Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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8 de novembro, vinte horas, por Maíra Vasconcelos

8 de novembro, vinte horas, por Maíra Vasconcelos

Há mais de dez anos uso a mesma mala para ir e vir. Parece que levo nela até mesmo as posturas do feminino. Esse feminino que tenho usado tão pouco. Para escrever é outra coisa. Muito masculina escrevendo assim, como nos últimos anos. Com muitas flores, é verdade. Mas flores possuem tantas paisagens, e também enfeitam túmulos – olha, flores sempre foram um bom pedaço de palco para todo escritor. Muito masculina para escrever, cansa. Preciso trocar de roupa. Saudade dos vestidos se arrastarem, tendo eu que segurar as pontas sem saber até onde vão. Será que estão dentro da mala? O feminino bem faz o que quer – depois volta ao centro de si, depois se despede de novo. Tem isso de estações para estar e não-estar. Talvez, o feminino habite a mala. A desordem acontece. Viva. Mas também escreva. A vida deve conter soltura-e-leveza, como o feminino, vamos. Ahhh. Aí é quando tenta ser mais livre, mais uma vez, mais um pouco, até depois querer fugir de pavorzinho que tem. Vai colocar o feminino na mala e fingir que não sabe onde. Vai fazer o que? Escrever é outra coisa e sempre será. Outra roupa. Duas de você mesma, não tem jeito de ser outra coisa. Muito masculina, tu mesma, para escrever. Depois vai querer amar com o rosto do feminino, de novo, delirante manhã. Esperava o que? Da mulher que adora doce igual gato. A última vez que se teve notícia, ela perguntava sobre a própria casa tinha perdido de vista, um espanto, a casa dela mesma querendo ser uma só persona. Depois lembrará que tem peças soltas vestidas na mala. Um tal de abre-fecha sem hora alguma. Ahhh. Que gargalhada imensa. Igual atriz de quinta categoria, e não passa de escritora com a mala de sempre. Só isso mesmo. Mas como isso varia em movimentos.

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

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