Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
[email protected]

Amigas para sempre (V) – Iara Iavelberg, por Izaías Almada

Além do espaço da faculdade que permitia a convivência política, fomos por algum tempo integrantes da Polop, uma das dissidências da esquerda

Amigas para sempre (V)

Iara Iavelberg

por Izaías Almada

          Estamos às vésperas do mês de março que, em seu último dia no calendário do presente ano, irá lembrar para nós brasileiros os 60 anos de um pesadelo, mesmo levando-se em conta alguns períodos de vida democrática no país.

          Ainda não nos libertamos de traumas como a submissão cultural de país colonizado, da incompreensível tutela militar, da entrega de muitas de nossas riquezas ao capital internacional e das inúmeras mazelas provocadas por tais características, sendo a injustiça social e a corrupção, no meu modesto ponto de vista, duas das principais aberrações brasileiras.

          Por mais que os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff, ao lado de outras forças democráticas, tenham se empenhado e ainda se empenhem em mudar esse quadro, a força brutal da mediocridade, da ignorância política e do neoliberalismo mantido por violência e ameaça policial contínua, o Brasil permanece à espera de se transformar na grande potencia mundial que pode ser.

          Voltemos aos anos de 1967, 68 e início de 69, onde os dias eram curtos para as atividades de muitos de nós que lutávamos pela própria sobrevivência, mas com o sincero e enorme desejo de enfrentar o governo autoritário que se impôs ao país.

          O golpe que derrubou João Goulart em 1964 tornou o Brasil um inferno e não demorou muito tempo para despertar em milhares de brasileiros a consciência de que chegara a hora de lutar com maior coragem.

          E dessa luta participaram milhares de estudantes, operários, militares, camponeses, mulheres e homens que acreditavam no sonho da igualdade e da oportunidade para todos.  

          Foi nessa época que conheci Iara Iavelberg em algumas das assembleias estudantis que se realizavam na Faculdade de Filosofia e Letras da Rua Maria Antonia: ela formando-se em Psicologia e eu fazendo o curso de Ciências Sociais. Além do espaço da faculdade que permitia a convivência política, fomos por algum tempo integrantes da Polop, uma das dissidências da esquerda tradicional na época ao PCB.

          O movimento estudantil fervia pelo Brasil afora com grandes manifestações em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco.

          Como disse os dias eram curtos para as atividades de muitos de nós, mas encontrávamos tempo para a luta contra a ditadura.

          Iara sabia do meu relacionamento com o Teatro de Arena e, numa de nossas conversas ainda em 68, ela sugeriu-me a possibilidade de fazer um trabalho em teatro com alguns companheiros operários de Osasco. Avançamos com a ideia, mas não pudemos levar à frente a tarefa em meio ao aumento da repressão policial.

          Sua animação era invejável e passamos a nos encontrar no próprio Arena ou no Bar Redondo em frente ao teatro, bar famoso naquela ocasião e não muito distante da Faculdade de Filosofia.

          Dissidências de tradicionais partidos de esquerda foram se juntando em novos grupos e organizações que surgiram nos anos de 67, 68 e 69, entre elas a ALN, a VPR, o MR-8, a Colina, a Var- Palmares, quando no final de 68 o governo o edita AI-5 para acabar com a “brincadeira”.

          A primeira grande queda em São Paulo de militantes que se organizavam para a resistência armada dá-se em janeiro de 69. Daí em diante instalou-se o terror com a prisão, tortura, mortes e desaparecimentos de milhares de cidadãs e cidadãos brasileiros, em sua maioria jovens.

          Organizar a resistência na clandestinidade e manter a aparência de uma vida normal no dia a dia de cada militante tornou-se um desafio para os grupos que se organizavam para a luta.

          Tal situação, na prática, fazia com que a segurança de cada militante e da organização a que pertencia se preparasse para enfrentar a repressão: deslocamentos dentro da própria cidade em que morávamos, mudanças de estado e até mesmo viagens para o exterior.

          Nesse clima não encontrei mais Iara Iavelberg, que seria covardemente assassinada na cidade de Salvador, Bahia, no ano de 1971.

          Amiga para sempre.

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Foi minha professora de Psicologia no Cursinho do Grêmio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da USP, na Maria Antônia. Isto em 66/67. Já em 68, éramos companheiras na O., que veio a se chamar VPR, num Congresso, que além de definir o nome, juntou várias “tribos”, cujos tambores entravam em harmonia.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador