A jornalista charlatã e o Gato Joel

O problema é que o jornalismo é mentiroso. Então, eu menti pra ele também. Uma jornalista charlatã. Mas foi com a melhor das boas intenções, foi uma tentativa querer ser jornalista. E antes de enganar a qualquer um, enganei primeiro a mim. Deve ser com iguais intenções confundidas que os vizinhos mantêm o gato Joel enjaulado. Querem protegê-lo, os três velhinhos ao seu arredor vigiam cada passo de Joel pelo corredor, desde as gretas da janela da casa do primeiro andar. Proteção, talvez seja a resposta para ter tentado por anos e anos ser jornalista, a jornalista que nunca fui. Protegia-me de algo mais perigoso, da escrita crua e nua, pode dar medo como ver um boi todo aberto sangrando. Proteger, cuidar, medir riscos, ser burguesa e ser jornalista que escreve parece ser duas coisas bem parecidas. Apenas escrever, porque sai escrever, é não ter certeza e atirar-se ao abismo. Gente que deseja o penhasco. Os velhinhos donos do Gato Joel o querem proteger de ser gato saltador em arranha-céus, de ser o que ele é: um gato. Joel cairia, morreria algumas vezes, não mais que sete vezes, voltaria sujo e machucado para casa, desapareceria outras noites, mas seria fiel aos seus três donos, seria gato simplesmente. Agora que escrevo, vejo quanto dono para um gato só. Sempre que encontrar o Gato Joel paradinho no comprido corredor, sem saber como atuar frente aos olhares mandões, além de cumprimentá-lo, lembrarei em voz baixa, o que quer dizer em segredo pensamento, que as aparências enganam, e ele, Gato Joel, nunca deixará de ser gato.

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