falar do caso Boaventura de Souza Santos. Publiquei no GGN o artigo que ele enviou, de autocrítica sobre sua herança machista. Um dos maiores pensadores progressistas do planeta, com vasta obra em defesa dos vulneráveis, reconhece que não se livrou da herança machista ocidental, errou e pede desculpas. Não ataca as acusadoras, não procura justificar seus atos. Apenas, humildemente, pede desculpas.

No Twitter em que divulguei o artigo, havia dois comentários de uma mesma pessoa:

Nem mesmo ‘antigamente’ esses comportamentos eram apropriados. Não são apropriados em qualquer época ou contexto. Esse tipo de violência sempre foi legitimada pelo patriarcado e como ‘legítima’ que é para vocês, machos, vocês normalizam.

Poupe as mulheres, poupe todas as minorias dessa hipocrisia. O que eu vejo é a machosfera em confraria passando pano pra esse sujeito. Nada novo no modus operandi do patriarcado.

Coloquei na resposta ao seu comentário:

Tem razão. Precisamos levar todos os culpados à fogueira. Arrependimento é coisa de macho hipócrita. Quando monto na razão, pego, mato e pico qualquer um que saia da linha.

E ela deu o veredito final:

‘Arrependimento’ é o típico modus operandi de assediadores sexuais. E isso não tem perdão que pague para quem assedia mulheres, quanto mais para quem passa pano.

Ou seja, decretou a pena máxima não apenas para quem cometeu o pecado grave, mas para quem aceitou o pedido de desculpas. É razoável esse tipo de posição, de instrumentalização da condenação?

Anos atrás, minha caçula, a Dora, então com 15 anos, entrou em um grupo de feministas, no Facebook. Boa polemista, logo descobriram sua capacidade de argumentação e passaram a encaminhar para ela artigos de terceiros, para serem desconstruídos. Depois, como havia um espírito de grupo, identificaram uma “infiltrada” e passaram a assediá-la.

Em um período em que o prestígio dos jovens, junto ao seu grupo, era razão direta do número de seguidores, Dora fechou sua conta. Fui perguntar a razão e ela me explicou. Além da indignação com o ataque coletivo a uma pessoa, cansou-se da lacração.

  • Papai, em uma discussão, os dois lados têm a aprender. Mas elas só querem lacrar, lacrar.

As armadilhas do machismo

É curioso, isso. Sou de uma família basicamente feminina: 4 filhas, 2 netas, 1 esposa independente e militante de grandes causas, 4 irmãs socialmente responsáveis, 10 tias, a maioria independente. Em casa, minha mãe ensinou a todas as filhas serem companheiras, jamais dependentes do marido.

Meu pai era um homem à moda antiga. Respeitador, jamais ergueu a voz em casa. Mas jamais deu uma oportunidade sequer para minha mãe ser parceira. Depois de mortos, encontrei a correspondência de noivado de ambos. Ela dizia para ele que não queria aprender tênis no Country Club, frequentar festas sociais como queriam suas cunhadas, comuns em uma cidade provinciana mas que emulava os hábitos sociais da corte. O que ela queria, apenas, era ser parceira dele, ajudá-lo nos seus negócios. Com enorme potencial, com curso normal, tornou-se apenas dona de casa e grande educadora dos filhos.

Com minhas filhas, sempre fiz questão de apontar os malefícios de uma união dependente ou abusiva com os “machos brancos” – e eles existem, em abundância. Mostrava exemplos na família, de amigas, pessoas brilhantes, que comprometeram sua carreira devido ao casamento com machos tradicionais. Era o caso da sua própria avó.

Mas, ao mesmo tempo, aprenderam os horrores dos processos de linchamento, do comportamento agressivo de quem se sente autoridade, dono da uma verdade.

. Minha segunda filha, a Luizinha, com apenas 9 anos encarou uma professora agressiva com todos os alunos. Levantou o dedinho, pediu a palavra, e disparou:

  • A senhora não pode se comportar assim. Não está certo.

