Enviado por Assis Ribeiro
Todo filho é pai
” Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.
É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.
É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.
É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.
É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.
E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.
Todo filho é pai da morte de seu pai.
Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.
E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.
Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.
Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.
A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.
Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.
A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.
Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.
Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?
Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.
E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.
Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.
No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:e
— Deixa que eu ajudo.
Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.
Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.
Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.
Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.
Embalou o pai de um lado para o outro.
Aninhou o pai.
Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrado:
— Estou aqui, estou aqui, pai!
O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali. “
(autor desconhecido)
http://assisprocura.blogspot.com.br/2014/03/todo-filho-e-pai.html
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sab, 15/03/2014 – 18:07 –
sab, 15/03/2014 – 18:07 – Atualizado em 15/03/2014 – 18:08
Enviado por Assis Ribeiro
Todo filho é pai
” Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.
É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.
É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.
É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.
É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.
E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.
Todo filho é pai da morte de seu pai.
Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.
E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.
Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.
Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.
A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.
Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.
A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.
Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.
Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?
Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.
E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.
Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.
No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:e
— Deixa que eu ajudo.
Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.
Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.
Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.
Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.
Embalou o pai de um lado para o outro.
Aninhou o pai.
Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrado:
— Estou aqui, estou aqui, pai!
O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali. “
(autor desconhecido)
http://assisprocura.blogspot.com.br/2014/03/todo-filho-e-pai.html
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Não é fácil sequer comentar
Não é fácil sequer comentar sobre o tema. Não sei quem disse que a velhice é a melhor opção. Não sei se é bem isso. Envelhecer é se acabar todos os dia um pouquinho, até que uma das doenças que tem os velhos supera as demais levando-o para o túmulo. Não parece normal que os velhos morram como passarinhos, como se costuma dizer. Mais comum tem sido o idoso primeiramente sofrer em demasia para atingir seu último suspiro. E feliz daquele idoso que encontra um filho que possa dizer que o ama antes de sua passagem. pois o normal é os filhos serem impacientes, incompreensíveis, e até muito ingratos com seus pais no momento em que há essa inversão citada: do filho ser pai.
Comovente em sentido
Comovente em sentido amplo.
Tanto para quem vai chegar,
como para quem já chegou lá.
Pó pará!
Ô Assis, essas coisas fazem chorar, para com isso…
O Que É Aquilo?
[video:http://www.youtube.com/watch?v=0f2yQ1k4Uvg%5D
Adorei esse vídeo. Parabéns
Adorei esse vídeo. Parabéns Bispo por uma intervenção tão apropriada.
Embora acompanhando o blog e
Embora acompanhando o blog e as discussões decorrentes das postagens por mais de ano, abstenho-me de comentar devido a falta de conhecimento e/ou falta de ânimo para discussões virtuais, mas não me contive desta vez, parabéns pelo texto, espetacular até o ponto final !!!
trabalho
um dia, meu pai lamentou o trabalho que estava me dando.
imediatamente, sem pensar, respondi:
-poderia ser pior. imagine se fosse o contrário, se fosse eu que estivesse precisando do mesmo tipo de ajuda. …
ele pensou por um momento e reconhecendo a ordem natural das coisas, permitiu ser ajudado sem tanto constragimento.
Assis, bela postagem!
Me fez recordar momentos que vivi com minha mãe.
Grandes e inesquecíveis momentos dos quais aprendi muito: dedicação, renúncia, zelo, bondade e gratidão!
esse texto comovente é do
esse texto comovente é do Fabrício Carpinejar…http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/donna/noticia/2013/10/fabricio-carpinejar-todo-filho-e-pai-da-morte-de-seu-pai-4290444.html
Obrigada Assis…
Por falta
Obrigada Assis…
Por falta ” momentânea de foco visual”, impedida de tecer mais comentários… :~~~
Bjs.
Triste quando se está na pele do pai, pai.
Hoje, aos quase 64 anos, safenado, com um coração que vive dando sustos, mudando hábitos de alimentação e tabagismo, não considerado apto pelo médico do trabalho da empresa, segurado do INSS e vivendo longos dias sozinho sem imaginação para arranjar o que fazer, ainda bem que resta o Nassif para ler e comentar.
Realmente nesta idade e situação a presença dos filhos é bastante ansiada e querida apesar de todo o constrangimento que em breve possamos vir a causar.