Foi o que nos disse a orientadora da escola, que deu plena razão à Luizinha, mas solicitou que ela fizesse as pazes com a professora, para normalizar a aula. Luizinha aceitou de pronto. Um mês depois, a professora pediu licença por problemas nervosos, comprovando que seu comportamento em sala de aula não era normal.

Quando ocorre um episódio como o de Boaventura, dois valores familiares entram em colisão. O primeiro, o combate ao machismo; o segundo o combate à intolerância e ao linchamento. A pessoa que cavalga as ondas de linchamento se sente com a mesma autoridade da professora, das autoridades que recorrem a carteiraços, do motorista do Uber: “eu tenho a verdade, eu tenho a força”. E jogam fora um grande fator de humanidade, que é a possibilidade de reabilitação do acusado, pelo exercício do arrependimento.

Sou casado com uma das defensoras mais legítimas da justiça de transição. Seus princípios são a publicidade e a punição dos crimes contra a humanidade. Mataram, estupraram, abusaram de mulheres e merecem a prisão.

Mas se não tivermos a capacidade de entender as diferentes gravidades de crimes, e tratar a todos com a pena máxima, qual a diferença dos juízes que entopem os presídios com jovens acusados de portar quantidades ínfimas de drogas, ou com lavajistas dispostos a criminalizar tudo e todos?

Boaventura errou, sim. Cometeu alguns erros sim, não os erros mais graves pelos quais é acusado. E foi severamente punido, com a divulgação internacional dos episódios e o cancelamento de diversas entidades. Reconheceu os erros, faz autocrítica, pede desculpas. Um dos maiores pensadores da atualidade pagou definitivamente por seus erros, vendo 60 anos do melhor trabalho intelectual comprometidos por comportamento típico de uma civilização machista.

Vão negar a ele, agora, até o benefício do perdão?

Luis Nassif

23 Comentários

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  1. Tenho uma vasta experiência com esses nóias. Já fui ameaçado de agressão porque zombei do radicalismo de uma vegana dizendo que poderia almoçarum dia com ela se ela aceitasse comer churrasco em outra oportunidade comigo. Quando comparei o nazismo ao judaísmo, nazistas me ameaçaram de morte e uma entidade judaica me fez responder processo crime por racismo. Fui descrito como antissemita em diversos jornais judaicos e meu nome constou num relatório de atividades antissemitas da Universidade de Tel Aviv. As feministas e os gays não gostam das críticas que faço aos fashionismos de esquerda que fragmentaram o movimento operário. Tenho certeza de que esse exato momento procuradores, juizes e advogados entusiastas da inteligência artificial me chamam de ludista por tentar impedir (ou pelo menos disciplinar) o uso do ChatGPT por juízes e no Ministério Público. Também não gosto de linchadores. Fiquei surpreso com o que ocorreu com Boaventura de Sousa Santos, pensador que conheço numa palestra na Faculdade de Direito da USP por volta de 1986. Acompanho a carreira dele e já li vários livros que ele escreveu. Destruir a obra de uma vida por causa de um deslize é algo extremamente temerário. Os inimigos fascistóides de Boaventura de Sousa Santos em Portugal e no Brasil devem estar felizes ao ver nóias da “nova esquerda” crucificando-o. Isso é realmente asqueroso. Uma prova eloquente de que os fashionismos de esquerda (o feminismo incluído) trabalham mais para impedir qualquer reação consistente ao neoliberalismo do que os próprios ideólogos neoliberais.

    1. E bem interessante o que tem de “empreendedor/oportunista” no meio dessa “nova esquerda” ou fashionismos de esquerda como voce define…É muito instrutivo dar uma olhada em quem financia muitos desses bem intencionados da “nova esquerda”…tem NED, Open Society, Ford Foundation…

  2. Sim , faz todo o sentido, mas as pessoas deveriam se arrepender de seus erros antes de serem acusadas antes de seus atos serem revelados. Isso não é arrependimento, é pedido de clemência , é ambição de não responder por seus atos. Não é necessário pedir perdão para preservar sua propria imagem , maculado por seus proprios erros, quer se arrepender, repare a vitima da forma como puder e certamente assim se será perdoado , com açoes , não com palavras. Temos de parar de pensar que apenas por uma pessoa ser poderosa , famosa ou rica terá ela salvo conduto para abusar de meros mortais

    1. Ninguém ouviu a história real dele. Apareceram supostas vítimas que jamais tiveram contato pessoal com ele. Além de uma militante latino-americana que fio0 desmascarada. O único caso concreto foi com a brasileira, hoje deputado pelo PT de Minas.

  3. pelo o amor de qualquer coisa, nassif, o homem compreende assuntos complexos de politica e vem jsutificar seu comportamente por ele ser de outra epoca, quando era normal um homem assediar uma mulher . Nao ta arrependido de nada, todos temos falhas e defeitos, mas essa e uma falha grave, e ninguem esta julgando sua obra,, apenas sua pessoa e falta de carater. Entao é permitido a ele assediar mulheres em retribuiçao a sua contribuições ? Ridiculo , melhor se dissesse nçao consegui resistir, fui fraco , e agora devo pagar pelos meus erros. Ah , nao sabia que era errado pois nasci em outra epoca

  4. Ouvi falar das acusações, mas não conheço os detalhes do caso envolvendo o professor Boaventura, que é uma pessoa com trabalho de extrema relevância.
    Em relação a esse tema, porém, gostaria de contar duas estórias pessoais.
    Tive a oportunidade de assistir o professor Boaventura em duas apresentações na UnB (uma delas por conta do Doutor Honoris Causa). Também tive a oportunidade de entrevistá-lo por duas vezes: Na véspera dessa cerimônia, por telefone, e no dia seguinte, antes do evento. Além da educação, lembro de ficar tocado por ele responder ao meu segundo pedido de entrevista, antes mesmo que eu me apresentasse e ainda andando pelo campus, assim: “Claro, Cristiano, temos alguns minutos antes da cerimônia”.
    Já falei com muita gente, acadêmicos e políticos, em minha vida profissional, mas foi a primeira vez que fui reconhecido pelo timbre da minha voz, o que mostra o quanto ele se mostrava atento, disponível e disposto a ouvir as pessoas ao seu redor, professores, estudantes ou quaisquer outros. Presenciei também como ele tratava todos ao redor. Tenho, por esse curto convívio, confiança em sua sinceridade, ao se colocar dessa forma, diante de graves acusações.
    O segundo caso envolveu meu primeiro contato com “as feminazis”, num ambiente virtual. Curiosamente, num grupo grande, que envolvia três pessoas que conhecia há mais de 20 anos e considerava como amigas.
    Sou jornalista, de esquerda, e trabalhei boa parte da minha vida no governo federal – nos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma. Depois do golpe, passei quase três anos desempregado, já que sou conhecido, aqui no mercado local, como “jornalista petista”. Por isso, muitas portas se fecharam, nessa época, para mim.
    Por conta disso, passei muito tempo nas redes sociais e nos blogs e sites de esquerda, como o GGN, acompanhado o desenrolar do desastre político que vimos nos últimos anos. Isso me colocou, mais de uma vez, em conversas das quais, depois, me arrependi. Principalmente porque passei muitas horas falando com pessoas sectárias e opacas a qualquer debate, discordância ou contrariedade.
    Ao longo dos anos, aprendi, com meus próprios erros, que certos comentários, piadas e, principalmente, acusações, não podem ser feitas de forma abrupta ou leviana, só porque estamos no Facebook ou no Twitter.
    Ocorre que um desses debates, na internet, trouxe resultados graves para minha vida emocional.
    Fui colega de faculdade de uma professora da UnB, psicóloga e filosofa, militante radical do feminismo, cujo trabalho possui atualmente um grande destaque, com entrevistas regulares para a televisão, inclusive como pesquisadora convidada de uma série sobre violência de gênero transmitida pelo Fantástico, tempos atrás.
    Pessoa que eu sempre respeitei e valorizei, que conhecia há mais de 20 anos e seguia nas redes sociais. Pois bem. Notei, com certa surpresa, que essa “intelectual”, tinha o costume de fazer comentários engraçadinhos, mas certamente inapropriados, e que sempre afirmava que “todo homem deve reconhecer o fato de ser um abusador, ou estuprador em potencial”.
    Incomodado, mais de uma vez comentei, em seu perfil, que essas falas não pareciam apropriadas e que generalizações do tipo “todo homem…”, carecem de qualquer base científica.
    Ocorre, que certa vez, ela escreveu no Facebook uma “piadinha”, dizendo: “Se homem fosse bom de cama, os machos tóxicos não se interessariam por mulheres (!!!)”.
    Fiquei um tanto perplexo. Perguntei, de forma educada, se ela não considerava a possibilidade de a postagem soar homofóbica. A resposta dela foi que “eu não havia entendido a piada”, e que a “intenção dela” era, “apenas”, criticar o machismo.
    Repliquei que, sim, isso era fácil de perceber. “Porém, os textos não dizem apenas as nossas intenções e é importante lembrar que a filosofia, e a psicanálise, estão aí para mostrar que os textos dizem muitas coisas, inclusive o que não queremos dizer, ou desejamos ocultar”.
    Para quê? Passei a ser atacado por ela e por um grupo de até 20 alunos e amigos dessa professora, que, a pretexto de desqualificar minha crítica, passaram a dizer que eu era “um macho tóxico”, um “abusador” e, pasmem, um “estuprador”.
    Sim, ousei criticar uma postagem por homofobia, de uma “sumidade” acadêmica e, no fim do debate, sem provas, fui acusado de ser um estuprador.
    O debate durou de duas a três horas e, infelizmente, pela forte emoção, ao invés de printar a conversa e entregar na mão dum advogado, decidi denunciar ao Facebook, que, sem compromisso algum com seus usuários, simplesmente apagou todas as mensagens, junto com a postagem. Eram comentários públicos, disponíveis para milhares de usuários por algumas horas, com graves acusações e que, simplesmente, desapareceram.
    Esse debate ocorreu há seis anos. E eu demorei três ou quatro anos para perceber o quão danoso foi para minha vida emocional.
    A partir daí, perdi todo o respeito por essa acadêmica e passei a tratar o feminismo brasileiro com a máxima desconfiança. Simone de Beauvoir, se legado, e as mulheres merecem mais respeito do que o demonstrado por essa e outras acadêmicas brasileiras.
    Foi nesse dia que, muito a contragosto, precisei reconhecer as feministas nazistas. Elas existem, infelizmente.

  5. Existem comportamentos que são indescupáveis como por exemplo roubar ou matar alguém em qualquer época, mas questionar e julgar comportamentos passados com a régua de hj não dá. Esse é um caso, pois naquela época era “comum” ter esse tipo de comportamento. Vamos então “odiar e condenar” todos os nossos avôs e bisavôs q se casaram com meninas adolescentes? Minhas avós se casaram com 14/15, minha bisavó com 13, é certo? Óbvio q não, mas era o comportamento da época. Aprender para não reproduzir isso.

  6. Cancele-se de uma vez a humanidade, esse câncer que apregoa aos quatro cantos que só deve atirar a primeira pedra aquele que estiver livre de pecado, e não sabe fazer outra coisa que não atirar pedras aos outros, mesmo carregada até a alma de pecados. Vocês já imaginaram que, por baixo, 90% dos seres humanos que já produziram ou proporcionaram algo de bom, belo, ou útil para a humanidade tem esqueletos escondidos no armário? ou são culpados ou responsáveis por atitudes deploráveis ou ofensivos a terceiros? Apliquem esse critério à capa do Sgt. Pepper’s e não sobra um. Estamos diante da “solução final” do nazifascismo das Elites mundiais: a redução da humanidade à mediocridade, que é seu apanágio e a única coisa que eles querem dividir com os outros. Elimine-se de uma vez todo pensamento livre e independente, coisa muito perigosa; e fiquemos com a terra plana, a submissão das mulheres, o horror ao comunismo, o consumo desenfreado, a Fé castradora, a lacração, a consciência tranquila dos assediadores e estupradores que não se arrependem jamais porque não assediam nem estupram mulheres feias que não os merecem, e sejamos, assim, felizes para sempre.
    Obs:- Cancele-se igualmente a Bíblia, com seu desfilar interminável de estupros e vilipêndios contra as mulheres, cuja condição de simples mercadoria nunca esteve tão clara e explícita quanto naquele texto. E, se é coisa da época, então estamos na mesma época. Chega de hipocrisia, Humanidade infame!

  7. Oh tempora, oh mores! Os tempos e os costumes. Eu nunca gostei desse sujeito porque eu não sou de esquerda, mas sei que ele tem um longo trabalho de apoio a causas e políticos de esquerda. Mas quando vi as primeiras denúncias, disse pra mim mesmo: Coitado desse Boaventura! Se ele apenas pegou na mão de uma aluna anos atrás, ou lhe fez um carinho no braço, está perdido, sua hora chegou. E quem é que vai lembrar de Kennedy, que não passava um único dia na Casa Branca sem comer uma assessora, uma embaixatriz estrangeira, uma congressista liberal do Partido Democrata, qualquer uma que passasse por perto do Presidente dos Estados Unidos em 1961, e todas as redações de Washington sabiam disso, mas não era assunto na época, porque importante era a atuação dele como presidente. Na mesma época, que jornalista brasileiro com acesso ao PODER, desconhecia que Juscelino ou Jânio não deixavam passar uma mulher bonita sem dar uma encostada por trás delas? Jânio Quadros era um mulherengo incorrigível, passava a mão nas pernas da mulher de qualquer um que estivesse numa mesa de restaurante com ele. Mas eram outros tempos, outros costumes. O tal Boaventura não estuprou ninguém, mas coitado, coitado, coitado, terá de se arrastar diante dessas fanáticas… ai, ai, ai.. 

  8. Meu caro Cristiano, eu acho mais adequado chamar essa professora de stalinista. Stalin e seu grupo começaram a difamar Trostsky e outros adversários, como Zinoviev e Kamenev, ainda no início dos anos 1920, muito antes do nazismo ter qualquer importância. Essas técnicas de destruição da imagem de um oponente foram todas elas inventadas pelo grupo de Stalin nos jornais soviéticos da época. Eu conheci só um pouquinho dessa gente e suas táticas quando era estudante de História na USP, nos anos 80. Mas não padeci o que você padeceu, só aguentava piadas diárias, me ridicularizando, atacando meus seminários porque eu não era petista e já detestava o PT, porque já tinha percebido o que essa gente tinha e tem de autoritário e anti-democrático. Minha solidariedade de perseguido.

    1. Olá Renato, sou de esquerda, mas concordo com você que o Stalinismo (e o Maoismo) tem práticas as horrorosas. As que eu descrevo também foram praticadas pelos fascistas. Nisso, são todos bem parecidos.

  9. Extremamente importante que consigamos iniciar uma reflexão sobre a intolerância que pareces ser a regra para todos aqueles que se denominam defensores de causas (quaisquer que sejam). Muitos lutam em defesa do respeito a diferença, mas não suportam o diferente. Creio que é preciso lembrar do papel da vida media por telas que veem educando as novas gerações a acreditar que conhecer alguém remotamente é a mesma coisa de conhecer alguém pessoalmente. É a experiência coletiva que nos prepara para aceitar as diferenças, as diferenças entre pessoas percebe-se entre pessoas.
    Claro que todo tipo de assédio deve ser combatido, entretanto é preciso saber distinguir entre o que uma pessoa fez em algum dia de sua vida, do que essa pessoa é. Ao acusarmos uma pessoa afirmando que ela é tal coisa, condenamos a vida dela e não seus atos. Não sou uma pessoa religiosa, mas não creio que este tipo de atitude nos leve a um lugar melhor de se viver.
    Quanto aos comentários do companheiro direitista, é preciso lembrar que as táticas de difamar reputações é bem anterior à Revolucão de 1917. Creio que se poderia começar sem medo de errar na Grécia antiga.

  10. Ele mesmo assumiu nassif, e vc mesmo o disse como um defeito de formação. Seu julgamento esta comprometido pela afeição que nutre por ele, se fosse um pensador de direito como o olava seu juizo seria outro. Ha muitos assedios nao denunciados em universidades. Eu mesmo vivenciei um caso tosco, denunciei e fui perseguido mesmo sem ser vitima. Quando ele se refere ha defeito de formação, ele mesmo denuncia a.incompatibilidade de suaa acoes em relacoes as normas contemporaneas para estas situacoes

    1. Já defendi Olavo em alguns momentos, como condenei os exageros das campanhas contra Collor, Alceni Guerra, Chico Lopes e outros. Tenho outros defeitos, mas não o de selecionar as vítimas de linchamentos.

  11. O mais importante desse imbroglio com o professor Boaventura está passando de lado:É a formação machista da sociedade.Assim como se fala no racismo estrutural,existe o machismo estrutural.
    Ficar buscando a punição a qualquer custo não resolve o problema,simplesmente o mascara.
    As feministas fazem muito bem em gritar e fariam melhor ainda se arrigimentassem aquelas que por ignorância ou oportunismo se deixam se usadas pelo machismo estrutural.

  12. Nassif, sinceramente, isso é banal demais em universidades e destroi a vida de muitas pessoas. E o texto escrito por boaventura sinceramente é uma autodenuncia, é muito facil perceber que estamos assediando alguem, principalmente se as denuncias forem verdadeiras. E a justificativa do senhor boa ventura é esdruluxa. E muito comum que homens facam isso, principalmente quando possuem uma grande reputação no meio.Eu abandonei meus estudos em uma universidade publica por ter feito uma critica forte ao colegiado e ao.proprio de.que seu comportamento.era inadequado. Meu perseguiu em provas, sendo a unica reprovocao que tive em.curso, e peecebi que so.me restava desistir. As denuncias sao fortes nassif, criveis, no padrao que estes homens costumam agir. E muito comum, mas muito mesmo, tao quanto a.impunidade

  13. A advogada das mulheres denunciantes explicou muito bem: Boaventura se aproveitava com plena consciência da sua situação de poder para assediar mulheres, que poderiam ser quase 50 anos mais jovens. Não eram situações espontâneas, ele as preparava de forma que as mulheres ficassem sob seu controle (levava para locais sem testemunha e de onde elas teriam dificuldade de sair e oferecia bebidas alcóolicas para que perdessem autonomia). Vejam os detalhes do depoimento de Moira: https://www.elsaltodiario.com/violencia-machista/tengo-denunciar-bonaventura-sousa-santos-hombre-presumiblemente-izquierdas?s=08. Os casos são de no mínimo 10 mulheres, que precisam ainda lidar com este trauma. Não é pouca coisa. E não são estas mulheres que desejam cancelar a reputação de Boaventura. O que se nota é que a tal reputação sempre foi uma farsa…

  14. Muito fracos os seus argumentos. Giram entorno da peninha e de comparações exdruúxulas entre o movimento feminista e comportamentos cujo significado histórico é inverso: o assassino de homens negros taxados de bandidos (esse sim justiceiro), ou de pedestres; no ápice, compara as mulheres com seus algozes históricos, ao dizer que elas querem levar os machos à “fogueira”. A pessoa com quem discutiu no twitter está basicamente certa. Penso ser um desrespeito com toda uma formulação político-intelectual do movimento feminista combatê-lo não com uma argumentação científica, como se ele não a merecesse, mas com exemplos bobos de sua família e, sobretudo, com a formulação intelectual de uma menina de 15 anos. Com essa disposição de entender a “ira” alheia, você provavelmente continuará nesta chave cretina. Se você pensa que há excessos, sugiro utilizar a psicologia de massas como chave analítica e não esta platitude direitista da comparação com o “justiceiro”. Se você, uma vez que se propôs a escrever sobre o assunto, não está disposto a se formar sobre ele, ninguém também estará disposto a te explicar, em 2024, que a paridade de gênero nas mesas é uma ferramenta essencial na busca de nossos objetivos estratégicos. Será chamado de machinho enquanto agir como tal.

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